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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 : P21809: In Memoriam (385): José Pardete Ferreira (1941 - 2021), ex-alf mil médico, CAOP, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1971; cirurgião, médico especialista em medicina desportiva, foi diretor clínico do Hospital de São Bernardo, e presidentedo Rotary Club de Setúbal, poeta e escritor (Hélder Sousa / Luís Graça)


José Pardete Ferreira, médico, natural de Lisboa, 
residente em Setúbal (1941-2021)


Ministério do Exército > CTIG > HM 241 > Bissau, 24 de junho de 1962 >
 BI Militar do alf mil médico José António Pardete da Costa Ferreira



1. Mensagem do Hélder Sousa, nosso colaborador permanente, residente em Setúbal:
 
Date: terça, 26/01/2021 à(s) 01:11
Subject: Falecimento do nosso "camarada da Guiné" Dr. José Pardete Ferreira 

Caros amigos

Como seria de prever, as notícias de falecimentos de camaradas do "nosso tempo" tendem a aumentar e a aumentar rapidamente. Seja pelo avançar inexorável da idade, seja pelas maleitas que nos vão apoquentando, seja por alguma doença "tradicional", seja até por consequência da "doença da moda", a Covid-19,

De facto o nosso "camarada da Guiné", médico, José A. Pardete Ferreira, faleceu, embora não se encontrem muitas notícias sobre isso, nem de que ocorreu o infausto acontecimento.

Procurei junto do nosso tabanqueiro Vitor Raposeiro [ex-Fur Mil, Radiotelegrafista, STM, Aldeia Formosa, Bambadinca e Bula, 1970/72] que ainda tem parentesco com ele e, ironia do destino, fui eu que acabei por lhe dar conhecimento. Nem ele nem a prima ainda sabiam.

Portanto, à falta de mais e melhor informação, adianto que a morte terá ocorrido no passado dia 13 já que encontrei num post do TAS (Teatro Animação de Setúbal) datado de 14 às 07:57 a dar conta do seu falecimento e a lembrar a colaboração que ele tivera com o TAS, nomeadamente com a tradução duma peça levada à cena em 2008.

O jornal regional "Semais" recebeu uma "Nota de pesar" por parte da Liga dos Amigos do Hospital de São Bernardo (Hospital de Setúbal) que a seguir reproduzo.

Nota de Pesar - Dr. Pardete Ferreira,

Partiu um amigo e companheiro - conhecido Médico Cirurgião que conta no seu percurso clínico também o exercício da medicina desportiva. Foi Diretor Clínico do Hospital de São Bernardo - no mandato do Dr. David Martins como Diretor do Hospital.

Com ele, fiz parte da Direção da Casa do Pessoal do HSB. Mais tarde, veio também a integrar os Órgãos Sociais da LIGA - como Presidente do Conselho Fiscal da Liga de Amigos do Hospital São Bernardo/LAHSB-CHS.

Teve relevante intervenção cívica, associativa, filantrópica, cultural e desportiva. Foi Escritor, Membro Rotary e jogador de andebol no Sporting Clube de Portugal.

Os Órgãos Sociais da LAHSB-CHS, associam-se ao pesar sentido pelos seus associados que partilharam e vivenciaram com o Dr. Pardete Ferreira momentos muito felizes e profícuos.

Há a indicação de que a Câmara Municipal de Setúbal em sessão pública ocorrida, salvo erro, no passado dia 21 relembrou e aprovou votos de pesar a três personalidades de Setúbal recentemente falecidas, o Capitão Quaresma Rosa, antigo Comandante dos Sapadores Bombeiros, a 16, e os médicos Machado Luciano, vítima de doença súbita a 11 e Pardete Ferreira a 13, destacando as suas atuações no desempenho de funções no Hospital de São Bernardo.

Por sua vez também obtive do Rotary Club de Setúbal [, cuja página no Facebook está está parada desfe 6/12/2020], a nota que republico:


Participação de Falecimento: O RCS está de luto


"É com profundo pesar que comunicamos o falecimento do nosso sócio representativo José António Pardete Ferreira.

O companheiro Pardete Ferreira entrou para o Rotary Club de Setúbal em 1984 com a classificação "Medicina-Cirurgia", tendo sido 3 vezes seu Presidente (1990-91; 2002-03 e 2009-10) e passado por todas as suas comissões, sendo considerado a referência de "sapiência" rotária do nosso clube.

Adepto do Rotary no seu aspecto mais "puro", defendia intransigentemente o protocolo e a praxis rotária original.

Profissional de excelência, era dono de um intelecto brilhante e professava a sua profunda fé e conhecimento eclesiástico em várias colaborações com a Igreja Católica, escrevendo regularmente para algumas das suas publicações. 

Exerceu várias missões ao serviço de Rotary a nível Distrital, sendo de destacar ter sido Team Leader do IGE em Distrito do Rio Grande do Sul, Brasil.

Era um companheiro muito querido e estimado do nosso clube e a sua perda é impossível de reparar!

O Rotary em particular e Setúbal em geral, ficam mais pobres.Que descanse em Paz!

Cordiais saudações rotárias"

O Presidente Rotary Club de Setúbal

Alberto Vale Rêgo


Caros camaradas, cuidemo-nos! A "ceifa" anda por aí.

Hélder Sousa


2. Comentário do nosso editor Luís Graça:


Hélder, obrigado por nos teres dado, em conversa telefónica,  a infausta notícia. Alguém, desgraçadamente, nos tempos que correm, tem de fazer este indesejável papel de "mensageiro da morte".

Já tinha, entretanto, confirmado, o desaparecimento do teu vizinho de Setúbal e membro da nossa Tabanca Grande, o dr. José Pardete Ferreira, O último poste, dele, na sua página do Facebook é de 12 de janeiro...

Deve ter sido morte súblita. Nasceu em 1941. Ia complementar em 15 de fevereiro próximo os 80 anos. Infelizmente não temos qualquer contacto com a família. Diz-nos que era casado com uma senhora francesa, e primo da mulher da do Vitor Raposeiro, nosso camarada e meu contemporâneo de Bambadinca.

O J. Pardete Ferreira foi alf mil médico [CAOP, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1969/71]. Tem 32 referências no blogue;

Deu-nos preciosas informações sobre os colegas médicos que com ele trabalharam, sobretudo no HM 241, e de outros que conheceu, bem como sobre a organização e o funcionamento dos serviços de saúde militares, no CTIG.

Entrou para a Tabanca Grande em 27/6/2011.  Um resumo do seu "curriculum vitae" está disponível aqui;

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/06/guine-6374-p8474-tabanca-grande-292.html

Nascido em Lisboa a 15 de fevereiro de  1941, foi  cirurgião – médico, especialista em medicina desportiva. Entre outras funções,  desempenhou os cargos de:

  • Director Clínico do Hospital de São Bernardo (Setúbal);
  • Director do Centro de Medicina Desportiva de Setúbal;
  • Director do Serviço de Cirurgia II do Hospital de são Bernardo (Setúbal);
  • Médico da Selecção Nacional de Andebol;
  • Presidente do Rotary Club de Setúbal.

Poeta e escritor, publicou, nomeadamente, “ O Paparratos – Novas Crónicas da Guiné – 1969/1971" (romance); Prefácio – Edição de Livros e Revistas, Lda – ISBN: 972-8816-27-8 (DL nº 213619/04). Ver aqui nota de leitura do Beja Santos.

(...) Paparratos é a candura, a simplicidade e a força da natureza daqueles soldados portugueses que se adaptavam como podiam ao meio estranho (...)

 O Paparratos é uma divertimento sério, supera as situações caricatas e cómicas, na senda da literatura de humor, que se perde na noite dos tempos, comprova que muitas vezes o que se diz a rir é para reter em todo o horizonte da amargura, a sisudez pode ser troça e não é difícil provar que há muito Paparratos que servem de carne para canhão.

É o prazer da memória e, insiste-se, não se conhece um fresco tão vigoroso sobre o meio estudantil universitário daqueles longínquos anos 60. (...)

 

Mandou-nos também em tempo uma letra de fado, da sua autoria, o Fado da 'Orion', e que voltamos a reproduzir em sua homenagem e aos nossos camaradas da Marinha, e em especial à malta da LFG Orion:

 
Fado da 'Orion'

Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à "Marinha"
Aos "jantares da quinta-feira"!

Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.


Refrão 

Ser marinheiro
De "LFG' no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.


Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:

Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.

Refrão...


(Nota do autor: 1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do "Fado do Cacilheiro" do Maestro Carlos Dias).


Infelizmente, não tivemos, em vida, ocasião para  nos conhecermos pessoalmente. Trocámos diversas mensagens por email. E a sua colaboração no nosso blogue foi extremamente valiosa. Era um homem crente. Continuará, connosco, em espírito, sob o nosso sagrado e fraterno poilão, no lugar que lhe coube, o nº 505. 

À família enlutada (e muito em particular ao seu filho Jean-Jacques Pardete, que tem página no Facebook), a Tabanca Grande envia a sua solidariedade na dor.(**)


 ____________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 30 de outubro de  2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

(...) Caro Luís, o prometido é devido:

O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante [Alberto Augusto]  Faria dos Santos [, entretanto falecido em 1986; como 1º ten, comandou o NRP Orion, 1968/70]. 

A LFG {Orion]G passou mais de um ano acostada ao molhe do Pi(n)djiguiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores.

Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando "a acreditar nos praticantes da má-língua" e, de seguida, foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde,  22 de novembro de 1970], sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro.

Poeta e grande amigo, recebia a jantar e bem um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool.

Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras, havia jantar melhorado e aberto a convidados. (...)

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17941: Convívios (830): Os "últimos moicanos", o pessoal da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), fizeram prova de vida em 4 do corrente, em Sapataria, Sobral de Monte Agraço (José Colaço / Francisco Santos)

 Foto nº 1

 Foto nº 2


Foro nº 3

Sobral de Monte Agraço > Sapataria  > Restaurante  O Ferrador > 4 de novembro de 2017 > Convívio anual do pessoal da CCAÇ 557 (1963/65)

Fotos (e legendas): © José Colaço (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Versinhos do Francisco Santos, poeta popular.



1. Mensagem, de 4 do corrente, do José Colaço:

[Foto à esquerda: José Botelho Colaço ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008: tem 70 referência no nosso blogue.]


Caríssimo amigo Luís e editores,  como tinha sido anunciado (*) realizou-se hoje,  04-11-2017 , o almoço anual de convívio dos veteraníssimos ex-militares da CCaç 557 e,  como vem sendo hábito,  com a honrosa e agradável presença do nosso comandante da Tabanca da Linha,  Jorge Rosales,  pois ele é já uma peça insubstituível na família da CCaç 557.

Segue em anexo, e em  formato jpg,  o poema do nosso tabanqueiro,  o poeta popular Francisco dos Santos, e mais as seguintes fotos:

(i) Foto nº 1 > ao centro e na fila de trás o comandante da Tabanca da Linha Jorge Rosales, na fila da frente o primeiro da segunda linha à esquerda o nosso poeta popular Francisco dos Santos, a segurar um saco de papel o Sr. Coronel reformado João Luís da Costa Martins Ares, comandante da CCaç 557;

(ii) Forio nº 2 > O Sr. coronel Ares,  comandante da CCaç 557 no discurso directo a saudar todos os presentes e com o improvisado fotocine Z´w Colaço à frente a tentar gravar as palavras do comandante;

(iii) Forto nº 3 > À esquerda,  Jorge Rosales, ao centro o ex-1º-cabo João Casimiro Coelho , organizador do almoço e à direita o Sr. Coronel Ares,  Comandante da CCaç 557

  Nota: neste dia, e como é habitual,  o Sr. coronel Ares leva uma grande "porrada", é despromovido e passa de Coronel a nosso Capitão. (**)

___________________________

Notas do editor:



terça-feira, 9 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17336: Tabanca Grande (435): Manuel José Janes, ex-1º cabo "O Violas", CCAÇ 1427 (Cabedu, 1965/67): poeta, cantor, dono da "Tasca do Reguengos", Monte da Caparica, Almada... É o nosso novo grã-tabanqueiro, nº 743 (Jorge Araújo)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > Vista aérea do aquartelamento e pista de aviação


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > Parte do contingente da CCAÇ 1427 (1965/1967) onde se vê o camarada Manuel Janes “O Violas” no interior do círculo com uma das suas companheiras inseparáveis (a viola).


Crachá da CCAÇ 1427 (Cabedú, 1965/67) > "Saudade e orgulho dos caídos na luta"

Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Texto enviado, em 13/4/2017, pelo nosso colaborador permanente Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp,  CART 3494/BART 3873, Xime Mansambo, 1971/74), residente em Almada





1. INTRODUÇÃO

O encontro/convívio de ex-combatentes no CTIGuiné realizado no passado dia 25 de março, no Monte da Caparica, Município de Almada, em que participaram camaradas de várias Unidades que aí cumpriram a sua missão em diferentes épocas e locais, permitiu partilhar memórias únicas pois só os próprios a sabem contar como ninguém.

O destaque dessa reunião vai, no entanto, para o camarada Manuel José Janes, também conhecido por 1.º Cabo “O Violas”, alcunha pela qual passou a ser conhecido desde o início pelos seus pares, tendo por companheiras inseparáveis: uma G3 e a sua viola.

Para recordar aquela que foi a sua apresentação, recupero alguns factos narrados no P17206 (*):
 
“Quando o almoço decorria com uma natural tranquilidade, eis que se aproxima de nós um indivíduo trauteando alguns versos do seu fadário vivido durante a Guerra do Ultramar, em estilo musical de fado. 


"Era, nem mais nem menos, o proprietário do restaurante, também ele ex-combatente na Guiné, pertencente ao contingente da CCAÇ 1427, Unidade que esteve sediada em Cabedú, na região de Tombali, no Sul, nos anos de 1965/1967”.(*)



O Manuel José Janes, "O Violas"



O Manuel José Janes, hoje, natural de Reguengos de Monsaraz, é proprietário e gerente do restaurante "Tasca dos Reguengos",  Monte da Caparica, Almada.



2. O CAMARADA MANUEL JANES, “O VIOLAS”, 1.º CABO DA CCAÇ 1427 (CABEDU, 1965/67)

Procurando saber mais histórias da sua missão em Cabedú e da sua Unidade (CCAÇ 1427 - 1965/1967), para além das que nos contou durante aquele encontro, e obter uma foto desse tempo para lhe permitir sentar-se à sombra do fraterno poilão da nossa «Tabanca Grande» (**), encontrei-me com o camarada Manuel Janes na passada semana.

Durante a nossa cavaqueira de cerca de três horas, com uma ordem de trabalhos completamente arbitrária, mas sem descurarmos o tema base do nosso encontro – “memórias da Guiné” –, a determinada altura divulguei-lhe aquele que para ele seria um segredo: o de ter tido notícias do camarada Manuel Caldeira Coelho [fur mil trms da CCAÇ 1589 (Nova Lamego e Madina do Boé - 1966/1968)], conterrâneo de Reguengos de Monsaraz e seu grande amigo, que nos idos anos de 1964 haviam fundado um trio vocal.

Recebendo a notícia (segredo) com grande satisfação, fez questão de o contactar enviando-lhe uma mensagem SMS de agradecimento.

Na sequência da primeira narrativa [P17206], na qual faço referência ao nome e à pessoa do Manuel José Janes,  “O Violas”, o camarada Manuel Coelho (a quem agradeci sensibilizado) respondeu-nos, através de correio interno, o seguinte:

“Caros editores, ao ler o poste 17206 do dia 4 [de março], de autoria do camarada Jorge Araújo, não podia deixar de dar uma 'achega' referente às capacidades do Manuel José Janes como cantor e autor.

Somos da mesma terra (Reguengos de Monsaraz) e fundámos um trio vocal em 1964 para nos divertirmos a actuar a nível regional. Temos uma gravação feita num gravador de bobinas emprestado, não sei se poderá ser incluído neste testemunho.

Com uma voz linda de se ouvir em qualquer apresentação, não quis o destino que seguisse carreira artística.

Fomos cada um para seu lado no serviço militar e entretanto a 2.ª Região Militar [Tomar] reuniu vários artistas amadores ou não, para espectáculos em vários locais designadamente na Guarda onde houve festa pela reabertura do quartel do BC 7.

Lá chamaram a ele e a mim e foi um êxito que nos fez repetir no Coliseu de Lisboa e a gravar este espectáculo na RTP,  transmitido em 15/7/1965 e apresentado por Carlos Cruz.

Ocasionalmente encontrámo-nos em Bissau de férias. O que ele me contava de Cabedú e de Catió era tremendo, acho que alguém poderá convencê-lo a descrever essas histórias passadas com a CCAÇ 1427. Eu poderei contactá-lo para isso.

Resumindo: uma voz fabulosa, uma escrita em verso não aproveitada e um destino não como artista mas como industrial de hotelaria.

Perdeu a vida artística mas ganharam os amigos e clientes da sua casa que sempre o ouvem lá cantar e conviver" (
Manuel Coelho).
 

Aqui chegado, e para concluir este apontamento, resta-me apresentar algumas (poucas) imagens de Cabedú [fotos acima], prometendo voltar logo que o camarada Manuel Janes localize o seu baú, uma vez que mudou de residência recentemente. 

Daremos conta, ainda, da «Marcha de Cabedú», da CCAÇ 1427, com letra e música da sua autoria.

Comprometeu-se, finalmente, a dar-me conta da data do lançamento do seu livro de poesia que, segundo me confidenciou, está para breve.
 

Letra da «Marcha de Cabedú», da CCAÇ 1427 
da autoria de Manuel José Janes, “O Violas”



 "Comida típica alentejana, nomeadamente: migas de espargos com rojões, pézinhos de coentrada, sopa de cação, pataniscas de bacalhau com arroz de feijão...entre outros deliciosos pratos!!!  Temos também pratos de caça, nomeadamente: arroz de pombo bravo, coelho à caçador e arroz de lebre! Por vezes tem que ser por encomenda."

Rua General Humberto Delgado 13B | Monte de Caparica, Almada 2825-016, Portugal
+351 21 295 0299. 
__________

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15456: (In)citações (80): Quem se lembra deste fado, cantado pelos páras do BCP 12, em Cacine, em junho de 1973, na altura da batalha de Gadamael, com música dos "Amores de Estudante" ?... "Quero, quero ir para Lisboa, / Ai, ai, eu quero, / Nem que seja de canoa, /Eu quero ir / P'ra terra santa querida, / Dizer adeus a esta merda / P'ro resto da minha vida." (recolha de Abílio Magro)

1. Escreveu há tempos o Abílio Magro (ex-fur mil amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), na sua série  "Um Amanuense em Terras de Kako Baldé" (*):


(,,,) Decorria o mês de junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas pára-quedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.

Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., eyc..

A CCAÇ 3520 era um companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição. Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!

Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado.
Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato". Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!

O major Leal de Almeida lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro Furriel. O major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.

E eu..., andava por ali a ver as "bajudas"!... (...) Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os sargentos paraquedistas (ah gente do "catano"!).

Recordo-me bem de um convívio noturno na "messe" de sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espetacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.

Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:

Quero, quero ir para Lisboa,
Ai, ai, eu quero,
Nem que seja de canoa,
Eu quero ir
P'ra terra santa querida,
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida.

Pára-quedistas, homens nobres,

Tanto ricos como pobres,
Avançando pela mata (...)

(e de mais não me recordo)

  

[Guiné, algures, s/d.,foto do nosso  camarada Manuel Peredoex-fur  mil paraquedista, que é o primeiro do lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, caboverdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122 / BCP 12, Brá, Bissalanca, 1972/74; do Carmo Vicente, hoje srgt mor paraquedista ref , DFA, escritor, ler e ouvir aqui o seu testemunho, na primeira pessoa, à RTP1, eobre a sua participação no 25 de novembro de 1975, ]


Ficou-me também na retina a imagem do 1º Sargento pára-quedista [António Carmo] Vicente, evacuado para Cacine, vindo de Gadamael, com um tiro numa perna, a aguardar evacuação para Bissau e com quem tinha convivido alegremente naquela noite.

A minha "guerra" lá foi continuando com a "lerpa", "as bejecas" mornas, o convívio com os "páras" e a excelente qualidade das instalações, nomeadamente o "balneário" de arrojado design e equipamento de conceituadas marcas. (...)


2. Comentário do editor (**):

Alguém se lembra de ter ouvido (ou de ter lido) a letra (e a música) deste fado (parodiado), ao que parece criação de alguém do BCP 12, e mais provavelmente da CCP 122 que estava em Cacine, na altura em que o furriel amanuense Abílio Magro também lá esteve, em junho de 1967, apoiando o major Leal de Almeida,em plena guerra de Gadamael ?

Talvez o Manuel Peredo (que vive em França e é nosso grã-tabanqueiro) se lembre do resto da letra...  Ou o próprio Carmo Vicente ou o Delgadinho Rodrigues (hoje capitão pára reformado  e furriel em junho de 73). Ou outros camaradas paraquedistas do BCP 12 que honram, com a sua presença,  a nossa Tabanca Grande, depois de terem honrado a pátria, enquanto bravos combatentes, como é o caso o  Vitor Tavares (CCP 121),  o Manuel Rebocho (CCP 123) ou o António Dâmaso (CCP 122 e 123).

E outros há que, não sendo formalmente (ainda) nossos grã-tabanqueiros são por nós referidos e acarinhados: por exemplo, o Manuel Carneiro, da Tabanca de Candoz, e que pertenceu à CCP 121 (1972/74), ou o Avelar de Sousa (que foi cmdt da CCP 123, em 1970/71, não sendo portanto contemporâneo dos camaradas acima referidos, e que é hoje maj gen pára ref, frequentador da Tabanca da Linha).

Recorde-se aqui a letra e a múscia da canção coimbrã "Amores de Estudante", cujo refrão diz o seguinte:

(...) Quero, ficar sempre estudante,
P'ra eternizar
A ilusão de um instante.
E sendo assim,
O meu sonho de Amor
Será sempre rezado,
Baixinho dentro de mim. (...) 


A letra parodiada pelos páras faz parte integrante do nosso Cancioneiro, o Cancioneiro da Guiné, dizendo muito sobre o "estado de espírito" e o "moral" das NT no terrível período dos três G (Guileje, Gadamael, Guidaje), em maio/junho de 1973. Todos estavam fartos daquela  "merda" (sic), não se vendo qualquer luzinha no fim do túnel... O poder político, na altura,   usou e abusou da extraordinária capacidade de sofrimento, abnegação, coragem e patriotismo do soldado português. E não  esteve decididamente à altura da história!...
______________

Notas do editor:

(*) Vd poste de 20 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11125: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (5): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520 (2)

(**) Último poste da série > 30 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15424: (In)citações (79): Comer crocodilo que comeu homem, é canibalismo? Felupes de São Domingos dizem que 'crocobife' é bom... (Patrício Ribeiro, Bissau)

domingo, 22 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15391: O Nosso Cancioneiro (1): o "Hino dos Gatos Pretos" e os "Binóculos de Guerra", produção coletiva da CCAÇ 5, que esteve em Canjadude até ao fim, apresentados pelo José Martins no programa de Luís Marinho, na Antena Um, "Canções da Guerra"


"Canções da Guerra!", um programa de Luís Marinho, que passa todos os dias, desde meados de outubro de 2015, de 2ª a 6ª feira, na Antena Um, às 14h55. Há mais de meia centena de canções disponíveis "on line" do portal da RTP. (*)


1. O nosso camarada, amigo e colaborador permanente do nosso blogue, José Martins (ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)  [, foto à esquerda], colaborou com o Luís Marinho no programa "Canções da Guerra", com duas canções do Nosso Cancioneiro...

Recordemos aqui o Cancioneiro de Canjadude, com (i) o Hino dos Gatos Pretos;  e (ii) os Binóculos de Guerra... Mas há mais, ou havia mais, que em Canjude havia manga de poetas e músicos (**)...

O José Martins recordou, recentemente, no programa o "making of" destas duas canções. É também uma boa oportunidade para começar a recuperar e juntar numa só série os nossos vários "cancioneiros", dispersos pelo blogue... (LG)

2. CANÇÕES DA GUERRA: Programa da Antena 1

Portal da RTP > "Canções da Guerra": programa de rádio, passa todo os dias, de 2ª a 6ª,  na Antena Um, às 14h55. Os episódios mais antigos e os mais recentes podem aqui ser vistos.

Sinopse:

(...) "A guerra colonial, tendo em conta o seu enorme impacto social, foi motivo de canções.


"Desde o hino 'Angola é Nossa', criado após o início da rebelião em Angola, que levou a uma guerra que durou 14 anos.

"As canções ligadas à guerra, falam da vida dos soldados, da saudade da terra, ou criticam de forma mais dissimulada ou mais directa, a própria guerra.

"De 2ª a 6ª feira, às 14h55 na Antena1, ou nesta página, escute as canções da guerra colonial, enquadradas por uma história. Que pode ser a da própria canção, do seu autor ou de um episódio que com ela esteja relacionado.

"Um programa: António Luís Marinho | Produção: Joana Jorge".


3. Hino dos Gatos Pretos


No Leste da Guiné, entre Madina do Boé e Gabu, na altura Nova Lamego, estava instalada, em Canjadude, a Companhia de Caçadores 5.

Eram os Gatos Pretos. O ex-furriel José Martins, conta-nos a história desta companhia e também a do seu hino.


4. Binóculos de Guerra

Num quartel na região leste da Guiné, Canjadude, numa zona de grande atividade da guerrilha do PAIGC, estava uma companhia africana do exército português, a de Caçadores 5.

A maioria dos oficiais e sargentos era oriunda da metrópole e, nas horas de descanso, criavam-se canções.

O ex-furriel José Martins, que esteve na Guiné entre 1968 e 1970, foi um dos autores de algumas destas canções.

Enviou-nos uma delas, Binóculos de Guerra,  e contou-nos também como nasciam …

(Fonte: Media > RTP  > Canções da Guerra... Com a devida vénia)




Guiné > Região do Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) > 1973 > Interior do "Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude"... O ex- fur mil enf João Carvalho, membro da nossa Tabanca Grande, é o terceiro a contar da esquerda... No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr....

Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o destacamento de Cheche do lado de cá (margem direita) e... o mítico campo fortitificado de Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... Em 24 de setembro de 1973, não em Madina do Boé, mas algures, na vasta e desertificada região do Boé, junto à fronteira (se não mesmo para lá da fronteira...), o PAIGC proclama "urbi et orbi", unilateralmente, numa  "jogada de mestre", a independência da nova República da Guiné-Bissau: foi um verdadeiro xeque-mate à diplomacia portuguesa...  O aquartelamento de Madina do Boé, como se sabe, foi retirado pelas NT em 6/2/1969.

Foto: © João Carvalho (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
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(...) O isolamento em que nos encontrávamos, a necessidade de ocupar a mente com algo diferente que não fosse a actividade operacional, a tentativa de encurtar a distância que nos separava da metrópole, o sentido de improvisação e muitas mais razões, levaram a que os militares tomassem como suas as músicas em voga, na época, e lhes dessem nova vida, com factos que lhes estavam mais próximos e, sobretudo, que ajudavam a manter um espírito de corpo.

Os textos das canções ou poemas que se seguem, quando não identificam o autor, devem ser considerados de criação colectiva, pois que, se sempre há quem lance a ideia e lhe dê uma forma inicial, será o conjunto a sancioná-la e a transmitir-lhe a forma definitiva. (...)

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15206: Lembrete (13): Todos os dias, de 2ª a 6ª feira, na Antena Um, às 14h55, o programa de António Luís Marinho, "Canções da Guerra"... Destaque para "Lágrima da preta": poema de António Gedeão (1961), musicado por José Niza e interpretado por Adriano Correia de Oliveira (1970)



Portal da RTP > "Canções da Guerra": programa de rádio, passa todo os dias, de 2ª a 6ª na Antena Um, às 14h55. Os episódios mais antigos e os mais recentes podem aqui ser vistos.

 O nosso blogue noticiou o arranque do programa e tem dado sugestões à equipa de produção e realização (*). Os ex-combatentes da guerra colonial na Guiné também têm o seu "cancioneiro", os seus versos e canções têm vindo a ser recolhidos ao longo dos anos pelo nosso blogue: aqui vão alguns dos nossos marcadores/descritores:

cancioneiro (63)
Cancioneiro de Bambadinca (3)
cancioneiro de Bedanda (2)
cancioneiro de Canjadude (2)
cancioneiro de Gadamael (1)
Cancioneiro de Gandembel (10)
Cancioneiro de Mampatá (4)
Cancioneiro do Niassa (2)
canção de Coimbra (1)
Canções do Niassa (4)
fado (37)
Fado da Guiné (7)
música (86)
música da tropa (1) [recordada hoje por guineenses, homens e mulheres]


Mas há mais cancioneiros (dispersos): Xime, Mansoa, Cufar, Bafatá, Buba, Empada... São alguns que me lembro de cor, e que têm recolhas de letras...

Um dos nossos camaradas, que está a colaborar com o programa "Canções da Guerra", é o José Martins com uma canção do Cancioneiro de Canjadude, que era uma paródia à canção "Óculos de Sol", interpretada por Natércia Barreto (**)...

Está na altura de ir, novamente, rapar o baú das nossas memórias (neste caso, poéticas e musicais)... Vamos criar uma nova série, "O Nosso Cancioneiro", para reunir todos estes materiais... Algumas das letras não eram musicadas ou perdeu-se a música... LG


1. Sinopse > “CANÇÕES DA GUERRA”

A Antena 1 apresenta "As Canções da Guerra".

A guerra colonial, tendo em conta o seu enorme impacto social, foi motivo de canções.

Desde o hino “Angola é Nossa”, criado após o início da rebelião em Angola, que levou a uma guerra que durou 14 anos.

As canções ligadas à guerra, falam da vida dos soldados, da saudade da terra, ou criticam de forma mais dissimulada ou mais directa, a própria guerra.

De 2ª a 6ª feira, às 14h55 na Antena1, ou nesta página, escute as canções da guerra colonial, enquadradas por uma história. Que pode ser a da própria canção, do seu autor ou de um episódio que com ela esteja relacionado.


Um programa: António Luís Marinho
Produção: Joana Jorge



2. Lágrima da preta, de António Gedeao (letra) e José Niza (música). Intrepatação de Adriano Correia de Oliveira.

Dos episódios mais recentes, permito-.me destacar este poema do António Gedeão, retirado do seu livro livro Máquina de Fogo (1961).

A "Lágrima de Preta" vai ser musicada  por José Niza, e cantada por Adriano Correia de Oliveira, em 1970 (, incluída no seu álbum Cantaremos). 

"O poema é um magnífico hino à igualdade de todas as raças. Apesar disso, ou talvez por causa disso, a censura proibiu a canção.", diz o realizador do programa, António Luís Marinho,

Aqui fica, a seguir,  o poema,que não me lembro de ter ouvido no meu tempo na Guiné: compreensivelmente ainda não fazia parte do reportório dos nossos "baladeiros" no mato... Popularizou-se depois do meu regresso, em março de 1971.

Nas noites de insónia, música e  álcool de Bambadinca, o que estava em voga (em 1969/71) era um outro poema do António Gedeão, a "Pedra Filosofal", cuja letra tinha para alguns de nós um segundo sentido... O último verso ( "ELES" não sabem nem sonham"...)  era cantado a plenos pulmões para "ELES", ali ao lado, ouvirem: o comando de batalhão, os oficiais superiores (tanto do BCAÇ 2852 como sobretudo do BART 2917)...

Para quem a quiser recordar, aqui está, disponível o poema no portal do CITI. É um poema de 1956, do livro Movimento Perpétuo

A interpretação de Manuel Freire ,no progama Zip-Zip, tornou-se "viral", como diríamos hoje... Espero que o Luís Marinho a inclua na sua seleção de "Canções da Guerra"... Muita malta sabia a  letra (e a música) de cor!... (LG). (***)


Lágrima de preta,  de Anónio Gedeão (1961)


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


(Cortesia do portal CITI - Centro de Investigação para Tecnologias Interativas)

____________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15127: Agenda cultural (424): "Canções da Guerra", um programa da Antena 1, todos os dias, a partir de 14 do corrente, de 2ª a 6ª feira, às 10h45, 14h55 e 20h55, com António Luís Marinho...

(**) Vd. poste de 28 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4595: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos) (2): Binóculos de Sol (José Martins)

Vd. também poste de 28 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P576: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

domingo, 28 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4595: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos) (2): Binóculos de Sol (José Martins)



Guiné > Região do Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) > 1973: Interior do Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude... O ex- Fur Mil Carvalho, membro da nossa Tabanca Grande, é o segundo a contar da direita... No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr....

Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o destacmento de Cheche do lado de cá (margem direita) e... o mítico campo fortitificado de Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... Em 24 de Setembro de 1973, não em Madina do Boé, mas algures, na vasta e desertificada região do Boé, junto à fronteira (se não mesmo para lá da fronteira...), o PAIGC proclama "urbi et orbi", unilateralmente,  a independência da nova República da Guiné-Bissau... Madina do Boé, como se sabe, foi retirado pelas NT em 6/2/1969.


Foto: © João Carvalho (2005). Todo os direitos reservados.


1. Mensagem de José Martins (*), ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, com data de 23 de Junho de 2009:

Caros amigos

Para suster a frustação de não ter sido terminada, pelo aparecimento de uma branca total, junto o texto completo da canção interrompida abruptamente [, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, em 20 de Junho de 2009, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional].

Abraços
José Martins


CANCIONEIRO DE CANJADUDE

O isolamento em que nos encontrávamos, a necessidade de ocupar a mente com algo diferente que não fosse a actividade operacional, a tentativa de encurtar a distância que nos separava da metrópole, o sentido de improvisação e muitas mais razões, levaram a que os militares tomassem como suas as músicas em voga, na época, e lhes dessem nova vida, com factos que lhes estavam mais próximos e, sobretudo, que ajudavam a manter um espírito de corpo.

Os textos das canções ou poemas que se seguem, quando não identificam o autor, devem ser considerados de criação colectiva, pois que, se sempre há quem lance a ideia e lhe dê uma forma inicial, será o conjunto a sancioná-la e a transmitir-lhe a forma definitiva.




José Martins cantando os Binóculos de Guerra durante o IV Encontro  Nacional da Tertúlia, no dia 20 de Junho passado, em Ortigosa .

Foto: © Fernando Franco (2009). Todos os direitos reservados


BINÓCULOS DE GUERRA

Com certa frequência a rádio, mesmo a da Guiné, passava a canção Óculos de Sol, interpretada por Natércia Barreto, que falava das suas amarguras numa ida à praia. (**)

Da ida à praia ou ao mato, com óculos ou com binóculos, a adaptação foi fácil…

Já arranjei muito bem, tudo quanto convém,
P’ro mato levar!
A minha arma, o bornal e o cantil com a água
P’ra me refrescar.

O emissor/receptor e o meu camuflado
Também estão na acção.
E como é bom de ver não podia esquecer
As granadas de mão,

Que levo p’ra atirar, p’ra defender.
P’ra amedrontar e o turra deter.
Para aumentar, o seu sofrer!

Pois eu sei que te hei-de encontrar
Talvez deitado na orla do mato
Com a arma ao lado e eu vou passar
A tarde emboscado.

Já pensei não sair, mas eu tenho de ir
Subir à montanha.
Mas que hei-de fazer p’ra não ter de passar,
Naquela bolanha.

Então peço ao meu Deus que me ajude na mata
Sou um ser pequenito,
E que traga depressa da querida Lisboa
O meu Periquito!

P’ra eu me ir embora, desta guerra
P’ra voltar, à minha terra
P’ra deixar, esta Guiné!

Pois eu sei que quando voltar
Estarás no cais p’ra me abraçar
Adeus às armas, eu vou dizer
E a arma entregar!

...Vou Partir, vou voltar …


Dado que a Companhia de Caçadores 5 era uma subunidade de guarnição normal, constituída por oficiais, sargentos e praças especialistas do continente e praças recrutadas na própria província, era de rendição individual. Isto quer dizer que os elementos eram mobilizados e enviados para a companhia um a um, pelo que a sua substituição também era feita elemento a elemento. Daí que, para a substituição no fim da comissão, havia um certa carácter individualista, que também transparece no texto.

Nota: Este texto faz parte do Cancioneiro de Canjadude que incluiu canções e poemas escritos pelos elementos da companhia e que foram recolhidos, depois do ano 2000, em visitas cíclicas à Biblioteca do Estado-maior do Exército. Se as recolhas efectuadas vieram a ser publicadas, darão lugar à “QUINTA DOS GATOS PRETOS DE CANJADUDE” (***).
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4592: Bibliografia de uma guerra (51): "Cambança" de autoria de Alberto Branquinho (José Martins)

(**)Vd. letra orignal da canção Óculos de Sol
Natércia Barreto

Composição: Natércia Barreto

Já arranjei muito bem
Tudo quanto convém
PÂ’ra praia levar
O pente, o espelho, o baton
E o creme muito bom
PÂ’ra me bronzear
Tenho o meu rádio portátil
E o bikini encarnado
Também está no meu rol
E como é bom de ver
Não podia esquecer
Os meus óculos de sol

Refrão:
Que levo pÂ’ra chorar uuuuhuh
Sem ninguém ver
PÂ’ra não dar uuuuhuh
A perceber
PÂ’ra ocultar uuuuhuh
O meu sofrer
Pois eu sei que te hei-de encontrar
Talvez deitado à beira-mar
Com outra lado
E eu vou passar
A tarde a chorar

Já pensei não sair
Mas aonde é que eu hei-de ir
Com este calor?
O que é que eu hei-de fazer
PÂ’ra não ter que te ver
Com o teu novo amor?
Ver-te-ei com certeza
Mas eu peço à tristeza
Um pouco de controle
E pelo sim pelo não
Eu vou ter sempre à mão os meus óculos de sol

Vou chorar
Uuuuh uh
Vou sofrer
Uuuuh uh
Vou chorar
Uuuuh uh


(***) Sobre o Cancioneiro de Canjadude, vd. poste, da primeira série, de 28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

Sobre a CCAÇ 5, vd. ainda:

23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIV: O nosso fotógrafo em Canjadude (CCAÇ 5, 1973/74)

5 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIX: O ataque de foguetões a Canjadude, em Abril de 1973 (João Carvalho)


4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIV: Os últimos dias de Canjadude (fotos de João Carvalho)

4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCV: A última noite em Canjadude (CCAÇ 5) (João Carvalho)

5 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCVI: A dolce vita de Canjadude, até ao dia 27 de Abril de 1973 (João Carvalho)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

7 deAbril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXX: CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos de Canjadude (José Martins)

13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4028: FAP (17): Do Colégio Militar a Canjadude: O meu amigo Tartaruga, o João Arantes e Oliveira (Pacífico dos Reis)