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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27325: A nossa guerra em números (41): quantos eram os elementos do serviço de saúde por batalhão ? E por companhia ? Médico, enfermeiro, auxiliar de enfermeiro, maqueiro...


Guiné > Região de Bafatá >Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Finete > Elementos da 1.ª secção do 2.º Gr Comb da CCAÇ 12 , num patrulhamento ofensivo ao Mato Cão, para montagem de segurança à navegação do rio Geba Estreito >

"Eu, Fernando Andrade Sousa, à esquerda, na primeira fila, com a mala de primeiros socorros, e a minha G-3 (nunca usei pistola), com malta de da 1ª secção do 2º Gr Comb, da CCAÇ 12. 

Além do Arménio Monteiro da Fonseca, de alcunha o "Campanhá" [que vive no Porto, em Campanhã], a secção era composta por: (i) soldado arvorado Alfa Baldé (Ap LGFog 3,7); e ainda os sold Samba Camará, Iéro Jaló, Cheval Baldé (Ap LGFog 8,9) [, à direita do Arménio), Aruna Baldé (Mun LGFog 8,9) [, à minha esquerda], Mamadú Bari, Sidi Jaló (Ap Dilagrama) (FF) [, dado como tendo sido fuzilado depois da independência], Mussa Seide, e Amadú Camará, todos fulas ou futa-fulas. Desta vez, o  comandante de  a secção foi  o fur mil arm pes inf Henriques [o nosso editor, Luís Graça], de óculos escuros, ao lado do Arménio". 

Foto (e legenda): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Crachá da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)



1. Cada Batalhão  (Infantaria, Artilharia ou Cavalaria)  ou deveria ter, segundo as famosas NEP que ninguém conhecia:
  • quatro médicos (um por companhia);
  • quatro sargentos enfermeiros (um por companhia);
  • nove cabos auxiliares de enfermeiro (três por cada subunidade de quadrícula ou companhia operacional);
  • quatro maqueiros (só a CCS).
Na prática isso não acontecia, ou só muito raramente, vinham sempre desfalcadas de médicos e de 1ºs cabos auxiliares de enfermeiro. 

2. Pegando na História da Unidade do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74):

Constata-se que tinha 1 capelão (com o era a norma), mas não tinha médico quando chegou ao CTIG em 28/9/72 (o comando e a CCS) (com regresso a 27/9/1974).
  • a CCS levava um furriel enfermeiro;
  •  dois 1ºs cabos aux enf;
  • e dois sold maqueiros;
A 1ª C/BCAÇ 4612/71 desembarcou com:
  •  um fur mil enf;
  •  dois 1ºs cabos aux enf.
 A 2ª Companhia não tinha, originalmente, nem fur enf nem 1ºs cabos aux enf. 

A tinha um fur enf, e um 1º cabo aux enf.

Este batalhão vinha, pois, desfalcado de pessoal sanitário. Pelos complementos e recomplementos, que constam da história da unidade, vê-se que o pessoal de saúde teria maior taxa de turnover ou rotação... O então havia já, na metrópole, escassez deste pessoal...


3. Um batalhão, a que eu estive adido (de julho de 1969 a maio ou junho de 1970), o BCaç 2852 (Bambadinca, 1968/70), parecia ter o quadro orgânico completo:
  • a CCS tinha 3 médicos (mas eu só conheci um; também não tinha capelão);
  •  dispunha de um fur enf + um 1º cabo aux enf + 2 sold maqueiros (e ainda um 1º cabo de análise e depósito de águas);

Das companhias de quadrícula, a CCAÇ 2404, CCAÇ 2405 e CCAÇ 2406, verifico, pela história da unidade, que todas estavam dotadas de:
  • um fur enf;
  • três 1ºs cabos aux enf.
  • os soldados maqueiros só existiam nas CCS.
4. Outro batalhão, a que esteve adida a CCAÇ 12, o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) tinha, a CCS: 
  • 2 alferes médicos (mas eu, em meados de 1970, só conheci um) (trazia também um capelão, o nosso amigo Arsénio Puim);
  • 1 fur mil enf;
  • 1 cabo aux enf;
  • 4 soldados maqueiros;
  • 1 cabo analista de águas.
As CART 2714 (Mansambo)  e 2715 (Xime)  tinham,  cada um delas:
  • 1 fur mil enf;
  • 3 cabos aux enf.
A CART 2716 (Xitole) só dispunha originalmente de 1 fur mil enf + 2 cabos aux enf.


5. Descendo ao nível de uma subunidade, como a CCAÇ 12, companhia de recrutamento local, que foi subunidade de intervenção ao serviço do BCAÇ 2852  (Bambadinca, 1969/70) e depois do BART 2917 (Bambadinca, 1970/71)...

Em comentário à publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa
, já escrevemos aqui me tempo o seguinte:

É inacreditável como é que a CCAÇ 12, uma subunidade de intervenção, só tinha dois enfermeiros operacionais para alinhar no mato, aliás, dois 1ºs cabos aux enf, o Fernando Sousa e o Carlos Alberto Rentes dos Santos.

E este último só por pouco tempo, já que foi trabalhar como carpinteiro (!) no reordenamento de Nhabijões!... 

O 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro foi cedo evacuado para a metrópole, por doença infetocontagiosa (hepatite, segundo creio) e só muito mais tarde foi substituído pelo 1º cabo aux enf Fernando B. Gonçalves [de quem já nem me lembro a cara].

Os alf mil medicos e os furrieis mil enfermeiros (como era o caso do nosso João Carreiro Martins, de resto já enfermeiro na vida civil ) não alinhavam no mato (!), sendo cada vez mais absorvidos pelas tarefas de prestação de cuidados de saúde às populações civis!... E não tinham mãos a medir!

Spínola parecia confiar apenas no HM 241, nos helicópteros da FAP e nas enfermeiras paraquedistas que vinham fazer as evacuações Ypsilon!... 

Mas é legítimo perguntar-se: quantos camaradas nossos não terão morrido por falta de primeiros socorros e reanimação no mato?!... 

A vida ali contava-se ao segundo... 

E nenhum de nós, graduados, capitão, alferes, furriéis ou cabos, tinha aprendido na academia militar, ou recruta e na especialidade (tratando-se de milicianos ou praças do cointingente geral) a fazer um simples garrote para estancar um ferimento de bala numa perna ou num braço!... Muito menos administrar um soro... Ou dar uma injeção de morfina!... É que os enfermeiros também eram alvos a abater, no caso de uma emboscada no mato...

Nunca vi ninguém protestar por esta insólita situação. Aliás, protestava-se pouco. A nossa geração nasceu já com a canga em cima! A malta comia e calava
...

A política "Por uma Guiné Melhor" levou Spínola a "canibalizar", literalmente,  o seu próprio exército: alguns dos nossos melhores operacionais eram afetados a missões civis, como os reordenamentos, os postes militares escolares e os serviços de saúde! ... E mais: os nossos melhores operacionais (alferes e furrieis) iam para as "africanas"...

Spínola tinha pressa em "roubar" as populações ao PAIGC... Spínola sempre quis superar o Amílcar Cabral... Ficar na história da Guiné. E até de África. Não o deixaram, os capitães do MFA, fazer o referendo que ele tanto secretamente ambicionava. 

Não temos dúvidas que, taco a taco, ele ganharia ao Amílcar Cabral em 1972, antes de este ser assassinado. Miseravelmente, pelas suas próprias criaturas. 

Tinha os fulas e os manjacos e os felupes, a seu lado, e um parte dos balantas e mandingas e dos papéis. E a pouco e pouco reconquistaria o coração dos "guinéus". Era só uma questão de tempo... Mas ele tinha o tempo contra si!... O tempo histórico.  E depois do 25 de Abril de 1974, já era tarde... demais. 

Sim, Spínola queria conquistar os guinéus. Não pela força das armas mas pela força da razão e do coração. Ouvi este trocadilho por diversas vezes. 

Com a melhor das intenções, seguramente, mas a verdade é que Spínola e os spinolistas acabaram por desfalcar as companhias que andavam na "porrada"... 

Enfim, não sabemos  o que se passava com as tropas especiais,que tinham outro estatuto e poder reivindicativo... Seria interessante saber como estavam organizados os serviços de saúde nos destacamentos de fuzileiros especiais, nas companhias de comandos, no BCP 12...

Mais: a CCAÇ 12 é obrigada a participar diretamente no "projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões", ao tempo do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917), fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos operacionais:
  • alf mil António Carlão (cmdt do 2º Gr Comb, transmontano, oriundo do CSM,  já falecido);
  • fur mil at inf Joaquim M. A. Fernandes (cmdt da 1ª seção do 4º Gr Comb; será ferido numa mina /AC à porta do reordenamento, em 1371/1971);
  • 1º cabo at inf Virgílio Encarnação (cmdt da 3ª seção do 4º Gr Comb);
  • sold arv at int Alfa Baldé;
  • (e adicionalmente) sold cond auto Manuel Costa Soares (morreu  na mesma mina A/C a 13/1/71 em Nhabijões; nunca conheceu a filha pequena que deixou na terra).

Foram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969, os quatro primeiros, estava  a CCAÇ 12 há três meses em Bambadinca, às ordens dos "veteranos" do  BCAÇ 2852...

Foram ainda requisitados à CCAÇ 12 dois carpinteiros, um  1º cab at inf (cujo nome ainda consegui saber) e próprio 1º cabo aux enf Carlos Albertos Rentes dos Santos.

A CCAÇ 12 tinham 24 operacionais (graduados e 1ºs cabos atiradores), 
metropolitanos ( os restantes eram especialistas), e uma centena de praças do recrutamento local, praticamente todos fulas,  distribuídos por 4 grupos de combate.

 Os especialistas, metropolitanos (condutores auto,  mecânicos, transmissões, cripto, enfermagem,  etc..) eram  menos de 4 dezenas elementos ( viemos todos, uns 60, no T/T Niassa em 24/5/ 1969; pertencia os á CCAÇ 2590).

Os 4 elementos operacionais brancos que são retirados à companhia (futura CCAÇ 12), representavam... um 1/6 do total!

Na prática, e durante muitos meses, o pobre do 1º cabo aux enf Fernando Andrade Sousa era o único a "alinhar no mato", dos 4 elementos iniciais da equipa de saúde!... (A CCAÇ 12 não tinha, de resto, soldados maqueiros, que só existiam nas CCS;  é possível que, por vezes, tenha alinhado o pessoal sanitário da CCS em operações a nível de batalhão.)

E o Fernando também tinha, além disso, de integrar as equipas de "ação psicossocial
" (!), por exemplo, as visitas às tabancas, vacinação, etc....

E mais: ia todos os dias para o posto de saúde quando estava em Bambadinca!... E ainda foi destacado, dois ou três meses, no princípio de 1970, para o Xime da CART 2520, que estava sem enfermeiro!...

Em conclusão foram homens como o Fernando Andrade Sousa, "marca car*lho...",, como se diz no Norte, que seguraram as pontas desta "p*ta... de guerra"!... 

Julgo que levou, no fim, um louvor, averbado na caderneta militar, como seria, de resto, da mais elementar justiça!... Era o mínimo que  o capitão lhe podia dar!

O Sousa vive na Trofa. E infelizmente não está  bem de saúde. Já não me reconhece quando lhe telefono. Era o campeão dos convívios anuais. Até há uns anos atrás não faltava a nenhum. É uma dor de alma, amigos e camaradas!
________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 15 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27321: A nossa guerra em números (40): em 1967, no CTIG, existiam 76 tabancas em autodefesa, 350 com armamento distribuído, e 20 mil "mausers" (c. 12 mil em mãos de civis)

terça-feira, 1 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26971: Humor de caserna (202): Dormir nu por causa do clima à noite e ter sonho "manga di bom": aerograma datado de Bambadinca, 1 de dezembro de 1969, dirigido à sua amada pelo nosso saudoso Fernando Calado (1945-2025)




Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Fernando Calado (1945-2025) e Rosa Calado: um grande amor para a vida. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013  > Ismael Augusto (em segundo plano) e Fernando Calado: dois amigos para a vida. Partilharam o mesmo quarto em Bambadinca (1968/70).


Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Comando e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  c. setembro / outubro de  1969 >  A equipa de futebol de oficiais de Bambadinca que acabara de jogar contra uma equipa de sargentos.

Na fotografia aparecem, na segunda fila, da esquerda para a direita: de pé, o alf mil Beja Santos (cmdt do Pel Caç Nat 52, 1968/70), o alf mil médico, David Payne Pereira (já falecido em data anterior a 2006;  era um conhecido psiquiatra, deve ter ido em outubro/novembro de 1969 para o HM 241, em Bissau;  substituído em novembro pelo Joaquim Vidal Saraiva, cirurgião), o major Cunha Ribeiro (1926,-2023),  comandante do BCAÇ 2852 (chegou a Bambadinca em setembro de 1969), o cap inf Carlos Alberto Machado de Brito (hoje cor ref, vive em Braga), comandante da CCAÇ 12, e ainda o alf mil at int Abel Maria Rodrigues, também da CCAÇ 12.

Na primeira fila, da esquerda para a direita, um oficial miliciano  que ainda está por identificar, seguido de três alf mil nossos camaradas,  José António G. Rodrigues, da CCAÇ 12 (já falecido), o António Carlão, também da CCAÇ 12 (já falecido) e o Ismael Augusto (CCS /BCAÇ 2852). 

O Fernando Calado, alf mil trms, também fazia parte desta equipa mas fracturou um braço, não aparecendo por isso na foto de grupo (que é  do álbum do cor inf Cunha Ribeiro).

Foto: © João Pedro Cunha Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A propósito da canícula destes dias de finais de junho (em que no passado domingo, ao início da tarde, se atingiu, em Mora, um novo e preocupante recorde de temperatura para este mês, no nosso país, 46,6° C,  valor próximo do máximo histórico absoluto registado em 2003, na Amareleja, 47,3º C), fui recuperar um aerograma do nosso saudoso Fernando Calado (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025), escrita para a sua namorada de então (e futura esposa e mãe dos seus dois  filhos, a Rosa Calado).  O aerograma é datada de Bambadinca, 1 de dezembro de 1969. 

O documento, já publicado em tempos no nosso blogue (*), merece ser recuperado melhorado  e reproduzido. Por diversos motivos:

 (i) é uma belíssima carta de amor;

 (ii) tem apontamentos sobre o nosso quotidiano e os "usos e costumes" na Guiné;

(iii) raramente, em tão poucas linhas de um aerograma, se dizia tanto sobre a vida " concentracionária" de um oficial miliciano ( e para mais de transmissões)  na Guiné;

 (iv) confirma o que todos nós experimentámos: o território tinha então (e continua a ter) um clima tropical húmido, caracterizado por temperaturas elevadas durante todo o ano e uma humidade relativa do ar extremamente alta, suscetível de causar desidratação e esgotamento, dificuldades respiratórias, problemas de pele, problemas de sono, doenças tropicais, stress físico e psicológico, conflitualidade grupal e interindividual, etc., problemas agravados pela guerra e a atividade operacional, o isolamento, a saudade, a par do elevado consumo de álcool, procura de sexo e outros comportamentos aditivos como o jogo.

Tomando hoje Bissau como ponto de referência, pode dizer-se que a estação das chuvas  é opressiva e de céu encoberto; a estação seca é húmida, com céu parcialmente encoberto; ao longo do ano,  o clima é sempre quente e húmido: em geral a temperatura varia de 19 °C a 35 °C e raramente é inferior a 17 °C ou superior a 38 °C. Dezembro e janeiro são meses mais frescos á noite. (Um europeu pode chegar a tiritar de frio, á noite, emboscado no mato, situação por que o Fernando nunca terá passado.)

Dormir nu à noite (com ou sem lençol) era relativamente normal, podendo todavia originar algumas "cenas pícaras" como a que  aqui é descrita (**)... 

Os guineenses (e nomeadamente os fulas) lidavam melhor com a nudez: os soldados da CCAÇ 12, do recrutamento local, por exemplo, tomavam banho nus, em grupo, no rio, sem complexos.  Os "tugas", naquela época, eram mais púdicos. 

 De qualquer modo, as nossas manifestações de recato e pudor não eram exatamente as mesmas... Eram fortemente modeladas pelas nossas diferentes  culturas (e não propriamente "civilizações").

No quartel de Bambadinca, que até tinha razoáveis instalações para  oficiais e sargentos, construídas de raiz pelo BENG 447,  os oficiais milicianos dormiam em quartos com três camas. Quartos individuais eram um privilégio de capitães e oficiais superiores.  Os sargentos dormiam em quartos para cinco. As praças metropolitanas em casernas sem condições. Os guineenses nas duas tabanca de Bambadinca com as suas famílias.

 O Fernando Calado (ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70) era um felizardo,  partilhava o quarto só com o Ismael Augusto (ex-alf mil manutenção), já que o João Rocha, ex-alf mil rec inf  [João Alfredo Teixeira da Rocha (Ilha de Moçambique, 1944 - Porto, 2018)] cedo deixou a companhia e o batalhão, por motivos disciplinares.

Inserir este aerograma na série "Humor de caserna" é também uma forma de homenagear um camarada e amigo como o Fernando Calado  de quem o Hernani Figueiredo disse recentemente (em mensagem de domingo, 29/06/2025, 17:26):
 
(...) "Encontrámo-nos no BC 5, em Campolide, antes da mobilização de ambos para a Guiné, ele no BCAÇ 2852 e eu no BCAÇ 2851.

"Desde há alguns anos que falávamos telefonicamente, especialmente na época natalícia. Partiu um bom homem, cidadão e amigo.

"Um eterno descanso em paz. Hernani Figueiredo." (...)

Como a maioria dos militares mobilizados para as guerras de África, o Fernando "escrevia o aerograma á (sua) namorada" (...)," quase diariamente, ao princípio da noite". Este foi um dos aerogramas que, em vida, ele quis partilhar connosco (*).


 Aerograma de Fernando Calado > Bambadinca, 1 de Dezembro de 1969

Meu amor:

Esta manhã, acordei sobressaltado, e reparei que estavam no quarto 2 bajudas (mulheres jovens da Guiné) que nos traziam a roupa lavada e que riam à gargalhada.

Estava nu, de barriga e outras coisas para cima, e transpirado como sempre.

Olhei para o camarada do lado que estava tão aflito como eu, e, à boa maneira europeia, tentei cobrir-me com um lençol que não tinha.

Perguntei então às bajudas porque se riam, tendo elas respondido o seguinte: 

− Alfero, sonho manga di bom hoje mesmo!

Para além do embaraço, pensei depois que afinal eu, um homem dito civilizado, tive uma postura naturalmente preconceituosa enquanto que elas, mulheres ditas primárias, tiveram uma postura naturalmente genuína, tendo expressado com rigor o que se tinha passado e rido com gosto a propósito de uma situação bastante caricata.

Passei a manhã a tratar da organização das transmissões de vários grupos operacionais escalados para operações e mais uma vez os comandantes de pelotão disseram-me que os rádios são uma merda e que, por vezes, não funcionam em situações de emergência.

Eu bem sei que me disseram sempre que os rádios são os mesmos da II Guerra Mundial mas, mesmo assim, custa-me anos de vida quando não se consegue fazer o contacto para evacuação de feridos.

Sinto assim, apesar dos meus 24 anos, que tenho uma responsabilidade excessiva e não me resta outra alternativa senão tentar ser o mais eficiente possível.

Antes do almoço, depois do segundo banho do dia, dirigi-me ao bar onde saboreei descontraidamente o meu whisky com água Perrier.

Gosto particularmente deste momento do dia. Diz-se aqui, que na Guiné existem apenas 2 coisas boas: o whisky com água Perrier e o avião para a Metrópole.

Chegou depois o meu colega de quarto 
[alf mil Ismael Augusto ] e a propósito de qualquer coisa que já não me recordo, ocorreu uma discussão de tal ordem que quase andámos ao murro.

Foi uma vergonha e fomos até ameaçados de ser castigados. São horas, dias, semanas, meses, anos a aturar-nos, sempre em tensão e dentro deste espaço ladeado por arame farpado.

Na verdade, penso que as discussões, a batota, os copos, o calor, os ataques, as emboscadas, etc. criaram uma cumplicidade tal, que tudo indica que seremos amigos do peito para toda a vida

Como se isso não bastasse, durante o almoço o médico 
[alf mil  Joaquim Vidal Saraiva  ]   veio comunicar-me que mais de metade dos soldados da companhia estavam infectados com blenorragia (designação apropriada do termo de calão muito conhecido que dá pelo nome de esquentamento e que se reporta a uma infecção nos órgãos genitais).

Segundo ele, a penicilina não está a actuar em virtude do calor excessivo e da elevada taxa de humidade e, portanto, é necessário organizar uma reunião de esclarecimento com todos os soldados disponíveis.

Soube depois que o pedido a mim dirigido resultava,  afinal, do facto do meu pelotão ter a maior taxa de elementos infectados.
 [O pelotão de transmissões da CCS tinha 1 alferes, 3 sargentos, 9 cabos e 8 soldados].

Durante a tarde algumas pessoas conseguem dormir a folga, coisa que nunca consegui e ainda menos com este calor e esta humidade.

Eu, como todos os dias que não saio do aquartelamento, cumpri algumas tarefas burocráticas que a tropa, mesmo em guerra, não dispensa.

Mais tarde vagueei, uma vez mais, dum lado para o outro sempre com a sensação de estar encurralado, na ânsia de conseguir gastar o tempo que me falta para me livrar disto.

Por vezes ocorrem, no final do dia, momentos de alguma descontracção. Conversamos sobre a nossa vida na Metrópole e damos umas voltinhas de jipe.

Não tenho carta de condução, mas conduzo. Recebi umas lições do meu colega de quarto e desenrasco-me. De qualquer modo ninguém, nesta situação, está interessado em saber se tenho ou não carta de condução.

Já anoiteceu e partir de agora e até pegar no sono, o que acontecerá lá para as tantas da manhã, instala-se o medo e a saudade.

Eu, que sempre gostei da noite, juro-te que aqui odeio a noite. Estamos todos fartos de fumar, de beber e de jogar, mas a verdade é que estas actividades aliviam, de facto, o medo e a saudade.

Hoje é feriado [1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência de Portugal, ] e a probabilidade de haver problemas aumenta. A malta está mais concentrada, fala mais baixinho. [No dia 28 de Maio de 1969, Bambadinca tinha sido atacada em força.]

A questão do medo é surpreendente. Há camaradas que parecem não ter medo nenhum. É como se estivessem em casa ou numa esplanada e, mesmo debaixo de fogo, funcionam normalmente.

Depois, talvez a maioria, tem imenso medo, mas mercê de um enorme esforço consegue controlar a situação (julgo que me enquadro neste grupo).

Finalmente há camaradas, alguns deles aparentemente corajosos, que em quase todas as situações, entram em pânico total e que precisam sempre de ajuda. São obviamente os que sofrem mais, quer durante a situação, quer sobretudo pela vergonha que sentem depois.

Tenho saudades de tudo na metrópole: das pessoas, das ruas, dos jornais, da rádio, dos carros e até dos comboios que aqui não existem.

Quanto a ti, meu amor… Acredita, nunca imaginei que a saudade que sinto de ti me provocasse tamanha dor física. Dói-me a cabeça, dói-me as pernas, dói-me o peito… enfim dói-me tudo.

Sei que estou desesperado, mas não resisto a dizer-te que dava anos da minha vida, se é que os vou ter, para estar neste momento contigo.

São 8 horas da noite e a temperatura nesta altura é um pouco mais amena. Se calhar esta noite vou ter de pôr um lençol na cama, não vou transpirar a dormir, e… talvez tenha um sonho manga di bom.

Do teu para sempre,

Fernando.


[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição no blogue; negritos e parênteses retos; título: LG]

______________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 30 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20191: (De) Caras (112): O aerograma de 1 de dezembro de 1969: "Meu amor, se calhar esta noite vou ter de pôr um lençol na cama, não vou transpirar a dormir, e… talvez tenha um sonho manga di bom"... (Fernando Calado, ex-alf mil trms, CCS/ BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Guinér 61/74 - P26961: In Memoriam (554): Algumas "histórias pícaras" do regresso a casa (Fernando Calado, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70) (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025)


T/T Carvalho Araújo > Viagem de regresso Bissau - Lisboa > BCAÇ 2852 >Estuário do Tejo >  Ponte Salazar e Monumento de Cristo Rei > Chegada a 26 de junho de 1970.

Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)




Documento da passagem â disponibilidade, passado em 19 de julho de 1970, pelo cmdt do RI 2, Abrantes. (Cortesia de Fernando Calado.)



T/T Carvalho AraújoO T/T : propriedade da Empresa Onsulana de Navegação. Tinha lotação para 354 passageiros. Foi abatido em 1973. Imagem extraída do sítio "Navios porugueses", que deixou de estare dispponível "on line". Estava alojada no Sapo.pt.




Fernando Calado (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025), 
ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)


1.  O T/T Carvalho Araújo levou, no rgresso a Lisboa,  9 dias a fazer uma viagem que levaria cinco dias (em condições normais). Segundo o comandante em exercício da CCS/BCAÇ 2852, o alf mil trms Fernando Calado, o navio esteve parado em alto mar mais um dia, por causa de um tufão.

Recorde-se que o BCAC 2852 terminou a sua comissão, no Sector L1 (Bambadinca), região de Bafatá, Zona Leste   em finais de maio de 1970. Nos dias  29 e 31 de maio [de 1970] chegaram as forças do BART 2917, que vieram render o BCAÇ 2852,  começando-se assim a sobreposição. Durante esse período, as novas companhias de quadrícula [CART 2714, Mansambo; CART 2715, Xime; e CART 2716, Xitole] ficatram a conhecer as suas zonas de ação.

O BCAÇ 2852 tinha chegado a Bissau, quase dois anos antes, em 29 de julho de 1968.

Em 8 de junho de 1970, o BCAÇ 2852 deixou o Setor L1, indo para Bissau, viajando em LDG a partir diooXime, e aguardando entáo embarque para a Metrópole. O regresso a Lisboa, no velhinho  T/T Carvalho Araújo,inicou-se em 16 de junho de 1970. Aliás, não foi o batalhão, foi o comando e a CCS do batalhão, m
ais a CCAÇ 2404, do mesmo Batalhão (passou por Mansambo, fez algumas operações em conjunto com a CCAÇ 12).

O navio ficou um dia no Funchal, o que permitiu que alguns militares, em grupo, alugassem  táxis e fossem dar uma voltinha pela ilha. Foi o caso do Otacílio Luz Henriques, o "capinhas", que tirou "slides" de algums sítios madeireenses.

Acrescente-se que o Fernando Calado, foi nomeado comandante da CCS/BCAÇ 2852 (e não propriamente das tropas embarcadas), face à escusa do tenente SGE (Serviços Gerais do Exército), o nosso conhecido, açoriano, Manuel Antunes Pinheiro, o chefe de secretaria do comando do BCAÇ 2852. 

Explicação dada pelo Fernando Calado: não havia mais  oficiais do comando e CCS do batalhão (por o gen Spínola lhes ter posto um "par de patins"...).
 

2. Em pequena homenagem ao amigo e camarada "bambadinquense" que acaba de se despedir da "Terra da Alegria (`), vamos aqui recuperar e reproduzir livremente algumas peripécias que ele nos contou dessa viagem (**).
 


O  regresso a casa, do pessoal do BCAÇ 2852, no velhinho T/T Carvalho Araújo


(i) O Fernando Calado, no dia da partida do T/T Carvalho Araújo, esteve muito atarefado com as diligências e as burocracias do embarque, pelo que nem sequer tivera tempo de almoçar a bordo. 

O capitão do navio, pronto a partir, deu-lhe autorização para "em vinte minutos, meia hora, no máximo" ir ao “Pelicano”, ali ao lado, na marginal, comer qualquer coisa... Ainda se lembrava do prato que escolhera e de que gostava muito, "um bife de gazela com batatas fritas" (!)...

(ii) A caminho de Lisboa, o navio fez uma paragem no Funchal... Houve aproveitasse fora fazer turismo... Outros foram provar a poncha...Dois camaradas ficaram em terra a curtir uma “cardina”… 

No regresso, feita a recontagem do pessoal embarcado, faltavam dois militares… Seriam reencontrados a dormitar numa esplanada…(Não sabemos se eram da CCS/BCAÇ 2852 ou da CCAÇ 2404; também não sabemos se, sendo da CCS,  apanharam uma "porrada", mas  é pouco crível que o comandante, no final da comissão, lhe tenha estragado a vida.)

(iii) Outra peripécia: o Fernando Calado lembra-se ainda que teve de “acalmar” vários militares da CCS que vieram com blenorragias (“esquentamentos”), mal curadas... 

Alguns eram casados, um inclusive tinha-se casado por procuração (!)… O drama era saber o que é que iriam dizer às esposas que os esperavam...

Alguns, mais desesperados, batiam com os punhos na cabeça: “Mas porque é que não eu fiquei em Bissau?!”... 

O Fernando lá arranjou uma solução diplomática mas salomónica: quando chegassem a casa, os “entrapados” contavam a verdade, pura, dura e crua: ficavam à espera que a penicilina acabasse por surtir efeito… e que a "patroa" os perdoasse...

 Em suma, não era caso para se atirarem ao mar, infestado de tubarões... E, felizmente, havia já a "bala mágica", como a malta chamava à penicilina...E,. depois, as Marias também sabiam que "a carne era fraca"...

(v) Enfim, ele tinha prometido, no regresso a Lisboa, passar ao papel estas e outras memórias dessa algo rocambolesca e pícara viagem que, em vez de cinco, demoraria nove dias (de 16 a 25 de junho de 1970)... Por causa do tufão e da paragem técnica no  Funchal. Em boa verdade, até deu jeito aos "entrapados": tiveram quatro dias extra para ver acontecer o milagre da "bala mágica"...


Aqui fica um primeiro resumo. Infelizmente, o  resto fica para contar, pelo Fernando Calado, na nossa próxima tertúlia celestial...(Ainda não consergui falar com ninguém que tenha lá estado ou por lá passado, mas imagino que 0 sítio não deve ser nenhum hotel de cinco estrelas...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)

_____________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de:

27 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26960: In Memoriam (553): O Fernando Calado (1945 - 2025) que eu conheci e com quem convivi na Casa do Alentejo (José Saúde, Beja)

27 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26959: In Memoriam (552): Fernando de Carvalho Taco Calado (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968-1970): foi gestor de recursos humanos e docente universitário

(**) Vd. poste de 25 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21196: Os nossos regressos (36): Comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70): foi há 50 anos, no T/T Carvalho Araújo, com algumas pequenas peripécias... (Fernando Calado)

Guiné 61/74 - P26959: In Memoriam (552): Fernando de Carvalho Taco Calado (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968-1970): foi gestor de recursos humanos e docente universitário





Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) > Dois alentejanos e camaradas do nosso blogue, amigos do peito, o Fernando Calado (de camisola vermelha) e o Ismael Augusto. (Ambos foram alf mil da CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70). E ambos partilharam o mesmo quarto...Um terceiro elemento era o João Rocha (1944-2018).


Foto (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-




Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 > A organização coube ao Fernando Calado (na foto, à esquerda), coadjuvado pelo Ismael Augusto, ambos da CCS/BCAÇ 2852 (1968/71).


O grupo (mais de 60 convivas) teve na dra. Rosa Calado (na foto, ao centro), elemento da direcção da Casa do Alentejo, uma simpatiquíssima anfitriã. O editor do blogue e fotógrafo, à direita, chegou tarde, mas ainda a tempo de constatar que a organização esteve impecável e o que o sítio não podia ser melhor, em pleno coração de Lisboa. O fotógrafo de circunstância foi o Ismael. A Rosa, na altura, era professora de história no ensino secundário. O casal vivia em Lisboa. Durante anos e anos dedicou-se de alma e coração à animação da Casa do Alentejo (um amor que também era partilhado pelo Fernando, de resto um bom executante do cante alentejano que, em 2007, estava longe  do palco do mundo).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Casa do Alentejo> 8 de fevereiro de 2020 > Apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: Memórias de Gabu" (Lisboa, Colibri, 2019, 220 pp.)... Em primeior plano, a Rosa Calado. que foi sempre, para nós, antigos combabentes, uma inexcedível e magnànima anfitriã.

À dra. Rosa Calado, então  diretora cultural da Casa do Alentejo,  eu chamava-lhe por graça "a ministra da cultura do Alentejo"...    (A  Casa do Alentejo tinha, nessa altura,  um restaurante e uma taberna com cerca de 500 lugares; dava trabalho a 40 pessoas; e  organizava eventos: tinha a agenda cheia até maio de 2020; infelizmente, veio a pandemia.)



Lisboa > Casa do Alentejo> 8 de fevereiro de 2020 > Apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: Memórias de Gabu" (Lisboa, Colibri, 2019, 220 pp.)

Da esquerda para a direita: Fernando Calado (que pertencia então aos corpos sociais da Casa do Alentejo) mais o Humberto Reis, dois camaradas de Bambadinca: alf mil trms (CCS/ BCAÇ 2852, 1968/70), e fur mil op esp / ranger, CCAÇ 12 (1969/71)...


Fotos (e legendas: © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné




Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades, como o Pel Caç Nat 52, adidas ao comando do BCAÇ 2852, se encontrou depois do regresso a casa... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018)

Mostra-se aqui um pormenor da foto de grupo. Na primeira fila, da esquerda para a direita:

(i) fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, da CCAÇ 12 [, vivia no Porto, na altura ];

(ii) sold cond auto Dinis Giblot Dalot [empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres].

Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita:

(iii) Fernando [Carvalho Taco] Calado (1945-2025), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 [vivi em Lisboa];

(iv) ex-alf mil manutenção material, Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 [ vive em Lisboa];

(v) ex-fur mil at inf António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vive em Martingal, Sagres, Vila do Bispo];

(vi) ex-capitão inf Carlos Alberto Machado Brito, cmdt da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 [cor inf ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR];

(vii) Pinto dos Santos, já falecido, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852, [vivia em Resende].


Foto (e legenda): © Fernando Calado (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Montemor-O-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > I Encontro Nacional da Tabanca Grande > 14 de Outubro de 2006 > Um momento de fraternidade, pensa (e sente) o "alfero Cabral", o nosso sempre querido Jorge Cabral (1943-2021), em primeiro plano, tendo à sua direita o nosso baladeiro de Bambadinca (1969/71), e hoje fadista amador, o Zé Luís Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler 2206. 

De pé, afinando as gargantas ou cantando ao desafio, outras duas grandes aves canoras: o Fernando Calado e o Manuel Lema Santos, o exército e a marinha de braço dado... O fotógrafo que estava de serviço apanhou o flagrante, era o David Guimarães, radiante, felicíssimo...

Foto: © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados.Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Bissau > 30 de julho de 1968 > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Um grupo de oficiais milicianos, na Av da República (vendo-se ao fundo a Praça do Império e o Palácio do Governador), no dia seguinte ao desembarque (29 de julho de 1968).  Da esquerrda para a direita, o João Rocha (1944-2018), de camisola escura,  o Fernando Calado  (1945-2025) em 4.º lugar  e o Ismael Augusto em 5º.



Guiné > Bissau > Brá > 1968 > CCS/BCVAÇ 2852 (1968/70) >  Encostados ao jipe do comandante [ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos, de alcunhas o "Pimbas"]: da esquerda para a direita, o João Rocha (194~4-2018)  e o Fernando Calado (1945-2025).

Fotos (e legendas): © Fernando Calado (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá _ Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O alf mil trms Fernando Calado(1945-2025) , de braço ao peito, junto à parede, crivada de estilhaços de granada de morteiro, das instalações do comando, messe e dormitórios de oficiais e sargentos, na sequência do ataque de 28 de maio de 1969.

Esta era a parte exterior dos quartos dos oficiais que dava para as valas, o arame farpado e a bolanha, nas traseiras do edifício do comando... Era uma parte mais exposta, uma vez que o ataque partiu do lado da pista de aviação.

Pelo menos aqui, caíram duas morteiradas:

(i) uma das morteiradas atingiu o quarto onde dormia, com outros camaradas, o fur mil amanuense José Carlos Lopes; tinha acabado de sair; ainda hoje conserva um lençol crivado de estilhaços;  e4stá vivo por uma fração de segundos (bancário reformado do BNU, vive em Linda a Velha e é membro da nossa Tabanca Grande.);

(ii) outra morteirada atingiu o quarto onde dormia o Fernando Calado e o Ismael Augusto ( o Fernando ainda apanhou o efeito de sopro, tendo sido menos lesto que o Ismael, a sair logo que rebentou a "trovoada")

Também podia ter "lerpado", como a gente dizia na época... Apesar de tudo, a sorte (ou a má pontaria dos artilheiros da força atacante, estimada em 100 homens, o que equivalente a 3 bigrupos) protegeu os nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas (entre elas, o Pel Caç Nat 63 cujos soldados, guineenses, dormiam a essa hora, com as suas "bajudas", nas duas tabancas de Bambadinca, e que portanto estavam fora do arame farpado)...

Na foto acima , o Fernando Calado, membro da nossa Tabanca Grande (tal como o Ismael Augusto), trazia o braço ao peito, não por se ter ferido no ataque mas sim por o ter partido antes, num desafio de... futebol. Infelizmente temos poucas fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque.

Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Fernando Calado (em 2013)


1. Foi ontem cremado, no cemitério de Carnaxide, o corpo do nosso camarada e grão-tabanqueiro Fernando Calado. Morreu no passado dia 24, sem completar os 80 anos (ia fazê-los em 9 setembro).

A triste otícia chegou-nos â Lourinhã, transmitida pelo Humberto Reis e pelo Mário Beja Santos, seus contemporâneros de Bambadinca.

O Humberto e o António F. Marques, ex-fur mil da CCAÇ 12 (Bambadinca, mai 69/mar 71) e o Ismael Augusto, seu amigo do peito, representaram-nos a todos na sua despedida da Terra da Alegria.

O Fernando era muito estimado pela malta de Bambadinca desse tempo. Costumava aparecer, tal como o Ismael, nos nossos encontros anuais. A este último, em Ponte de Lima, faltou, embora inscrito: o coração pregou-lhe uma partida, esteve em estado de coma. Na quarta feira passado, chegou o seu dia. Deixa viúva a Rosa, e órfãos dois filhos, a Elsa e o Fernando bem como um neto, o Daniel.

Recordo-o, desde Bambadinca,  como um homem afável e discreto, que adorava o seu Alentejo, o cante alentejano, a tertúlia, o convívio com os amigos.

Natural de Ferreira do Alentejo, vivia em Lisboa há muito; era casado com a dra. Rosa Calado, professora do ensino secundário, que integrou sucessivas direções da Casa do Alentejo, exercendo, com muita competência e empenhamento, o pelouro da cultura

O Fernando era um histórico do nosso blogue, tendo participado no nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-O-Novo (em 2006)... Tem 26 referências no nosso blogue. Foi alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); trabalhou na Petrogal e na RTP; foi docente universitário; tinha página no Facebook

Para Rosa, filhos e neto vai a nossa solidariedade na dor. A memória do Fernando, essa, continua connosco, guardada e cultivada à sombra do poilão da Tabanca Grande.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor: 

sábado, 10 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26786: Convívios (1027): Pessoal de Bambadinca de 1968/71 (BCAÇ 2852, CCÇ 12 e outras subunidades): 29º convívio anual: Ponte de Lima, Restaurante Açude, sábado, 24 de maio, (Fernando Oliveira, que vive em Azeitão, e foi Fur Miil Pel Rec Info Op, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70)

 




1. Desde 1994, que os bambadinquenses dos anos de 1968, 1969, 1970 e 1971 se reunem anualmente. As unidades e subunidades deste período, são: 

  • BCAC 2852 (1968/70)
  • BART 2917 (1970/72)
  • CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1ª geração)  (1969/71)
  • Pel Caç Nat 52 | 54 | 63
  • Pel Mort  2106 | 2268
  • Pel Rec  Daimler 20246 | 2206

Este ano a organização cabe ao Fernando Oliveira, da ex.fur mil  op esp/ ranger, Pel Rec Inf Op, CCS/ BCAÇ 2852  (Fernando Jorge da Cruz Oliveira, de seu nome completo; mora em Azeitão). 

O encontro será na belíssima Ponte de Lima, uma  das "joias da coroa" do nosso festivo e verde Minho.

Transcreve-se a seguir a convocatória que a organização mandou, e que o Humberto Reis  (CCAÇ 12) nos fez chegar.

Chamada de atenção para o prazo-limite de inscrição: sábado, dia 10 de maio.







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Nota do editor LG:

Último poste da série > 6 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26772: Convívios (1026): 61º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 29/5/2025, com a presença dos habituais magníficos... e também do régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, João Crisóstomo (Nova Iorque)... Inscrições: até 26 de maio (Manuel Resende)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26419: In Memoriam (532): Victor Fernando Franco David (1944- 2024), ex-alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70): natural de Coimbra, era um dos históricos do nosso blogue, morreu há 9 meses



Victor David (1944- 2024)




~


Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > Restaurante Café do Monte > 14 de Outubro de 2006 > Da esquerda para a direita: Rui Felício, Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), António Pimentel (que veio propositadamente do norte, com o Hernâni Figueiredo), o Victor David e a esposa e, por detrás, o Paulo Raposo, o nosso amável anfitrião e um dos organizadores do Encontro.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Soube, ontem  pelo seu amigo e camarada de armas Paulo Raposo: morreu, no passado dia 25 de abril de 2024, o Victor Fernando Franco David, ex-alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, "Os Baixinhos de Dulombi" (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70). Confirmámos a notícia na própria página do Facebook do Victor David.

Era um dos "históricos" do nosso blogue, para o qual entrou em 16/3/2006 (*). Conhecemo-nos  pessoalmente em Coimbra (creio que pela mão do saudoso Carlos Marques dos Santos) e estivemos juntos (eu, o David, o Carlos, o Rui Felício, o Paulo Raposo, o Pimentel e outros) no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-O-Novo, em 14 de outubro de 2006 (**). 

Tem escassas referèncias no nosso blogue.  Os alferes da sua companhia ("Os Baixinhos de Dulombi", ele, o Paulo Raposo, o Rui Felício e o Jorge Rijo, faziam/fazem todos parte da nossa Tabanca Grande.

2. Sabíamos, sobre o  Victor David,   o seguinte;

(i) era natural de (e vivia em) Coimbra;

(ii) andou no Liceu D. João III
 
(iii) licenciou-se em Germanicas em Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - FLUC

(iv) era casado e tinha uma filha;
 
(v) aderiu ao Facebook em agosto de 2011


3. Sobre o seu Curriculum Vitae militar, o Victor David escreveu em 2006 este bem humorado apontamento (*):

(...) Resenha da minha actividade de militar como "voluntário à força":
  • Incorporado em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, como recruta em 10 de abril de 1967;
  • Especialidade tirada em Mafra: atirador de infantaria;
  • Promovido a Aspirante Miliciano em 25 de Setembro de 1967, fui colocado em Abrantes, no Regimento de Infantaria nº 2 (RI2);
  • Primeiro trabalho no RI2 : organizar a biblioteca do Quartel!
  • Dei uma recruta ainda em Abrantes até ser mobilizado;
  • Em Jan de 1968, curso de Rangers em Lamego. (Nota: reprovei, mas não fui despromovido porque já era Aspirante!)
  • Formámos depois Batalhão [BCAÇ 2852],  em Santa Margarida e embarcámos para a Guiné em julho de 1968, no N/M Uíge;
  • Chegada a Bissau em 30 de Julho de 1968;
  • Treino operacional em Mansoa, no chão balanta;
  • Ao fim de cinco meses, a CCAÇ 2405 é colocada na zona leste, no chão fula, em Galomaro, onde provisoriamente nos instalámos - num antigo celeiro - até sermos deslocados para Dulombi, onde construimos o Quartel onde nada existia! (até parecia que eramos de Engenharia...);
  • Regresso a Portugal em 28 de Maio de 1970;
  • Peluda em 29 de Junho de 1970;
  • Importantíssimo(!): promovido na disponibilidade a ten lil em 1 de Dezembro de 1970! Quase chegava a General!!! (...)
Acrescentamos nós:
  • A CCAÇ 2405 participou, entre outras, na Op Mabecos Bravios (fevereiro de 1969) (retirada de Madina do Boé)  (onde perdeu 19 homens na atravessia do Corubal, e a CCAÇ 1790 perdeu 26);
  • Era a unidade de quadrícula de Galomaro (e Dulombi)(vd. carta de Duas Fontes);
  • Até Julho de 1969 Galamaro fazia parte do Sector L1 (BCAÇ 2852, Bambadinca); em Agosto de 1969, a ZA (Zona de Acção) da CCAÇ 2405 passou a constituir o COP 7, criando-se em outubro seguinte o Sector L5, sob a responsabilidadew do BCAÇ 2851 e formado pelas ZA das CCAÇ 2405 (Galomaro) e 2406 (Saltinho).

4. Em 8 de fevereiro de 2006, escreveu-me o seguinte:

 (...) "Tive um imenso prazer em conhecer-te e espero que me autorizes a entrar de quando em vez no Blogue.

"Parabéns pela iniciativa e dentro em breve contactarei com camaradas da minha companhia – a dos 'baixinhos do Dulombi', a CCAÇ 2405, para que eles também possam dar a sua achega a tão excelente ideia..

"Para já deixo-te as minhas coordenadas na Internet (...)"

5. Sobre o convite que lhe endereçámos, muitos anos depois,  para participar no XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, 2019, escreveu-nos o seguinte, 8 mai 2019, 1:04 (***):


(...) Muito grato pelo convite mas, com muita pena minha, não poderei estar convosco nesse tão grande encontro, do qual já tenho muitas saudades, por duas razões principais:

1ª O encontro da minha Companhia, a 2405 ( Guiné 1968/1970) realiza-se nesse mesmo dia na Meda;

2ª Por razões pessoais e imponderáveis da data e por outros motivos que, felizmente não de saúde, não poderei acompanhar as duas tão boas realizações!

Assim sendo, peço que transmitas, a todos os presentes, os desejos sobretudo de muita saúde e felicidades .

Um grande abraço do 'Baixinho' do Dulombi,  Victor Fernando Franco David

Nota : Espero poder estar no próximo encontro" (...)

quarta-feira, 8 de maio de 2019 às 21:28:00 WEST 

 
Infelizmente aquele foi o nosso último Encontro, antes da pandemia.  A iniciativa ainda não foi retomada. Agora só no céu dos antigos combatentes poderemos voltarmo-nos a abraçar, querido David.  À tua esposa, esposa, filha, demais família e aos "baixinhos de Dulombi", apresento, mesmo com este atraso de nove meses, os nossos votos de pesar pela tua perda. Ficarás aqui connosco, à sombra do nosso poilão, enquanto o barqueiro de Caronte não chamar pela nossa vez. (****)

 ______

Notas do editor:

(...) Mensagem do Rui Felício (ex-al mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70), hoje economista e empresário, membro da nossa tertúlia e autor de algumas das mais saborosas estórias já aqui publicadas, reveladoras de um sentido muito especial de humor que nos ajudou a sobreviver e a manter-nos vivos e solidários, uma espécie de defesa mental contra o cacimbo, o clima, a guerra :

Meu Caro Luís Graça:

Como dizem os brasileiros, o meu testemunho é claramente chover no molhado... Na verdade, dizer que o belo dia de sábado, passado na agradável herdade do Raposo, foi uma jornada inesquecível, é repetir o que por certo todos já te terão dito.

Mas nem por isso devia deixar de o referir, para lembrar que o encontro da Ameira só foi possível, porque existe o blog que tu criaste e que, com tanto trabalho e mérito, vais gerindo, coordenando e engrandecendo.

Registei, das intervenções que alguns fizeram a seguir ao almoço, alguns aspectos que confirmaram aquilo que eu já pensava através da assídua leitura do que vais editando no blog, designadamente, o facto de a tertúlia se compor de variadas perspectivas e olhares, na análise e recordação da nossa passagem por terras da Guiné, em circunstâncias adversas de clima e da própria guerra.

Embora nem sempre coincidentes, são perspectivas cuja diversidade proporciona uma visão mais completa, segura e enriquecedora das memórias de todos nós. Bastaria ter ouvido, além de tantos outros, o Virgínio Briote, o Casimiro Carvalho, o Lema Santos [, o Pedro Lauret, o Tino Neves, o Paulo Santiago, o Carlos Santos] e, especialmente, o Vitor Junqueira, para comprovar o que acabei de dizer, isto é, a nossa geração fez a guerra de África segundo as suas próprias convicções, declaradamente contra ela, a favor dela ou conformada com ela, mas sem dúvida dando o melhor de si na defesa de princípios e sentimentos que pairam acima dos interesses ou conveniências individuais.

Sou dos que naquela época era contra a guerra, mas nunca confundi isso com o dever de a fazer o melhor e mais profissionalmente que me fosse possível, quanto mais não fosse para garantir aos soldados à minha responsabilidade o regresso a casa, sãos e salvos.

É por isso que não aceito que, passados tantos anos, algumas figuras proeminentes da nossa classe política actual venham hoje a público, não poucas vezes, arvorar-se em heróis, por terem tido a coragem de desertar, de fugir para o estrangeiro, criticando aqueles que como nós estiveram em África a combater.

Obviamente que isso não é coragem. Prefiro chamar-lhe comodismo, medo... Para não lhe chamar cobardia... Gostava de os ter visto na Ameira... Ficariam a conhecer homens cujo medo (que todos tínhamos... ) foi vencido pela coragem e pelo sentido de dever...

Um abraço, Rui Felício (...)

(***) 8 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19765: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): Mais camaradas e amigos/as que nos honram com a sua presença em Monte Real no dia 25, sábado: António Sampaio e Maria Clara (Matosinhos); António Joaquim Alves e Maria Celeste (Alenquer); Carlos Pinheiro (Torres Novas); Jorge Araújo e Maria João (Almada); Jorge Pinto e Ana (Sintra); Juvenal Amado (Amadora); Manuel Joaquim e José Manuel S. Cunté (Lisboa); e Paulo Santiago (Águeda)

(****) Último poste da série > 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26417: In Memoriam (531): António Medina (Santo Antão, Cabo Verde, 1939 - Medford, Massachusetts, EUA, 2025), ex-fur mil at inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), nosso grão-tabanquerio desde 2014