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quarta-feira, 15 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23353: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (4): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte III: Cerco e ataque IN (650/700 elementos) a Guidaje, de 8 de maio a 12 de junho de 1973



Guiné > Região do Cacheu > Carta da província da Guiné (1961) > Escala 1/ 500 mil > Detalhe: A fatídica picada Binta - Genicó - Cufeu -Ujeque - Guidaje...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)




1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, ou a "batalha dos 3 G" (ou batalhas ?),  já aqui tão acaloradamente discutida, analisada, comentada, ao ponto de alguns de nós termos perdido a serenidade e a contenção verbal que devem ser apanágio deste blogue de antigos combatentes...

Em 2023, os três G vão fazer meio centenário... Bolas, como estamos velhos como o c...!

Mas ainda há muito coisa para dizer, ler, ouvir e aprender, sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e junho de 1973... Dias que não se podem resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). (*)

Nestes dia que correm de fim de prinevera, em que passam 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), pareceu-nos oportuno repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informção de sinpose dos aconteimentos.

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra! sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil  poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Damos continuação à publicação de um excerto da CECA )2015) sobre estes acontecimentos(*).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN a Guidaje, no Norte (de 8 de maio a 12 de junho de 1973)



(...) O inimigo desencadeou no mês de Maio uma operação que tinha por finalidade isolar Guidaje, tendo para o efeito flagelado esse aquartelamento e Bigene, quer para obrigar ao abandono e posterior destruição, quer ainda para impedir o auxílio da artilharia e das NT. 

Além disso deslocou elevado número de elementos para a estrada Binta-Guidaje com o fim de tentar neutralizar qualquer tentativa de reabastecimento.

No início de Maio, a guarnição militar de Guidaje (sob comando operacional do COP 3 com sede em Bigene), era constituída pela CCaç 19 e 24° Pel Art (10,5 cm), num total de um pouco menos de 200 militares.

Os efectivos do PAIGC, que se encontravam na região de Cumbamori 
[no interior do Senegal a escassos 7 km da fonteira] Senegal, julgam-se que eram os seguintes:
  • Corpo de Exército 199/B/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; 
  • Corpo de Exército 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; grupos de foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; 
  • três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bataria de artilharia do Corpo de Exército 199/A/70 deslocados de Sare Lali (Zona Leste) (efectivos estimados em 650 a 700 homens).
[Veja-se a cronologia dos acontecimentos: ]

(i) Em 8 de Maio, Guidaje esteve debaixo de fogo por cinco vezes num total de 2 horas; dia 9 sofreu 4 ataques; dia 10, três e até 29Mai todos os dias foi flagelada, num total de quarenta e três ataques principalmente com artilharia, foguetões e morteiros. Todos os edificios do aquartelamento ficaram danificados. A guarnição teve 7 mortos e 30 feridos militares e a população 15 feridos .

(ii) Em 8Mai pelas 16h00,numa acção de escolta a uma coluna de viaturas no itinerário Farim-Guidaje por forças de 1 GCom 1ª C/BCaç 4512/72 e 1 GComb/CCaç 14, accionaram uma mina anticarro que danificou uma viatura. A seguir as forças foram emboscadas durante 15 minutos por um grupo lN fazendo uso de armas automáticas, morteiros e LGFog 
RPG-2 e RPG-7. Pernoitando no local, no dia seguinte pelas 05h20, as
 forças foram atacadas durante 4 horas. Devido à falta de munições as forças foram compelidas a retirarem para Binta. O lN teve 13 mortos e vários feridos prováveis. As NT sofreram 4 mortos, 8 feridos graves e 10 ligeiros. Quatro viaturas foram incendiadas e destruídas.

(iii) Em 10Mai, uma força constituída por 2 GComb 1ª C/BCaç 4512/72, 2 GComb/ 2ª C/BCaç 4512/72,2 GComb/CCaç 14 e 1Bigrupo da 38ª CCmds, encarregada de escoltar uma coluna entre Farim e Guidaje, accionou 2 minas A/P , cujo rebentamento provocou 1 morto, 1 ferido grave e 1 ligeiro às NT.

No mesmo dia, 2 GComb/CCaç 19 saíram de Guidaje para executarem a picagem e abertura do itinerário até Cufeu, juntamente com 2 GComb/CCaç 3 (da guarnição de Bigene e que foram reforçar Guidaje) que realizavam a protecção à picagem e tinham por missão continuar a mesma até Genicó, onde se daria o encontro com a coluna saída de Binta.

A força da CCaç 19, accionou 1 mina A/P reforçada com 1 mina A/C , de que resultou 1 ferido grave e 1 ligeiro.

A força da CCaç 3: 

"Antes de entrar na região do Cufeu, foi por mim pedido fogo de artilharia para ambos os lados da estrada de modo a ser batida a bolanha.

Entretanto instalei o pessoal em linha do lado esquerdo da estrada no sentido Guidaje-Binta [... ]

"A Artilharia entretanto fez um dos tiros pedidos, do que resultou saírem do lado esquerdo da bolanha 22 elementos ln nos quais foram referenciados alguns de cor branca. No contacto resultante, o lN foi posto em fuga, seguindo para o lado direito da Bolanha.

"Em virtude do acontecido e visto os restantes tiros pedidos não terem ido executados, dei ordem para seguir para a tabanca do Cufeu. Ao entrar na referida tabanca o lN desencadeou forte emboscada, a partir de lado direito da estrada, com apoio de canhão sem recuo, morteiro 82 mm e armas pesadas. Tendo em vista a situação dei ordem para avançar, saindo assim da zona de morte do mort 82 mm, tendo pedido de novo apoio ao Pel Art de Guidaje e aos 2 GComb da CCaç 19 que faziam a picagem.

"Não tendo sido prestado esse apoio, [... ] dei ordem para retirar por secções, tendo como pontos de encontro Guidaje e Genicó. Com um grupo de 8 elementos tentei seguir para Genicó a fim de contactar com o Comandante da coluna saída de Binta; [... ] tal foi no entanto possível [... ], tendo então dado ordem aos elementos em melhor estado físico de seguir para Guidaje, onde exporiam a situação. Com os 4 elementos restantes prossegui a deslocação tendo pernoitado a noite na bolanha de Fajonquito, Rep Senegal, e atingido Guidaje em 11Mai73, pelas 7h30. [... ]

De acordo com as informações recebidas o lN sofreu 12 mortos confirmados e 9 feridos, as NT tiveram um ferido ligeiro. [... ]". 
 

[Nota: Relatório de acção de protecção à picagem no sentido Guidaje-Genicó realizada em 10Mai73 pelo Cmdt da coluna da CCaç 3. ]


(iv) Em 12Mai, uma coluna de reabastecimento, ida de Farim, escoltada pelos DFE nºs 3 e 4, conseguiu atingir Guidaje. Em 15, no regresso a Farim, as NT accionaram 2 minas, sofrendo 2 feridos graves; mais tarde foram emboscadas, sofrendo 5 feridos.


(v) Em 15Mai uma força constituída por 2 GComb/CCaç 3518, Pel Mil 322 e 1 GComb da CCaç Africana Eventual-Cuntima  [sic] , comandada pelo Cmdt da 2ª C/BCaç 4512/72, efectuou uma coluna de reabastecimento a Guidaje partindo de Farim. Tinha apoio para execução de picagem de 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 Grupo de Milícias de Farim e 2 GComb/ CCaç 3; 1 DFE emboscado no Cufeu e o apoio de artilharia do 24° Pel Art e 27° Pel Art. Chegou a Guidaje pelas 15h30 do mesmo dia, sem contacto com o lN.

O retorno da coluna a Farim, reforçada com 2 GComb/CCaç 3 e um agrupamento do DFE, faz-se pelas 10h00 do dia 19Mai.

Antes da coluna ter penetrado na tabanca do Cufeu, a equipa que seguia picando o itinerário accionou uma mina anticarro que originou um morto e um ferido grave às NF. Pouco depois, accionada outra mina anticarro por uma viatura Berliet, que ficou parcialmente danificada,
mas incapaz para prosseguir o deslocamento. De seguida um civil ficou ferido por ter accionado uma mina antipessoal. Pelas 12h20, na zona de tabanca do Cufeu, a coluna é emboscada, frontal à sua testa, por um grupo lN estimado em cerca de 100 elementos.

A força dos DFE nºs 1 e 4 reagiu à emboscada, tendo sido pedido apoio aéreo e fogo da Artilharia de Guidaje. Pelas 12h55 o lN activou dois mísseis terra-ar que partiram do lado sul da bolanha do Cufeu. Pelas 13h20 é dada ordem de regresso a Guidaje em virtude do esgotamento de munições; abandonou-se a viatura Berliet minada. 

No total as NT sofreram 5 feridos. A coluna permaneceu em Guidaje, de 20 a 29Mai, tendo sofrido 4 mortos num ataque lN a Guidaje em 26Mai, às 23h00. 

Em 30 a força, incorporada numa coluna organizada em Guidaje, com forças ali estacionadas e outras chegadas a 19Mai, regressou a Farim".

 [Nota: Extractos do Relatório da Operação "Reabastecimento a Guidaje realizado em 15Mai73" da 2ª C/ BCaç 4512/72 e dos Relatórios da "acção realizada em 19Mai73" dos Iº e 20º  GComb/CCaç 3.]


(vi) Em 23Mai, saiu de Binta, uma coluna de reabastecimento com destino a Guidaje. Era constituída pelas seguintes subunidades: CCP 121, DFE nºs 1 e 4, 1 GComb/CCaç 14 e 1 GComb/CCaç 3.

"Até Genicó a coluna correu sem dificuldades. Em Genicó o GComb/CCaç 3 começou a picagem, correndo também sem dificuldades até ao momento que 1 elemento accionou uma mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou morte imediata. Segundo um elemento do GComb/CCaç 3 que conhecia mais ou menos a zona, devia a coluna estar aproximadamente a 3 Km do Cufeu. Entrou-se logo em contacto com Águia (Cmdt COP 3 Avançado) o qual mandou prosseguir, apesar de haver já um morto. Ia a coluna a prosseguir, outro elemento do GComb/CCaç 3 accionou uma outra mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou também morte imediata e 1 ferido grave do mesmo grupo. [... ] Entrou-se logo em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado informando-o da situação actual da coluna.

"Foi-nos dada ordem do mesmo para prosseguirmos com a coluna a corta-mato. Estávamo-nos a preparar para progredirmos com as viaturas a corta-mato, quando um elemento dos DFE nºs 1 e 4 accionou uma mina antipessoal a uns 4 metros da picada, que lhe decepou uma perna e mais ferimentos. De novo entrámos em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado, informando-o da situação actual da coluna. Logo após termos accionado a 1ª mina, entrámos em contacto com o Grupo da CCaç 14 que tinha ficado em Genicó, para ir ao nosso encontro a fim de transportar os feridos e os mortos para Binta. Passados 3/4 de hora, apareceu um grupo junto de nós, mas não era da CCaç 14, mas sim 1 GComb da 2Ç CCaç/BCaç 4512/72 de Jumbembem. 

"Entretanto o Cmdt do COP 3 Avançado deu-nos ordem para regressarmos ao ponto inicial da partida. Do local onde nos encontrávamos até Binta, a coluna correu bem. Chegados a Binta, tratamos de evacuar os dois feridos e de arranjar urnas para os dois mortos. De Binta a Ganturé fomos transportados pelo NRP Hidra sem problemas. De Ganturé para Bigene também não houve problemas.?" 

 [Nota: Relatório da coluna Binta-Guidaje realizada em 23Mai73 pelo GComb/CCaç 3.]

Como já referido foi decidido que a coluna regressasse a Binta com excepção da CCP 121, que recebeu a missão de atingir Guidaje. Pelas 16h30, na região do Cufeu, a CCP 121 é emboscada por numeroso grupo inimigo, sofrendo 4 mortos e 2 feridos graves e provocando, com o apoio da Força Aérea, baixas não controladas ao lN. A CCP 121 atingiu Guidaje ao final do dia.

(vii) Em 29Mai, o COP 3 levou a efeito uma coluna de reabastecimento e abertura do itinerário entre Binta e Guidaje, articulando as suas forças em seis Agrupamentos:

A - 2 Bigrupos/38* CCmds e Pel Sapadores do BCaç 4512/72

B - 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 GComb/2ª C /BCaç 4512/72, GE Mil 342 e 2° GComb/CCav 3420

C - CCav 3420 (-)

D - CCaç 3414

E - CCP 121

F-DFE

A CCP 121 montou emboscada na região do Cufeu. O DFE montou emboscada na clareira de Ujeque. O 24º Pel Art, em Guidaje, apoiou o deslocamento a partir da antiga tabanca do Cufeu.

O Agrupamento B levou um D-6 do BEng 447.

"Pelas 05HOO o Agr A saiu de Binta seguido do Agr B. Iniciou-se a progressão até Genicó indo o Pel Sap e GE Mil 342 de Olossato, do Agr B, alternando-se na picagem da estrada. Seguidamente continuou-se a progredir ao longo da picada de molde a atingir-se o limite Sul de um suposto campo de minas ln, na zona das viaturas destruídas. Nesta zona um picador accionou uma mina A/C  ao picar, causando-lhe morte instantânea e ferimentos graves num Furriel desta CCmds e ferimentos ligeiros em vários militares. a morto e os feridos foram transportados para Genicó por um GComb/2ª C/lBCaç 4512/72. Imediatamente se começou a abrir uma nova picada para oeste utilizando o D-6.

"A abertura fez-se em bom andamento devido à arborização do terreno. Nesta altura, atendendo a que o Agrupamento B se encontrava desfalcado de um GComb que fez a evacuação para a retaguarda, fez--se a junção dos Agr A e B.

Pelas 11h30 do lado Nordeste elementos ln foram detectados pelo Soldado "Comando" NM - 15306371 Santos Silva que abriu fogo, tend o lN ripostado. Debaixo do combate aceso o Agrupamento A lançou-se ao assalto; entretanto o Alf Rocha do mesmo Agrupamento conseguiu colocar o mort 81 mm em posição batendo a zona do ln. Durante o assalto o ln redobrou o fogo dos morteiros 82 mm, RPG e armas ligeiras pelo que o Agrupamento A não conseguiu concretizar o assalto; noentanto em resposta o Agr A redobrou o fogo tendo calado o fogo lN.

"Passados 10 minutos numerosos elementos ln vindos de oeste o dispondo-se em linha começaram a avançar para a frente noroeste das NT; então o Agr A formou também uma linha para dar combate ao lN.

"As NT abriram fogo tendo o lN ripostado com fogo cerrado de armas ligeiras e pesadas nomeadamente canhão sem recuo e mort 82 mm.

"Salienta-se nesta altura o Soldado António Mendes que correu atrás trazendo o mort 81 mm para a frente noroeste ao pé de mim e montou-o com a ajuda da guarnição, fazendo de apontador, de pé, indiferente ao cerrado fogo do lN. [... ] a lN abandonou a posição acabando por retirar em direcção a Uália. [... ]

"Às 13h00 a coluna voltou a pôr-se em movimento com o mesmo dispositivo de segurança ( 2 GComb em linha à frente e segurança lateral), depois do Cmdt do cap 3 ter dado ordem para prosseguirmos até Guidaje. Atravessou-se a bolanha do Cufeu e entrou-se em contacto
com Agr E (Paras) e daí fez-se um desvio para a picada Cufeu- Ujeque. Mal se entrou na picada um Unimog 404 da CCaç 3414 accionou uma mina anticarro de que resultou a destruição do Unimog, a morte do condutor e ferimentos em vários militares. 

"Nesta altura um Soldado Milícia de GE Mil 342 accionou uma mina antipessoal que estava na berma e que lhe originou amputação duma perna. Em virtude destes acontecimentos, voltou-se a abrir nova picada paralela à antiga até Ujeque onde se encontravam emboscados os Fuzileiros (Agr F); a coluna voltou à picada antiga e a testa e uma viatura foram emboscadas a 3 Km de Guidaje, sem consequências, com armas pesadas (mort 82 mm), lgfog e armas automáticas.

"Às 18H30 todas as forças atingiram Guidaje. [... ]" 

 [ Nota: Transcrito do Relatório da "escolta entre Binta e Guidaje em 29Mai73" da 3S" CCmds, do Relatório da operação "reabastecimento a Guidaje em 29Mai73" do Agr B/COP 3 e do Relatório da operação de "abertura do itinerário Binta-Guidaje e reforço ao COP 3 que decorreu de 2SMai a 30Jun73" da CCav 3420.] 
 
O IN teve feridos prováveis e foi-lhe capturada 1 granada de RPG-2 e uma granada de mão F -1". As NT sofreram 2 mortos, 1 ferido grave e 11 feridos ligeiros .

(viii) Em 5Jun um GComb da guarnição de Binta efectuou a picagem do itinerário Binta-Farim e a segurança a uma coluna. Quando esta acabou de transpor a ponte do rio Caur,  um elemento do grupo accionou com a pica uma mina A/C tendo morte instantânea, tendo a mesma causado ferimentos ligeiros a outro elemento. Acorreu em auxílio, dada a hipótese de haver elementos lN na zona, 1 GComb/2ª C/BCaç 4514/72 e 1 GComb PMil 282, que transportaram o morto e o ferido para Farim.

(ix) Em 11Jun, às 05h00,  saiu uma coluna auto de Guidaje com destino a Binta, abrindo novo itinerário. A força era constituída por 1 GComb/lª C/BCaç 4512/72, Pel Sap do BCaç 4512/72, GMIL 342, 1 Sec AM Panhard do ERec 3432, Pel Caç Nativos 56 e 65.

Forças de 3 GComb/CCav 3420, 38ª CCmds e 3ª C/BCaç 4514/72 emboscaram na ponta nordeste da bolanha do Cufeu, entre 1000 metros nordeste da ponta nordeste do Cufeu e Alabato, todas estas forças balizando e definindo o itinerário de marcha. A coluna chegou a Binta pelas 15h00 sem contacto com o lN. Regressou a Guidaje pelas 16h30 com mais sete viaturas da 3ª C/BCaç 4514/72 carregadas com reabastecimentos percorrendo o itinerário aberto em sentido inverso, também sem contacto IN. 

  [
Nota: Relatório de acção realizado em 11Jun73 do Posto Comando Avançado do COP 3.]
 
(x)  Em 12Jun, constitui-se nova coluna que saiu de Guidaje pelas 09h00 com destino a Binta que à medida que percorria o itinerário, foi recolhendo os 3 GComb/CCav 3420 e 38ª Cmds. Depois da passagem da coluna a 3ª C/BCaç 4514/72 recolheu a Guidaje. O Tenente-Coronel de Cavalaria António V. Correia de Campos, que comandava o COP 3, veio também na coluna .

(xi) No mês de Junho de 1973 o Inimigo apenas flagelou por uma vez Guidaje o que indica que desistira das suas intenções sobre este aquartelamento.

(Continua)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 306/313. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos,  pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série;


6 de junho de 2022  Guiné 61/74 - P23332: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (3): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte II: Inimigo, atividade militar

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21561: O nosso livro de visitas (207): António José de Sousa Marreiros, que vive no Canadá (Victoria, BC): foi alf mil, em rendição individual, CCAÇ 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 19 (Bigene e Guidaje, 1973/74)


Mapa do Canadá e posição da cidade de Victoria, capital da província da Colúmbia Britânica. Fonte: cortesia de  Wikimedia Commons


1. Comentário de nosso camarada e leitor António José de Sousa Marreiros, que vive no Canadá (Vd. poste P21532 )(*):

Amigos, 

Nunca falei muito da minha passagem pela Guiné quando vim viver para o Canadá (Victoria, BC, British Columbia). Tentei esquecer e dar lugar às novas experiências num país novo e língua diferente. 

Com os anos e para não ter muitas saudades fui enterrando memórias e aprendendo os hábitos desta nova sociedade. Só consegui manter contacto com 3 amigos que também fizeram a Guiné comigo e por um deles encontrei este blogue.

Nessa altura só tive coragem para ler umas quantas histórias e, como não gostei da depressão em que fiquei,  abandonei o site e só hoje, já perto dos 70, voltei à Tabanca. 

Estou a fazer um esforço para lembrar e escrever uma pequena história, em inglês, da minha vida forçada de militat de guerra. Estou a pensar que a minha neta, agora com apenas 7 anos, um dia vai querer saber as origens e o que fez o avô... 

A pandemia [de Covid-19] trouxe outra realidade e uma necessidade mais forte de procurar linhagens e realidades de juventude sobretude que estou fora de Portugal e das minhas raízes.Por isso tem sido mais fácil ler este mar de informação dos camaradas da Guiné e uma recolha de nomes e termos que afinal ainda estavam na meu vocabulário e apenas adormecidos. 

António José de Sousa Marreiros,
Ex-alferes miliciano em rendição individual
na Companhia CCaç 3544 (os Roncos) em Burumtuma (1972) e,  meses depois,  transferido para Bigene/Guidage, CCaçadores 3, até Agosto 1974.

Um abraço a todos e que continuem bem!

2. Comentário de Valdemar Queiroz (*):

António Marreiros.

Então por Burumtuma, quer dizer que fez a estrada Nova Lamego-Buruntuma e passou pela Ponte Caium.

A minha CART 11 (1969/70), de soldados fulas, esteve fixada em Nova Lamego (Quartel de Baixo) e depois mudamos para Paunca, mas estávamos em intervenção em toda a zona leste e também fomos a Buruntuma em operações.

Ponte Caium, ninguém acredita haver um "Quartel" em cima duma ponte naquelas condições.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

3. Comentário do editor Luís Graça:

Camarada Marreiros, és bem vindo!... Não percas o contacto connosco... Vamos escrever-te para o teu email, constante do teu perfil no Blogger. E estás desde já convidado a juntar-te aos bravos da Tabanca Grande... Somos já 821, entre vivos e mortos, espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Infelizmente, temos apenas duas referências à tua primeira companhia, a CCAÇ 3544.  Por exemplo, será que viste este poste, com referência ao Francisco Alves, um camarada da tua companhia (**) ?... Já sobre a CCAÇ 19 há pelo menos umas 25 referências

Pelo teu apelido, pareces-me ser algarvio... Quando escreveres a tua história, em inglês, para a tua neta canadiana, manda-nos um "cheirinho", ou até uma cópia... A gente faz a tradução para português. Na parte relativa à Guiné, tens aqui uma "montra" para divulgares a tua história... 

De qualquer modo, o teu gesto é de uma grande ternura. E é importante, que para lá do teu património genético, possas também transmitir à tua neta algo das tuas "geografias emocionais" (e a Guiné é, com certeza, uma delas). (***)

Um alfabravo (ABraço), Luís Graça

PS - Aqui seguem as fichas das unidades a que pertenceste no TO da Guiné:

Batalhão de Caçadores nº 3883

Identificação > BCaç 3883
Unidade Mobuluzadora > RI 2 - Abrantes
Cmdt >  TCor Inf Manuel António Dantas
2.° Cmdt > Maj Inf Manuel Azevedo Morujão e Oliveira
OInfOp/Adj > Maj Inf José Luís Guerreiro Portela

Cmdts Comp: 
(i) CCS >  Cap Inf Joaquim Pinheiro da Costa | Cap Mil Inf José do Nascimento Leal Varela
CCaç 3544 > Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho | Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes
CCaç 3545 > Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo
CCaç 3546 >  Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira

Divisa: "Nobreza no Dever"
Partida > Embarque em 19Mar72 (Cmd e CCS), 20Mar72 (CCaç 3544),
22Mar72 (CCaç 3545) e 23Mar72 (CCaç 3546); desembarque em 19,22,23 e 24Mar72
Regresso: Embarque em 19,21,22, e 23Jun74

Síntese da Actividade Operacional:

Após realização da IAO, de 27Mar72 a 22Abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24Abr72, com as suas subunidades, para o sector de Piche, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCav 2922.

Em 24Mai72, assumiu a responsabilidade do referido Sector L4, com a sede em Piche e abrangendo os subsectores de Buruntuma, Piche e Canquelifá. 

Em29Mai73, por subdivisão do subsector de Buruntuma, foi criado o subsector de Camajabá. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, de vigilância da fronteira e de defesa e segurança dos aquartelamentos e aldeamentos, que foram alvo e fortes e frequentes flagelações, particularmente a partir de Ag073. 

Actuou ainda em numerosas missões de protecção e segurança a trabalhos nos reordenamentos e de reparação de itinerários, e ainda na asfaltagem da estrada Piche-Buruntuma; a par de uma decidida colaboração na promoção socioeconómica das populações da região e organização do sistema de autodefesa.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 4 espingardas, 9 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 29 minas.

Em 31Mai74, foi rendido no sector pelo BCaç 4610/73 e recolheu a Bissau para embarque.

Companhia de Caçadores nº 3544 (CCAÇ 3544)

A CCaç 3544, após treino operacional e sobreposição com a CCav 2747, assumiu, em 24Mai72, a responsabilidade do subsector de Buruntuma, com um pelotão destacado em Camajabá e onde se manteve após a criação do respectivo subsector em reforço da respectiva guarnição até meados de Ago73.

Em 26Jan74, por troca com a 2ª C/BCav 8323/73, foi colocada em Piche, tendo então assumido a responsabilidade do respectivo subsector e cumulativamente as funções de subunidade de intervenção e reserva do sector, tendo efectuado acções de patrulhamento, emboscadas e escoltas a colunas.

Em 31Mai74, foi rendida pela 3ª  C/BCaç 4610/73 e recolheu a Bissau.
 
Companhia de Caçadores nº 19 (CCAÇ 19)

Identificação > CCaç 19
Crndt >  Cap Inf Afonso José Carmona Teixeira | Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas | Cap Mil Inf Carlos Alberto Gaspar Martinho | Cap Mil Inf António Eduardo Gouveia Carvalho
Início > 01Dez71
Extinção>  princípios de Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Em 01Dez71, foi constituída com quadros e algum pessoal especialista metropolitano e o restante pessoal natural da Guiné, predominantemente da etnia Mandinga e na sua grande maioria já integrante de companhias de milícias, tendo efectuado a instrução no CIM, em Bolama, de 06 a 31Dez71.

Seguidamente, foi colocada em Guidage, inicialmente em reforço do COP 3 e da guarnição local, com vista à realização de acções na referida área. Em 22Fev72, por saída da CCaç 3, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Guidage, ficando então integrada no dispostivo e manobra do COP3.

Em princípios de Ago74, então na dependência do BCaç 4512/72, e de acordo com o plano de retracção do dispositivo, foi desactivada e extinta.

Observações > Tem História da Unidade (Caixa n." 117 - 2.a Div/d." Sec, do AHM).


Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 161-162 e 640
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21532: Historiografia da presença portuguesa em África (238): Uma viagem à Ilha de Orango em 1879, um magnífico relato de viagens no Boletim n.º 1, 6.ª Série de 1886, da Sociedade de Geografia de Lisboa (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13626: In Memoriam (194): João Dias Garcia (1950-2014), ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 19, falecido no passado dia 11 de Setembro de 2014, no Hospital de Leiria (José Manuel Pechorro)


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Pechorro (ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73), com data de hoje, 19 de Setembro de 2014:

Camarada Luís,
Envio esta notícia que julgo de interesse para o blogue e que sujeito à vossa consideração na sua postagem, que desde já agradeço:

Informo que faleceu o João Dias Garcia, no Hospital de Leiria, no passado dia 11 do corrente.


Ex-1º Cabo Mecânico Auto, Nº 617771, da CCac 19, 1971/73

Como tal suportou as colunas Guidage - Binta – Guidage, o assédio do IN e o cerco de Maio de 1973.

1.º Cabo, estimado por todos e pela população. Mencionei-o na postagem: Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro):

“Fui até à caserna do 1.º Pelotão, onde conversei com o Garcia, 1.º Cabo Mecânico. Estava com ele, quando surge a 5.ª flagelação (por volta das 12 ou 13 horas), desta vez do lado das casernas do 3.º e 4.º Pelotões, com armas ligeiras, RPG,s e morteiro 82, também do lado de lá da bolanha, território Senegal. 
A minha arma desapareceu, apercebi-me ter sido um soldado que a utilizou, quando correndo se foi refugiar na vala. 
Abriguei-me com o 1.º Cabo Garcia, no ninho da metralhadora pesada, de que é responsável. 
Ao tentar manejá-la, entalou-se. O palavreado dele, muito sério, mas com piada, provocou-me o riso, que contive a muito custo, intercalado, no matraquear do tiroteio e estrondos das explosões”.

De pé: Mussá Uali que faleceu em Bissau. Em cima, da esquerda para a direita: Figueiredo, Sold Mec; Mayer Mané, Condutor; João Dias Garcia, 1.º Cabo Mec, falecido no Hospital de Leiria em 11SET2014; Ibrahimo Djaura, e Seco Sanó também já falecido

Pela sua actuação foi um dos louvados na folha de serviço do COP 3, sediado em Guidage, de 11 de Junho de 1973, pelo Comandante, Ex-Ten Cor Cav António Valadares Correia de Campos.

No passado Sábado, 14 do corrente, pelas 15 horas, teve lugar a cerimónia religiosa de corpo presente, na Igreja matriz de Maiorga, Alcobaça, seguindo-se o cortejo fúnebre para o cemitério desta localidade, participada de muito povo.

Anexo ficheiro com duas fotos do mesmo.

Um abraço,
José Pechorro
Ex-1.º Cabo Op Cripto,
CCaç 19 – Guidage - Guiné
1971/73

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Nota do editor:
Em nome da tertúlia e dos editores deste Blogue apresento as nossas condolências aos familiares do nosso camarada João Garcia, com os quais estamos solidários nesta hora de dor.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13496: In Memoriam (193): Manuel Vieira Moreira (1945-2014), ex-1º cabo mec auto, CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69), natural de Águeda, poeta e amante do fado

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10005: (Ex)citações (185): Respostas a interrogações de Luís Graça, ainda sobre o tema Guidaje (2) (José Manuel Pechorro)

1. Segunda parte da mensagem do nosso camarada José Manuel Pechorro (ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73) com data de 1 de Maio de 2012, respondendo às perguntas formuladas por Luís Graça no seu comentário deixado no Poste 9960*.

11 de Maio de 1973, Sexta-feira
A noite foi fria e cheia de humidade. Pelas 06h05, e vindos da neblina matinal recolheram ao aquartelamento os dois Alf Atir Inf Mil José Manuel Levy da Silva Soeiro e José Manuel Nogueira Pacheco, e um cabo africano da CCaç 3 (que nunca os abandonou…), vindos do Cufeu. Pernoitaram escondidos na mata, aguardando pelo dia seguinte.
O Alf Pacheco, doente, com ataque de paludismo e esgotado, chegou a dizer aos outros dois para o abandonarem… Andou perdido, somente acompanhado pelo 1.º cabo africano, até conseguir encontrar-se com o seu camarada José Soeiro. Os mortos, da CCaç 19 serão comidos pelos abutres:

Quem não se lembra deles? O jagudi (necrosyrtes monachus), sempre em bandos. Atrevidos, estavam sempre presentes na tabanca à espera das sobras… e não só pois eram grandes larápios.
Foto cortesia de http://pt.wikipedia.org

A coluna devia regressar hoje a Farim, mas não aconteceu devido à forte pressão exercida pelos soldados e graduados da CCaç 19, e alguns civis. Intuindo o perigo de ficar Guidage, apenas com mais 2 GComb brancos, como reforço. Os referidos ameaçaram seguir com a coluna, como é natural a população ia atrás. Alguns populares chegaram a fazer as malas e andaram com as trouxas à cabeça.

Foi enterrado entre o arame farpado e a vala, próxima da caserna do 1.º Pelotão o Soldado Manuel Geraldes da BCaç 4512, que ontem morreu na coluna.

O cantar do BUM! BUM! Pelas 19h15 nova flagelação com morteiro 82, durante 10 minutos; 1 ferido ligeiro. Repetem pelas 20 e 21 horas, na população 1 ferido ligeiro. Resto sem consequências.

As bases dos fogos situam-se a 2,5/3 km de distância, nas zonas: FACÃ – SAMOGE e BISSAKAL (Senegal), de FAJONQUITO e QUENHATO. Está bem dirigido, cai na zona dos espaldões dos obuses, dentro do quartel e tabanca. Devem ter postos de observação que vão regulando o tiro por meio de rádios. Flagelam de Bissakal, respondemos ao fogo, imediatamente atacam de Quelhato (lado oposto), etc, não nos deixando quase sair da vala ou dos abrigos. As NT no entanto têm-se portado bem.

Hoje chegou a vez do aquartelamento de Binta. Foi flagelado com morteiro 82 e RPG`s. Do lado de lá do rio. Pelas 19 horas sem consequências. Segundo se comentou, e salvo erro, nesta flagelação os nossos soldados ao tentarem responder com os nossos morteiros 81, encontraram os mesmos com terra no seu interior, impedindo que as granadas picassem e emergissem dos canos!... BIGENE continua a ser atingido com canhões sem recuo e de vez em quando com foguetões. Aqui em Guidage ouvem-se, são uns atrás dos outros. De noite tornam-se nítidos os clarões das saídas e as trajectórias, tendo por fundo o céu estrelado.

Em homenagem aos soldados da CCaç 19, uma foto do soldado mais velho da companhia que transitou da CCaç 3, em Guidage. Por mais que tente não consigo lembrar o seu nome.
Do blogue SPM0018 do ex-Fur Mil João Félix Dias. Com a devida vénia

Pergunta: Tu saíste alguma vez do aquartelamento? Em princípio, não... Como 1.º cabo cripto, não podias correr o risco de ser apanhado à mão (o que para o exército seria um cenário pior do que seres... morto)

Resposta: Até Abril de 1973 ia-se buscar água em bidons, colocados em cima de viaturas, para as necessidades do aquartelamento à nascente da bolanha de Guidage. A maioria das praças deslocava-se a esta nascente na bolanha, entre o Senegal e a pista de aviação para tomar banho. Com uma lata das conservas de fruta, apanhava a água que brotava limpa, ensaboava e tirava o mesmo atirando água para a cabeça e resto do corpo...
Dizia-se que a nascente já era Senegal! Até esta data íamos todos os dias lavar-nos lá... Depois passamos a ter o furo e água canalizada no quartel!
Zona perigosa, nas flagelações diurnas o IN flagelava esporadicamente este local. Numa destas flagelações, num Domingo e na hora da sesta, ficaram feridas gravemente duas bajudas (raparigas solteiras) que lavavam roupa. Uma delas com o pé estropiado... Evacuadas por via aérea para Bissau. 

Local da Nascente. 
Foto ©: Adquirida ao 1.º Cabo Radiotelegrafista Janeiro, Alentejano

Em 26.3.1972, de Domingo
Pelas 20h30 Guidage sofre ataque de 40 a 50 elementos, que se dividiu em 2 locais de ataque, um dentro da Guiné e outro no Senegal, do lado de lá da bolanha. Comandou Fai Sissé. Utilizou 2 metralhadoras pesadas, morteiro 82, Rpg`s 7 e 2, e armas ligeiras PPSH e Klaschnikov. Procurou alvejar os obuses e o posto de comando durante 20 minutos. Consequências: NT sem baixas e do IN desconhecem-se.

No dia seguinte, Segunda-feira 26, uma força armada de cerca de 15 militares atravessou a bolanha para fazer reconhecimento aos locais do fogo atacante, fui com eles! Por mais que tente não consigo recordar os nomes. O nosso Cap Inf Afonso José Carmona Teixeira pediu voluntários, assistindo perguntei se também poderia ir, respondeu sorrindo que sim.

Nesta foto, de óculos o Cap Inf Afonso José Carmona Teixeira da CCaç 19 e de bigode O Cap Carlos Ricardo da CCaç 3. Janeiro ou Fevereiro de 1972.
Foto recebida do Fur Mil João Félix Dias da CCaç 3.

Detectamos onde estiveram, avistamos as cápsulas das munições e um ou outro equipamento que esqueceram ou foram obrigados a deixar…

Os guerrilheiros com armas ligeiras dispararam com os pés enterrados na água da bolanha, fugindo ao nível da maioria do nosso fogo que lhes passou por cima…

Pela primeira e única vez atravessei a bolanha, para o Senegal, com água pelo peito e com a G3 nas mãos, no meio da coluna, atrás ou à frente do Furriel. Em certo local, sendo o mais baixo do grupo fiquei com àgua perto do pescoço. Imprudência ou insensatez a minha!…

Morei com os meus pais na Ribeira de Santarém, no verão quase todos os dias ía tomar banho no Rio Tejo…

 
Foto ©: Retirada do sítio Luís Graça & Camaradas da Guiné, com a devida vénia

Não foi a única saída do aquartelamento. Num determinado Domingo, já perto das 16h30 / 17 horas, com o capim muito alto e verdejante que chegava aos taipais da viatura, integrei um grupo de 6 elementos (2 brancos e 4 negros), que foi buscar dois porcos do mato (javalis), abatidos por um soldado mandinga caçador nativo da CCaç 19, que nos indicou o caminho…

Fomos de Berliet, e andamos cerca de 6 kms, ou mais! No percurso interroguei o Soldado se ainda faltava muito, respondendo: “É já ali. É já ali…” O ruído da viatura, a distância do quartel e a nossa força muito diminuta, só com a G3 na mão… Cheguei a ter receio de sermos detectados pelos guerrilheiros… Admirei a perícia do condutor (o Braima Djaura?), que atingiu velocidade excessiva, desviando-se das árvores… Regressamos mesmo a acabar o dia, já a escurecer.

Foi na região entre Quelhato e o Fajonquito … Também não recordo o nome dos que foram nesta acção. Saí porque o soldado disse ao nosso Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas, a quem pedi autorização para sair, afirmou que os porcos estavam muito perto a cerca de 500 a 1000 metros e em zona de onde nunca tínhamos sido atacados. A companhia comprou o resultado da caça e a sua carne revelou-se bastante saborosa…

Um abraço a todos,
José Pechorro
Ex-1.º Cabo Op Cripto
CCaç 19
1971/73
Uidage - Guiné
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Nota de CV:

(*) Vd. postes de:

29 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9960: (Ex)citações (179): A actuação da FAP em Guidaje (José Manuel Pechorro)
e
5 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10000: (Ex)citações (184): Respostas a interrogações de Luís Graça, ainda sobre o tema Guidaje (1) (José Manuel Pechorro)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10000: (Ex)citações (184): Respostas a interrogações de Luís Graça, ainda sobre o tema Guidaje (1) (José Manuel Pechorro)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Pechorro (ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73) com data de 1 de Maio de 2012:

Respostas às perguntas formuladas pelo Luís Graça no seu comentário deixado no Poste 9960* (1)

Comentário de Luís Graça

Camarada: 

Talvez nos possas ajudar a compreender melhor certas coisas que por aí aparecem escritas... 
Naturalmente que respondes só ao que quiseres (e puderes..., se bem que a guerra, dizem, já tenha acabado há 38 anos).

Pergunta: Por exemplo, quantos mortos teve a CCAÇ 19? E quantas dessas baixas mortais ocorreram no período de 8 de maio a 8 de junho em que costumamos (alguns...) balizar a batalha de Guidaje?

Resposta: Ficaram enterrados em Guidage 23 corpos, 8 brancos metropolitanos e 15 negros naturais da Guiné. Alguns foram mortos ou ficaram feridos: no quartel, na estrada, ou no ataque a Kumbamory, acabando por morrer no aquartelamento alguns dos feridos.

Os mortos da CCaç 19, foram sete:

Os 5 que ficaram no Cufeu e 2 no quartel, feridos graves do abrigo na madrugada do dia 25 de Maio 73:

- ANTÓNIO DOS SANTOS JERÓNIMO FERNANDES, Fur Mil AP, NM 0948627, CCaç 19
- ANTÓNIO TALIBÓ BAIO, Soldado At NM 82081071, CCaç 19, Morcunda – N. Sra da Graça – Farim.

Pergunta: Porquê só dois mortos no quartel ?

Resposta: Ocupavam as 4 casernas abrigo e os cerca de 5 abrigos que existiam. - Ser uma companhia amadurecida na guerra e habituada a flagelações e ataques ao quartel.

Pergunta: Havia malta da CCAÇ 19, nomeadamente camaradas nossos guineenses, entre os cadáveres espalhados nas imediações da bolanha do Cufeu, quando por lá passaram a 38.ª CCmds e depois a CCP 121/BCP12?

Resposta:

10 de Maio de 1973, Quinta-feira 

01,15 h da manhã, acordados com morteiro 82. Sem consequências.

É organizada uma nova coluna auto com 15 viaturas (a segunda), traz granadas de obus, morteiros, munições, e géneros alimentares. Transporta água para ceder aos soldados que dela precisem, o que não é fácil devido à posição estratégica e rigorosa que cada um ocupa no terreno e que pode ser distante… Este movimento saiu de Binta, ao amanhecer pelas 5,30 h.

Escolta:

2.º Gomb/1.ª CCaç/BCaç 4512 de Nema,
1 GComb da 2.ª CCaç/BCaç 4512 de Jumbémbem,
2 GComb da CCaç 14 de Farim,
1 GComb da CCaç Africana “Eventual” (milícia especial) de Cuntima,
2 GComb da 38.ª de Comandos (2.º e 4.º)
e 1 Sec/Pel Mort 4274.

Foi comandada pelo Cmdt do BCaç 4512,  de Farim (Ten Cor António Vaz Antunes) e 2 capitães, acompanhados pelo Sr Ten Cor Cav António Valadares Correia de Campos (“Águia”),  comandante do COP 3 e o seu adjunto Sr Fur Mil Infor e Op Inf do Cop3 Carlos Jorge Lopes Marques Pereira (“Lobo”). Bigene ficou sob o comando do Sr. Cap. Jaime Simões da Silva (Cmdt interino por morte do Maj Mariz).

Ao encontro da acção logística e para manter segurança, ao longo da via,  saem de Guidage 4 GCOMB: 1 bi grupo da CCaç 3 e outro da CCaç 19 (Os pelotões dos Alf Mil Leitão e Luciano Diniz). O da CCaç 3 marcha nas bermas, seguindo atrás e executando a picagem da estrada, o da 19 até ao Cufeu. O bigrupo da CCaç 3 progredindo proponha-se fazer a picagem até ao contacto com a coluna!...

Estas colunas (apeadas e auto) avançam ao compasso da lentidão dos “picadores”, podem ser alvo fácil da guerrilha que por vezes está emboscada muito perto, podendo o confronto armado acontecer repentinamente. Os condutores esforçam-se por pisar o rasto do carro da frente. Acontecendo o mesmo com os soldados, pisam onde o da frente pisou… A tensão é grande! As minas no terreno podem não ser detectadas…

Entre o UJEQUE e o CUFEU accionam uma mina anti-pessoal, cerca das 9h40, causando 1 ferido grave e 1 ligeiro.

Pouco depois, na vanguarda a CCç 3, passada a ponte no Cufeu, avista o IN contra o qual investe, encurralando-o na bolanha que corta a estrada; causando baixas prováveis ao adversário. Foi por pouco tempo… São atacados por grupo estimado em 100 turras que passa ao assalto, mostrando boa preparação e fazendo bom uso dos RPG, morteiro 60 e armas ligeiras  (armamento russo).  Elementos das NT afirmam que foram alvejados com canhão sem recuo, o que é provável. Já com escassez de munições não resistem e debandam as nossas forças. Os 2 Cmdts brancos, os Alf Mil At Inf José Soeiro e o José Pacheco, bem tentaram desesperadamente deter o avanço adversário: Notou-se na conversação via-rádio…

Esfarrapados, cansados e abatidos, os militares foram chegando ao quartel de Guidage e a Binta.

Mais atrás, a CCaç 19 não vai em auxílio da 3. Separados em consequência do accionamento da mina. Aguarda emboscada e montando segurança que a coluna chegue até eles.

Acaba por receber ordem de retirada, a marcha forçada, para Guidage, mas foi tarde… Emboscados na beira da estrada, avistam o IN e hesitam se seriam os da CCaç 3… Deu-se um contacto muito forte, com grupo de cerca de 70 a 100 elementos (?).  Sofreu 3 embates. Separados pela estrada. O último foi o mais violento, tendo os guerrilheiros avançando a descoberto, em terreno não favorável, procurando envolver-se com as NT para fugir ao bombardeamento da FAP, que procurava oportunidade para actuar, dificultada pela dispersão dos militares da CCAÇ 3, fugidos e perdidos na mata. Os nossos,  executando tiros de precisão,  alguns (principalmente os que morreram, pois acabaram envolvidos…) não aguentam o forte potencial de fogo adverso (morteiro 60, RPG e armas ligeiras) e dispersam, com baixas: 5 baixas africanos, que ficaram no terreno; 7 feridos graves e 16 ligeiros.

Os 5 mortos:

- Abdulai Mané, de Barro/ Bigene/ Farim,  1.º Cabo At, NM 820863/71, CCaç19/Cart 3521, enterrado em Guidaje;
- Jacom Turé, de Samba Condé/N.Sra. da Graça/Farim, Sold At, NM 82084271;
- Mamudu Lamine Sanhá, de Perim/ N.Sra. Fátima/ Catió, Sold Aux Enf, NM 82120372;
- Sadjó Sadjó, de Morcunda/ Canicó/ Farim, Sold At, NM 82080371;
- Suleimane Dabó, de Morcunda/ Canicó/ Farim, 1.º Cabo At, NM 82080471.

Obs: - Segundo o Braima Djaura, Soldado Condutor Auto, escondido, observou com o Soldado Mecânico Auto Ridel, após ter sido morto, o Mamudu Lamine Sanhá foi degolado e a cabeça colocada em cima de um tronco de árvore…

13 de Junho de 1973, terça-feira

A pedido dos Soldados da CCAç 19 e considerando não haver perigo o Maj Inf Carlos A.W. C. Campos ordenou o levantamento dos corpos dos 5 camaradas deixados para trás no Cufeu, foi um momento de grande emoção e foram dignamente enterrados junto das campas dos outros soldados anteriormente sepultados...

O 1.º Cabo Comando Amílcar Mendes,  da 38.ª CCmds, numa postagem no sítio da Internet do Luís Graça,  afirma que os 2 GComb da 38.ª C.Cmds enterraram 2 corpos que alegam pertencer à 19. Poderá tratar-se de 2 baixas do IN...

O PAIGC não se apercebeu da entrada em Guidage, ontem, vindos via corta mato, da zona de Samoge onde montavam patrulhamento e segurança, dos 2 GComb da CCaç 3 e pagou caro este facto, pensou estar a enfrentar apenas os 2 GComb da CCaç 19…

O IN retirou também, fortemente combalido: 10 a 12 a mortos que sofreu, e nove feridos. Segundo várias fontes de informação LERPOU o seu comandante (Solo Danfá?). Ao abandonarem a zona terão levado alguns dos seus mortos. Sentindo o aproximar da coluna fugiram também.

Viveram os contactos o 1.º Cabo Radiotelegrafista Joaquim Janeiro e o Soldado Trms Inf Carlos Alberto Valentão, este chegou esgotado ao aquartelamento. A aviação não acorreu rapidamente. Temos que ser compreensivos, a distância… Mas a nossa impaciência, leva-nos provavelmente a sair da realidade operacional… Foi requisitada para ajudar a CCaç 3 e acabou a tentar intervir, nos confrontos com a CCaç 19…


Cadáveres de soldados africanos da CCAÇ 19, abandonados no campo de batalha. 

Foto ©: Amílcar Mendes, ex-1.º Cabo Comando/38.ª CComandos. Com a devida vénia


Soldado atingido numa perna amparado

Foto ©: http://tantasvidas.blog.pt/2006/4/ do ex-Alf Mil Comando V.Briote) Com a devida vénia.

Entretanto a coluna de auxílio progrediu com andamento acelerado, sempre que possível. Pelas 14h05, entre o GENICÓ e CUFEU accionou mina anti-pessoal de que resultou 1 ferido grave e 3 ligeiros. Contornou abatizes, ao longo do percurso. Num fornilho, situado perto da ponte no CUFEU, sofreu um morto: o Soldado At NM 06471572 Manuel Maria Rodrigues Geraldes, da 2.ª CCAÇ/BCaç 4512/72, de Vale Algoso, Vimioso …

Chegados os militares, do bi-grupo da CCaç 19 que sofreu os confrontos na estrada, a guarnição ficou abalada, alguns chegaram em estado de choque e em pânico, que se pegou a outros que estavam no aquartelamento… As minhas tentativas em tentar acalmar e dizer que o auxílio acabaria por chegar, não davam resultado…

Na CCaç 19 nota-se a falta de um Comandante do Quadro, um oficial miliciano não é a mesma coisa.

Valeu, em parte, a calma do Fur Mil do SIM António Hermínio Camilo Sequeira que procurou conter a quebra dos restantes. Tomou a iniciativa de entrar em contacto com o Comando-Chefe, expondo a situação e pedindo o auxílio de Tropa Especial, de preferência pára-quedistas. A emoção aumentou, entretanto, com o choro das mulheres pelos mortos, em conjunto na tabanca.

Muitos não crêem que seja possível à coluna auto passar no CUFEU. A falta de esperança levou alguns a levantar a hipótese do abandono do posto fronteiriço, seguindo a corta mato para Farim, durante a noite. Se tal se concretizasse, teria sido um “suicídio” ou passaríamos por um pesadelo.

No meu entender não estávamos em condições de fazer uma marcha destas, com um efectivo pouco numeroso, para transportar os feridos e proteger a população, na mata. Os observadores do IN, davam pelo acontecido e possivelmente o PAIGC caía-nos em cima…

Em virtude destas atitudes, queimei toda a correspondência, parte do arquivo e o material cripto que estava a aguardar a destruição (algum que guardava para trazer para a metrópole, por me parecer interessante…). Envolvi o dinheiro que dispunha em plástico e alguns apontamentos sobre os acontecimentos de Guidage… enchi os bolsos de munições, preparando-me para seguir atrás deles, caso se concretizasse! Temia que a coisa fosse repentina…

É ordenada a separação auto e o avanço veloz, ao bigrupo da 38.ª CComandos, para Guidage. Ao atingir a povoação esta imagina tratar-se de viaturas dos turras e foi mais um sobressalto!..

É o primeiro grupo da coluna auto a atingir GUIDAGE e a quebrar o cerco, através da estrada!

Foi com muita alegria que os vimos entrar e a esperança voltar aos nossos espíritos.


Viatura a entrar em Guidage.

Foto ©: Adquirida ao 1.º Cabo Radiotelegrafista Janeiro Alentejano

Estes comandos brancos estão equipados com material capturado ao PAIGC. Na estrada e na berma avistaram alguns dos nossos mortos e do PAIGC, não os levantaram por suporem serem do IN, ou estarem armadilhados…

Integrado na 38.ª, vinha um ex-companheiro e amigo de adolescência, de alcunha “Cachucho”, da Ribeira de Santarém. (Tomei conhecimento que outro companheiro de infância e do Cachucho, o Joaquim, também faz parte mas não veio por estar doente…).

Chegaram com uma viatura com o pneu rebentado por uma mina, um ferido grave decepado de um pé ao saltar da viatura e num Unimog que estacionou ao lado da antena do Posto de Rádio e próximo deste, com um morto envolvido num poncho.

Por volta das 18h, somos flagelados com morteiro 82, durou 10 minutos. Atingida a enfermaria que se encontrava a abarrotar de feridos. Não houve baixas. De realçar que as granadas alcançaram vários edifícios.

Pouco depois chegou a coluna, dando entrada para regozijo de todos, tropas e civis. Tendo havido gritos e vivas de contentamento. Foi uma festa-relâmpago.

O Ten Cor Cav António Correia de Campos (foto à direita), com um revólver à cintura, de galões, botas dos fuzos e bengala na mão, fez o percurso quase todo a pé.

No Posto de Comando, na presença dos oficiais, declarou que era ele que comandava o aquartelamento!

O Cmdt da coluna, do Batalhão de Farim (Ten Cor António Vaz Antunes) e 2 capitães, deitaram-se no dormitório do pessoal de transmissões, anexo ao Posto de Rádio, debaixo de chapa de zinco.

Um soldado condutor da Companhia de Transportes, de nome Dinis, é natural de Santarém. Saíu de Bissau para Farim e foi parar a Guidage… Foi meu colega na JOC. Passada a surpresa do encontro, perguntou-me onde poderia deitar-se em “sossego”? Disse-lhe que na minha cama não podia ser, pois estava no Centro Cripto. Indiquei-lhe o paiol, poderia deitar-se entre as caixas (cunhetes) de munições; tinha placa e paredes muito grossas em betão armado… mas rindo não ligou, dizendo que poderia ir pelos ares, talvez pensando que brincava… Eu falava a sério! Dormiu no banco da Berliett, na parada: Durante a flagelação das 22h40, cansadíssimo nem deu pelos rebentamentos, só acordando de manhã.

A CCaç 3 tem 6 homens desaparecidos: Os 2 alferes brancos José Manuel Levy da Silva Soeiro e o José Manuel Nogueira Pacheco; um 1.º cabo e 3 praças africanas negras.

A certa hora da noite um soldado da CCaç 19 atravessou a luz exterior e o arame farpado. Afirmou que foi apanhado pelos turras que o mandaram embora, depois de despido e completamente nú!… Não será um elemento do IN infiltrado nas nossas tropas? Não consigo lembrar o seu nome.

A escuridão é completa, para se andar é quase às apalpadelas…

Perto das 22h30 o Alf Mil Atir Inf José Manuel Levy da Silva Soeiro, da CCaç 3 contacta via rádio que se encontra perto do quartel do lado de Quelhato. Informa que grupo IN se aproximou e montou base de artilharia e se preparava para flagelar Guidage… Cerca das 22h40 somos atacados e reagimos bem. O Alferes da CCaç 3 observador e camuflado na mata em contacto com o Ten Cor Cav Correia de Campos, que veio para fora do posto de comando com o rádio na mão demonstrando coragem, foram dirigindo o fogo da nossa artilharia para cima deles… Embora com muita dificuldade de comunicação em virtude estarem muito perto do IN e ao que parece com pilhas fracas ou sem antenas, que se soltaram, devido às correrias por entre o matagal… Parte do nosso fogo passou por cima dos guerrilheiros.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9960: (Ex)citações (179): A actuação da FAP em Guidaje (José Manuel Pechorro)

Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9991: (Ex)citações (183): Comparandos os dois G, Guidaje e Guileje... (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 63/74 - P9999: (In)citações (40): Deixem-me aliviar a angústia das notícias vindas da minha terra (Braima Djaura, ex-sold cond auto, CCaç 19, Gudiaje, 1972/74)

Citação: "Temos orgulho em ti, Pepito!... E parafraseando Italo Calvino, lembraremos aqui aos ditadores e aprendizes de ditadores no mundo que 'não é a voz que a dirige a história, mas sim o ouvido'... Não é a voz dos que gritam mais alto, porque têm momentaneamente o poder de comando, mas sim o ouvido daqueles que tendem a ser tratados como a maioria silenciosa... E já lá vai o tempo em que os ditadores morriam tranquilamente na cama e iam para o céu... LG



1. Mensagem, enviada ontem para o correio interno da Tabanca Grande,  pelo nosso camarada Braima Djaló, ex-sold cond da valorosa CCaç 19 (Guidaje,  1972/74) (*):

Caro Amigos e Camaradas de Tabanca Grande, nomeadamente o nosso amigo Pepito:

Tenho estado permanentemente a ler o Blog Ditadura do Consenso. Na qualidade de guineense,ou natural daquela terra, envergonha-me, por vezes, saber de tantas barbaridades que muitos não percebem.

Recentemente li comentários de ex-embaxadores de Portugal, na Guiné-Bissau, comentários muito interessantes para perceber a realidade que vem de séculos.

A Guiné [sempre foi palco de ] interesses de domínio dos que vivem no Nomadismo, como designou o nosso amigo Pepito, “cafres”, a maioria se não todos vindos de Traves, outrora obrigados a vestirem-se decentemente de acorddo com as etnias onde queriam ser acolhidos… A prova claro disso são os cabecilhas do golpe [de 12 de abril de 2012] ... Injai, Sanha, Sambu, e tantos outros que infelizmente são ignorantes que nem mesmo a
linguagem mais vulgar da Guiné entendem.

Hoje querem ser influentes para ter melhor domínio do tráfico de droga, pelo que só podia ser em Jugudul [o local para] a improvisação de um aeroporto para o efeito.

Bom, meus amigos, sinto-me envergonhado pois a Guiné-Bissau tem 42 etnias, embora alguns comentadores falem em 30 ou 32 (vd. Boletim Oficial da Guiné, 1956 a 1961). Entendo por outro lado que a diminuição de número deve-se à Guerra de Ultramar. E, exactamente devido ao acolhimento acima referido, Injai não é sobrenome da etnia que ele representa, maioritária, com 30% da população, mas cuja condição era bem escondida na Guiné ao longo de anos, nas vestes e noutros costumes tipo 
Chalim-Minde Bissorã (**).

Pois bem, baseando na escrita do nosso camarada e grande amigo, LG, temos orgulho dos que hoje sofrem humilhações pelo amor da nossa Terra, em silêncio, mas por vezes o silêncio é o grito mais alto de uma dor injustificável, que o tempo justificará.

Desejo expressar a todos os amigos da Guiné-Bissau, e aos Bissau Guineenses,  os meus agradecimentos, porque muitas vezes ao ler e conviver com e-mails de tantos amigos, isso faz me aliviar a angústia das notícias vindas da minha Terra.

Bem-haja a todos.

Ibrahim  Djaura

[Lisboa]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9922: (In)citações (39): Integrar o Suleimane na Tabanca Grande foi de um grande significado simbólico e de homenagem a todos os guineenes que serviram na guerra da Guiné (Cherno Baldé)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponta Brandão > 1970 > Dois velhos balantas. Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
 
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.



(**) A frase tem um sentido obscuro, pedimos ao autor para nos explicar a referência a Chalim-Minde Bissorã... É um topónimo, uma povoação na região de Bissorã ? Se sim, não  conseguimos indentificá-lo, nas nossas velhas cartas... Presumo antes que seja uma expressão idiomática, intraduzível em português...


Explicação posterior dada pelo Braima Djaura, em mail enviado hoje às 13h13:


Caro amigo, LG, realmente é uma linguagem pouco conhecida, mesmo na Guiné, pois é... Antigamente os balantas de Encheia e dos arredores de Bissorã vinham para a cidade de Bissorã seminus, ou seja,  muito mal vestidos, sem pudor. Um Administrador de Circunscrição em Bissorã deu ordem para prender todos os que aparecessem na cidade dessa forma, ou seja, tapando apenas os orgãos genitais. E advertia-os para verem o exemplo dos Mandingas, com vestes razoáveis tipo batinas, de 4 a 5 metros de tecidos.

Foi nesta altura que os gajos começaram a recorrer aos 3 metros de tecido, para os costureiros da cidade, pedindo que as vestes fossem  feitas iguais às dos Mandigas de Bissorã e dos Fulas, pelo que tinham que dizer "Tchalim-Minde-Bissorã"...  Foi nesta altura que os balantas começaram adotar nomes dos mandingas e fulas: por ex., Injai, Cumba, Sanha, e tantos outros sobrenomes, vindos daquelas etnias.

As vestes que até hoje usavam, nota-se ainda na Guiné: apesar das suas batinas, não passavam os joelhos abaixo, diferentes das dos mandingas e fulas; Isto é, uma história tribal da Guiné, significa que são tribos que vieram do nada nos Traves, hoje querem ser fluentes e dominadores. Nota-se que a maioria dos militares são desta tribo, parece ridículo, mas é verdade. Por outras razões,  seria longa a explicação. Mas agora podemos perceber porque o Nino  sempre foi duro com esta gente, ele sabia verdadeiramente quem eles são. 

Espero que o meu amigo tenha percebido, Tchalim-Minde Bissoã significa igual à dos Mandingas de Bissoã, em dialecto dos  batantas, ou "manojos", em mandinga. Cá estou eu, para quaisquer dúvidas.

Grande abraço
I. Djaura, ID



quinta-feira, 31 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9970: Efemérides (99): Guidaje foi há 39 anos: Relembrando a primeira trágica coluna, dos dias 8 e 9 de maio de 1973 (Manuel Marinho, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512., Nema, Farim e Binta, 1972/74)




A fatídica picada Binta -Genicó - Cufeu -Ujeque - Guidaje...



1. Oportunos esclarecimentos do Manuel Marinho em relação ao poste P9961 (*):

Esta coluna parte para Guidaje a 10 [de maio de 1973] e regressa a 13 a Farim, o camarada Amílcar Mendes até publicou as cópias dos relatórios da 38ª Ccmds referentes a esta coluna.

Quanto às baixas mortais das 1ª e 2ª colunas, são estas.

1ª – Coluna Dias 8 / 9 Maio:

1º Cabo Mil Bernardo Moreira Castro Neves,  1ª/Bcaç 4512

Sold António Júlio Carvalho Redondo,  3ª/Bcaç 4512

Fur Mil Arnaldo Marques Bento,  Ccaç 14

Sold Lassana Calissa,  Ccaç 14


 2ª – Coluna Dia 10:

Manuel Maria Rodrigues Geraldes, 2ª/ Bcaç 4512 (enterrado em Guidaje).

Baixas mortais da Ccaç 19ª, que saem ao encontro desta coluna:

1º Cabo Abdulai Mané, Ccaç 19

Sold Jancon Turé,  Ccaç 19

Sold Mamadu Lamine Sanhá,  Ccaç 19

Sold Sadjó Sadjó,  Ccaç 19

Sold Suleimane Dabó,  Ccaç 19

Estes corpos ficaram no terreno, portanto contam-se 9 desditosos camaradas das NT, o que não contradiz o testemunho do Amílcar, porque as baixas do IN foram em número superior, e presumo que não tivessem sido todos levados.

Dias 12 e 13 no aquartelamento de Guidaje > Baixas mortais:

Sold Cond Auto David Ferreira Viegas,  Comando Agrup Op nº 1/CTIG

Sold José Luís Inácio Raimundo,  38ª Ccmds

Sold Cond Auto Ludjero Rodrigues Silva, CCS/Bcaç 4512.

Por último, lembro que tenho o P4957 (**), que descreve o que foi a 1ª emboscada.
E correspondendo ao teu pedido, estou a ultimar uma descrição das colunas de e para Guidaje, valem o que valerem, mas quero apenas deixar uma nota: O meu Batalhão 4512 teve 9 baixas, 6 são pela luta por Guidaje. 

2. Em relação à constituição da coluna do dia 10, não são 5 Gr Comb do Bcaç 4512, mas apenas 2, um de Nema (2º) e um de Jumbembem (2º). Mas se juntarmos os 2 Gr Comb da Ccaç 14, mais 1 Gr Comb da Ccaç Afr de Cuntima, dá 5 Grcomb, embora estejam sob o Comando do Bcaç 4512, o Cmdt desta coluna foi o Cmdt do Bcaç 4512, Ten Cor Inf [António] Vaz Antunes.

No dia 10 a 2ª coluna é assim constituída:

-1 Gr Comb (2º) da 1ª /Bcaç 4512,  de Nema
-1 Gr Comb (2º) da 2ª/ Bcaç 4512,  de Jumbembem
-2 Gr Comb da 14ª Ccaç, de Farim

-1 Gr Comb da Ccaç Afr Eventual, de Cuntima

-2 Gr Comb da 38ª Ccmds, [de Mansoa, CAOP1]

-1 Secção do Pel Mort 4274, de Farim. 

Abraço

Manuel Marinho
ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512,
Nema, Farim e Binta, 1972/74  [, foto à direita].

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(...) GUIDAJE - A PRIMEIRA GRANDE EMBOSCADA
por Manuel Marinho


A nossa Companhia [, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512,] estava sediada desde meados de Janeiro em Nema, aquartelamento avançado de Farim, com dois Gr Comb, o 1.º e o 2.º os outros dois, 3.º e 4.º em Binta.

No dia 8 de Maio, o 1.º Gr Comb recebe ordens para juntamente com um Grupo da CCAÇ 14,  de Farim, escoltar uma coluna de abastecimento, 2 Berliet mais 2 Unimog com armamento e mantimentos para socorrer um aquartelamento que era Guidaje, e do qual apenas sabíamos que era flagelada com bastantes ataques de morteiros. De noite, em Nema avistavam-se os clarões dos rebentamentos e ouviam-se, ainda que remotamente, os estrondos das explosões.

Deslocámo-nos de tarde para Binta, fortemente armados, escoltando as viaturas carregadas. O trajecto foi feito sem problemas e quando começava a findar o dia, a ordem de avançar para Guidaje foi dada,  já começava a anoitecer, quando esperávamos seguir apenas ao raiar o dia seguinte. Havia apreensão, porque escoltar viaturas de noite era complicado já que nos retirava a mobilidade necessária em caso de ataque.

Avançamos com os picadores na frente da coluna para a detecção de minas enquanto foi possível, depois foi dada ordem para a subida para as viaturas, porque já não se via para fazer a picagem, e foi a primeira viatura a fazer de rebenta-minas.

O roncar dos motores das viaturas, com as luzes acesas, fazia-nos temer o pior, até que aconteceu o rebentamento da mina na primeira Berliet, cerca das 19 horas [...] , causando desde logo dois feridos, entre os quais o nosso Alferes que comandava a coluna.

Depois dos saltos para o chão dos que seguiam nos Unimogs após o rebentamento da mina, ficamos emboscados, e apenas víamos o camarada à nossa esquerda e o outro à direita. Cerca de 10 a 15 minutos depois, o restolhar de passos no mato, vindo do nosso lado esquerdo,  obrigou muitos de nós a fazer a respectiva rotação, porque de imediato começou o primeiro ataque, e único desse dia.

O IN avançou até à picada, disparando rajadas curtas e, dada a proximidade, chegando eu a divisar na noite a silhueta dum IN de tão próximo eles se aproximaram, provavelmente esperando o efeito de desorientação da nossa parte, (posteriormente soubemos que estavam emboscados mais à frente com a picada cortada por abatises), o rebentamento da mina A/C, apenas precipitou os acontecimentos, a julgar pelo que aconteceu depois, ainda podia ser pior. Também RPG,  LGFOG e MORT foram utilizados no ataque.

Depois de intenso fogo de resposta da nossa parte, houve a retirada estratégica do IN para logo de seguida lançarem very-lights e granadas que iluminaram a picada, no sentido de medirem a extensão da nossa coluna.

Este primeiro contacto foi de 15 a 20 minutos. Tivemos de pernoitar no local sem possibilidades de retirada, pois não era possível retirar as viaturas, ficando com a desvantagem de o IN ter tempo de montar a sua estratégia de ataque durante a noite para nos emboscarem, com mais precisão.

Ao raiar o dia 9 de Maio somos novamente atacados, sofremos logo o primeiro morto, e durante cerca de 4 a 5 horas os ataques foram ininterruptos, atacavam-nos revezando-se, ora do lado direito, ora do esquerdo da picada, causando-nos mais 3 mortos e bastantes feridos e, como no local o mato era denso, os estilhaços dos RPG e LGF fizeram-nos muitos estragos.

Era um cenário desolador e trágico o que nos rodeava, até pelo facto de estarmos rodeados de camaradas feridos, alguns com gravidade, eu apenas fui carimbado com pequenos estilhaços sem gravidade, mesmo perante esta situação limite, resistíamos, já tínhamos experiência de combate, mas isto era inimaginável.

Nem o apoio de fogo aéreo conseguiu aliviar a pressão. Sem munições e muito desgastados física e psicologicamente, e já no limite, fomos socorridos por forças de Binta que nos ajudaram a retirar e resgatar os feridos, aguentamos até onde foi humanamente possível, e é com mágoa que relembro a impossibilidade da retirada dos nossos mortos, 1 do meu Grupo, 1 da 3.ª CCAÇ do meu Batalhão, e 2 da CCAÇ 14.

Hoje tenho a impressão que o IN, já nesta fase, esperava a nossa retirada para o saque das viaturas.

A demora na chegada de reforços contribuiu, na minha opinião, para que tal acontecesse, e a prioridade eram os feridos, a ordem de destruir as viaturas, de imediato (?)... é ainda hoje um mistério para mim, porque havia feridos junto às viaturas.

Mas é a agonia e o sofrimento atroz do meu camarada, que atingido gravemente, por duas vezes, acabou por morrer, mau grado todos os esforços, feitos debaixo de fogo do IN pelo nosso enfermeiro para atenuar o seu sofrimento, e perante a nossa impotência para o retirar. É o meu maior pesadelo de guerra até morrer, honra à sua memória.

Infelizmente fomos nós a sofrer esta emboscada que.  se não foi a maior, seguramente foi das piores que aconteceram na Guiné, e deu início ao fatídico mês de Maio de Guidaje.

Mais tarde se o entenderem, direi o que penso sobre o resgate dos corpos.
Omito os nomes dos meus camaradas mortos por razões de respeito.

Algumas clarificações que valem o que valem a esta distância quando a memória começa a falhar, mas este testemunho é o de quem viveu praticamente todas as incidências de e em Guidaje, que apenas e só pretende dar mais um passo na reconstituição dos factos.

Depois falarei sobre a minha chegada a Guidaje integrado na última coluna, do dia 29 [de maio], e de alguns episódios que ocorreram nesse mês. (...)


terça-feira, 29 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9961: Efemérides (96): Guidaje foi há 39 anos: a coluna que rompeu o cerco, em 10 de maio de 1973 (Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Cmd, 38ª CCmds, 1972/74)


02 Novembro 2005

Guiné 63/74 - CCLXV: Apresenta-se o 1º Cabo Comando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)

Caro Luis Graça, camarada comando Briote:

Vou-vos falar um pouco de mim. Assentei praça no longínquo ano de 1971 no antigo RAL 1, em Outubro. Ofereci-me para os Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso em Mansoa, na mata do Morés, onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto, com o posto de 1º cabo.

Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas só regressei a Portugal em Julho de 1974. As histórias pelo meio ficam para outra altura, e tambem as fotos, neste momento tenho o scanner fora de serviço.

Se quiserem saber mais alguma coisa é só perguntarem.

Um grande abraço para todos os ex-combatentes, em especial os Comandos.

Só mais um pormenor, a minha companhia foi a 38ª Companhia de Comandos, os Leopardos.A. Mendes
1. Amílcar Mendes é um dos nossos mais antigos 
grã-tabanqueiros. Publica-se acima uma cópia do poste de 2 de novembro de 2005 em que ele se apresentou ao pessoal do blogue, que na altura ainda só eram umas escassas dezenas de "tertulianos", como então chamávamos aos membros da nossa "tertúlia", hoje Tabanca Grande.  

O  ex-1º Cabo Comando,  depois de ter estado na 38ª CCmds (Guiné, 1972/74), ficou no Regimento de Comandos da Amadora até 1980, dando instrução.  Hoje tem um táxi na Praça de Lisboa. Há tempos confidenciou-nos: "Enquanto estive na Guiné fui escrevendo uma espécie de diário que, com muito gosto, irei aqui partilhar com toda a tertúlia, porque sei que muito do que escrevi apenas fará sentido para aqueles que trilharam os mesmos caminhos nesses longínquos, difíceis e já saudosos anos".


São o seu caderno de notas e as memória ainda bem vivas da sua atividade operacional no TO da Guiné que lhe permitem falar com autoridade da coluna que "rompeu" o cerco a Guidaje, em 10 de maio de 1973. Há questões de pormenor que ele pode ainda esclarecer, com a ajuda de outros camaradas "que estavam lá"... Por exemplo,  no portal da Liga dos Combatentes não há registo de mortos, em combate, no dia 11 de maio de 1973, por que ao que parece o PAIGC estava também ocupado em tratar dos seus mortos e feridos (,segundo a versão de Moura Calheiros).  Por outro lado, os cadáveres em decomposição na zona do Cufeu (o A. Mendes diz que contou 15 quando lá passou em 10 de maio de 1973, a caminho de Guidaje) (*) tanto seriam das NT como do PAIGC (, já que a zona fora bombardeada antes pela FAP, possivelmente a 8). 

Por outro lado, confirma-se que os 2 gr comb da valorosa 38ª CCmds regressaram a Mansoa, ao CAOP 1, não a 13, ao fim da tarde.  

Sobre esta coluna, vd. o que o Moura Calheiros escreveu no seu livro, A Última Missão, pp. 444/445; este autor diz que esta coluna, com 8 grupos de combate - incluindo os 2 da 38ª CCmds - partiu de Binta a 10, de madrugada; o mesmo diz o José Manuel Pechorro e a história da 38ª CCmds; o Amílcar também já me confirmar a data, que é 10 e não 11, como aparece por lapso nos postes de outubro de 2006. A 12, morrem  o Raimundo e o Viegas morrem a 12...).

De resto, só com a triangulação de fontes e uma aprofundada pesquisa de arquivo podemos esclarecer pontos sobre os quais pode haver pequenas divergências factuais (por ex, nº e data das colunas; nº total de baixas, mortos e feridos; forças que integraram as escoltas às diversas colunas). O objetivo da publicação destes postes sobre os 39 anos da batalha de Guidaje (uma das mais duras da toda a história da guerra colonial nos três teatros de operações) é também a de suscitar o aparecimento de novos depoimentos, de colmatar lacunas de informação e de sobretudo de homenagear os vivos e os mortos, todos os nossos camaradas que deram melhor de si  (algumas dezenas, a sua própria vida) no "inferno de Guidaje".

Juntamos aqui os 4 postes do A. Mendes sobre o "inferno de Guidaje" (*), publicados em outubro de 2006. Foram feitas correções de datas.







38ª CCmds (1972/74) > História da unidade > Excertos (documento disponibilizado pelo Amílcar Mendes)


 A CAMINHO DE GUIDAJE

por Amílcar Mendes
Resumo:

9 de Maio de 1973 > O 2º e o 4º grupos [da 38ª Cmds] vão hoje fazer uma escolta a uma coluna de Mansoa para Farim.

13 de Maio de 1973 > Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade.  




9 de Maio de 1973

Saímos de Mansoa [, sede do CAOP1,]  com destino a Farim, com uma coluna que leva abastecimentos para a fronteira. Íamos só com a missão de chegar a Farim e voltar. Passámos a noite em Farim, mas fala-se já que não iremos voltar. A coluna que viemos acompanhar, destina-se a Guidaje.


Guidaje, onde nenhuma coluna consegue chegar. Fala-se aqui que da útima coluna que tentou passar: ficaram pelo caminho mais de 20 mortos. Guidaje onde a situação é caótica, onde a aviação já não dá cobertura. 

Em Farim assisti à chegada do que restou da última coluna que tentou passar. Vi militares chegarem a pé, sozinhos, completamente aterrados com o que passaram.

Continuamos em Farim e com a chegada da noite ficamos a saber que somos nós quem vai seguir com a coluna para Guidaje.



pelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
GERALDES MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
MANÉ ABDULAI MANÉ 1CabExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
REDONDO ANTÓNIO JÚLIO CARVALHO REDONDO SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SADJÓ SADJÓ SADJÓ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SANHÁ MAMADU LAMINE SANHÁ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
TURÉ JANCON TURÉ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

 Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar













10 de Maio de 1973

Saímos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta, onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente.

Nota-se na picada o efeito das minas, autênticas crateras. Serão 16 km de picada até Guidaje. Um pelotão de Binta irá conosco até meio do percurso, depois iremos sós. Na frente os picadores lá vão detectando e rebentando minas, a cada hora apenas andamos para aí 2 km. Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, africana, para vir ao nosso encontro.


Passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projetadas a ezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada.

A coluna, à saída da bolanha do Cufeu, pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro [, a CCAÇ 19,], caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN esta demasiado próximo.


Ouço então o apelo mais dramático, ouvido em toda a minha vida: Pela rádio o oficial que comandava a companhia emboscada apela à aviação:

- BOMBARDEIEM TUDO! A NÓS, INCLUINDO! A SITUAÇÃO É DESESPERADA! ESTAMOS A SER TODOS MORTOS, POIS OS GAJOS SÃO EM NÚMERO MUITO SUPERIOR!

A aviação nega-se a cumprir o apelo. Nós estamos a cerca de 3 km da emboscada. Nem pensar em lá chegar para ajudar. Demasiado longe num local cheio de minas e outros obstáculos. Os Fiats sobrevoam-nos e avisam-nos de que o IN está próximo. Faz isso para evitar ser bombardeado.



Continuamos a caminho de Guidaje. Quem ainda seguia nas viaturas salta para o chão. Ouve-se um rebentamento! Foi uma mina! O 1º cabo Filipe ao saltar pisou uma mina! Ficou logo ali sem um pé! Recebe os primeiros cuidados na picada e é posto numa viatura.

Seguimos, seguimos a um ritmo alucinante para chegar antes da noite.

Mais um morto na picada. Pisou uma mina. Ficou irreconhecível, metade do tamanho. É enrolado num poncho, posto no estrado de uma viatura. E continuamos (Esse morto mais tarde iria ser sepultado em Guidaje onde ficou).


Uma viatura pisa uma mina mas só ficou sem o rodado e continua assim mesmo.

Chegamos ao local da emboscada da CCAÇ 19 (**). Só encontramos mortos. Mortos e mais mortos. Nossos e do IN. Ficam para trás. E ali irão ficar para sempre. Já andámos há cerca de 10h na picada e Guidage já não está longe.

Já com Guidaje à vista subimos para as viaturas e eu sigo naquela só com três rodados, e onde segue o morto.

Chegamos a Guidaje! É a primeira coluna a chegar de há três semanas a este tempo. A população vem receber-nos com gritos de alegria, dá-nos água, trata-nos com carinho, sentem que o isolamento acabou.


Assim que entramos no destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada. Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidaje! O Filipe está num abrigo a soro, fui vê-lo e ele delirava a chamar pela família.

Durante a noite iremos sofrer mais 4 ataques e um deles será mortal.

Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.

[No dia 11 de Maio de 1973, não há registo de mortos no portal da Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar. ]

12 de Maio de 1973

Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!

A nossa artilharia [, Pel Art 24, de Guidaje] (**) responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor [, o Viegas, do CAOP 1] que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm.



Apelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
RAIMUNDO JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
VIEGAS DAVID FERREIRA VIEGAS SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar  









Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro. Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrindo mas é preciso reagir. Com um ano de guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo.

Recebemos ordens para sair para a mata. Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos [ 1 gr comb da DFE 1 e um gr comb do DFE 4, comandados pelo 1º ten Meireles de Amorim, mais um gr comb da CCAÇ 3,] e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio até  Guidaje. 

Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os misseis Strela estão à espreita da nossa aviação.

Fomos ao encontro da coluna e,  assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas tera sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas.


O estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu.

 
Amanhece em Guidaje. Logo ao alvorecer sofremos mais um ataque (o 8º). Recebemos ordem de saída para a mata. Vamos montar uma emboscada nos trilhos, já dentro do território do Senegal. Parece uma auto-estrada este trilho tal é o movimento de população. Revistamos ao acaso. Numa mulher encontramos documentação militar que apreendemos. Depois de cerca de três horas de controlo, retiramo-nos para o quartel.

A coluna vai hoje [, 13,] regressar a Binta-Farim. Ao meio do dia mais um ataque ao destacamento. A meio da tarde começa-se a organizar a coluna para o regresso mas durante os preparativos sofremos mais dois ataques e é a confusão, com as viaturas paradas no meio do destacamento e a morteirada a cair.


Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o [Tenente-] Coronel Correia de Campos, que comandava o COP 3, ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.

O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia [, 12,] pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. Durante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento.

13 de maio de 1973


Logo ao alvorecer [, pelas 6h00,] a coluna põe-se a caminho. Fazemos a picada de volta e à medida que avançamos, voltamos a passar pelos cenários de morte. Os corpos estão a caminho de esqueletos, devorados pelos jagudis. O cheiro é insuportável, por vezes dá náuseas. Acho que pelo resto da minha vida nunca mais vou esquecer este local maldito!

Ao fim da manhã já estamos a chegar a Binta quando surge mais um acidente: um militar da tropa da Província pisa uma mina, dá por ela e fica com o pé lá em cima... É uma mina de descompressão e poucas hipóteses tem de lá sair com vida.

Põe-se areia a volta. Cobre-se o corpo de roupa mas ele salta rápido. Não morre mas fica sem o pé. Durante a minha viajem de regresso na Berliet que seguia à minha frente, ia o Filipe com a perna já em adiantado estado de gangrena. Irá sobreviver. Somos amigos, ele vive no Porto e ainda hoje recordamos esse tempo, o que nos dá vontade de chorar!


Chegamos a Binta e o Filipe é logo evacuado! A coluna não pára. Seguimos para Farim e daí logo em direção a Mansoa.

É a alegria geral! Que saudades da rapaziada! Chegamos a casa!...
- FORAM OS PIORES DIAS DA MINHA VIDA!- Pensava eu. 


A malta faz perguntas mas a nós não nos apetecia responder, só para não voltarmos a pensar naquele inferno. Ao diabo com Guidaje!~(Como eu estava enganado, mas ainda não o sabia!). [O Amílcar Mendes voltará lá em 29 de maio, na escolta a uma outra coluna logística].

Comentário: Ainda hoje sonho com Guidaje! Algumas coisas do que aconteceram foram tão reais que iriam ficar gravadas na minha memória até chegar ao STRESS!

Sentir na carne não é o mesmo que me sentar a escrever sobre um acontecimento. Isso é ficção e, pelo que vou lendo, há muitos ficcionistas que se arvoram em paladinos da verdade. Paz à sua alma!... (**)

A. Mendes


Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Vd. este e os postes anexos a este > 4 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)

(**) Segundo informação do nosso camarada José Manuel Pechorro, o pessoal da CCAÇ 19, do recrutamento local, era de etnia mandinga. O Pel Art 24, por sua vez, era constituído sobretudo por pessoal balanta.

Do José Manuel Pechorro, vd. também os seguintes postes:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

4 de Abril de 2010 Guiné 63/74 - P6105: (Ex)citações (63): O Ten Cor Correia de Campos foi um dos heróis de Guidaje (José Manuel Pechorro)


(***) Último poste da série > 28 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)