O emblema da CCAV 8350 (Guileje, 1972/73), "Piratas de Guileje", om o signo da morte por mote, concebido pelo J. Casimiro Carvalho, fur mil op esp., em 1972.
Teor de uma carta enviada pelo J. Casimiro Carvalho aos pais, datada de Cacine, um dia depois da retirada de Guileje
Guileje está à mercê deles!
Cacine, 22/5/73:
Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].
Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.
Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…
Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…). (Fonte: Poste P1784, de 24 de maio de 2007).
A "arma que mudou a guerra", o míssil terra-ar Strela, de origem russa, introduzido na Guiné depois da morte de Amílcar Cabral, em 20 de janeiro de 1973, na sequência da escalada da guerra
SA 7- Grail (designação NATO), míssil terra-ar, de origem russa (9k 32 Strela 2), desenhado por volta de 1964 e operacional em 1968.
(...) "A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo. (...)
(...) É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno.
Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido (...) . Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres. (...) (*)
Cacine, 22/5/73:
Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].
Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.
Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…
Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…). (Fonte: Poste P1784, de 24 de maio de 2007).
(Cortesia de J. Casimiro Carvalho, 2007)
SA 7- Grail (designação NATO), míssil terra-ar, de origem russa (9k 32 Strela 2), desenhado por volta de 1964 e operacional em 1968.
(...) "A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo. (...)
(...) É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno.
Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido (...) . Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres. (...) (*)
1. A Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), mais conhecida pelo acrónimo CECA, fez um trabalho notável de recolha, análise e sistematização da informação sobre o dispositivo e a actividade operacional no TO da Guiné, por anos e por contendores (NT e PAIGC). O título genérico é Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (e abrange os diversos teatros de operações, Angola, Guiné e Moçambique).
Referimo-nos, em particular, ao 6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional), Tomo II (Guiné), e aos seus três livros. Este trabalho, relevante para a historiografia militar, merece ser conhecido (ou melhor conhecido) dos nossos leitores, e em particular os antigos combatentes.
O ano de 1973 será recordado como um "annus horribilis" para os dois beligerantes... que sabiam que nunca poderiam ganhar a guerra pela simples força das armas. O PAIGC perdeu o seu histórico e carismático líder, Amílcar Cabral, assassinado fria e cobardemente por um dos seus homens, formatado pela escola militar soviética.
Por seu turno, Spínola regressou a casa, cabisbaixo, sem poder ver concretizada uma solução negociada do conflito, que seria sempre uma solução mais política do que militar. Na metrópole, os "ultras" do regime não lhe perdoam as suas veleidades "federalistas" e a tentativa (gorada) de "negociar" com os "inimigos da Pátria" a secular soberania portuguesa sobre os seus territósrios ultramarinos.
Aqui vai, para os nossos leitores mais interessados na visão integrada dos acontecimentos, a continuação da publicação um excerto do referido trabalho da CECA. É também uma ocasião para lembrar os bravos que passaram por Guidale, Guileje e Gadamael, entre outros aquartelamentos que se destacaram nesta guerra.
É bom lembrar que, "do outro lado do combate" (usando uma expressão grafada pelo nosso coeditor Jorge Araujo), resta muito pouca informação documental, comparada com a que temos no Arquivo Histórico.Militar... "O arquivo do PAIGC existente em Bissau, justamente referente aos aspectos operacionais, desapareceu quase completamente, destruído em grande parte pelas tropas senegalesas aquando da guerra civil de 1998, bem como a maioria dos documentos do INEP (72,3 % dos arquivos históricos destruídos!)".(**)
Além disso, os poucos documentos sobreviventes, do espólio de Amílcar Cabral, foram entregues pela sua viúva aos arquivos da República de Cabo Verde e à Fundação Mário Soares, onde foram objecto de um notável e minucioso trabalho de recuperação e digitalização, integrados no Arquivo Amílcar Cabral
Os jovens guineenses, nascidos já depois da independência, se quiserem conhecer a história recente do seu país, vão ter que recorrer também a fontes portuguesas como estas, que resultaram do gigantesco trabalho da CECA. E, modéstia àparte, também a este blogue que fez, em 23 de abril de 2022, 18 anos de existência. Um blogue que pretende continuar a ser uma fonte de partilha de memórias, informação e conhecimento entre Portugal, a Guiné-Bissau e Cabo Verde, e nomeadamente entre antigos combatentes que fizeram a guerra colonial (Guiné, 1961/74).
CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO
1.2. Actividade militar
Havia ainda informações de que o inimigo dispunha de um número não determinado de carros de combate e aguardava o fornecimento próximo de aviões "MiG" de fabrico russo, outros meios blindados e lança-torpedos a utilizar contra unidades navais.
(*) Vd. poste de 6 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)
(**) Último poste da série > 4 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23323: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (2): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte I: Inimigo, atividade política
Referimo-nos, em particular, ao 6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional), Tomo II (Guiné), e aos seus três livros. Este trabalho, relevante para a historiografia militar, merece ser conhecido (ou melhor conhecido) dos nossos leitores, e em particular os antigos combatentes.
Com um ano de antecedência estamos já recordar uma importante efeméride os 50 anosndos acontecimentos político-militares de 1973, e em particular de maio/junho de 1973, à volta de 3 aquartelamentos fronteiriços emblemáticos (Guidaje, Guileje e Gadamael).
Foram meses e meses de brasa: o assassinato de Amílcar Cabral, em 20/1/1973, a utilização do míssil terra-ar Strela contra a nossa aviação, pela primeira vez, em 25/3/1973, o fim do mandato Spínola como com-chefe e governador geral em 6/8/1973, a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24/9/1973, etc.. (**de )
O ano de 1973 será recordado como um "annus horribilis" para os dois beligerantes... que sabiam que nunca poderiam ganhar a guerra pela simples força das armas. O PAIGC perdeu o seu histórico e carismático líder, Amílcar Cabral, assassinado fria e cobardemente por um dos seus homens, formatado pela escola militar soviética.
Por seu turno, Spínola regressou a casa, cabisbaixo, sem poder ver concretizada uma solução negociada do conflito, que seria sempre uma solução mais política do que militar. Na metrópole, os "ultras" do regime não lhe perdoam as suas veleidades "federalistas" e a tentativa (gorada) de "negociar" com os "inimigos da Pátria" a secular soberania portuguesa sobre os seus territósrios ultramarinos.
Aqui vai, para os nossos leitores mais interessados na visão integrada dos acontecimentos, a continuação da publicação um excerto do referido trabalho da CECA. É também uma ocasião para lembrar os bravos que passaram por Guidale, Guileje e Gadamael, entre outros aquartelamentos que se destacaram nesta guerra.
É bom lembrar que, "do outro lado do combate" (usando uma expressão grafada pelo nosso coeditor Jorge Araujo), resta muito pouca informação documental, comparada com a que temos no Arquivo Histórico.Militar... "O arquivo do PAIGC existente em Bissau, justamente referente aos aspectos operacionais, desapareceu quase completamente, destruído em grande parte pelas tropas senegalesas aquando da guerra civil de 1998, bem como a maioria dos documentos do INEP (72,3 % dos arquivos históricos destruídos!)".(**)
Além disso, os poucos documentos sobreviventes, do espólio de Amílcar Cabral, foram entregues pela sua viúva aos arquivos da República de Cabo Verde e à Fundação Mário Soares, onde foram objecto de um notável e minucioso trabalho de recuperação e digitalização, integrados no Arquivo Amílcar Cabral
Os jovens guineenses, nascidos já depois da independência, se quiserem conhecer a história recente do seu país, vão ter que recorrer também a fontes portuguesas como estas, que resultaram do gigantesco trabalho da CECA. E, modéstia àparte, também a este blogue que fez, em 23 de abril de 2022, 18 anos de existência. Um blogue que pretende continuar a ser uma fonte de partilha de memórias, informação e conhecimento entre Portugal, a Guiné-Bissau e Cabo Verde, e nomeadamente entre antigos combatentes que fizeram a guerra colonial (Guiné, 1961/74).
CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO
1.2. Actividade militar
O ano de 1973 constituiu marco importante também na vertente militar do inimigo, se bem que a morte de Amílcar Cabral tenha provocado alguma desorganização militar e logística iniciais e mesmo assinaláveis dissidências entre cabo-verdianos e guinéus, tendo-se verificado agressões, assassinatos e roubos.
No início do ano a actividade principal da iniciativa do inimigo caracterizou- se por ataques aos aquartelamentos das nossas tropas no norte e no leste e mais reduzidos no sul, na sequência dos procedimentos registados no ano anterior.
Paralelamente, a actividade operacional empenhou-se também em criar dificuldades às nossas tropas nos trabalhos de alcatroamento das estradas, particularmente nas estradas Jugudul - Bambadinca, Nova Lamego - Piche -- Buruntuma, Binta - Guidaje, e Cadique - Jemberém, onde foram montadas emboscadas e engenhos explosivos contra as nossas tropas.
Em Janeiro, o número de engenhos explosivos implantados aumentou 152% e a actividade inimiga, no seu conjunto, provocou às nossas tropas algumas baixas, mas em número inferior à média mensal de 7 mortos e 70 feridos registados no ano de 1972.
As alterações nos objectivos de ordem táctica e estratégica decididos pela nova cúpula do PAIGC e os novos meios militares de que o inimigo passou a dispor, alteraram profundamente a relação de forças no terreno, materializada nos seguintes aspectos essenciais:
No início do ano a actividade principal da iniciativa do inimigo caracterizou- se por ataques aos aquartelamentos das nossas tropas no norte e no leste e mais reduzidos no sul, na sequência dos procedimentos registados no ano anterior.
Paralelamente, a actividade operacional empenhou-se também em criar dificuldades às nossas tropas nos trabalhos de alcatroamento das estradas, particularmente nas estradas Jugudul - Bambadinca, Nova Lamego - Piche -- Buruntuma, Binta - Guidaje, e Cadique - Jemberém, onde foram montadas emboscadas e engenhos explosivos contra as nossas tropas.
Em Janeiro, o número de engenhos explosivos implantados aumentou 152% e a actividade inimiga, no seu conjunto, provocou às nossas tropas algumas baixas, mas em número inferior à média mensal de 7 mortos e 70 feridos registados no ano de 1972.
As alterações nos objectivos de ordem táctica e estratégica decididos pela nova cúpula do PAIGC e os novos meios militares de que o inimigo passou a dispor, alteraram profundamente a relação de forças no terreno, materializada nos seguintes aspectos essenciais:
(i) no inimigo passou a privilegiar o incremento da luta armada relativamente à actividade política externa;
(ii) a luta armada passou a concentrar elevados meios materiais e humanos contra algumas guarnições das NT previamente seleccionadas, em detrimento de acções de guerrilha dispersas;
(iii) o inimigo reforçou-se fortemente em efectivos e armamento e reviu a sua doutrina e a orgânica de modo a adaptar-se aos novos materiais de que passou a dispor: entre o armamento introduzido, destaca-se a nova arma antiaérea - o míssil SA-7 "Strela";
(iv) concentrou efectivos de vulto na região do Boé, a leste da Província, com o suposto propósito de ali defender a todo o custo a sua primeira "região libertada" e estabelecer a fisionomia do novo Estado.
A opção dos dirigentes do PAIGC em incrementar a luta armada, para além do empenho dos novos dirigentes nesse sentido, considera-se também um imperativo das circunstâncias, dada a maior influência que Sekou Touré passou a exercer no partido, após a morte de Amílcar Cabral.
Com o fim de rentabilizar as acções de fogo das suas armas pesadas e melhorar os resultados obtidos nos ataques aos aquartelamentos das NT, o inimigo nomeou especialistas para frequentar cursos no estrangeiro.
A opção dos dirigentes do PAIGC em incrementar a luta armada, para além do empenho dos novos dirigentes nesse sentido, considera-se também um imperativo das circunstâncias, dada a maior influência que Sekou Touré passou a exercer no partido, após a morte de Amílcar Cabral.
Com o fim de rentabilizar as acções de fogo das suas armas pesadas e melhorar os resultados obtidos nos ataques aos aquartelamentos das NT, o inimigo nomeou especialistas para frequentar cursos no estrangeiro.
A URSS treinou guerrilheiros do PAIGC em Simferopol, Potche, Odessa e Moscovo, onde se formaram em várias especialidades.
Os especialistas de artilharia e morteiros, regressados às suas unidades de combate, passaram a fazer cálculos de tiro com base em cartas topográficas e a determinar com precisão as distâncias das armas aos alvos e a forma de corrigir o tiro, assim aumentando significativamente a eficácia das acções de fogo das suas armas.
Mas a alteração nuclear ocorreu nas limitações que o inimigo passou a impor às actividades da nossa Força Aérea, quando empregou, com êxito, os mísseis terra-ar, afectando significativamente a actividade operacional, a logística e o moral das forças terrestres.
Do antecedente, as aeronaves da Força Aérea actuavam com total liberdade de acção e este facto, só por si, condicionava seriamente a duração, o efectivo e o efeito das acções de fogo, quer durante o dia quer à noite.
A partir de Março todo este quadro se modificou, depois de o inimigo abater em 28, um avião "Fiat G-91" com um míssil antiaéreo "Strela", de origem soviética, na região do Boé, junto à fronteira com a República da Guiné, e de outro "Fiat G-91 ", três dias antes, se ter despenhado na área de Guileje, atingido por outro míssil, tendo-se ejectado o piloto.
Esta arma afirmou-se como o factor principal da viragem da situação no terreno, na medida em que passou a permitir ao inimigo concentrar fortes efectivos, em pleno dia, em locais onde pretendia exercer esforço, particularmente nas zonas de fronteira e na zona sul, enquanto reduziu a capacidade de exposição ao risco por parte das nossas tropas, por limitar a segurança e a eficácia do apoio da Força Aérea, quer em operações em terra, quer na evacuação aérea de feridos e doentes.
No mês seguinte, em 6 de Abril, o inimigo abateu mais três aeronaves - um "T-6" e dois "DO-27" na região de Guidaje/Binta, a norte, e, a partir daí, as equipas de cinco combatentes que constituíam a guarnição do míssil antiaéreo "Strela", que inicialmente actuavam junto às fronteiras, passaram a actuar no interior da província, condicionando a actividade da Força Aérea na maior parte do território.
O enorme reforço de meios materiais e humanos de que o inimigo passou a dispor no interior do território, foi também um dos factores que fez pender para o seu lado a balança do potencial relativo de combate.
Mas a alteração nuclear ocorreu nas limitações que o inimigo passou a impor às actividades da nossa Força Aérea, quando empregou, com êxito, os mísseis terra-ar, afectando significativamente a actividade operacional, a logística e o moral das forças terrestres.
Do antecedente, as aeronaves da Força Aérea actuavam com total liberdade de acção e este facto, só por si, condicionava seriamente a duração, o efectivo e o efeito das acções de fogo, quer durante o dia quer à noite.
A partir de Março todo este quadro se modificou, depois de o inimigo abater em 28, um avião "Fiat G-91" com um míssil antiaéreo "Strela", de origem soviética, na região do Boé, junto à fronteira com a República da Guiné, e de outro "Fiat G-91 ", três dias antes, se ter despenhado na área de Guileje, atingido por outro míssil, tendo-se ejectado o piloto.
Esta arma afirmou-se como o factor principal da viragem da situação no terreno, na medida em que passou a permitir ao inimigo concentrar fortes efectivos, em pleno dia, em locais onde pretendia exercer esforço, particularmente nas zonas de fronteira e na zona sul, enquanto reduziu a capacidade de exposição ao risco por parte das nossas tropas, por limitar a segurança e a eficácia do apoio da Força Aérea, quer em operações em terra, quer na evacuação aérea de feridos e doentes.
No mês seguinte, em 6 de Abril, o inimigo abateu mais três aeronaves - um "T-6" e dois "DO-27" na região de Guidaje/Binta, a norte, e, a partir daí, as equipas de cinco combatentes que constituíam a guarnição do míssil antiaéreo "Strela", que inicialmente actuavam junto às fronteiras, passaram a actuar no interior da província, condicionando a actividade da Força Aérea na maior parte do território.
O enorme reforço de meios materiais e humanos de que o inimigo passou a dispor no interior do território, foi também um dos factores que fez pender para o seu lado a balança do potencial relativo de combate.
Os ataques levados a efeito pelo inimigo aos aquartelamentos das NT passaram a ser feitos muito mais demorada e assiduamente que até então e em pleno dia, com relevo para os ataques a Guileje e Gadamael Porto, a sul, e a Guidaje, a norte, todos próximo das fronteiras.
Em Maio, o número, a violência e a duração dos ataques inimigos ao aquartelamento das NT em Guileje, junto à fronteira sul com a República da Guiné, obrigaram as nossas tropas a retirar desta posição, situação que teve impacto negativo no moral e dá uma ideia da gravidade que a situação atingiu.
Os efectivos e os meios de que o inimigo dispunha no terreno, vinham sofrendo evolução desde Janeiro, quando alguns bigrupos apresentaram uma orgânica diferente do habitual e passaram a estar armados com material russo diferente e bastante melhor que o anterior.
Durante todo o ano, foram chegando, reforços da Rússia, China, Cuba e mesmo mercenários vindos do Mali e Mauritânia, conforme assinalou o
serviço de informações militares português.
O material chegado constava de vedetas rápidas, canhões de 130 milímetros, carros de combate, viaturas anfibias, rampas de lançamento de foguetões, etc..
No final do ano de 1973, o serviço de informações militares atribuiu ao inimigo um efectivo de:
Os efectivos e os meios de que o inimigo dispunha no terreno, vinham sofrendo evolução desde Janeiro, quando alguns bigrupos apresentaram uma orgânica diferente do habitual e passaram a estar armados com material russo diferente e bastante melhor que o anterior.
Durante todo o ano, foram chegando, reforços da Rússia, China, Cuba e mesmo mercenários vindos do Mali e Mauritânia, conforme assinalou o
serviço de informações militares português.
O material chegado constava de vedetas rápidas, canhões de 130 milímetros, carros de combate, viaturas anfibias, rampas de lançamento de foguetões, etc..
No final do ano de 1973, o serviço de informações militares atribuiu ao inimigo um efectivo de:
- 73 bigrupos;
- 15 grupos;
- 13 batarias de artilharia;
- 9 grupos de foguetões:
- 2 grupos de artilharia convencional;
- 10 grupos de artilharia antiaérea (mísseis "Strela");
- 17 grupos de sapadores;
- 3 bigrupos de fuzileiros:
- 2 viaturas blindadas;
- 1 grupo de canhões sem recuo; e
- 7 grupos especiais de lança- granadas foguete.
Havia ainda informações de que o inimigo dispunha de um número não determinado de carros de combate e aguardava o fornecimento próximo de aviões "MiG" de fabrico russo, outros meios blindados e lança-torpedos a utilizar contra unidades navais.
Logisticamente a URSS estava a apoiar o PAIGC desde 1970 com 4 equipas médicas que trabalhavam em hospitais de campanha e davam formação a pessoal auxiliar.
A situação geral foi-se progressivamente deteriorando. O inimigo aumentou os ataques às guarnições das NT e incrementou o uso de engenhos explosivos a partir de Março, com os quais aumentou o número de baixas provocadas às nossas tropas e às populações.
O arsenal de que o inimigo dispunha levava a admitir, como modalidade de acção possível, que após o reconhecimento do novo "Estado" por um número significativo de países, poderia tentar uma ofensiva geral em todas as frentes de luta, lançando mão do grande potencial de combate de que dispunha, eventualmente apoiado por países estrangeiros.
O quadro geral das acções de iniciativa inimiga e das baixas provocadas nas nossas tropas foi o seguinte:
Em Janeiro o inimigo desencadeou 77 acções ofensivas, entre os quais 48 ataques a destacamentos das NT, implantou 21 engenhos explosivos e provocou 4 mortos e 62 feridos às nossas tropas e 10 mortos, 33 feridos e 7 capturados às populações.
Em Fevereiro levou a efeito 52 acções ofensivas, entre as quais 33 ataques a destacamentos e implantou 45 engenhos explosivos, que provocaram 7 mortos e 50 feridos às NT e 6 mortos e 119 feridos às populações.
Em Março desencadeou 63 acções ofensivas, entre as quais 30 ataques a destacamentos, implantou 62 engenhos explosivos e provocou 10 mortos e 90 feridos às NT e 10 mortos e 69 feridos às populações.
Em Abril foram desencadeadas 84 acções, das quais 50 ataques a destacamentos e implantados 143 engenhos explosivos, que provocaram 12 mortos e 80 feridos às NT e 14 mortos e 63 feridos às populações.
Em Maio foram desencadeadas 243 acções ofensivas, das quais 166 ataques a destacamentos e implantados 66 engenhos explosivos, que provocaram 63 mortos e 269 feridos às NT e 16 mortos e 82 feridos às populações.
O inimigo atacou Bigene, a norte, 21 vezes e Guileje, a sul, 36 vezes, obrigando à retirada deste último destacamento das NT no final do mês, em virtude dos ataques inimigos serem realizados com armas de longo alcance posicionadas na República da Guiné e o tiro ser regulado por observadores avançados, garantindo grande eficácia.
A situação geral foi-se progressivamente deteriorando. O inimigo aumentou os ataques às guarnições das NT e incrementou o uso de engenhos explosivos a partir de Março, com os quais aumentou o número de baixas provocadas às nossas tropas e às populações.
O arsenal de que o inimigo dispunha levava a admitir, como modalidade de acção possível, que após o reconhecimento do novo "Estado" por um número significativo de países, poderia tentar uma ofensiva geral em todas as frentes de luta, lançando mão do grande potencial de combate de que dispunha, eventualmente apoiado por países estrangeiros.
O quadro geral das acções de iniciativa inimiga e das baixas provocadas nas nossas tropas foi o seguinte:
Em Janeiro o inimigo desencadeou 77 acções ofensivas, entre os quais 48 ataques a destacamentos das NT, implantou 21 engenhos explosivos e provocou 4 mortos e 62 feridos às nossas tropas e 10 mortos, 33 feridos e 7 capturados às populações.
Em Fevereiro levou a efeito 52 acções ofensivas, entre as quais 33 ataques a destacamentos e implantou 45 engenhos explosivos, que provocaram 7 mortos e 50 feridos às NT e 6 mortos e 119 feridos às populações.
Em Março desencadeou 63 acções ofensivas, entre as quais 30 ataques a destacamentos, implantou 62 engenhos explosivos e provocou 10 mortos e 90 feridos às NT e 10 mortos e 69 feridos às populações.
Em Abril foram desencadeadas 84 acções, das quais 50 ataques a destacamentos e implantados 143 engenhos explosivos, que provocaram 12 mortos e 80 feridos às NT e 14 mortos e 63 feridos às populações.
Em Maio foram desencadeadas 243 acções ofensivas, das quais 166 ataques a destacamentos e implantados 66 engenhos explosivos, que provocaram 63 mortos e 269 feridos às NT e 16 mortos e 82 feridos às populações.
O inimigo atacou Bigene, a norte, 21 vezes e Guileje, a sul, 36 vezes, obrigando à retirada deste último destacamento das NT no final do mês, em virtude dos ataques inimigos serem realizados com armas de longo alcance posicionadas na República da Guiné e o tiro ser regulado por observadores avançados, garantindo grande eficácia.
Havia clara intenção inimiga de isolar e reduzir as posições das NT. o destacamento de Guidaje, a norte, foi atacado 43 vezes e durante alguns dias ficou mesmo isolado. Nessa altura, as NT dispunham de informações que indicavam estar o inimigo prestes a ser dotado com meios blindados e aéreos, e que proclamaria para breve a independência.
Em Junho o inimigo desencadeou 145 acções, das quais 101 ataques a destacamentos, implantou 59 engenhos explosivos e provocou 31 mortos e 128 feridos às NT e 5 mortos e 35 feridos às populações.
Após as NT terem retirado de Guileje, o destacamento de Gadamael Porto foi atacado durante 20 dias, perfazendo um total de 70 ataques.
No entanto o inimigo não obteve resultados práticos significativos de tais iniciativas, apesar de ter disparado cerca de 1000 granadas de armas pesadas de artilharia (morteiros 120 mm, canhões sem recuo e canhões 130 mm), tendo situado na vizinha República da Guiné, a maior parte das vezes, as bases de fogos de tais ataques.
Para este conjunto de acções, o inimigo empregou, além das batarias de artilharia de Kandiafara e de peças de artilharia antiaérea, 2 bigrupos de Tombali, 2 bigrupos do Boé, 1 bigrupo do Cantanhez e 1 ou 2 bigrupos de fronteira.
O abaixamento da pressão sobre Gadamael Porto começou a verificar-se a partir de 17 de Junho, em resultado das baixas que sofreu por acção dos bombardeamentos da Força Aérea e das acções das forças terrestres em missões de segurança próxima.
Foram também referenciados vários combatentes inimigos de tez clara.
Na estrada Cadique - Jemberém, o inimigo implantou 10 minas "MAC TMD-46".
No 2.° semestre, a actividade do inimigo diminuiu, quer globalmente, quer relativamente ao período anterior, em virtude de se terem concentrado na República da Guiné os quadros e dirigentes dos aparelhos político, administrativo e militar do PAIGC que tomaram parte no 2°
Congresso e na Assembleia Nacional Popular.
No entanto e apesar disso o inimigo manteve a pressão sobre Gadamael Porto, na zona sul, e o emprego de mísseis terra-ar em várias frentes do território.
O quadro geral das iniciativas do inimigo no 2° semestre, foi o seguinte:
Em Julho, a actividade perfez um total de 87 acções de sua iniciativa, entre as quais 49 ataques a destacamentos das NT, tendo ainda implantado 57 engenhos explosivos. Esta actividade provocou 15 mortos e 89 feridos às NT e 4 mortos e 7 feridos às populações.
o destacamento das NT em Gadamael Porto foi atacado 21 vezes, neste mês.
Em Agosto, a actividade inimiga totalizou 75 acções (das quais 44 ataques a destacamentos), implantou 71 engenhos explosivos e provocou 8 mortos e 99 feridos às NT e 6 mortos e 13 feridos às populações.
O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 28 vezes.
Em Setembro, a actividade inimiga perfez 45 acções (das quais 29 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 7 mortos e 74 feridos às NT e 11 mortos e 17 feridos às populações.
O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 4 vezes.
Em Outubro o inimigo totalizou 49 acções (das quais 26 ataques a destacamentos), implantou 28 engenhos explosivos e provocou 5 mortos e 37 feridos às NT e 10 mortos e 16 feridos às populações.
Em Novembro, a actividade inimiga perfez 44 acções (das quais 23 ataques a destacamentos), implantou 36 engenhos explosivos e provocou 2 mortos e 44 feridos às NT e 16 mortos e 55 feridos às populações.
Em Dezembro, a actividade inimiga totalizou 78 acções (41 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 17 mortos e 138 feridos às NT e 12 mortos e 45 feridos às populações.
(Continua) (CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas)
Em Junho o inimigo desencadeou 145 acções, das quais 101 ataques a destacamentos, implantou 59 engenhos explosivos e provocou 31 mortos e 128 feridos às NT e 5 mortos e 35 feridos às populações.
Após as NT terem retirado de Guileje, o destacamento de Gadamael Porto foi atacado durante 20 dias, perfazendo um total de 70 ataques.
No entanto o inimigo não obteve resultados práticos significativos de tais iniciativas, apesar de ter disparado cerca de 1000 granadas de armas pesadas de artilharia (morteiros 120 mm, canhões sem recuo e canhões 130 mm), tendo situado na vizinha República da Guiné, a maior parte das vezes, as bases de fogos de tais ataques.
Para este conjunto de acções, o inimigo empregou, além das batarias de artilharia de Kandiafara e de peças de artilharia antiaérea, 2 bigrupos de Tombali, 2 bigrupos do Boé, 1 bigrupo do Cantanhez e 1 ou 2 bigrupos de fronteira.
O abaixamento da pressão sobre Gadamael Porto começou a verificar-se a partir de 17 de Junho, em resultado das baixas que sofreu por acção dos bombardeamentos da Força Aérea e das acções das forças terrestres em missões de segurança próxima.
Foram também referenciados vários combatentes inimigos de tez clara.
Na estrada Cadique - Jemberém, o inimigo implantou 10 minas "MAC TMD-46".
No 2.° semestre, a actividade do inimigo diminuiu, quer globalmente, quer relativamente ao período anterior, em virtude de se terem concentrado na República da Guiné os quadros e dirigentes dos aparelhos político, administrativo e militar do PAIGC que tomaram parte no 2°
Congresso e na Assembleia Nacional Popular.
No entanto e apesar disso o inimigo manteve a pressão sobre Gadamael Porto, na zona sul, e o emprego de mísseis terra-ar em várias frentes do território.
O quadro geral das iniciativas do inimigo no 2° semestre, foi o seguinte:
Em Julho, a actividade perfez um total de 87 acções de sua iniciativa, entre as quais 49 ataques a destacamentos das NT, tendo ainda implantado 57 engenhos explosivos. Esta actividade provocou 15 mortos e 89 feridos às NT e 4 mortos e 7 feridos às populações.
o destacamento das NT em Gadamael Porto foi atacado 21 vezes, neste mês.
Em Agosto, a actividade inimiga totalizou 75 acções (das quais 44 ataques a destacamentos), implantou 71 engenhos explosivos e provocou 8 mortos e 99 feridos às NT e 6 mortos e 13 feridos às populações.
O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 28 vezes.
Em Setembro, a actividade inimiga perfez 45 acções (das quais 29 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 7 mortos e 74 feridos às NT e 11 mortos e 17 feridos às populações.
O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 4 vezes.
Em Outubro o inimigo totalizou 49 acções (das quais 26 ataques a destacamentos), implantou 28 engenhos explosivos e provocou 5 mortos e 37 feridos às NT e 10 mortos e 16 feridos às populações.
Em Novembro, a actividade inimiga perfez 44 acções (das quais 23 ataques a destacamentos), implantou 36 engenhos explosivos e provocou 2 mortos e 44 feridos às NT e 16 mortos e 55 feridos às populações.
Em Dezembro, a actividade inimiga totalizou 78 acções (41 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 17 mortos e 138 feridos às NT e 12 mortos e 45 feridos às populações.
(Continua) (CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas)
Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 245-250.
[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Notas do editor:
10 comentários:
O ano de 73 foi mesmo a sério.
Aprendiam os jovens guineenses, da Juventude Amilcar Cabral que todas as colónias deviam a eles (PAIGC) a sua independência, porque o PAIGC "pega tezo" (mais ou menos crioulo).
E estranhavam muito porque o tuga fazia uma festa tão grande com 25 de Abril e não agradeciam a nós.
Alguma razão lhe assitia, porque de facto aquele annus horribilis não era assim tão grave por exemplo em Angola, antes até ia de vento em popa.
De facto foi aquele ano em que a gota acabou com aquela colónia luso/caboverdiana.
Por um triz, Cabral ainda assistia, morreu 3 meses antes daquele arranque definitivo.
Porque não se teria dado aquele arranque com ele em vida?
Rosinha, uma sugestão de leitura, um livro da doutora Joacine Katar Moreira... (Ainda não o li, mas já dei uma espreitadela à sua tese de doutoramento.)
A cultura do "cabra-matchu" já vem de trás (cultura tribal, colonialismo...), mas foi exacerbada com a "luta de libertação" e a independência... O PAIGC cultivava muito a masculinidade do combatente, apesar de ter nas suas suas fileiras algumas notáveis e corajosas mulheres...
https://www.sistemasolar.pt/pt/produto/478/pt/matchundadi-genero-performance-e-violencia-politica-na-guine-bissau/
Matchundadi - Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau
de Joacine Katar Moreira. Edição Teatro Praga / Sistema Solar, 2020, 216 pp, preço de capa: 16 euros.
Sinopse
“Matchundadi: Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau” é um livro de Joacine Katar Moreira que coloca em fricção o conceito de “matchundadi” e a política e o Estado guineenses. A cultura da “matchundadi” contribui para a consolidação rígida de estruturas políticas hipermasculinizadas com um forte impacto na vida das pessoas e da participação política contemporâneas.
Passando pelas representações tradicionais da masculinidade (“matchu-étnico”), da sociedade colonial (“matchu-urbano”) e da luta de libertação nacional (“matchu-combatente”), a autora propõe uma órbita singular para pensar as dimensões da guerra, da colonialidade, da festa e do protesto na Guiné-Bissau. Um convite para “estar em” política com toda a complexidade das relações e das escalas que a produzem e que muitas vezes são colocadas fora de uma política “a sério”.
Críticas:
Indispensável. Numa palavra seria esta a qualificação do livro de Joacine Katar Moreira que aqui se apresenta. E indispensável por múltiplas razões: porque permitirá à leitora e ao leitor aprender tanto como aprendi eu sobre a história contemporânea da Guiné-Bissau; porque desenvolve uma análise fina e sofisticada de como essa história foi e é, também, organizada por um dos processos primordiais de todas as sociedades humanas – o género; porque aponta claramente um dos elementos centrais, até aqui oculto de toda e qualquer análise sobre a realidade guineense, geradores da instabilidade e violência dos processos sociopolíticos da Guiné-Bissau – as formas de (hiper)masculinidade hegemónica que monopolizam a competição pelo poder estatal.
[Pedro Vasconcelos]
A cultura di matchundadi, hipermasculina, move-se dentro das estruturas do Estado, procurando fazer da matchundadi endémica uma matchundadi sistémica. Ou seja, procura institucionalizar um modus operandi e uma visão do mundo na qual impera a lei do mais forte, do mais poderoso e sobretudo do mais violento, ao mesmo tempo que esta hipermasculinidade traduz as características associadas aos homens e às masculinidades, tais como a redistribuição dos recursos, a protecção (e enriquecimento) do seu clã e a ameaça permanente aos adversários políticos. Assim, a cultura di matchundadi é altamente performativa mas com consequências que colidem com o ambiente democrático e a paz social, pois vive do mimetismo político e assenta no confronto constante, na demonstração de força de uns sobre outros.
[Joacine Katar Moreira]
https://www.dgartes.gov.pt/pt/noticia/3290
Tenho pena que um dos acontecimentos importantes dessa altura, precisamente sobre Guidage, um livro escrito pelo Daniel Matos, mas não publicado, de relatos na primeira pessoa, não seja dado a conhecer. Por outro lado, entre os Páras e a 38ª de Comandos, que também tiveram contribuições importantíssimas nessas zonas, pena é que apareçam apenas relatos dispersos em diferentes espaços. Os três G mereciam um destaque especial onde até o npatrulha Óreon e Pedro Laurêt foram figuras que marcaram pelas suas posições...
Um abraço,
BS
Se fosse nos primeiros anos do blogue, este poste já teria mais de 30 comentários... 15 anos depois, os guerreiros estão mortos ou cansados... É a lei da vida... Já lambemos todos as nossas feridas... E o resto da História, os profissionais da História onde compô-la... LG
O nosso saudoso Daniel Matos tem 46 referências no blogue. O seu testemunho sobre Guidaje é incontornável. Obrigado, Belarmino, pela lembrança. Vamos recuperar alguma coisa dele quando se proporcionar. LG
Luis, dei uma vista de olhos na internet, a ex-deputada Joacine analisa bem aquela política da matchundadi entre os politicos, e manda-chuva da Guiné ou seja ou "mata ou morre".
De facto, mesmo sem entender crioulo, como a Guiné é tão pequena, os cooperantes notavamos que existiam tipo panelinhas dentro do PAIGC, tanto militares como civis, e que de vez em quando entravam em tensão.
Mas de notar que apesar de os grandes e governantes quererem apenas governar-se, ela talvez também diga no seu livro, que entre o povo, apesar de etnicamente muito misturados, não há grandes atritos coisa que em muitos países africanos não se nota muita paz.
Exactamente essa matchundadi era nítida em 1973 no PAIGC entre todos, (Morreu Amilcar e quantos mais) era nítida em Angola no MPLA que tinha duas ou três facções (mais tarde o 27 de Maio/77), deve ser problema africano muito alargado.
Mas esta desordem que existe no PAIGC e que existia de certeza em Conakry à vista dos russos e cubanos e caboverdianos, não seria aí que alguém tomou as rédias na mão, e acabar de vez com aquela guerra do chove nem molha, e pôr ponto final naquela guerra?
Bem, mas quanto à matchundadi, sou de opinião de Pedro Pires que conheceu bem os guineenses, e outros africanos, não se pode obriga-los a viver em democracia. (as palavras serão outras) mas é isto que ele quer dizer.
Vai uma grande confusão ideológica neste blogue. Agora a Joacine, grande senhora!
Eu, que sou tudo menos perfeito, a questionar a minha avassaladora ignorância, pobre alferes num Comando Operacional, Guiné, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/1974.
Abraço,
António Graça de Abreu
Caro António Graça de Abreu. A tua referência à "confusão ideológica" do Blogue que ajudo a editar há mais de 15 anos, fez-me alguma "confusão". Acaso o Blogue é obrigado a seguir alguma "ordem ideológica?". E clubística? E religiosa?
Não gostas da doutora Joacine? Eu também não, mas não vamos impor aqui os nossos "gostos".
Abraço
Carlos Vinhal
E há o ditado que diz "quem fala assim..."não é?
Estimados Camarigos, um respeitoso cumprimento a todos.
Leio com alguma atenção e estou SEMPRE do lado da verdade que consigo "peneirar" pela minha perspectiva, é evidente que tem sempre subjectividade!
Mas há pontos de vista que nem sempre são bem ponderados! Admito que "cada-um-é-como-cada- -qual"! As referências ao que cada um de nós faz alusão, defendendo os seus pontos de vista, sempre devem ser transparentes e sujeitos ao principio do opiniático. Contudo, as referências políticas, sociais ou de outra qualquer índole, devem, respeitar o que há de mais sagrado.
Deste modo permitam-me deixar vincado, sem qualquer margem de dúvida, como suponho que outros já fizeram, fazem ou irão fazer,. a solidariedade e apoio aos que mantêm o nosso "blogger-a-funcionar".
Carlos Vinhal, um sincero e sentido ARAÇO.
Álvaro Vasconcelos
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