sábado, 11 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23343: Os nossos seres, saberes e lazeres (507): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (54): Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 3 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2022:

Queridos amigos,
Se é facto que o Palácio Nacional de Queluz tem em si muito para ver, lá fora estão os jardins, elaborados para cenário de festas da Família Real, qualquer coisa como 20 hectares da antiga Quinta Nacional de Queluz, circundando o palácio fica-nos o assombro de constatar como estes jardins formam unidade com o edifício, não foi por acaso que as fachadas palatinas se prolongam em jardins de aparato, e assim podemos ir ao antigo jardim botânico, passar pelo jogo da pela, deambular pela Cascata Grande, o Lago das Conchas, o Jardim de Neptuno, o Lago da Nereida, passar pelo Pórtico da Fama, descer ao Canal dos Azulejos, daqui contemplar as Escadaria dos Leões e o Pavilhão Robillion, enfim, então pode dizer-se que a visita ficou quase completa, e diz-se quase porque ainda não se visitou o palácio, fica feita a promessa que em breve acontecerá.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (54):
Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz – 3


Mário Beja Santos

Não há visita ao Palácio Nacional de Queluz que não culmine por passear pelos belos jardins, aliás ao percorrermos a Sala do Trono, a Sala de Música ou a Sala dos Embaixadores, é inevitável não darmos uma espiada sobre o Jardim de Malta, as estátuas de John Cheere, a magnificência dos jardins superiores, descer ao Canal de Azulejos, visitar a Alameda do Lago das Medalhas, passar pelo Pórtico da Fama e a Cascata Grande. É, o que de certo modo, e com muita satisfação, se pretende mostrar ao leitor.
Pan com a sua flauta e o seu especial sorriso malicioso
Quem percorre a região das estufas, todas elas recuperadas, contempla uma bela azulejaria onde se acolhem canteiros, o que há de mais surpreendente é que o motivo é sempre igual e nunca cansa, tal a festividade do colorido.
A estufa de ananases

Já se observou que esta Quinta Real de Queluz tinha três tipos de espaços verdes: a zona agrícola, o parque e os jardins superiores, funcionando como prolongamento dos salões do palácio. Depois do Jardim da Malta, temos os Jardim Pênsil ou Neptuno. Descendo, à esquerda e ao fundo podemos ir visitar as estufas e a Cascata Grande. Por ora queremos mostrar o Canal de Azulejos, uma das obras mais notáveis do Palácio Nacional de Queluz. Foi construído por volta de 1756, tinha por objetivo canalizar o curso da ribeira do Jamor, mas foi preciso recorrer à abertura de minas e à construção de aquedutos e reservatórios. Montou-se um sistema de comportas de ferro, a água era represada, durante o verão, de modo a encher todo o canal formando um extenso lado artificial que permitia aos membros da Família Real aqui andarem de barco. Interiormente o canal era revestido de azulejos azuis e brancos. Como iremos ver, os temas tratados são diversos: torres, castelos, galeões e bergantins, portos de mar, paisagens. No exterior, as paredes estão recobertas de painéis azuis solares, policromados, basta ver a imagem seguinte, os temas decorativos agora são diferentes: cenas galantes, palacianas e de caça.
Exemplos do revestimento azulejar exterior do Canal de Azulejos
Exemplos do revestimento interior do Canal de Azulejos. No início do século XX, o rei D. Carlos ou a rainha D. Amélia incumbiram dois artífices de restaurar os azulejos do canal. Por essa altura foram colocados ao longo do canal vasos de faiança azul e branca e que são réplicas dos que se encontram no Jardim Pênsil. Ao longo do percurso da ribeira do Jamor foram plantadas amoreiras. O aproveitamento lúdico do canal e dos espaços envolventes levou a que existisse na parte central do canal uma casa de música.
Antes de percorrer a Alameda do Lago das Medalhas temos este elegantíssimo lago e a estátua de Caim matando Abel
Segundo se crê, esta alameda constituiria o eixo central a partir do qual teriam sido estruturados os jardins da casa de campo dos marqueses de Castelo Rodrigo, herdeiros de Cristóvão de Moura, o primeiro proprietário da Quinta de Queluz. É a alameda mais extensa destes jardins, tendo o seu arranque no largo onde se encontra o conjunto escultórico, que vimos na imagem anterior, da autoria de John Cheere, Caim matando Abel. É um percurso que termina no Tanque do Curro, antes passasse pelo Lagos das Medalhas e pela Fonte de Neptuno
Andando pelo Canal dos Azulejos temos em frente a Escadaria dos Leões e o Pavilhão Robillion. Por aqui se fazia o acesso principal ao Palácio de Queluz, sendo os visitantes conduzidos depois à Sala dos Embaixadores. Não deixa de surpreender a forte componente cenográfica, é uma escadaria de três lances divergentes, forma como Robillion encontrou solução para resolver o problema do desnível de cotas entre o palácio e a parte baixa do jardim, atenda-se à grande elegância da escadaria, à decoração com vasos de flores e estátuas de pedra.

Assim se põe termo a este percurso um tanto à la minuta pelos jardins, não se visitaram as hortas nem se contemplou a Cascata Grande nem se entrou no Pavilhão de D. Maria, hoje residência dos chefes de Estado estrangeiros em visita oficial a Portugal (foi no passado a residência de verão de Marcello Caetano). Fica para a próxima, ainda não se visitou, com o desvelo necessário, o interior do palácio, é um itinerário que já está em agenda.

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Nota do editor

Último poste da serie de 4 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23324: Os nossos seres, saberes e lazeres (506): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (53): Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 2 (Mário Beja Santos)

9 comentários:

Valdemar Silva disse...

Mas, serão estufas de ananases ou de abacaxis?
Só provando ou cheirando uns e outros.
O ananas é mais doce e o abacaxi cheira melhor.
Aquelas estufas foram reconstruídas recentemente, deverão ter meia dúzia de anos.

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

A mata de Queluz, ou lá como se chama o parque que fica do outro lado do IC19, não pertencia também aos jardins do palácio de Queluz? Ou seria uma espécie de tapada de caça? Ou seria outra coisa qualquer?

Valdemar Silva disse...

A mata de Queluz, mais propriamente a Matinha, como é conhecida, era uma pequena tapada de caça separada dos jardins do Palácio por um passadiço sobre o rio, que desapareceu com a construção IC19. Não tenho bem a certeza, mas julgo que em 1958 ainda se passava pelo passadiço.
Agora a Matinha, é uma tapada com muitas espécies de árvores, com relíquias de sobreiros e outras árvores de crescimento natural com capacidade de reserva genética.
No ano de 2003, ainda por lá fiz umas caminhadas desopilantes das cigarradas habituais, já não tinha remédio: estava condenado a DPOC.

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Muito obrigado pelo esclarecimento, camarada Valdemar. Quando vivi em Lisboa, visitei-a uma vez durante uma tarde, e gostei muito. Fiz um passeio agradabilíssimo, por um magnífico espaço verde cheio de árvores e de frescura. Ao lado, passava uma estrada antiga, estreita e cheia de curvas, que ligava Queluz a Carnaxide.

Hélder Valério disse...

Já agora....

O palácio de Queluz tem realmente a sua beleza, a sua grandiosidade.
Grandiosidade relativa à dimensão do país e dos seus recursos. As coisas são o que são, ou o que podem ser, e não há necessidade de se estar sempre a fazer comparações: Aveiro, a Veneza portuguesa; Coimbra, a lusa Atenas; Queluz, a Versalhes portuguesa, etc, etc.
Visitei o Palácio e os jardins anexos em tempos de visitas de estudo escolares.
Mais tarde, nas férias da Páscoa de 1968, encontrei-me lá com outros três amigos para conversar, discutir, teorizar sobre o futuro. Interessante.
Algum tempo depois, em Dezembro de 1969, acampámos junto ao cemitério de Queluz, do outro lado do atual IC19 em espaço lateral em relação ao Palácio, em exercícios de Transmissões. Noite difícil, com frio de rachar, chuva a rodos.
Lá nos fomos "desenfiando", 2 a 2, até ao Quartel de Bombeiros, que há época ficava em frente ao Palácio, no lado oposto do largo fronteiro e deu para aquecer, comer alguma coisa, beber aguardente.
Recordações....

Hélder Sousa

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada

A foto n.º 2 é semelhante ao azulejos que existem no Palacete Almeida Araújo (no Largo do Palácio). É de admitir que o artista seja o mesmo...

Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Hélder
Tivesses acampado por lá dois anos antes, Nov/1967, e poderias ter tido pouca sorte.
No rio que por lá passa, e por causa das grandes cheias, aparecerem automóveis e corpos na enxurrada.
A calamidade das cheias de Novembro/1967 também fez estragos nessa região de Queluz.
Eu estava na EPA (Vendas Novas) e foram dias "sem fazer nada" a não ser testes escritos. A nossa sorte foi os instrutores terem as fardas molhadas e sem as poder substituir.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Na foto n.º 5 figura uma espécie de vaso com a forma de uma túlipa. Eram muitos e alguns forma destruídos por vandalismo e outros naquelas inundações de 1967. Seria interessante que fossem repostos. Sei que foram moldados da fábrica "Viúva Lamego" que ainda labora e fica próximo de Mem-Martins. No Palacete "Almeida Araújo" há pelo menos dois e em bom estado.
Se a direcção do palácio os pudesse mandar replicar, creio que seriam nota de reconstrução daquele muro junto ao Rio Jamor... Digo eu.

Um Ab.
António J. P. Costa