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Fajonquito [, mapa de Colina do Norte]> CCAÇ 3549 (192/74) > Casa Gouveia (onde trabalhava o pai do Cherno Baldé), com a casa dos oficiais de que ele fala na sua narrativa.
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Foto: © José Cortes (2010). Direitos reservados
1. Mensagem de
José Cortes, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3549, Fajonquito, 1972/74 (*):
(i) Vou tentar responder ao companheiro Mexia Alves (**), sobre o Cap José Eduardo Marques Patrocínio.
O companheiro deve estar confundido com o ano em que foi para Mansoa, não deve ter sido em 1972 mas sim em 1973. Os meses de Julho e Agosto devem estar certos.
Porque os Cap São Pedro foram graduados pelo General Spínola mais ou menos em Maio de 1973, e o Cap Patrocínio já não se encontrava na companhia pelo menos há dois meses.
Portanto o Cap Patrocínio devia ter estado em Mansoa mais ou menos 5 ou 6 meses.
Segundo o que diz o coronel Vargas Cardoso, que era o 2º Comandante do Batalhão, o Cap Patrocínio foi para a CCAÇ 15, [composta por ] tropas africanas.
O Cap Patrocínio tinha a formação de comandos, com uma comissão em Moçambique, como alferes, onde foi ferido em combate.
Formou a nossa companhia em Chaves no BC 10 de 22 de Dezembro de 1971 a 25 de Março de 1972, dia em que saímos de Chaves para a Guiné. Ele era do Quadro Especial de Oficiais (QEO).
(ii) Agora gostava de fazer um pequeno comentário as Amêndoas Vermelhas de Fajonquito (**).
O que aconteceu naquele dia, não foi concerteza caso isolado durante 13 anos de guerra.
Temos que ver que grande parte dos soldados das NT tinham pouca formação escolar, eu na minha companhia, e já foi em 1972, tinha muitos soldados que não sabiam ler nem escrever.
Portanto, qualquer situação menos vulgar que acontecesse, o respeito pelos superiores desvanecia-se e a disciplina era esquecida . Eu próprio passei por uma situação, em que esteve envolvido o soldado Silva, do primeiro pelotão da minha companhia.
Certo fim da tarde, já noite, envolveu-se numa discussão com um camarada, e agarra na G3 e toca a descarregar o carregador no tecto da caserna onde dormiam.
Quando o abordei para saber o que se passava, quando cheguei junto dele ainda se encontrava com a arma na mão, virou-me a arma e disse:
- Ó furriel, não me diga nada porque a seguir vai para si.
Tive que participar ao comandante de companhia, Cap Patrocínio, que lhe deu 10 dias de prisão, que passou em Bafatá.
Quando os camaradas o visitaram na prisão, dizia-lhes que eu não chegava ao fim da comissão.
No fim dos dez dias, eu é que o fui buscar, e perguntei-lhe se era verdade o que os camaradas tinham dito, e ele disse para esquecer porque foram dez dias que passou sem fazer nada e comia e bebia.
Passados vinte e tal anos, apareceu num dos nossos convívios e voltámos a falar no assunto. E ainda nos rimos da situação. Mas podia ter acontecido uma tragédia se por acaso na altura eu tivesse respondido à agressão verbal dele.
Outra situação foi passada com o companheiro furriel Campos, e um soldado também do 1º pelotão, no destacamento de Sare-Uale.
Durante um jogo de futebol, disputado ao fim de tarde no destacamento, numa disputa de bola mais acesa entre o furriel e o soldado Maleiro, o soldado amuou e ficou zangado com o Campos, ao ponto de se recusar a cumprir o serviço de sentinela para que estava escalado naquela noite.
Quando foi abordado pelo furriel, para cumprir com a sua obrigação, respondeu-lhe que não fazia o serviço e que saísse da sua frente se não queria levar um tiro, com a arma em riste apontada ao furriel.
É claro que o furriel só tinha que comunicar ao Comandante de companhia o que se passava, pois para sua segurança e dos outros soldados ele não queria mais aquele elemento consigo.
O Maleiro foi mandado embora para outra unidade, não ouvimos falar mais dele, na Guiné. Sei que está bem porque é daqui da zona de Coimbra.
Isto são dois casos, que não tiveram consequências mais graves, mas concerteza que aconteceram mais naquela guerra, com desfechos bem mais complicados, como o de Fajonquito no dia 2 de Abril de 1972, Domingo de Páscoa.
Temos que andar para trás nos anos, e ver que éramos uns puto de vinte e poucos anos, a quem foram dadas responsabilidades muito importantes, como a vida de ser humanos.
Não foi o meu caso pois tive sempre em sede de companhia, mas camaradas meus, furriéis, a quem foi dado o comando dos grupos de combate, por falta de oficiais, ou por outras razões, que agora não interessa falar .Com responsabilidade além do comando do grupo, tinham as populações dos destacamento que dependiam da tropa para quase tudo. Tiveram que ser enfermeiros sem conhecimento da especialidade, tiveram que administrar a alimentação sem serem vagomestres, e outras situações, sem preparação, só foram preparados para defender as populações da guerra, e nos destacamentos tinham que fazer de tudo.
O Cap São Pedro foi graduado salvo erro com vinte e seis anos de idade, era um puto, foi-lhe entregue uma companhia com 160 homens mais ou menos da mesma idade, a população de Fajonquito, Canhámina, Cambajú, Sare Uale, Sare Jambarã e outras que existiam no nosso sector. Teve que assumir uma postura com certa autoridade, que o próprio posto hierárquico lhe exigia.
Ainda hoje, passados 36 anos, há companheiros que lhe guardam ressentimentos daquele tempo. (...)
3. Mensagem de 6 do corrente:
Caro Luis Graça.
Ao ler as narrativas do
Cherno Baldé [,
foto à direita, quando estudante universitário em Kiev, na Ucrânia, nos finais de 1980], dei com um comentário do companheiro José Bebiano, do qual me lembro bem pois era o Furriel de Operações e Imformãções da companhia e, como era de rendição indivudual, só esteve connosco meia dúzia de meses, mas lembrava-me bem dele. Já comuniquei com ele como te dei conhecimento., fiquei muito contente com a resposta dele.
Com respeito ao Cherno, como é natural não tenho ideia dele naquela altura, embora a cara dele não esteja apagada da minha memória.
Como ele conta o convívio com os militares, era capaz de ser assim, sei que alguns se excediam no tratamento com os miúdos. Ele fala em dois condutores, o Dias e o Magalhães, na verdade tivemos dois condutores com esse nome, mas não tivemos nenhum alferes chamado Maia, por isso não sei se ele se refere à minha companhia. (***)
Vou enviar algumas fotos, espero que as faças chegar ao Cherno para que ele as identifique;
1 - Eu com a filha mais nova da Cristina, lavadeira, a mais popular dentro do aquartelamento.
2ª - Eu e o Alaje, espero que ele consiga dizer do paradeiro dele.
3ª - Povoação de Fajonquito.
4ª - Casa Gouveia, com a casa dos oficiais que ele fala na sua narrativa.
5ª - Rua principal de Fajonquto.
6ª - Bajuda junto ao depósito de géneros do aquartelamento.
Um Abraço
José Cortes
________________
Notas de L.G.:
(*) Vd.poste de 7 de Março de 2010 >
Guiné 63/74 - P5946: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (2): Evocando o Sold Almeida e o Fur Alcino, da CART 2742, que morreram, mais o Cap Figueiredo e o Alf Félix, na tragédia do domingo de Páscoa de 1972
(**) Vd. poste de 6 de Março de 2010 >
Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)
Comentário de Joaquim Mexia Alves:
(...) Não tendo a ver directamente com esta tragédia gostava de perguntar o seguinte:
- Quando é que o Cap Patrocínio saiu da Companhia? O Cap Patrocínio não tinha especialidade de Comando?
Pergunto isto porque a minha memória por vezes me atraiçoa, (não só a mim, com certeza), e eu tenho quase a certeza de que fui "substituir" o Cap Patrocínio na CCaç 15, (porque quando cheguei à 15 não havia Capitão e eu era o Alferes mais antigo).
Tenho a ideia que quando fiz a viagem do Xime para Bissau, para depois ir para Mansoa, o Cap Patrocínio, apenas por coincidência, ir nessa viagem e termos conversado, pelo que soube desde logo que ele já não era comandante da 15 e eu teria de o ser até à chegada de um novo Capitão.
Mas o tempo é "curto", pois eu julgo que cheguei à CCaç 15 lá para Julho ou Agosto de 72, o que faria com que a passagem do Cap Patrocínio por Fajonquito e pela 15 fosse muito rápida.
Alguém me pode relembrar para eu poder organizar a minha memória?
Abraço camarigo para todos (...).
(***) Dados sobre as companhias de Fajonquito, aqui citadas e que são do tempo do Cherno Baldé, "menino e moço":
CCAÇ 3549:
Mobilizada pelo BCaç 10. Partida para a Guiné em 26/3/1972; regresso em 29/6/1974. Esteve em Fajonquito. Comandantes: Cap QEO José Eduardo Marques Patrocínio; Cap Mil Grad Inf Manuel Mendes São Pedro. Pertencia ao BCAÇ 3884 (Bafatá), que teve 6 (seis!) comandantes, 4 tenentes coronéis e 2 majortes, o último dos quais o supracitado Maj Inf Mário José Vargas Cardoso. A este batalhão pertenciam a inda a CCAÇ 3547 (Contuboel), comandada pelo Cap Mil Inf Carlos Rabaçal Martins; e a CCAÇ 3548 (Geba) (teve três comandantes, todos eles capitães milicianos de infantaria).
CART 2742:
Mobilizada pelo RAL 5. Partida para a Guiné: 18/7/1970; regresso: 21/9/1972. Esteve sempre em Fajonquito. Comandantes: Cap Art Carlos Borges de Figueiredo (confirma-se que não era miliciano, mas sim do quadro) e Alf Mil Art Baltasar Gomes da Silva (que o substitutui o capitão, por morte deste, em 2/4/1972). Esta unidade pertencia ao BART 2910 (Bafatá), comandado pelo Ten Cor Art Fernando de melo Macedo Cabral. A este batalhão pertencia ainda CART 2741 (Contuboel; Cap Art João Maria Clímaco de Sousa Brito) e CART 2743 (Geba; Cap Mil Art Iídio do Rosário dos Santos Moreira).