sábado, 6 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)


1. Mensagem do nosso camarada José Cortes [, foto actual, à esquerda,] ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74 (*), com data de ontem, enviado ao seu camarada José Bebiano (**), com conhecimento ao editor do blogue, Luís Graça

Caro amigo

Ao ler, na Tabanca Grande, o teu comentário à história do Cherno Baldé, tive a alegria de ver o teu nome no fim do mesmo.

Pois por teres um nome um pouco fora do vulgar, é mais dificil de esquecer, mas a tua fisionomia de careca, ou com pouco cabelo, nunca mais esqueci.

Bem, eu sou José Cortes, ex-Furriel da CCAÇ 3549, e tinha na companhia a função de sargento de material.. Estava no gabinete junto com o Furriel Vague Mestre Pina e o Furriel de Transmissões Farraia.

Ainda hoje falei com o Luis Graça sobre o que aconteceu ao Cap Carlos Figueiredo da companhia de Artilharia que nós fomos render, mas como é obvio não sei as razões que levaram o soldado a fazer o que fez. Talvez hoje consigas tu contar o que se passou.

Não sei se te lembras de mim. Mas, caso estejas interessado, gostaria de te contar o que foi a vida da Companhia depois de saires e de te dizer o que aconteceu ao teu substituto.

Para já fico por aqui, conto mais tarde podermos falar sobre tudo.

Um abraço, Jose Cortes.

2. Comentário de L.G.:

Foi-me contada ontem, de viva voz, ao telefone, uma das versões sobre a tragédia de Fajonquito. Liguei ao José Cortes, que vive em Coimbra, e falámos durante mais de meia hora. O pretexto foi o convívio do pessoal da sua companhia, a realizar no próximo dia 27. Mas também Fajonquito e a história do Cherno Baldé.

O José Cortes falou-me com emoção desses tempos. Ele próprio tem um filho que foi pára-quedista e esteve em missões de paz (por ex.,Timor, Bósnia). Mas, como muitos outros camaradas, queixa-se de que nem sempre a família tem pachorra para ouvir as suas recordações da Guiné. Uma das que está bem presente na sua memória é a da morte do capitão e mais três ou quatro militares da companhia (a CCAÇ 2742, Fajonquito, 1970/72) que eles  foram render. Ele tinha prometido contar essa história mas ainda não o fez porque acha que tem fraco talento para a escrita. Eis, pois, a sua versão oral:

(i) Havia um, soldado da CART 2742 que, uma vez terminada a comissão, queria ficar na Guiné como civil;

(ii) Ao que parece o Cap Mil Art Carlos Borges Figueiredo manifestou, desde logo, a sua oposição à ideia, c contrária a todo o bom senso e sobretudo ao RDM;

(iii) Ter-se-á aberto um contencioso entre o soldado e o seu comandante, e envolvendo também o primeiro sargento;

(iv) A mulher do capitão havia  mandado, da Metrópole, "dez quilos de amêndoas" para distribuir pelo pessoal da companhia; a distribuição foi feita pelo próprio comandante, no refeitório, no domingo de Páscoa, 2 de Abril de 1972;

(v) Quando chegou a vez do soldado em questão, o capitão terá passado à frente, num acto que aquele interpretou como de intolerável discriminação;

(vi) O soldado levantou-se, sem pedir a licença a ninguém, e saiu do refeitório. Foi ao abrigo (ou à sua caserna) e veio para a parada com "duas granadas já descavilhadas", em cada mão. Dirigiu-se à secretaria. O primeiro sargento ter-se-á apercebido, a tempo, das intenções do soldado, e não se aproximou da secretaria (ou fugiu, não sei);

(vii) Dentro da secretaria, estava o Capitão, um alferes e um furriel. Ninguém sabe o que se passou lá dentro. O soldado deixou cair as duas granadas. O tecto da secretaria foi pelos ares. Lá dentro ficaram 4 cadáveres

Mortos, em 2/4/1972, todos do Exército, por acidente (sic), constam os seguintes nomes, na lista dos Mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes:

- Alcino Franco Jorge da Silva, Fur
- Carlos Borges de Figueiredo, Cap
- José Fernando Rodrigues Félix, Alf
- Pedro José Aleixo de Almeida, Sold

Sabemos que o Sold Básico Pedro José Aleixo de Almeida era natural de Portel, em cujo cemitério local repousam os seus restos mortais. Presumimos que se trate do protagonista desta trágica história.  O Alf Mil Art Op Esp José Fernando Rodrigues Félix era de Moimenta da Beira.  O Cap Mil Art Carlos Borges de Figueiredo era natural de Vila Pouca de Aguiar. A sua última morada é Meadela, Viana do Castelo, possivelmente a terra da sua esposa. Por sua vez, o Fur Mil Alcino Franco Jorge da Silva também era de Op Esp, mas desconhecemos a terra da sua naturalidade. Não sabemos o que faziam os dois rangers na secretaria, possivelmente terão vindo em auxílio do capitão com a intenção de desarmar o militar que trazia as duas granadas descavilhadas. O José Cortes fala em cinco mortos, mas tudo indica que sejam apenas os quatro que constam da lista da Liga dos Combatentes. 

Julgo que o caso foi também utilizado pelo serviço de propaganda do PAIGC (nomeadamente a Rádio Libertação) para desmoralizar as tropas portuguesas: Há um documento do PAIGC, no Arquivo Amílcar Cabral, na Fundação Mário Soares (FMS), que faz referência ao sucedido; de momento, não consigo ter acesso a ele, uma vez que a página da FMS foi reestruturada.  

O facto de o insólito caso ter ocorrido em Fajonquito, na fronteira com o Senegal, significa que foi de imediato conhecido da população local, das autoridades do Senegal e do PAIGC. O nosso Cherno Baldé, na altura com  12 ou 13 anos,  faz referência, num dos seus postes a este trágico "acidente", que ocorreu a 100 metros, quando ele estava a brincar com outros putos na parada  (***). 

Gostaríamos de ter outras versões deste acontecimento. Espero que o José Bebiano  aceite o repto do José Cortes. Infelizmente não temos ninguém, na nossa Tabanca Grande, da CART 2742. Temos apenas duas referências a esta subunidade do BART 2920.  Julgo que seja difícil, ainda hoje, aos camaradas da CART 2742 abordar esta história, tão trágica quanto absurda...  Infelizmente, este caso não foi único no TO da Guiné. O acesso fácil a armas de guerra e a usura física e mental da guerra ajudam também a explicar estes surtos de violência patológica que, de tempos a tempos, ocorriam nas nossas fileiras. Quantos suicídios terão havido ? Quantos homícídios terão ocorrido, dentro das NT ? Na lógica da hierarquia militar, eram tratados como "acidentes".... E assim ficarão - como acidentes, inexplicáveis - para a história, se não houver parte dos contemporâneas e das testemunhas presenciais destes casos a vontade de contribuir, com depoimentos em primeira mão, para o seu esclarecimento...

Intrigam-nos casos como este. O que podia levar um militar português a querer ficar na Guiné, na vida civil ? Podia não ter ninguém à sua espera, na sua terra, não ter família, não ter amigos... Podia, por qualquer razão, querer esquecer a sua origem ou condição. Podia estar perdido de amores por alguma bajuda... Podia estar pura e simplesmente deprimido... Um indivíduo deprimido pode facilmente perder a noção do perigo, ficar indiferente a uma situação de perigo imediato e iminente,  e até desejar a sua própria morte. Não nos parece ter sido uma acção premeditada, pensada e amadurecida a frio... Em princípio, foi uma acção precipitada, irreflectida, impulsiva. O tal "acto de loucura" da "vox populi"... A ser verdade que o capitão deliberadamente ou não discriminou o soldado, aquando da distribuição das amêndoas, isso poderá ser sido "a gota de água" que transformou um conflito disciplinar num massacre... No final da comissão de uma companhia, na festa do e,m que se celebravo o dever cumprido, no domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972...

______________

(..) Desembarcámos no aeroporto de Bissalanca no dia 26 de Março de 1972, fomos fazer o IAO, ao Cumeré, de onde seguimos em LDG, para o Xime e daí em viaturas cívis e militares, para Fajonquito.

Rendemos a CART 2742, que no dia de Páscoa desse ano, 2 de Abril de 1972, perdeu o Capitão Borges Figueiredo, e mais quatro militares (...) (**)

Foi uma comissão que correu com alguns sobressaltos, desde termos 3 Comandantes de Companhia, 3 Primeiros Sargentos, 2 camaradas mortos e dois feridos graves. (...)

(...) Na Guiné não exerci a minha especialidade (, Atirador de Infantaria, ] por contingência de serviço da Companhia, que não tinha Sargento que fosse reponsável, pelo Material de Guerra. Eu, como Furriel Atirador com melhor nota, fiquei responsável pelo mesmo.

Mesmo assim não deixei de estar ligado a dois acontecimentos graves da Companhia, um acidente com um lança-granadas de 6,5 no qual perdeu a vida o nosso soldado António Manuel, mais 4 soldados da Milícia, numa acção de Reordenamento no Sumbundo. Outro, uma mina que provocou a morte do soldado José Jubilado dos Santos. Estas histórias são para contar mais tarde.

(...) Sou José Augusto Cortes, ex-Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores 3549, cumpri missão em Fajonquito, Leste da Guiné e pertencemos ao BCAÇ 3884, sediado em Bafatá. Sou nascido e criado em Coimbra, onde resido na Freguesia de Santa Clara, lugar de Bordalo. Ainda trabalho, sou funcionário do SUCH (Serviço de Utilização Comum dos HospitaIs), faço serviço no Hospital da Universidade de Coimbra como Técnico de Manutenção. (...)


 (...) Estive presente como Furriel Rec Info (Rendição Individual), entre Nov/70 a Out/72. Conheci bem de perto os 2 Capitães (Borges Figueiredo e J. Eduardo Patrocínio). (***)

Guardo bem presente o tempo que por lá passei. Hoje, professor de Educação Física, em Moura, estou à espera da aposentação, e por acaso passei por este blog. Bom trabalho para vós. Vou procurar fotos e depois de digitalizadas, vou inseri-las. Contar-vos-ei a história da morte trágica do Cap Figueiredo e 1 Alf, 1 Fur e do Soldado que fez deflagrar a granada. José Bebiano - email:  jbebiano@gmail.com  


(...) Conheci muita tropa que passou por Fajonquito entre 1968/74, em especial das companhias 3549 e 4514/72.  O rebentamento da(s) granada(s) que vitimara o saudoso Cap Figueiredo e seus companheiros de armas [da CART 2742] (*), apanhou-me a menos de 100 metros do local, quando estávamos a brincar perto da casa dos oficiais. (...) 

(...) Companhia de Artilharia n.º 2742, comandada pelo Capitão de Artilharia Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo Alferes Miliciano de Artilharia Baltazar Gomes da Silva, unidade orgânica do Batalhão de Artilharia n.º 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972.

Companhia de Caçadores n.º 3549, comandada pelo Capitão Quadro especial de Oficiais José Eduardo Marques Patrocínio e, posteriormente, pelo Capitão Miliciano Graduado de Infantaria Manuel Mendes São Pedro, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 3884, mobilizada em Chaves no Batalhão de Caçadores n.º 10, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CArt 2742, em 27 de Maio de 1972, vindo a ser substituída pela 2.ª Companhia do BCaç 4514/72 em 15 de Junho de 1974. (...)

14 comentários:

Juvenal Amado disse...

Caros camaradas

Eu estava no Xime quando a coluna com os caixões lá chegou para estes serem embarcados para Bissau.
A estória ou parte dela que se conta agora coincide como que recordo.
Acontecimento bem trágico e lamentável na verdade.

Que estejam em Paz.

Sotnaspa disse...

Eu cheguei depois, xv - vii- mcmlxxii, e foi dos primeiros episódios que ouvi sobre a guerra, afinal sempre é verdade.

Alfa bravo

ASantos
SPM 2558

Anónimo disse...

Pegando na dúvida deixada por Luís Graça: Intrigam-nos casos como este. O que podia levar um militar português a querer ficar na Guiné, na vida civil ?
Durante a minha permanência na CCAÇ. 5, onde os metropolitanos, grosso modo, seriam entre 20 a 30 por cento da companhia, o restante era nativo, ficaram por terras da Guiné, três metropolitanos, no meu tempo. É lógico que deste número dos que ficaram, elevado em função da percentagem dos metropolitanos, não dá para inferir nada, nem fazer extrapolações em relação ao universo dos militares residentes no continente que lá ficaram.
Do conhecimento que eu tenho dos três elementos da CCAÇ. 5, que ficaram por lá:
Um teve efectivamente problemas com familiares na Metrópole. No seu relacionamento com as normas militares, completamente ambientado, um bom profissional.
Outro, o cabo Costa, cripto, parecia-me ter personalidade bem vincada e que sabia bem o que queria! Constituiu família em Nova Lamego com nativa e por lá ficou.
Quanto ao cabo Dias, bem integrado na orgânica militar, dinâmico, recebia regularmente notícias da família, tudo parecia estar bem com ele. Eu tinha com ele um bom relacionamento e nunca vi indícios de pessoa deprimida ou com intenção de lá ficar. Depois de ter acabado a missão, foi surpresa para todos nós da CCAÇ.5, vê-lo a trabalhar, a servir à mesa num restaurante em Nova Lamego, onde era hábito irmos almoçar quando havia coluna.
Um abraço.
José Corceiro

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Eu tenho a impressão que este Capitão Figueiredo era do QP e não Milº, tenho a impressão que era alto e forte. Se assim for conhecio-o como Tenente no RAP 2 de Vila Nova de Gaia, minha unidade e minha unidade mobilizadora e recordo-me de ouvir falar deste episódio, era casado na Meadela em Viana do Castelo.
Cá era um bocado duro para o pessoal, lá não sei o que se passou.

Manuel Joaquim disse...

Caro Luis Graça:

Pensas: « o que podia levar um militar português a querer ficar na Guiné,na vida civil?»

Tive conhecimento de alguns casos que podem caber nas hipóteses que adiantaste. Por outro lado porque não admitir que,noutros casos,era para ganhar dinheiro?Penso até que a grande maioria dos que ficaram foi com esse intuito.

Um soldado da minha Compª lá ficou em Bissau,para regressar a Bissorã e lá abrir um restaurante.Isto em meados de 1967.Naquela terra já havia um "restaurante",algumas vezes referido pelo nosso camarada Rogério da Cª643 como a tasca do Maximiano, onde tinha garantida a "sargentada" a todas as refeições,recebendo diretamente das Cªs a verba da alimentação. Ouvi dizer que o "restaurante" LAVINAS foi um sucesso,não tanto pela qualidade do serviço mas pela quantidade que o ex-soldado Lavinas,seu proprietário,servia.

Um abraço

Anónimo disse...

Penso que Angola e Moçambique atrairam bastantes militares, que lá ficaram após a "peluda", como vocês dizem...

Infelizmente não temos estatísticas... Mass sei de montes de histórias. A Guiné, pelo contrário, era muito menos atractiva, até por que o clima era inóspito para os europeus e a situação militar ensombrava o futuro...

Tirando Bissau, onde é que um europeu podia trabalhar ? Não vivi lá, mas pelo que sei, em Bissau, a economia dependia inteiramente da guerra...

Carlos Viegas
Luanda

Joaquim Mexia Alves disse...

Não tendo a ver directamente com esta tragédia gostava de perguntar o seguinte:
Quando é que o Cap Patrocínio saiu da Companhia?
O Cap. Patrocínio não tinha especialidade de Comando?

Pergunto isto porque a minha memória por vezes me atraiçoa, (não só a mim com certeza), e eu tenho quase a certeza de que fui "substituir" o Cap. Patrocínio na C. Caç. 15, (porque quando cheguei à 15 não havia Capitão e eu era o Alferes mais antigo).
Tenho a ideia que quando fiz a viagem do Xime para Bissau, para depois ir para Mansoa, o Cap. Patrocínio, apenas por coincidência, ir nessa viagem e termos conversado, pelo que soube desde logo que ele já não era comandante da 15 e eu teria de o ser até à chegada de um novo Capitão.
Mas o tempo é "curto", pois eu julgo que cheguei à C. Caç 15 lá para Julho ou Agosto de 72, o que faria com que a passagem do Cap. Patrocínio por Fajonquito e pela 15 fosse muito rápida.
Alguém me pode relembrar para eu poder organizar a minha memória?

Abraço camarigo para todos

Anónimo disse...

Na altura da tragédia de Fajonquito fazia parte do CAOP 2,e nesse dia estava de escriturário de dia e a versão que me chegou foi que o dito soldado teria ido para a formatura do almoço em tronco nu e que teria sido chamado à atenção pelo seu Capitão. Teria ido à caserna e ter-se ía vestido da maneira como andávamos na Metrópole, incluindo blusão. O Capitão teria levado aquilo para o gozo e lhe teria dito que depois do almoço fosse ao seu gabinete. Depois, sim, teria ido buscar as granadas e deu-se a tragédia. Esta foi a versão que tive conhecimento e que nunca mais esqueci, dada a data em que ocorreu, dia de Páscoa.

Unknown disse...

Camaradas.
Gostava de comentar o drama da Pascoa de 72 em Fajonquito.
Longe de mim fazer juizos de valores, de quem quer que seja, nem fomentar polémicas.
Da CCS do BART.2920 fui destacado como enfermeiro para Comp.2742 Fajonquito no periodo de 2 dezembro 70 a 20 maio de 71.Por conseguinte um ano antes do tragico acontecimento.Se bem me lembro, foi nesse periodo que tambem chegou o sold. Almeida á 2742,dizia-se que ele vinha dos comandos(expulso? ou castigado?).
Conheci o Almeida quase de imediato,pois ele tinha problemas de pele em varias partes do corpo que passei a tratar.Passado algum tempo me apercebi que ele Almeida tinhas algumas pertubações a nivel emocional.Não esqueço a forma maliciosa como a rapaziada o apelidava Almeida(apanhado,bate mal ou maluco).O Almeida estava sempre a alinhar nas saidas para o mato,dava para perceber que as relações com o com.da companhia não eram das melhores.Lembro um episodio em que o Almeida lavava os dentes á porta da camarata e o cap. Figueiredo lhe chamar a atenção para o que estava a fazer,o que gerou entre ambos alguma discussão.
Como é óbvio tambem conheci o cap. Figueiredo,algumas vezes lhe prestei assistencia.Homem possante e de elevada estatura e eximio jogador de futebol de salão.Pelo que sei era militar de carreira e não miliciano.As suas atitudes na liderança da companhia em vez de gerar confiança,tinha o efeito contrario.Eu sempre que pudia evitava-o...
2 de Abril /72 "Tragédia" Pelos relatos que me chegaram o Almeida se passou de todo queria o ajuste com o cap. e o sarg. com uma granada na mão descavilhada,entra na secretaria onde pretende ficar com o cap. e o sarg.O alf. Alcino e o furriel Felix tentaram demover o Almeida.Se disse que o Almeida gritou para que eles saissem(alf.e fur.)o que não fizeram ou não tiveram tempo de o fazer.Quanto ao sarg.,talvez só ele possa dizer como escapou.
As razões para este acto tavez no concreto nunca se venham a saber,mas duma coisa tenho eu a certeza,actos como estes e tantos outros que aconteceram nesta guerra,não aconteceram por acaso...
Com amizade.
Carlos "Gomes"

Anónimo disse...

Os comentarios a volta da tragedia de Fajonquito e as informacoes neles contidas reavivaram a minha memoria trazendo de volta alguns elementos interessantes. Lembro-me ter comido (ao jantar?) no refeitorio nesse dia de pascoa (2 de Abril 1972)ou na vespera, um prato de arroz doce. Era atipico e inabitual entre nos, parecia mesmo uma provocacao dos cozinheiros. Eu e os demais colegas, todos rafeiros experimentados, nao tinhamos apreciado aquele mescla de arroz branco com acucar, puààh...E mais, tinham-nos dito que era um dia de festa.Agora sei que foi num dia de pascoa.

Depois do "acidente" ou melhor do homicidio, a versao que circulou e ficou até hoje entre a populacao nativa é bem diferente daquela que estou a ler agora na maior parte dos comentarios. Pela versao que prevaleceu entre nos, alegadamente, o Soldado Almeida estava revoltado por nao poder voltar a sua terra apos varias comissoes de servico, em virtude de um castigo a que estava sujeito e tinha decidido acabar com a sua vida e com ele, tambem, a do comandante da companhia. Claro que isto faz parte dos rumores que circularam, na ausencia de informacoes oficiais, na altura.

Quero dizer a quem me quiser ouvir,e isto por minha conta, que o Almeida era um soldado "profissional" muito aguerrido que dificilmente poderia levar uma vida civil pacata no meio indigena ou gerindo uma lojeca ou um restaurante para servir a malta europeia numa cidade qualquer da Guiné.O Almeida nao era um soldado vulgar e via-se claramante que nao se tinha integrado na companhia dos restantes soldados milicianos aos quais ele nutria muita pouca consideracao e/ou respeito.Tao pouco se podia integrar no meio dos pretos embora se identificasse com eles. Penso que, antes de mais, o nosso amigo Ameida (ele era de facto um amigo e defensor das criancas que frequentavam o aquartelamento.Ai de quem se atrevesse a fazer mal a uma crianca na sua presenca) deve ter sido mais uma das inumeras vitimas daquela guerra terrivel.

Cherno AB (Chico de Fajonquito)

Anónimo disse...

O tal soldado era um soldado comando que por razões que se prendiam com penas por maus comportamentos ía sendo atirado de uma para outra companhia regular . O Capitão do QP, natural de Viana do Castelo e de lá próximo , não era flor que se cheirasse e tinha uma má relação com o soldado ... que um dia ...e por razões que quem deve conhecer , conhece , resolveu tratar do assunto ... lamento a morte de dois bons camaradas e de um companheiro de escola e um amigo o Alcino ...que tentaram proteger o Cap. - a propósito o furriel Alcino era da Parede, Cascais ...

Julio Gomes Martins disse...

Fui militar na Guiné(Galomaro.
Recordo quando passei por Bafatá em 1970/1971,ouvir comentários de que o Capitão agredia os seus soldados.
Em conversas de café,diziamos uns para os outros,que a proceder assim não iria ter um bom fim.
Não esqueciamos que se encontrava numa zona de intervenção.

aurélio fortuna disse...

sou o 1º cabo cripto que esteve a almoçar nesse dia ao lado do soldado almeida já completamente bebado e a implicar com toda a gente,confesso que não sei o que se passou após eu me ter levantado do almoço e ter ido tomar café.só depois a explosão da dita granada.o almeida sofria de sifilis e tinha sido expulso dos comandos e colocado de castigo na nossa companhia.

aurelio fortuna disse...

sou cabo cripto cart 2742gostava de encontrar croptos companhia que rendeu a minha meu email diamantino49@gmail.com