quinta-feira, 4 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5931: Blogpoesia (67): Pôr-do-sol em Mato Cão (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 2 de março de 2010:

Meus caros camarigos
Estava aqui deixando voar o pensamento e tentando escrever algo para o José Belo colocar na Tabanca da Lapónia e fui ver fotografias.

Uma coisa que sempre me tocava na Guiné era o pôr-do-sol, sobretudo no Mato Cão.

A fotografia já não consegue mostrar a beleza desse pôr-do-sol, mas a memória leva mais tempo a apagar.

E assim num repente como sempre, escrevi isto que aqui vos deixo, para se quiserem publicarem.

Enviarei obviamente também ao José Belo, que no meio do frio da Suécia, pode ser que sinta um pouco do calor da Guiné.

Abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves



Pôr-do-sol em Mato Cão


Lá longe,
na direcção do Atlântico,
na direcção da foz do Geba,
põe-se o Sol da Guiné.
A terra já vermelha de si própria,
torna-se agora cor de sangue vivo
e pinta toda a paisagem.
O momento é mágico!
Há uma quietude,
uma paz, uma serenidade,
neste momento.
Parece que a natureza ajoelha
e presta vassalagem
ao astro rei.
Neste momento cessa a guerra,
não há explosões,
nem tiros,
nem gritos,
e as bênçãos do calor do sol
afastam as maldições.
Lá no fundo da descida,
do planalto do Mato Cão,
ouve-se o Geba murmurar,
pintado da cor do Céu,
correndo lentamente,
atirando-se para o mar,
abrindo já os seus braços
à espera do macaréu.
A noite chega enfim,
envolta num calor espesso,
tingida de um escuro breu.
A natureza deita-se,
num lento e doce torpor.
Tudo se aquieta,
tudo se acalma,
excepto o coração,
que quer ver mais longe,
mais para dentro da mata,
para saber se descansa,
ou tem de ficar alerta.
Calam-se as vozes em surdina,
apagam-se as poucas fogueiras,
é hora do corpo repousar,
envolvido pela noite,
enquanto a memória avança,
num frenesim sem parança,

lembrando o que está longe,
mais longe que a vista alcança.
O sono vence a lembrança,
fecham-se os olhos cansados.
Amanhã é outro dia,
em que o Sol regressará,
e com ele a doce esperança,
de faltar menos um dia,
para sair da Guiné,
deixando tudo p’ra trás
menos o pôr-do-sol,
que torna a terra vernelha,
pintada da cor do sangue,
que a memória sempre traz.

Monte Real, 2 de Março de 2010
Joaquim Mexia Alves
_______________

Nota de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5922: Convívios (109): Tabanca do Centro, Monte Real, 26/2/2010: uma jornada de camaradagem e de solidariedade (Luís Graça / Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 2 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5918: Blogpoesia (66): Querida Pátria (Albino Silva)

9 comentários:

Anónimo disse...

Mas o que é isto?O meu AMIGO Mexia Alves com versos escritos a.....VERMELHO!? Nao existem tons de amarelo,ou mesmo azul,na tipografia da Tabanca Grande? Eu tento compreender a ideia;Pôr-do-sol=vermelho. Mas há que ter cuidado com estas coisas que provocam associacoes infelizes...o camarada MAO...o Oriente é vermelho...e, dentro em pouco (e agora com muito respeito) até tenho o Sr.Dr.Durao Barroso dentro deste comentário!

Anónimo disse...

Camarigo Mexia Alves

Os meus parabéns, mais uma vez, pela bela poesia dedicada ao Pôr do Sol lá naquelas latitudes.
Podia ser muito belo (não, não estou a referir-me ao José, que mais uma vez usou de toda a sua ironia para glosar com a paleta das cores...), mas olha que não o admirava, pois era sempre perto desse horário que eles se aproveitavam para nos cumprimentar...

Um abraço
Jorge Picado

Anónimo disse...

O pobre do vermelho está tão conotado, tem um sentido tão negativo, que no tempo do Botas os mangas de alpaca estavam proibidos de escrever a tinta da dita cor... Por isso escreviam a... carmesim. Mas o pôr do sol em Mato merece uma cor quente como vermelho...Luís Graça

Joaquim Mexia Alves disse...

Obrigado José Belo pela tua preocupação!

Sem desprimor para qualquer ideologia, julgo que ninguém me coloca ao pé do...MAO!!!!

O Durão até pode vir se quiser oferecer um dos seus ordenados mensais para os combatentes sem lar! (Um pouco de "demagogia nunca fez mal a ninguém!!)

Meu caro Jorge Picado

Completamente de acordo contigo!

Realmente era o momento mais escolhido, mas isto são devaneios poéticos e o pôr-do-sol era realmente muito belo, (sem José), no Mato Cão.

Meu caro Luís Graça
Até acredito que houvesse essa proibição, mas seria por causa da conotação ou porque era considerado, e bem, escrever a encarnado seja para quem for.
O encarnado está ligado sempre com proibição, mas também com autoridade, com chamar a atenção, etc., digo eu....claro!

Agora quanto à cor utilizada no poema, tens toda a razão!
Aliás, a cor do pôr-do-sol no Mato Cão era indescritível, quanto a mim.

Abraço camarigo para todos

Torcato Mendonca disse...

Há o VERMELHO e o ENCARNADO...que não se façam confusões...e há o?
ISSO;

VIVA O BENFICA O GLORIOSO!!!!!!!!

Ab TM

Anónimo disse...

Meu camarigo Mexia Alves
Não tive o “privilégio” de assistir ao pôr-do-sol em Mato Cão, mas as vezes que passei por lá deu para perceber que seria fantástico, a vizinhança é que não era muito aconselhável. Desconhecia a tua excelente veia poética, mas é como diz o ditado “de poetas e loucos…”
Auele abraço Henrique Matos

alma disse...

Obrigado Amigo!

Belo Poema.O Pôr do Sol,no Mato Cão

era mesmo assim.

Abraço Grande.

alma disse...

Alma é, claro, Jorge Cabral.

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Jorge, Alfero, quem é que não sabe que Alma é ... Jorge Cabral!

Obrigado!

Ó Henrique, mas de louco, mais de louco, do que de poeta!!!

Abraço.

Ó meu caro Torcato, eu é mais para o azul...o que é que se há-de fazer!!!

Abraço

A estes três camarigos, ( e atodos os outros, claro), espero-os no próximo encontro da Tabanca do Centro!

Um abraço fortemente camarigo para todos