terça-feira, 2 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5918: Blogpoesia (66): Querida Pátria (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 25 de Fevereiro de 2010:

Pois é Carlos Vinhal
Chamas de poeta a quem não é, e agora atura-me.
Pois aqui te envio mais estes lamentos, que na verdade já os escrevi há bastante tempo, mas acredita que tenho sido um pouco preguiçoso, mas agora estou deveras decidido em que toda a Nossa Tabanca Grande passe algum tempo com aquilo que eu próprio vou escrevendo.

Na verdade eu gosto muito de escrever, e para testemunhar isso só poderiam ser as Madrinhas de Guerra, pois sempre cumpri meu dever para com elas, levando para o SPM seis aerogramas diários, que passavam a ser dezenas quando estava de Guarda ao Quartel ou em outro
serviço que não era mais nada senão olhar para o tempo.

É do teu conhecimento eu ter escrito um Livro sobre a História da Unidade do BCaç 2845, e recentemente outro destinado à minha Companhia, CCS, e tem o título de Armados para a Paz, e todo o seu conteúdo está escrito em versos, pois só assim consigo escrever alguma coisa, mas neles inclui tudo aquilo que foi um Batalhão.

Além desses, tenho outro escrito e que se chama AROMAS DE ANGOLA, também em verso, mas por falta de meios ou conhecimentos não está editado.

Terás a oportunidade de os ler, pois para te pagar o trabalho e o tempo que me dedicas, tens todo o direito a uma oferta minha.

Mesmo assim não me chames poeta, porque poderei vir a ficar muito conhecido de momento, e afinal eu só gosto de ser uma pessoa simples e um bom Chefe de Tabanca.
Agora deixo tudo para a nossa Tertúlia apreciar, e até aceito as criticas.

Desculpa lá esta maçada, e em contrapartida te envio um grande abraço, igualmente a todos os Régulos que mantem esta Tabanca em crescimento.

Albino Silva


QUERIDA PÁTRIA

Ó meu querido País
Que tanto te tenho amado
Eu tanto por ti sofri
Só por ti eu ter lutado …

Querida Pátria Portuguesa
Dos tempos que por ti lutei
Passando fome e sede
E por ti também chorei …

Portugal minha Pátria
Que linda Bandeira é
Por ela também lutei
Fui para a guerra prá Guiné …

SANGUE SUOR E LÁGRIMAS
Sacrifícios sem igual
Gritos de raiva e de dor
Pra defender Portugal …

Sangue colorindo o chão
Tanto sangue derramado
Foi essa nossa missão
Por ter Portugal honrado …

Foi sangue nos combates
Lá na guerra derramado
Mas eu cumpri o que jurei
Pela Pátria ser Soldado …

Suor tanto suor
Em caminhadas a pé
Suor e tanto suor
Pela Pátria na Guiné …

Suor pelo clima
Naquele perigo então
Foi o sangue e o suor
Pra defender a Nação …

Lágrimas de sofrimento
Para a Pátria defender
Eram lágrimas de tristeza
Por camaradas morrer …

Lágrimas na juventude
Por nossa Pátria amar
Naquela guerra maldita
Lá naquele Ultramar …

Por ti Pátria lutei
E jurei por ti morrer
Como tantos camaradas
Na Guiné a combater …

Até fome eu passei
Sacrifícios sem igual
Com camaradas cantei
O Hino de Portugal …

Em matas eu caminhei
Em picadas percorri
Por ti Portugal lutei
Cansado não desisti …

Angola Guiné Moçambique
O sofrimento constante
Lutando por ti ó Pátria
E tu Pátria distante …

Dias e noites caminhei
No cacimbo e ao calor
Só Deus sabe o que passei
Lutei por ti com amor …

Por ti eu não tinha medo
Naquela guerra metido
Quando à Pátria regressei
Senti meu dever cumprido …

Naquela guerra metido
Rapazes da mesma idade
Foram anos que perdemos
Sem gozar a mocidade …

Hoje velhos combatentes
Cansados mas a combater
A Pátria nos desprezou
E só nos quer ver morrer …

Cansadinhos vamos vendo
Os heróis que na verdade
É quem anda a roubar
A matar e é cobarde …

Ó nossa Pátria querida
Não fomos heróis e lutámos
Com traumas hoje vivemos
Tristes mas ainda te amamos …

Hoje velhos combatentes
Temos Lutas a travar
Porque a Pátria que amamos
Essa nada nos quer dar …

Sucessivos governantes
Prometem e nada dão
Querem tudo para eles
São abutres da Nação …

Nesta Pátria os heróis
São os que jogam à bola
Que lutam pelo País
De calção e camisola …

Os heróis deste País
Com fortunas lá na terra
São heróis que jogam bola
E nós não fomos na guerra …

Nós não fomos heróis
Mas com bravura lutámos
Pela Pátria demos tudo
E traumatizados ficámos …

Nós não fomos heróis
Da guerra que não se esquece
A Pátria nada nos dá
A Pátria nem nos conhece …

Governantes que prometem
Só porque não nos quer ver
Sabem pois ser mentirosos
Não sabem o que é combater …

Não sabem o que é a guerra
Atacam bem de palavras
Não conhecem os heróis
E mesmo as espingardas …

Não vivemos em paz
E com a idade a avançar
Exigimos o que é nosso
Estamos sempre a lutar …

Nós que estamos cansados
Devíamos de descansar
E a Pátria que defendemos
Ela nos está a matar …

A Nossa familia sofre
Por nos ver a nós sofrer
A familia é a mesma
Que nos viu ir combater …

Estes nossos governantes
Que nos tentam iludir
Mandam outro para a guerra
Mas eram eles a ir …

Muitos de nós na miséria
Com ompostos a pagar
Para abutres do governo
Que ganham sem trabalhar …

Somos nós ex-combatentes
Camaradas da Nação
E os que não nos conhece
Sabem que temos razão …

Somos Nós deste País
Que mal nos tem tratado
ORGULHOSOS COMBATENTES
POR TER PORTUGAL HONRADO …

Albino Silva
Soldado Maqueiro
N.º 011004/67
CCS/BCaç 2845
GUINÉ 68/70
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5895: Blogpoesia (65): Porque Será (que não consigo esquecer) (Albino Silva)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Albino Silva:
Uma vez mais perante um texto teu, uma vez mais comentei para mim mesmo, ao observar com atenção a tua fotografia do tempo da Guiné: "tem piada,parece um moço de Gandra, dos meus tempos de rapaz". Só que, desta feita, deu-me para confirmar se não se trataria mesmo da pessoa em causa e fui vasculhar as tuas origens cá no blogue. Só parei no poste da tua apresentação, onde estava bem patente aquilo que, sem grande convicção, admiti como possível, que era seres natural e/ou morador em Esposende. Penso que nasceste e moraste (talvez ainda mores) na freguesia de Gandra, muito próximo, pois, da minha casa, já que moro logo à entrada sul da Avenida Marginal, em Esposende, de onde sou natural. Pois, meu caro, foi com alguma surpresa e muita satisfação que confirmei a tua condição de meu conterrâneo, tanto mais que não pode deixar de sentir uma pontinha de orgulho quem tem por vizinho um homem de tanta sensibilidade e que tão bom uso sabe fazer de uma caneta ou equivalente. Vou ter que reservar algumas horas para ler tudo o que até agora já escreveste para o blogue, uma vez que, pelos vistos, já és velhinho por cá (2007, salvo erro). Falar-te mais de mim, no sentido de tentar que me reconheças, não caberá, por razões óbvias, nos limites deste pequeno espaço de comentários aos textos publicados. Deixarei isso para um dia em que ambos tenhamos alguma disponibilidade para nos sentarmos num canto qualquer da nossa bonita terra e conversarmos à vontade sobre tudo e mais alguma coisa, incluindo impressões sobre este blogue, que também ele é factor de união. Até lá, um grande abraço do

Mário Migueis