sábado, 8 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22890: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte II: de 20 a 39




Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Regulado do Cuor > Missirá > Pel Caç NAT 63 > 1971 > O António Branquinho (simulando tocar um instrumento tradicional,talvez um "nhanheiro"...) com uma bajuda e o Amaral (sentado). Segundo a oportuna observação do nosso amigo e consultor permanente para as questões étnico-linguísticas, Cherno Baldé, "o instrumento, na lingua fula, chama-se 'Hoddu', é mais antigo e, provavelmente, serviu de inspiração para a criacão do Kora dos Mandingas.


Foto: © António Branquinho / Jorge Cabral (2007). Todos os Direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) >  Missirá > 1971 > Pel Caç Nat 63 > Os furriéis milicianos do "alfero Cabral": da esquerda para a direita, Pires, Branquinho e Amaral, o saudoso Amaral. O António Branquinho é irmão do Alfredo Branquinho, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Lista das estórias cabralianas, por ordem numérica e cronológica - Parte II: De 20 a 39 (*):


20 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1679: Estórias cabralianas (20): Banquetes de Missirá: Porco turra e Vaca náufraga (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá comíamos, praticamente todos os dias, arroz acompanhado ora de pé de porco, ora de atum ou cavala, com muito pão e sempre altas doses do insípido vinho quarteleiro, o qual, segundo se dizia, era cortado com cânfora, para diminuir os ímpetos. (...)

24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1696: Estórias cabralianas (21): O Amoroso Bando das Quatro em Missirá (Jorge Cabral)

(...) Nos Destacamentos em que vivi, todos eram bem recebidos, à boa maneira da gente da Guiné, cuja cativante hospitalidade foi muitas vezes confundida com subserviência ou portuguesismo. Djilas, batoteiros profissionais, artesãos, doentes, feiticeiros, alcoviteiros, parentes dos soldados, visitavam o aquartelamento e às vezes ali permaneciam, fazendo negócios, combinando casamentos, tratando-se ou tratando, ou simplesmente descansando. Desconfio mesmo que alguns guerrilheiros terão passado férias em Missirá (...)

12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1752: Estórias cabralianas (22): Alfa, o fula alfacinha (Jorge Cabral)

(...) No final do ano de 1970, apresentou-se em Missirá um soldado fula – chamemos-lhe Alfa – vindo da prisão de Bissau, onde cumprira pesada pena. Razão da punição – ausência ilegítima durante cento e oitenta dias, quando após intervenção cirúrgica no Hospital Militar Principal, desaparecera em Lisboa. Impecavelmente fardado, com blusão e tudo, usava uma vistosa popa e farfalhudas patilhas, conservando sempre um palito dependurado ao canto da boca. Falava um calão lisboeta e aparentava ser um verdadeiro rufia alfacinha.(...)

5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1816: Estórias cabralianas (23): Areia fina ou as conversas de Missirá (Jorge Cabral)

(...) Conheci muito bem o Alferes que esteve em Missirá nos anos de 1970 e 1971. Diziam que estava apanhado, mas penso que não. Era mesmo assim. Quem com ele privou em Mafra e Vendas Novas certamente o recorda, declamando na Tapada: No alto da Vela / Fui Sentinela / de coisa nenhuma / Quem hei-de guardar / Quem irei matar… (...).

19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1857: Estórias cabralianas (24): O meu momento de glória (Jorge Cabral)

(...) Manga de ronco, Pessoal! Spínola veio a Fá, visitar os Comandos Africanos e praticamente toda a população das Tabancas vizinhas compareceu. Homens e Mulheres Grandes, belas Bajudas, e muitas, muitas crianças. A Pátria, pois então… E uma Guiné melhor. O Caco entusiasmou-se. Tanto, que optou por ir de viatura para Bambadinca. E lá partiu em coluna, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló (...).

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquininos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)

(...) E o Amor, existiu? Não falo de mulheres grandes a partir catota, nem de bajudas a partir punho, e muito menos das rápidas e alcoolizadas visitas às casas de prazer, para... mudar o óleo. Amor mesmo, paixão, dele para ela, dela para ele. Difícil, raro, mas aconteceu. Contaram-me que uma bajuda que tivera um filho do Furriel X, o seguiu até Bissau, e na hora da partida do navio entrou na água com o bebé, tendo morrido ambos (...).

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2135: Estórias cabralianas (26): Guerra escatológica: o turra Boris Vian (Jorge Cabral)

(...) Fá Mandinga fora sede de Batalhão e de Companhia, possuindo muitas e boas instalações. Chegados em Julho de 1969, optámos por ocupar apenas dois edifícios. Quanto aos restantes, convenci o Pelotão, que o respectivo acesso estava minado, razão porque só eu lá poderia entrar. É que vislumbrara duas belas e isoladas vivendas, as quais intimamente destinara a uso próprio. Uma serviria para encontros amorosos. Na outra, utilizaria a casa de banho, lendo e meditando... E assim se passou (...).

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2204: Estórias cabralianas (27): Turra desenfiado encontra Alferes entornado (Jorge Cabral)

(...) Já é noite cerrada e o Alferes de Missirá continua em Bambadinca. Numa mão o copo, na outra, o pingalim, encostado ao balcão do Bar, declama. Trata-se do longo poema de Jacques Prévert, “L’orgue de Barbarie” (2). É interrompido, engana-se, esquece-se, volta atrás, mas não desiste. Moi je joue du piano / Disait un / Moi je joue du violon / Disait l’autre (...).

14 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2350: Estórias cabralianas (28): O Hipopótamo, as Formigas e o Prisioneiro (Jorge Cabral)

(...) Nem me lembro qual o Periquito que se apresentou naquele dia em Fá. Mas sei que ao anoitecer, saiu, equipado e armado, cumprindo a minha ordem. Objectivo: caçar um hipopótamo (...).

16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(...) Porque estamos no Natal, recordas o teu de 1969 e um ataque a Bissaque. Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho.Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50(...).

21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2369: Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro (Jorge Cabral)

(...) Amanheceu igual, só mais um dia em Missirá. Para o Mato Cão, vai o Alferes, uma secção, e o maqueiro Alpiarça. É lá chegar, esperar, ver o barco e voltar. Não há tempo para o sonho – do outro lado nem Gaia, nem Almada…Já estamos de regresso, ouvimos restolhar. Vem aí gente. Neste lugar só podem ser os turras. Claro que, como sempre, o Alferes empunha apenas o seu pingalim e, em vez do camuflado, enverga camisa branca e calções de banho (...).


28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2386: Estórias cabralianas (31): As milagrosas termas de Missirá (Jorge Cabral)

A fim de prevenir abusos, a segurança à Fonte, no banho das bajudas, pertencia em exclusivo ao Alferes, o qual nos primeiros tempos guardou uma prudente distância, depois foi-se aproximando e acabou no meio delas, esfregador e esfregado com sabão vegetal, após o que branqueava os dentes com areia. Diziam que aquela água possuía propriedades terapêuticas, curando todos os males de pele, não havendo lica que lhe resistisse (...).


10 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2426: Estórias cabralianas (32): Nanque, o investigador (Jorge Cabral)


(...) O Alferes era calmo. Afável, prazenteiro, nunca se irritava. Naquela tarde porém explodiu. É que constatou que as valas estavam a ser utilizadas como retretes.Reuniu o pessoal e, no mais puro vernáculo de caserna, descompôs o Pelotão, furriéis, cabos, soldados, brancos e negros… Que vergonha! Pois não haviam assistido à valente piçada que ele sofrera, na semana passada, quando o Major Eléctrico (2), visitara o Quartel, e criticara tudo, desde a limpeza das panelas ao comprimento do seu bigode!? (...)

4 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2612: Estórias cabralianas (33): Quatro Madrinhas de Guerra (Jorge Cabral)

(...) Madrinhas de Guerra? Pois também herdei uma. Uma não, quatro. Emprestado ao Pelotão, havia um Cabo velhinho, o Carvalho, que se correspondia com catorze. A bem dizer não fazia mais nada. Logo pela manhã, montava a banca e escrevia, escrevia…Acabada a comissão, Carvalho distribuiu as madrinhas. Das quatro que me calharam, três duraram pouco, o que não me admirou. Para cada uma, inventara uma estória, assumindo diferentes personagens e construindo cenários, nos quais a realidade da guerra surgia transmutada, mais parecendo um antigo romance de cavalaria. (...)


10 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2623: Estórias cabralianas (34): O Alferes, o piano e a Professora (Jorge Cabral)

(...) Em Maio de 71, o apanhanço do Alferes excedera todos os limites. Os Amigos da CCAÇ 12 haviam partido e ele, com os seus vinte e três meses de mato, refinara a excentricidade, espantando agora os periquitos de Bambadinca.Naquele dia resolvera visitar a Professora (3). Com que intenção, não sei. Líbido? Mera curiosidade? Alguma aposta? Talvez de tudo um pouco… e se viesse à rede… pois então… (...)

14 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2841: Estórias cabralianas (35): A bajuda de Belel, os Soncó e o amigo dos turras (Jorge Cabral)

(...) Também eu entrei em Belel em Junho de 1971. De Missirá até lá e de lá ao Enxalé, percorri o trajecto na companhia dos Páras e do Comandante do Pelotão de Milícias de Finete. Saímos ao fim da tarde de Missirá, e pela manhã deu-se o assalto à Base. A resistência não foi muito forte, pois muitos fugiram. Ainda assim, alguns ficaram prisioneiros. Recordo um que ostentava umas divisas vermelhas de Cabo. Não se destruíram as instalações, armadilharam-se, designadamente, um depósito de arroz. (...)

20 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2862: Estórias cabralianas (36): Uma proposta indecente do nosso Alfero (Jorge Cabral)

(...) Um Pelotão mesmo à medida do Alferes, sem qualquer vocação guerreira e que apenas ali estava… porque sim. Para eles o Cabral devia ser rico pois lhe pediam tudo e às horas mais despropositadas… Às vezes no meio da noite, era acordado, porque durante o dia chegara um vago parente que era preciso presentear…Com infinita paciência lá ia aguentando. Já comprara oito pares de óculos escuros e cinco rádios para uso alternado, quando alguns soldados resolveram arranjar mais uma mulher, recorrendo mais uma vez aos seus préstimos. Impossível garantiu, mais mulheres custariam uma fortuna. (...)

9 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3040: Estórias cabralianas (37): A estranha 'missão' do Badajoz (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá existiam sempre cinco ou seis adidos. Um enfermeiro, um cozinheiro, um motorista, dois soldados dos Morteiros e às vezes um mecânico, como o célebre Pechincha. Vinham de Bambadinca, cumprir uma espécie de castigo, pois Missirá representava o isolamento, o mato e o perigo.Chegavam receosos e um pouco atarantados, mas, passado algum tempo, parecia que o castigo se transformara em prémio e já ninguém queria regressar. Gostavam de ali estar, naquele quartel–tabanca, onde muitos nem sequer se fardavam e quase não existia hierarquia. (...)

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3225: Estórias cabralianas (38): O Alferes roncador e a almofada (Jorge Cabral)

(...) Desde miúdo que adormeço rápido e de imediato inicío um ressonar fortíssimo,audível até pelos vizinhos. Dizem-me uns que são silvos assustadores, parecendo urros de touro ou de leão. Outros garantem que se assemelham aos sonoros sinais dos antigos vapores, quando iniciavam a marcha.Ora, ao segundo dia de Bambadinca, mandaram-me à noite montar segurança junto à pista de aviação. Claro que foi chegar, assentar, adormecer e ressonar… O Pelotão quase que entrou em pânico, com o Sambaro a empunhar a bazuca. (...)

25 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3237: Estórias cabralianas (39): O Marido das Senhoras (Jorge Cabral)

(...) Todos nós tínhamos uma fé. Os africanos eram na sua maioria muçulmanos, os europeus católicos e eu era tudo. Frequentava a mesquita e a igreja, mas também prestei culto aos Irãs balantas. Porque não? O mais religioso de todos era porém o furriel Paiva. No seu abrigo–quarto construíra um pequeno altar, onde colocou quatro imagens das Santas da sua devoção e, entre elas, o retrato de Salazar. (...)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22874: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte I: de 1 a 19

Guiné 61/74 - P22889: Os nossos seres, saberes e lazeres (486): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (32): O Museu que mostra como nos transformámos na potência mundial do azulejo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Ando a usar e abusar deste privilégio concedido pelo Cartão do Antigo Combatente, percorro os museus nacionais aos dias de semana. Desta feita, uma tarde inteira de regresso ao Convento da Madre de Deus, acompanhado de um guia elaborado por uma eminente investigadora e museóloga, Maria Antónia Pinto de Matos, de quem pirateei uns bons parágrafos. Há para aqui beleza ímpar, por isso deixo alguma cena para os próximos capítulos.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (32):
O Museu que mostra como nos transformámos na potência mundial do azulejo


Mário Beja Santos

O Museu Nacional do Azulejo está instalado no antigo Convento Madre de Deus. A sua riquíssima coleção está centrada no azulejo, peças cerâmicas revestimento e guarnição arquitetónica desde a Idade Média até a contemporaneidade – um acervo de milhares de azulejos, a maioria de origem portuguesa. O belíssimo edifício começou a ser construído no início do século XVI e conheceu muitas transformações até ao século XIX. Toda a sua fachada possui códigos da chamada arte Manuelina e do tardo-gótico.
Inicia-se o percurso na cafetaria, dotada de sugestivos azulejos referentes a cozinha e casa. Daqui se parte para uma exposição didática que ilustra a longa história da nossa azulejaria desde o século XV até à atualidade.

Porta principal e fachada do Convento Madre de Deus
A presença azulejar, proveniente de uma “cozinha de fumeiro” do século XIX reveste ainda a totalidade do espaço do restaurante-cafetaria, evocando os prazeres da mesa da época.
Quatro elementos da cafetaria, predomínio absoluto do azul e branco
O que surpreende nesta incursão da longa história da nossa azulejaria desde o século XV até à atualidade é a possibilidade de confrontar em espaços intermédios obras de arte do século XX, será o caso deste painel religioso de Hein Semke, um artista de origem alemã que veio para Portugal da década de 1930 e que nos legou um acervo extraordinário de caráter escultórico, pictórico e ceramista.
Nesta incursão didática evoca-se o azulejo com encontro de culturas, desde a sua origem árabe, nas técnicas e decoração saída dos jogos rítmicos do Islão, as influências ítalo-flamengas, espanholas, orientais e holandesas.
Recorda-se ao leitor que toda esta incursão didática é uma peça importante no percurso museológico que integra o conjunto monumental do Convento de Madre de Deus, da Ordem de Santa Clara, fundado em 1509 pela Rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmão de D. Manuel I. Dissesse acima que houve diversas alterações de tomo nesta arquitetura que começou a ser erigida no século de Quinhentos, por ordem de D. João III e sua mulher, a Rainha D. Catarina da Áustria, submetida a diferentes campanhas de obra, sobretudo decorativas, entre o final do século XVII até ao ano 1759 e, posteriormente, no fim do século XIX, isto para já não falar na campanha decorativa Joanina, que comporta um dos mais importantes presépios portugueses. Vejamos agora uma das obras mais notáveis ainda no primeiro piso, e na sequência da incursão didática que ajuda o visitante a perceber a evolução do azulejo até à identidade portuguesa. Estamos diante do retábulo denominado Nossa Senhora da Vida, é uma das peças fundamentais da produção realizada em Portugal no século XVI. Tem 1498 azulejos numa composição de 5 metros de altura por 4,65 metros de largura, apresenta ao centro uma pintura com a Adoração dos Pastores ladeado por duas colunas onde se observam duas esculturas dos evangelistas S. João e S. Lucas, que narram o nascimento de Jesus. A coroar o conjunto, a simulação da parte do medalhão que evoca as cerâmicas italianas dos Della Robbia, tendo no interior a cena da Anunciação. Observando este painel é possível perceber um dos aspetos centrais da azulejaria portuguesa. A área vazia, no topo do painel, ao centro, correspondia a uma janela, cujo sentido simbólico era o de permitir a entrada da Luz, o caminho que a Pomba do Espírito Santo utilizou para chegar a Maria. Este conceito de associar a arquitetura à mensagem que se pretende transmitir é um dos aspetos centrais da produção nacional, algo que a distingue da azulejaria produzida noutros centros europeus.
Este primeiro piso do museu chamemos-lhe rés-do-chão dá uma imensa ajuda ao visitante para ver o itinerário percorrido até se chegar ao século XVI, marcado pela produção de Lisboa, este incontornável retábulo de Nossa Senhora da Vida, já percorremos outras influências como as técnicas hispano-mouriscas, o fabrico à moda de Sevilha e Toledo, os motivos para revestimentos interiores, as grandes encomendas eram provenientes das igrejas, lembram tapetes, há igualmente temas religiosos e painéis para paramentos de altar, é um percurso de salas museológico e museograficamente sugestivas em torno do claustro de D. João III, o melhor é voltar à “cozinha de fumeiro” para tomar uma bica, visitar ainda no primeiro piso o coro baixo e a capela de D. Leonor, há grandes surpresas no piso seguinte, como veremos.
(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22865: Os nossos seres, saberes e lazeres (485): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (24): Lembranças sertaginenses, pedroguenses e reguengueiras (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22888: (Ex)citações (397): Surpreendido com o aumento do nº de leitores do blogue, a partir da Suécia (José Belo, Key West, Florida, EUA)


 
A bola de cristal para se olhar o novo ano 2022... Imagem fornecida pro J. Belo (2022)




1. Mensagem de Joseph Belo, foto acima:  

(i)  José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Flórida, EUA); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado;  (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade";  (v) tem 213 referências no nosso blogue.

Data - 7 jan 2022 20:37  
Assunto - E….o tempo passa!

Caro Luís:

Surpreendido com o aumento de leitores do blogue desde a Suécia. (*) 

Nos últimos anos as minhas leituras do blogue são mais frequentes desde os Estados Unidos, Key West/Florida, onde realmente passo grande parte do ano.

Existe actualmente na Suécia um número de estudantes portugueses, somados a alguns outros que aqui se especializam depois de terminarem aí os seus cursos. Mas as suas idades não levam a crer que se interessem por blogues de ex-combatentes de África. Se é que sabem que no passado (!) houve umas guerras em África.

Quanto às minhas renas a “computar” desde há muito que estão proibidas de o fazer. Seguiam unicamente os “sites” ligados à pornografia da mais avançada.

A última explicação possível (, apesar de não querer ir por aí!) poderá estar ligada às nossas idades avançadas, quase bíblicas, que, com os inerentes esquecimentos, nos poderão levar até ao blogue 40 vezes por dia sem nunca nos recordarmos de o ter já feito anteriormente!

Um abraço

J. Belo 

PS - Aqui segue a tal bola de cristal para se olhar o novo ano 2022.
O céu está azul…em imagem invertida. Esperemos que. invertida ou não, seja céu azul todo o ano.

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Notas do editor:


(**) Último poste da série >  20 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22732: (Ex)citações (396): A maldição da canoa papel está ainda na cabeça daqueles guineenses, etnocêntricos e xenófobos, que continuam a ter muita dificuldade em aceitar a unidade na diversidade (Cherno Baldé, Bissau)

Guiné 61/74 - P228887: Parabéns a você (2024): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

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Nota do editor: 

Último poste da série de 7 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22883: Parabéns a você (2023): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22886: Notas de leitura (1406): CCAÇ 1550 - Quando a história de uma unidade militar ajuda a perceber a evolução da guerra da Guiné (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Relendo este terno memorial da CCAÇ 1550, surgiu a reflexão de que toda a descrição feita da chamada região Xime-Bambadinca entre 1967 e 1968, e a própria área de atuação desta unidade veio a conhecer bastantes alterações. Naquele período as tabancas em autodefesa conheciam o reforço pelas tropas do Xime, o destacamento do Enxalé fazia parte de uma outra unidade militar, Bambadinca vivia em paz, e temos por hábito esquecer que o PAIGC e as populações em que se apoiava tinham posições relativamente consolidadas desde o segundo semestre de 1963. A região Xime-Bambadinca em que vivi e combati, tornou-se mais agressiva, retirámo-nos de algumas posições, gerando vazios favoráveis à guerrilha. Em suma, o nosso dever de memória, temos que aceitar com humildade, está profundamente marcado por uma dinâmica que ultrapassa grandemente o tempo em que permanecemos neste ou naquele espaço, não se pode confundir a árvore com a floresta.

Um abraço do
Mário.



Quando a história de uma unidade militar ajuda a perceber a evolução da guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Não é primeira vez que aqui se refere este singelo memorial referente à CCAÇ 1550, que esteve na Guiné entre 1966 e 1968, edição de José Marques de Valente e de DG Edições, 2018[1]. Para o coordenador, que nos recorda que este livro tem 170 autores, o essencial é que não se perca a memória destes combatentes, partiram de Santa Margarida em 20 de abril de 1966 e chegaram a Bissau cinco dias depois; no dia seguinte foram até Farim, escoltados por dois grupos de combate reforçados; dias depois seguiram para Binta e Guidage. Binta não lhes pareceu pior do que outros lugares como Jumbembem, Cuntima ou Bigene, toda esta área tinha quatro companhias do batalhão de Farim, a principal base do PAIGC nas proximidades situava-se no corredor da Sambuiá, numa região entre Binta e Bigene. A CCAÇ 1550 ficou em Binta com um pelotão de caçadores nativos, um grupo de combate reforçado foi para Guidage.
Curiosa é a descrição de Binta:
“Era um conjunto de quatro ou cinco grandes armazéns que serviram para recolha de mancarra, caju, madeiras e outras matérias-primas, três ou quatro casas coloniais de um só piso e uma tabanca com duas ou três dezenas de habitações da população civil e milícias. Os armazéns, ocupados pela tropa ficavam encostados à área de atracagem dos barcos, junto de um pequeno cais de madeira. As casas de alvenaria, uns trinta metros retiradas e a tabanca mais uns cinquenta metros para o interior, junto da pista de terra onde aterravam avionetas militares e civis”. Descreve a organização da defesa e lembra-nos que durante os oito meses que permaneceram em Binta não se verificaram ataques violentos ao aquartelamento. Procurou-se saber junto da população a razão de não serem atacados e a explicação encontrada era de que tratavam bem a população civil e havia armadilhas à volta do quartel. E o autor refere não só os cuidados sanitários pela população portuguesa como senegalesa, o funcionamento das escolas, a diversidade dos patrulhamentos. A CCAÇ 1550 pertencia organicamente ao BCAÇ 1888 e daí, passados oito meses, terem sido transferidos para a região do Xime, constituído pelo destacamento do mesmo nome, o de Ponta do Inglês, e o apoio a Taibatá e Demba Taco, havendo ainda um destacamento em Samba Silate e um outro destacamento em Galomaro. Na tabanca de Taibatá estava a sede do regulado de Bambadinca e o destacamento da Ponta do Inglês sofria inúmeras flagelações, o itinerário Xime-Ponta do Inglês era evitado por terra, o abastecimento da Ponta do Inglês fazia-se por via marítima. As emboscadas na estrada Xime-Bambadinca eram também frequentes. Descreve as instalações do Xime, a composição da população e como se processava a segurança do aquartelamento, desde o arame farpado aos abrigos, procuraram-se corrigir debilidades introduzindo paliçadas com três metros de altura. Presta-se homenagem aos picadores do Xime pela ajuda crucial que deram ao pessoal de minas e armadilhas para detetar e destruir minas antipessoal e anticarro, como igualmente o esforço do pessoal civil de Amedalai que picava o último troço da estrada até à ponte do rio de Undunduma – estes picadores do Xime era um grupo de militares da CCAÇ 1550, do Pel Caç Nat 53 e milícias do Xime, Taibatá e Amedalai".


O autor lembra a vida difícil do destacamento da Ponta do Inglês, referencia Taibatá, Samba Silate e Galomaro. É minucioso a descrever o armamento, as melhorias introduzidas em abrigos, ninhos de morteiro, postes de vigia, manutenção do arame farpado, o Memorial é profundamente ilustrado, ficamos a conhecer a capela, o interior da messe de oficiais, esta composta de quatro caravanas que terão vindo da equipa técnica agronómica que trabalhara em Fá Mandiga. Há dados curiosos neste relato, veja-se um deles: “Na zona mais alta, para além do arame farpado, onde se situava o nosso posto de vigia norte, havia uma zona que fora cemitério, pois ainda havia restos de lápides funerárias e de campas de um pequeno cemitério, com lápides ainda visíveis cuja inscrições se liam nomes e referências de alemães, flamengos e holandeses. Pelas datas deduzia-se ocupação dos séculos XVIII/XIX”. Nesta época o Corubal já não era navegável, uma das lanchas que se aventurou até às imediações do Saltinho regressou com umas dezenas de impactos de projéteis.

Comenta a natureza dos abastecimentos, fala de prémios, louvores e condecorações; e segue-se um repositório muito terno de fotografias de todos os militares, fotografias do tempo da campanha e atuais, não faltam mesmo fotografias das tabancas em autodefesa como Taibatá ou Demba Taco, havia no Xime padrões da CCAÇ 1550 e do Pel Caç Nat 53, e dá-se a lista de todos os falecidos, contam-se histórias, seguem-se os encontros posteriormente realizados.

A que título se retoma a leitura deste Memorial? Circunscrevendo as observações à região do Xime-Bambadinca, e como se vê estamos num período entre 1967 e 1968, e tendo eu chegado à região de Bambadinca em agosto de 1968, que aconteceu, entretanto? Indo um pouco atrás, o combatente do PAIGC, Domingos Ramos, em meados de 1963, atravessou o Corubal e sublevou toda a região norte do Xime, populações, milícias e depois bi-grupos irão ficar instalados na Ponta Luís Dias, Tabacutá, Mina, Galo Corubal, com pleno acesso a bolanhas no Poidom, fertilíssimo, um pouco mais abaixo, também se instalaram em dois locais, Baio e Burontoni. Todas as operações feitas pelas tropas portuguesas não conseguiram desalojar as populações e os grupos armados destes locais, ao longo de toda a guerra. O Coronel Hélio Felgas concebeu uma operação de envergadura, Lança Afiada, cerca de 12 dias, um fortíssimo contingente, resultados praticamente nulos, os guerrilheiros e populações limitaram-se atravessar o Corubal e aguardar a retirada das nossas tropas. Samba Silate perdeu população, tornou-se terra de ninguém, faziam-se patrulhamentos, era inequívoca a passagem de guerrilheiros de um lado para o outro do rio Geba, ou mesmo das bases no interior do regulado do Xime; Bambadinca viveu na paz do Senhor até 28 de maio de 1969, nesta data sofreu a primeira flagelação, montaram-se novos dispositivos de defesa, um deles a segurança em torno da ponte do rio de Undunduma; a presença da guerrilha em Ponta Varela, a escassos quilómetros do Xime, era reconhecida, tentavam impedir a circulação das embarcações civis, nalguns casos tiveram êxito; e a partir de 1970 tornaram-se cada vez mais agressivas as flagelações e as práticas terroristas nas populações de Demba Taco, Taibatá e Moricanhe. Decidiu-se abandonar a Ponta do Inglês, em 1968, Moricanhe foi abandonada em 1970, as infiltrações do PAIGC cresceram para a região do Xitole. Galomaro mudou de sector. Quando cheguei à Guiné ia-se calmamente de jipe de Bambadinca a Galomaro, em finais de 1969 houve necessidade de fazer colunas, com a retirada de Madina de Boé a presença subversiva acentuou-se. Muito mais aqui se podia dizer para lembrar a todos que o vimos numa comissão podia alterar-se substancialmente nos anos longo a seguir, como aqui se mostra na região de Xime-Bambadinca. É uma simples chamada de atenção que qualquer uma das nossas comissões não passou de uma minúscula parte (mesmo que muito dolorosa) de um todo (que nos obriga à sequência cronológica e a descrever factos e feitos, em que o mais relevante terá sido o desequilíbrio do nosso armamento comparativamente ao do PAIGC, que veio permitir, já bastante perto do final da guerra que este se tivesse preparado para um quadro ofensivo onde era maleável a utilização da guerrilha com métodos de guerra convencional).
Para que conste, e não tenhamos a ilusão do que a nossa árvore é mais do que a floresta.


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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 8 DE MARÇO DE 2021 > Guiné 61/74 - P21983: Notas de leitura (1345): "Memorial, O livro dos 172 autores", da CCAÇ 1550 (Binta e Xime, 1966/68), DG Edições, 2018 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 3 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22872: Notas de leitura (1405): "Descobrimento Primeiro da Guiné", por Diogo Gomes; Edições Colibri, Junho de 2002 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22885: O nosso blogue em números (75): Globalizados, somos vistos em muitos países, com natural destaque para Portugal (40%), EUA (25%), Brasil (5%), França (5%) e Alemanha (4%)... Pela primeira vez, aparece a Suécia no "Top 10" e a Guiné-Bissau no "Top 20"



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)

Infografia: Adapt de Blogger (2022) (com a devida vénia...)


Gráficos nº 5 e 6 - Principais localizações dos nossos "visitantes" (leia-se: visualizações de páginas, entre junho  de 2006 e o final de 2021): no Top 10, o destaque vai para Portugal (com cerca 40% do total), seguido dos Estados Unidos da América (25%) e o Brasil com 5%... Enfim, quando comparamos estes dois gráficos com os do ano passado (*), a estrutura mantem-se no essencial.


1. É caso para continuar a dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande"...

A principal origem dos que visitam o nosso blogue, quase dois terços, é Portugal (40%) e os EUA (25%) (Gráfico nº 6)

Segue-se, à distância, o Brasil (5%), a França (5%) e a Alemanha (4,1)%) e, pela primeira vez, a Suécia (1,3%) (a que poderá ser explicado, em parte, pela localização naquele país do...nosso  Zé Belo e das suas renas). E ainda com mais de 1%, o Reino Unido e a Rússia. No "Top 10" ainda estão a Polónia e a Espanha.

Este perfil não se tem alterado desde 2014, ano em que o Brasil perdeu o 2º segundo lugar para os EUA.  Os  EUA (que tinham  7,6% do total de visualizações em 31/12/2013), deu então um salto  para os 17,6%). E o Brasil ficou-se pelos 7,8%... 

Mas Portugal também vindo a perder peso relativo: em 2014 tinha uma "quota" de 48,2% (**). Há uma explicação: a crescente penetração da Internet em todos os países do mundo...(Veja-se  crescnte peso relativo do "Resto do Mundo".).

No mundo globalizado em que vivemos, somos vistos em muitos lados... Seguem-se por ordem decrescente (com menos de 1%) (,entre parêntesis indicam-se os números absolutos, em milhares) os sguintes países que aparecem no "Top 20":

Ucrânia > 62 mil
Região desconhecida > 58,5 mil
Itália > 56,3 mil
Canadá > 55,6 mil
China > 50,6 mil
Hong Kong > 35,4 mil
Países Baixos > 28,4 mil
Emirados Árabes Unidos > 27,2 mil
Guiné-Bissau > 23,5 mil
Outros > 1,38 milhões

Ficamos felizes por, no nosso "Top 20",  estarem 3 países lusófonos: Portugal (1º), Brasil (3º) e Guiné-Bissau (19º). E, nos restantes, há também muitos portugueses e outros falantes da íngua portuguesa que nos seguem ou visualizam, com regularidade, o nosso blogue, nomeadamente nos EUA, França e Alemanha. Destaque, já agora,  também para os Emiratos Árabes Unidos que aparecem, pela terceira vez (desde 2019), no nosso "Top 20"...  Seguramente que um dos nossos seguidores nas "Arábias" é o nosso coeditor Jorge Araújo... (***).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21744: O nosso blogue em números (69): No mundo globalizado, fomos vistos em muitos países, com natural destaque para Portugal (41%), EUA (25%) e Brasil (6%)...Cabo Verde e a Guiné-Bissau, infelizmente, ainda não aparecem no Top 20... São dois pequenos países, de resto com taxas de penetração da Internet desiguais: 63,3% e 12,7%, respetivamente

(**) Vd. poste de 3 de janeuiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14111: O nosso blogue em números (34): no final de 2014: (i) 6,8 milhões de visualizações de páginas; (ii) 676 membros registados; (iii) 14 mil postes publicados; (iv) 55600 comentários; (v) 1638 amigos no Facebook da Tabanca Grande...

(***) Último poste da série > 4 de janeiro de 2022 > 4 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22875: O nosso blogue em números (74): em 2021, tivemos 25 "baixas mortais" e 31 novos membros da Tabanca Grande (dos quais 13 a título póstumo)... Somos agora, entre vivos e mortos, 855 grã-tabanqueiros

Guiné 61/74 - P22884: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXIV: Dazhai, província de Shanxi, China, 1977





Dahzai... China profunda, China toda


Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2021) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. C
ontinuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. Texto e fotos recebidos em 23 de dezembro último.


Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais;  autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas ao mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem já 300 referências no blogue.
 




Dazhai, província de Shanxi, China, 1977


Recordo 大寨 Dazhai, pequena aldeia entre montanhas escalavradas, na província de Shanxi, durante anos bandeira vermelha da agricultura na China porque, em 1964 Mao Zedong lançou o slogan 农业学大寨 Nongye xue Dazhai, ou seja, “na agricultura aprender com Dazhai”.

Com Deng Xiaoping, foi o fim dos desvairos maoístas, das denominadas comunas populares, cresceu a responsabilidade no campo e a criação de riqueza. Dazhai foi silenciosamente lançada para o caixote do lixo do comunismo, tendo-se transformado num estranho pólo turístico, “vermelho” para os velhos nostálgicos do comunismo duro e puro.

Cheguei a Dazhai em Setembro de 1977, com 30 anos de idade, ainda meio maoísta e com um caixote cheio de ingenuidade sínica. No meu diário  – um achado de que muito me orgulho, no meu inédito Diário de Pequim 1977-1983, a publicar um dia –, anotei o que mais me impressionou em Dazhai.

Venho em viagem paga pelas Edições de Pequim a meia dúzia de estrangeiros que lá trabalham. Tenho direito a ruanwoche 軟臥車, ou seja “carruagem cama fofa”. Aprendi que, além desta, existem mais três tipos de carruagens, a yingwoche 硬臥車, ou seja, “carruagem cama dura” com sessenta beliches separados por tabiques, mais o “banco fofo”, almofadado e o “banco duro”, de pau, onde viaja a maioria dos chineses.

Por companheiro – somos apenas dois nas couchettes –, tenho um sudanês enorme, perto de dois metros de altura, de nome Ahmed Kehir, com feições de quase branco e pele negra. Pertence ao Partido Comunista do Sudão, vive exilado na China há doze anos, disseram-me ser poeta, trabalha na revista semanal Pequim Informação, edição em árabe e deve o bom tratamento que lhe é concedido ao facto de, há não sei quantos anos atrás, ter aparecido numa fotografia divulgada por toda a China ao lado de Mao Zedong, em amena cavaqueira com o grande timoneiro.

Comigo, a conversa, em mau inglês. A situação política em Portugal, em África. Pois.

Acordo com a claridade a romper pela janela da carruagem. Lá fora, no lusco-fusco do novo dia, montanhas esventradas, o comboio a avançar, lento e comprido. Túneis, incontáveis curvas e o trem de ferro serpenteando, atravessando pontes, ladeando aldeias penduradas na rocha. A paisagem é bonita, mas bruta. Há desfiladeiros, ravinas, tudo em grande. Isto é a China amarela, China e mais China.

Depois, um autocarro velho e gasto avança para os sessenta quilómetros de estrada até Dazhai. Caminhos estreitos, cheios de camionetas, carroças, carretas com os homens substituindo os animais de tiro. Camiões carregados de carvão, uma das maiores riquezas de Shanxi, motocultivadores barulhentos e fumegantes com um atrelado pequeno transformado em viatura de transporte. Sempre demasiada gente, na berma da estrada mal alcatroada ou a trabalhar nos campos.

Estamos em Dazhai. O chinês da província Shanxi, nestas terras ásperas e ingratas, amalgamou tudo, o suor, o sofrimento, o céu azul, o vento, as tempestades, a alegria, a vida e a morte. Aqui em Dazhai entendo melhor. Os camponeses, na labuta do dia a dia, mergulham na terra, fazem-na sua, são parte deste pó de loess que, depois de tanta luta e suor, lhes dá o pão, o trigo, o milho, o milhete, o sorgo, o algodão, e um dia acolherá os seus corpos.

Dazhai fica a 1.050 metros de altitude, sujeita à permanente erosão das águas e do vento. A pouca terra existente é, ano após ano, arrastada pelas chuvas e pelas enxurradas. As encostas ficam secas, delapidadas e pedregosas, lugares estéreis onde nada cresce. É preciso ir buscar a terra do loess ao fundo dos vales, subi-la, fixá-la nos socalcos também abertos pelas mãos dos homens, construir muros, abrir canais de irrigação. Onde existiam colinas carcomidas pela erosão do tempo vejo agora largas plataformas com 200 ou 300 metros onde amadurece o sorgo, o milho, onde cresce o pão deste povo.

Fico a saber que Jiang Qing, quarta esposa oficial e viúva de Mao Zedong, uma criatura bem pouco amada pelo povo chinês, membro proeminente do chamado “bando dos quatro”, visitou Dazhai em 1975, há apenas dois anos atrás, tendo trazido desde Pequim, no comboio, em carruagem especial, dois cavalos para se passear montando as elegantes cavalgaduras pelos caminhos da aldeia. As crianças da terra diziam que tinha chegado o circo. Os camponeses consideraram isso um insulto e não perdoaram a Jiang Qing. A toda poderosa senhora mandou-o cavar profundos abrigos subterrâneos, prevendo a eventualidade de Dazhai sofrer um bombardeamento atómico. No local que Jiang Qing lhes indicou para os abrigos, as gentes da terra acabaram por construir uma série de pocilgas para a criação de porcos.

À noite, solitário, na cama confortável do quartinho camponês meio suspenso sobre os telhados da aldeia, impressionado com esta terra, escrevo um poema:


Enrijece o milho,
amadurece o sorgo,
florescem laranjeiras.
Os camponeses de Dazhai
transmutam colinas em planícies,
encostas pedregosas em socalcos férteis,
vales inóspitos em searas de trigo.
As raízes vão buscar vida ao loess
adubado com estrume e com sangue,
o suor de cada um é o sémen
circulando no ventre da terra.
Os corações pulsam
ao ritmo da paisagem fecundada,
os meninos, brincam estudam, cantam,
a China cresce.
Mais fácil olhar a montanha que subi-la,
quanto mais elevada mais vasto o horizonte.
Mas haverá sempre outra montanha, mais alta,esperando os homens.

António Graça de Abreu

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22883: Parabéns a você (2023): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22880: Parabéns a você (2022): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22882: Manuscrito(s) (Luís Graça) (208): "Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, aceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar; Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu Deus para nos salvar".

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Lourinhã > Natal de 2021 > Um dos 60 presépios de rua > Hall da igreja paroquial da Lourinhã... A minha neta, Clarinha, também se quis associar à "festinha do menino Jesus", deixando, com a maior das inocências, junto às ovelhinhas,  a boneca de trapos, "Clara", e o "João Ratão"... O Natal, se ainda tem magia, é para as crianças...Nós, há muito que perdemos a "inocência", espero bem que não tenhamos perdido de todo a capacidade de "maravilhamento"... (por exemplo, quando "revisitamos" a nossa infância).


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2022). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Natal de há 70 anos quando o Pai Natal 
ainda não tinha morto o Menino Jesus...


(...) 33. E no Natal ?!... Lembras-te do Natal, quando ainda o Pai Natal não tinha morto o Menino Jesus ?! E ainda não havia luzinhas, “made in China”, a não ser as das velas ou do candeeiro a petróleo ?!…

Não, não havia o stress de Natal que há hoje, na cidade grande... Não havia nada disso na aldeia onde tu nasceste há mais de 7 décadas. Ainda o Pai Natal não existia, pelo menos o Pai Natal da Televisão e dos centros comerciais. Não havia televisão, nem eletricidade nem centros comerciais. Muito menos corrida às compras, com medo que o mundo acabasse, o bacalhau desaparecesse, e as estantes do hipermercado ficassem vazias...

Ia-se à missa do Galo, à meia noite em ponto, na igreja do Castelo, tumular, tudo escuro como breu, e só depois, a tiritar de frio, de regresso a casa, logo ali, na Rua dos Valados ou do Castelo,  a 200 metros, é que se bebia o cacau quente e se comiam os coscorões, o arroz doce e as filhós de sangue de galinha!...

Só não gostavas era dessa parte do sacristão passar imagem do Menino Jesus ao longo dos bancos corridos e dar a beijar, aos fiéis, o seu pezinho, lambuzado… (Não dizias, mas já então achavas que era uma santa… porcaria!)

Mas nem por isso o Natal deixava de ter magia. Punha-se o sapatinho, limpo, engraxado, na chaminé, para no dia seguinte, de manhã cedo, ir recolher a(s) prenda(s) do Menino Jesus.

E só de manhã, cedo, é que te levantavas, em alvoroço, para saber a prenda que o Menino Jesus te deixara, no sapatinho, na chaminé, por detrás do fogão a petróleo, de marca Hipólito: um lenço, umas peúgas, um chupa-chupa, um brinquedo de chocolate, embrulhado em tosco papel de prata! ... 

O Menino Jesus “que era tão pobre como nós”, dizia a tua catequista, mas a verdade é que ele já tinha uma fábrica de chocolates e de chupa-chupas, além de outra de fazer meias, o que fazia confusão aos putos naquele tempo. Como é que ele podia distribuir tantas guloseimas e tantas outras prendinhas, por tantas chaminés e por tantas ruas da tua aldeia ?

Parca prenda para quem fora todo o ano um menino bem comportado, temente a Deus, cumpridor dos seus deveres, amigo dos seus pais e manas, diligente, obediente e inteligente!...

Os meninos ricos tinham sempre muito mais prendas, mesmo que dessem muitos erros de ortografia e muito menos soubessem, como devia ser, a tabuada e o catecismo.

(...) 20. Havia o ouro, o incenso e a mirra, os três reis magos, mais os seus camelos, e um deles era o “pretinho da Guiné” (. Sabias lá tu onde era a terra dele!...O teu pai dizia que era lá longe, para lá de Cabo Verde… Mas devia ser também longe, da Guiné até Belém. Ainda não havia, naquele tempo, o globo terrestre azul Frost, com luzinha lá dentro para o teu pai apontar com o dedo a minúscula ilha de São Vicente.)

Havia o presépio, havia a água benta. Como tu gostavas de fazer o sinal da cruz na tua testa com a água benta que estava à entrada da igreja, numa pia de pedra cheia de musgo ou verdete, aonde mal chegavas. Havia quem molhasse com ela a ponta da língua: sabia a água choca, e a limo, diziam-te os outros meninos da catequese. Nunca a provaste, como medo de apanhar uma doença. (Mas como é que te podia fazer mal se era água santa ?!, inquietava-te o “caixa d’óculos” que ajudava à missa, alternando contigo, só para pôr à prova a tua fé inabalável.)

Ah!, o incenso, ligeiramente enjoativo das missas, mas pior ainda era o cheiro das velas a arder. E pior ainda a pregação do pregador franciscano que nunca mais acabava, em dia de sermão e missa cantada, e o povo a bocejar de tédio, e a fazer as contas à vida, à décima a pagar nas finanças, e à côngrua para o senhor vigário, e ao sulfato para sulfatar a vinha do Senhor, ao medo que guardava a vinha, e à roupa na barrela que era preciso estender ao sol… Ou a pedir a graça do Santo Antonino para proteger o porquinho. Ou à Nossa Senhora de Fátima para livrar o rapaz que estava lá em casa de, depois das sortes e da tropa, ir parar à India e, mais tarde, a Angola, Guiné ou Moçambique.

E, se calhar, havia também quem tivesse maus pensamentos, como o Frasco do Veneno. Sim, tinha maus pensamentos, confessava-te ele, só não dizia asneiras, dentro da igreja, com medo de ser fulminado por um raio do Espírito Santo, em dia de trovoada, ou por uma língua de fogo ao pôr-do-sol, atravessando uma das janelas com vitrais.

Ah!, e a seca do terço mariano no mês de maio (que te perdoe a Nossa Senhora de Fátima, por invocares o seu nome em vão!, acrescentaria a tua mãe, se te ouvisse)…

Havia, enfim, o sagrado e o pagão, a lavoura, os lavores, masculinos e femininos, o solstício do inverno e o solstício do verão, e tudo a isto, ou só a isto, se resumia o acanhado palco do teatro da vida que te coubera em sorte. Sorte pequena, nunca te calhará a grande. A grande, essa, só poderia ser o céu, no fim da vida, se até então vivesses na graça de Deus, afiançava o padre vigário. E tu acreditavas, porque tinhas fé. E mal de ti quando a perderes, ameaçava-te o confessor. E tu estremecias de terror, só de ouvir as suas maldições.

E era a tua mãe quem, numa velha máquina de costura, Singer, te fazia os lençóis, os lenços, as camisas, os calções e as cuecas e o resto da roupa, incluindo a domingueira, a de ir à missa. A tua e a das tuas manas.

Eram poucos os prazeres da vida. E muitas as canseiras. O teu pai sabias-as de cor, mesmo não sendo lavrador como os seus fregueses ou o ti’Dolfo. Comprava todos os anos o “Borda d’Água” e lá ia soletrando contigo…"Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, aceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar; Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu Deus para nos salvar". (...)


Luís Graça 

(Excertos de um manuscrito com memórias poéticas da infância, que este ano pode dar livro...se arranjar editor!)
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Guiné 61/74 - P22881: Colóquio - O Regimento de Cavalaria N.º 6 na Guerra Colonial: Perspetivas Locais e Globais - levado a efeito no passado dia 23 de Novembro de 2021, em que participaram os ex-Alf Mil Cav Ernestino Caniço, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 e Francisco Gamelas, CMDT do Pel Rec Daimler 3089 (Ernestino Caniço)


Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/DEZ 1971, com data de 31 de Dezembro de 2021:

Caros amigos:
Realizou-se em 2021.11.23 no auditório da Universidade do Minho o Colóquio “O Regimento de Cavalaria N.º 6 na Guerra Colonial: Perspetivas Locais e Globais”.

No programa em anexo, constava uma sessão subordinada ao tema “Vivências e Testemunhos Cruzados do Regimento de Cavalaria N.º 6 na Guerra Colonial”, integrando uma Mesa Redonda com Antigos Combatentes mobilizados pelo Regimento de Cavalaria Nº 6.
Uma vez que o nosso contacto com o Sr. Comandante do RC 6 (Coronel Miguel Freire) partiu do Blogue, foi-me solicitado pelo Carlos Vinhal que fizesse um apanhado e considerações sobre o evento.[1]

O objetivo desta sessão é ajudar a compreender, pelo testemunho pessoal, a dimensão humana, mas também a técnico-militar, do que foi cumprir o serviço militar com uma mobilização num pelotão de reconhecimento Daimler para um dos teatros de operações.
A participação de ex-combatentes no painel, foi precedida de entrevistas moderadas pelo Sr. Comandante do RC 6 e pelo Professor Francisco Mendes da Universidade do Minho.
Compete-me realçar que na receção para as entrevistas em que participei eu e o camarada e amigo Francisco Taveira, fomos acolhidos com elevação, nomeadamente com tratamento principesco por parte do Sr. Comandante do RC 6, Coronel Miguel Freire.



Os ex-combatentes que participaram no painel foram apresentados por ordem cronológica de prestação do serviço militar pelo Sr. Comandante do RC 6:

- O antigo Tenente Mário Sampaio Nunes que foi Comandante do Pel Rec 1166. Este pelotão esteve em Moçambique, entre fevereiro de 1967 e março de 1969, e o então Alferes Sampaio Nunes comandou o pelotão, em rendição individual, entre dezembro de 1967 e fevereiro de 1969, por passagem à disponibilidade por doença do anterior comandante de pelotão. Hoje é um oficial do exército reformado, com 77 anos de idade.

- O antigo Alferes Ernestino Caniço que foi Comandante do Pel Rec 2208 e que esteve na Guiné entre janeiro de 1970 e dezembro de 1971. Hoje é um médico reformado, mas ainda a exercer, com 77 anos de idade.

- O antigo Alferes Francisco Gamelas que foi Comandante do Pel Rec 3089 e que esteve na Guiné entre novembro de 1971 e outubro de 1973. Hoje é um engenheiro reformado, com 72 anos de idade.

- O antigo 1.º Cabo Bernardino Lima que foi Condutor/Apontador de Daimler no Pel Rec 3083 que esteve na Guiné de novembro de 1971 a outubro de 1973. Hoje é um fiel de armazém reformado, com 71 anos de idade.

Podemos considerar a sessão um putativo sucesso, face ao surgimento de alguns indícios, como os comentários enaltecedores de representantes de instituições militares e civis.

Não posso deixar de enfatizar a presença maioritária (e intervenções) dos estudantes de história da Universidade do Minho, com o anfiteatro repleto, demonstrando um interesse (para mim inesperado) da juventude por esta temática.

Permito-me por fim evocar uma frase do Sr. Comandante do RC 6, Coronel Miguel Freire: "Foi para mim um imenso orgulho e engrandecimento humano ter privado com cada um de Vós, por ocasião da preparação do nosso Colóquio de 23 de novembro".

Renovo os votos de um ótimo 2022, já com algum remanso do “Cobicho”

Um abraço,
Ernestino Caniço

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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 10 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22531: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (88): O Regimento de Cavalaria n.º 6 de Braga, juntamente com a Universidade do Minho, está a organizar um colóquio e uma exposição (a acontecer em 18NOV21) sobre o esforço de mobilização do RC6 em PelRec Daimler para os três Teatros de Operações. Procura-se antigos CMDTs Pel Rec Daimler para possível colaboração no evento

Guiné 61/74 - P22880: Parabéns a você (2022): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22871: Parabéns a você (2021): António Ramalho, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22879: Fichas de unidades (23): BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), CCAÇ 3398 (Buba), CCAÇ 3399 (Aldeia Formosa), CCAÇ 3400 (Nhala)

 

Guião do BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73) (Há um erro de impressão no canto superior esquerdo: CCC em vez de BCAC). Imagem da preciosa coleção do incontornável Carlos Coutinho, grande parte da qual está disponível no portal UTW, Dos Veteranos da Guerra do Ultramar. (Com a devida vénia...)

Batalhão de Caçadores nº 3852

Identificação: BCaç 3852

Unidade Mob: BC 10 - Chaves

Cmdt: TCor Inf António Afonso Fernandes Barata | TCor Inf José Fernando de Oliveira Barros Basto | 

2º Cmdt: Maj Inf José Fernando de Oliveira Barros Basto | Maj lnf Raul Pereira da Cruz Silva

OInfOp/Adj: Maj Inf Raul Pereira da Cruz Silva (acumulava)

Cmdts Comp: CCS: Cap SGE Augusto Ferreira | CCaç 3398: Cap Inf Filipe Ferreira Lopes | CCaç 3399: Cap Inf Horácio José Gomes Teixeira Malheiro | CCaç 3400: Cap Inf Gastão Manuel Santos Correia e Silva | Cap Mil Inf Manuel de Sousa Moreira

Divisa: "Viver-Lutar- Vencer"

Partida: Embarque em 26Jun71; desembarque em 2Jul71 | Regresso: Embarque em 1Set73 (CCaç 3398), 2Set73 (CCaç 3399), 6Set73 (Cmd e CCS) e 8Set73 (CCaç 3400)

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 5 a 31Ju171, no CIM, em Cumeré, seguiu com as suas subunidades para a região de Aldeia Formosa em 01 e 2Ago71, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCaç 2892.

Em 26Ago71, assumiu a responsabilidade do Sector S2, com sede em Aldeia Formosa e abrangendo os subsectores de Empada, Mampatá, Buba, Nhala e Aldeia Formosa. 

De 14Jun72 a 8Dez72, a área da península do Cubisseco foi atribuída ao CDMG  [Comando de Defesa Marítima da Guiné] para actuação operacional das suas forças.

Em 22Jan73, o subsector de Empada foi transferido para a zona de acção do BCaç 4510/72. 

De 13Mai73 a 26Jun73, foi reforçado pelo BCaç 4513/72 e suas subunidades, com vistas à intensificação do esforço de contrapenetração no sector. 

A partir de 27Jun73 até 10Ago73, a área de Cumbijã-Colibuia-Nhacobá foi atribuída temporariamente ao BCaç 4513/72. 

As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.

Com as subunidades que lhe foram atribuídas na sua zona de acção, desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimento e de vigilância e controlo da fronteira e das linhas de infiltração do inimigo, particularmente do corredor de Missirá e das passagens do rio Grande de Buba.

Impulsionou e coordenou a execução dos trabalhos de realojamentos das populações recuperadas e da sua promoção socioeconómica, em particular em Colibuía e Afiá, garantindo ainda a segurança, protecção e apoio da construção e reparação dos itinerários logísticos, com especial destaque para as reacções a fortes e frequentes flagelações a aquartelamentos e aldeamentos situados junto da fronteira.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 1 morteiro, 1 metralhadora ligeira, 4 pistolas-metralhadoras, 6 espingardas, 2 lança-granadas foguete, 172 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 34 minas.

Em 10Ago73, foi rendido no Sector S2 pelo BCaç 4513/72 e recolheu, em 14Ago73, a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

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A CCaç 3398, após o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 2616 desde 1Ago71, assumiu a responsabilidade do subsector de Buba em 26Ago71.

Em 15Ago73, foi rendida pela 1ª Comp/BCaç 4513/72 e recolheu, em 19Ago73, a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

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A CCaç 3399, após treino operacional e sobreposição com a CCaç 2614 desde 1Ago71, assumiu a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa em 26Ago71.

Em 13Ago73, foi rendida pela 3.ª Comp/BCaç 4513/72 e recolheu, em 15Ago73, a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

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A CCaç 3400, após treino operacional e sobreposição com a CCaç 2615 desde 03Ago71, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhala em 26Ago71, tendo destacado pelotões para reforço das guarnições locais de Buba, de finais de Set72 a finais de Nov72, de Mampatá, de finais de Jan73 a meados de Jun73 e de Colibuia, a partir de meados de Jun73.

Em 18Ago73, foi rendida pela 2.ª Comp/BCaç 4513/72, seguindo para Buba e no dia seguinte para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações: Tem História da Unidade (Caixa n.º  94 - 2.ª Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 155/156.

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22766: Fichas de unidades (22): CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar e Safim, 1972/74)