Guiné >Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > 1971 > Pel Caç Nat 63 > Furriéis Milicianos Pires, Branquinho e Amaral, o saudoso Amaral (***). O António Branquinho é irmão do Alfredo Branquinho, membro da nossa tertúlia.
Foto : © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71 , seguramente um dos camaradas mais fixes com que podemos contar, sempre, nos bons e nos maus momentos (Aliás, até dá jeito ter, na nossa Tabanca Grande, advogados, com a experiência e o saber dele, Jorge Cabral; e, a propósito, prometo publicar um dia as deliciosas estórias judiciais que ele arranja para os seus alunos aprenderem a matéria; há uma colecção delas, publicadas em livro, por iniciativa dos seus alunos):
Querido Amigo: Renovo os parabéns pela brilhantíssima actuação do teu talentoso filho e companheiros, [os Melech Mechaya] (*). No decurso do Concerto, fui fumar para o Bar, onde também se encontrava a estrela Soraia Chaves. Que mulher! Olhar para ela constituiu uma violência contra este idoso…
Junto mais uma Estória Cabraliana.
Abraço
Jorge
PS - Em anexo foto dos furriéis do Pel Caç Nat 63 em Missirá (Pires, Branquinho e o saudoso Amaral)
2. Estórias cabralianas (37) > A Estranha “Missão” do Badajoz
por Jorge Cabral (**)
Em Missirá existiam sempre cinco ou seis adidos. Um enfermeiro, um cozinheiro, um motorista, dois soldados dos Morteiros e às vezes um mecânico, como o célebre Pechincha. Vinham de Bambadinca, cumprir uma espécie de castigo, pois Missirá representava o isolamento, o mato e o perigo.
Chegavam receosos e um pouco atarantados, mas, passado algum tempo, parecia que o castigo se transformara em prémio e já ninguém queria regressar. Gostavam de ali estar, naquele quartel–tabanca, onde muitos nem sequer se fardavam e quase não existia hierarquia.
Porém, no primeiro dia todos se haviam sentido apreensivos. O Alferes recebia-os formalmente com um discurso incompreensível e confiava-lhes uma “missão”, sempre absurda.
As “missões” inspiravam-se nas discussões, manias e cismas vigentes na altura e podiam consistir nas mais disparatadas obrigações.
Assim, a um porque alguém jurara ter visto o avião turra, foi determinada a observação aérea todos os dias entre o meio-dia e as seis da tarde. Outro foi incumbido de vigiar e contar os macacos que costumavam reunir na pequena elevação fronteira, pois o Amaral (***) alvitrara que o aumento do seu número significaria um ataque iminente.
Já em Maio de 71, apresentou-se o Badajoz, grande louco ou perfeito simulador, que passara por Bolama onde fizera a recruta por via de uma pena sofrida em Elvas, estacionara em Bissau, e lá por duas vezes, tentara embarcar de regresso à Metrópole, acabando na CCS [, Companhia de Comandos e Serviços,] de Bambadinca a aguardar “melhoras”. Claro que o [Cap] Passos Marques [, da CCS/BART 2917,] logo o mandou para Missirá…
Tal como a todos os outros foi necessário confiar-lhe uma “missão”. Ora na época, a discussão que nos ocupava a todos, era a resposta à importante questão: Porque mijam as mulheres de pé, e os homens de cócoras? Quanto às mulheres, o assunto não constituía novidade pois o Monteiro afiançara que na terra dele também as velhas tinham esse costume. Sobre os homens sim. Para mijarem de cócoras não encontrávamos explicação.
Encontrá-la foi a “missão” do Badajoz, que a levou muito a sério… Infelizmente não teve tempo. Quinze dias depois veio a ordem. Baixou à Psiquiatria. E nós lá continuámos sem resposta…
Curiosamente foi na véspera do [meu] regresso que tive notícias do Badajoz. Era a minha última noite em Bissau. Bebia, discursava, declamava…
Conhecidos e desconhecidos, juntavam-se na minha mesa. De Missirá nenhum ouvira falar… Um Alferes médico psiquiatra lembrou-se porém de um Soldado que lá dissera ter estado. Declarado incapaz, passara à peluda.
- Um caso perdido… Metia-se na casa de banho a espreitar os africanos a mijar….
Jorge Cabral
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 7 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3028: Eu, o Jorge Cabral, o António Graça de Abreu e... o Levezinho, no velho/novo Maxime, com os Melech Mechaya (Luís Graça)
(**) Vd. último poste desta consagrada série > 20 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2862: Estórias cabralianas (36): Uma proposta indecente do nosso Alfero (Jorge Cabral)
(***) Vd. 6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2033: In Memoriam (2): O saudoso Amaral da horta e dos presuntos de Missirá (Jorge Cabral / António Branquinho)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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