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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26033: Facebook...ando (65): Valter Santos, em Cucujães, relembrando coisas e gente do seu tempo, em Bissau, no HM 241 (1969/71)


O Valter Santos "deu a cara" para este cartaz da Casa-Museu Regional de Oliveiora de Azeméis, "Mercado às Moda Antiga", 16 e 17 de maio de 2015.

Cortesia da sua página do Facebook

1.  O Valter Santos tem página no Facebook (mas não é amigo do Facebook da Tabanca Grande, até à data, nem membro da Tabanca Grande, para a qual fica desde já convidado). Vive na vila de  Cucujães, concelho de Oliveira de Azxemeis. Esteve no CTIG; cumprindo a sua comissão de serviço no HM 241 (Bissau, 1969/71). Interessa-se por história e genealogia.  Filho de jornalista, estudpou em Coimbra, e tem a paixão da escrita. Reproduzimos, aqui, com a devida vénia, um das suas postagens recentes, em que recorda camaradas do HM 241 bem como dois acontecimentos marcantes do seu tempo.


POR AQUI E POR ALI
Por: Valter Santos
28 de agosto de 2024 


Apontamento histórico dedicado aos que comigo estiveram no HM 241 - Hospital Militar de Bissau, entre 1969 e 1971.

Foram anos pródigos em acontecimentos, que marcaram a história da então província da Guiné - Bissau.

Passados que são 55 anos, muitos desses acontecimentos, vão-se esvaindo nas nossas memórias e aqueles que connosco lá estiveram, estão como eu, "entradotes nos anos" e o ainda "andarmos por cá" é um "agrado" dos Deuses de cada um.

Mas vamos recuar aos nossos tempos "guineenses".

Num dia destes apareceu na nossa página uma foto com antigos camaradas a residiram lá "prós" lados de Setúbal, onde reconheço o muito especial amigo Tomás Semedo, Hugo Morais e outros, que em salutar convívio recordavam a sua passagem pelo HM 241.

Com um abraço a esses colegas, trago aqui a narração de dois acontecimentos passados nos tempos da nossa passagem pela Guiné - Bissau.

Como temos uma "costeleta de historiador",  vou um pouco mais longe e apoiando-nos do espólio herdado do nosso falecido pai, o jornalista Manuel Rodrigues dos Santos (1924-1990), temos na mão a revista "Vida Mundial, nº 1670,  de 11 de junho de 1971 (que mensalmente entrava na nossa casa paterna, sita então na Rua Dias Ferreira, em Coimbra). 

Na capa um retrato da então Assembleia da República, com uma foto do então jovem deputado Pinto Leite, com a seguinte citação do médico (e deputado também dfa Ala Liberla) Miller Guerra:  "Abriu os caminhos da renovação e das liberdades".  A ele são dedicadas as páginas 29 a 38.
 
Acontece que esse deputado de seu nome completo, José Pedro Pinto Leite (1932-1970)(#),  faleceu tragicamente num desastre de um "heli" caído nos céus da Guiné no dia 25 de julho de 1970, nessa viagem acompanhado por mais 3 deputados: James Pinto Bull, Leonardo Coimbra, José Vicente de Abreu, do piloto e o capitão José Carvalho de Andrade, oficial encarregado de acompanhar a representação parlamentar, de visita á Guiné - Bissau, então governada pelo general Spínola.

Nós estávamos em serviço na farmácia do HM 241 e os meus colegas nas mais variadas enfermarias e o Tomás Semedo, "mais sortudo",  na Secretaria.

Outro acontecimento relevante, foi a prisão nas matas guineenses do capitão cubano Pedro Peralta: aconteceu em novembro de 1969, érmos então "periquitos",   recém chegados à província da Guiné,  assim denominados pelos "velhotes",

E com estas lembranças, aqui da Vila do Couto de Cucujães, onde resido, um forte abraço para esses colegas que nesses tempos foram obrigados a "dar" dois anos da nossa juventude, a quem deles se servia, sem nos "dar cavaco nenhum"...  E de olhinhos tapados lá fomos nós até terras da Guiné, Angola, Moçambique, Timor e anos antes Goa, Damão e Dili, na grande Índia, que um dia nos "sacudiu" de lá como se fôssemos incómodas moscas.




Notícia, sem indicação de fonte: c. 22 de Março de 1971. 

Recorde-se que Pedro Rodriguez Peralta, oficial cubano, "interacionalista", de 32 anos,  fora capturado em 18 novembro de 1969 no decurso da Op Jove, no corredor de Guileje. A sua captura foi um grande "ronco" para a propaganda do regime (e para as NT). Para  Fidel Castro, e para Amílcar Cabral,  tornava-se, pelo contrário,  um grande embaraço,  e uma vez nas mãos do inimigo passava a ser um revocionário "descartado"... Gravemente ferido, foi tratado e salvo no HM 241 em Bissau e depois no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.  
Julgado no II Tribunal Militar Territorial de Lisbo, foi condenado, mas a sentença acabu por ser anulada por recurso da acusação pública interposto ao Supremo Tribunal Militar.... Foi novamenmte julgado, em dezembro de 1973, mas desta vez  no I Tribubal  Militar Territorial de Lisboa.... O capitão cubano virá s ser  libertado em setembro de 1974, na sequência de um acordo de troca de prisioneiros entre o governo português e a Guiné-Bissau, entretanto  independente.  
A cobertura jornalística deste caso foi grandemente vigiada pela censura. Por exemplo, o "Expresso" não pôde publicar a foto do cubano na primeira página...
 
Fotos (e legendas): © Valter Santos  (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do autor:
(#) - Tinha na sua árvore genealógica raízes cucujanenses, pois seus bisavós foram os percursores da grande casa da Gandarinha, nomeadamente o visconde Sebastião Pinto Leite (1815 - 1892).

 (Seleçáo, revisão / fixação de texto: parènteses retos: LG)
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Nota do editor:

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25982: Timor Leste: Passado e presente (23): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Anexo II: O tenente, e depois capitão, António de Oliveira Liberato











Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) 

Anexo II:  O tenente, e depois capitão, António de Oliveira Liberato
 
 

1. Não fazia a mínima ideia da existência do tenente (e depois capitão) António de Oliveira Liberato, até começar a ler algo mais sobre a história de Timor.

Afinal foi um dos heróis portugueses de Timor durante a II Guerra Mundial. Era tenente de infantaria, adjunto do comando da Companhia de Caçadores de Timor (constituída por praças indígenas), cujo comandante, cap inf António Maria Freire da Costa (ex-aluno da Escola de Guerra,  incorporado em 1917 para Infantaria, e natural de Lisboa) se terá suicidado, em Aileu, em 1 de outubro de 1941, juntamente com a esposa Maria Eugénia Freire da Costa, e mais outros três portugueses que estavam nessa noite em sua casa, incluindo o médico dr. Dinis Ângelo de Arriarte Pedroso (*).

O António de Oliveira Liberato tem dois livros de memórias sobre esse trágico período, os quais são abundantemente citados pelo médico de saúde pública José dos Santos Carvalho, seu companheiro de infortúnio, autor de "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (Lisboa, 1972, 208 pp.), disponível em formato digital no Internet Archive.

Temos curiosidade em saber algo mais sobre alguns dos homens e mulheres, portugueses e timorenses,  que conseguiram resistir, ativa ou passivamente, à ocupação estrangeira do território (entre dezembro de 1941 e setembro de 1945), e nomeadamente à ocupação japonesa. Vamos,  assim, continuar a publicar mais algumas notas de leitura do livro do citado José dos Santos Carvalho. (*)



 António Oliveira Liberato, capitão: capas de dois dos seus livros de memórias: "O caso de Timor" (Lisboa, Portugália  Editora, s/d, c. 1946, 242 pp.)  e "Os Japoneses estiveram em Timor" (Lisboa, 1951, 336 pp.). São dois livros, de difícil acesso, só dispossiveis em alguns alfarrabistas e numa ou noutra biblioteca pública.


Capa do livro "Quando Timor foi Notícia", de Cacilda dos Santos Liberato (Braga, Editora Pax, 1972, 208 pp.). Encontrei um exemplar na Biblioteca Municipal da Lourinhã. Já o li de um fôlego.   Cacilda foi uma "mãe coragem: viúva de Júlio Gouveia Leite, secretário da administração de Aileu (vítima do massacre de Aileu, em 1/10/1942, a que sobreviveu), irá casar depois  com o tenente António Oliveira Liberato, também ele viúvo, e com um filho de 12 anos, Luís Filipe,  no campo de concentração de Liquiçá, em 1943. Viu a morte á sua frente por diversas vezes. Publicou as suas memórias trinta anos depois. 



 2. A par do advogado portuense, deportado por razões políticas em Timor, Carlos Cal Brandão ("F
uno: guerrra em Timor", Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.),  o tenente António de Oliveira Liberato foi o primeiro a publicar  um relato circunstanciado dos acontecimentos  ocorridos em Timor, entre finais de 1941 e setembro de 1945 ("O caso de Timor" Lisboa, Portugália  Editora, s/d,  c. 1946, 242 pp.).

O que aconteceu depois do seu regresso a Lisboa, aonde chegou a 15 de fevereiro de 1946 ? (*)

É um dos portugueses de Timor que é louvado pelo Governador Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, no final do seu mandato, em 10 de outubro de 1945, 

Estranhamente não há qualquer referência à sua prisão pelos japoneses em 9 de abril de 1944, e à sua deportação, três meses depois, em 11 de julho de 1944, para a  ilha holandesa de Alor, juntamente com o engenheiro geógrafo Artur do Canto Resende, o gerente do BNU João Jorge Duarte e o aspirante administrativo José Duarte Santa. Eram todos "suspeitos" de colaborar com o inimigo (os Aliados).

Só o José Duarte Santa e o tenente Liberato sobreviveram, ao isolamento, aos maus tratos, à fome e à falta de assistência médica. Os dois sobreviventes só foram libertado em 28 de agosto de 1945.

Teor do louvor:

(...) Determinou, S. Ex. a o Ministro das Colónias que, pelo seu especial interesse fossem publicadas no Boletim as seguintes três portarias subscritas pelo Sr. governador de Timor:

PORTARIA N.° 1:137-A

Ao tornar a entrar a Colónia na sua vida normal, pelo restabelecimento pleno da autoridade portuguesa em todo o seu território, é dever do governador da Colónia não esquecer aqueles que, durante um período de extremas dificuldades, bem souberam cumprir o seu dever de portugueses e de funcionários, ocupando através de tudo os postos que as circunstâncias impuseram, trabalhando e sacrificando-se pelo bem comum, não hesitando nas mais rudes provações e dando tudo para serem úteis. 

Todos os portugueses que em Timor se conservaram, souberam, de uma maneira geral e com um elevado espírito de patriotismo, cumprir o seu dever. Para eles são dirigidos neste momento os agradecimentos do governador da Colónia. Alguns houve, porém, e felizmente em número apreciável, que souberam cumprir esse dever por forma a bem merecerem ser distinguidos e terem individualmente público testemunho de louvor.

Nestes termos: O governador da Colónia de Timor, no uso das faculdades que lhe são atribuídas pelo artigo 31.° do Acto Colonial e pelo n.° 21.° do artigo 33.° da Carta Orgânica do Império Colonial Português, determina: 

Que sejam louvados: (...)

— O tenente de infantaria António de Oliveira Literato, pela forma como sempre desempenhou as suas funções de subalterno da Companhia de Caçadores de Timor durante o período da ocupação da Colónia e especialmente pela sua actuação como comandante da força incumbida da repressão da revolta de indígenas da Circunscrição da Fronteira em Agosto, Setembro e Outubro de 1942, em que deu provas de tacto, energia e desprezo pelo perigo que o afirmam como óptimo oficial, com uma nítida compreensão dos seus deveres para com a Pátria e para com os seus chefes. (...)

Fonte: Excerto de "O restabelecimento da Autoridade Portuguesa de Timor", in José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  pp. 132-141.

O governador também louvou seis deportados mas nenhuns dos portuguese que alegadamente se suicidaram.


3. Sobre o tenente Liberato e outros "prisioneiros de guerra", escreveu J. S. Rocha (2022) (**):

(...) Se dúvidas houvesse, sobre o tratamento dado pelos japoneses aos portugueses e timorenses acusados de colaborarem com as forças australianas, atente-se no caso do tenente Liberato. 

No dia 10 de julho de 1944 um militar português, tenente António Oliveira Liberato, e três destacados funcionários civis também portugueses, foram, após detenção e interrogatório pela polícia militar nipónica, a temida kempeitai, transferidos por via marítima para um local de cativeiro situado na ilha de Alor designado Kalabai, onde ficaram detidos numa casa rudimentar, rodeada de arame farpado, à guarda de indígenas armados comandados por um militar japonês. 

"O tenente Liberato, como outros habitantes, acusado de colaboração com as forças australianas e holandesas, tinha sido detido dois meses antes e durante o seu cativeiro em Díli foi sujeito a apertado interrogatório onde não faltaram sessões de tortura, 'suplícios de inenarrável desumanidade'...

"De acordo com diversos relatos, amarrados pelos pulsos com uma corda os prisioneiros eram em seguida pendurados nas grades do cárcere e içados de modo que os pés não tocassem o solo. Seguiam-se sessões intermináveis de interrogatórios e espancamentos, apenas interrompidos por breves períodos para rotação do interrogador ou então, seguindo um qualquer programa de ação psicológica sobre o prisioneiro que passava, depois de espancado, sentá-lo à mesa, conversar amistosamente com ele, fornecer-lhe algum alimento e cigarros sendo em seguida novamente pendurados nas grades. 

"Aos prisioneiros timorenses era também aplicada a chamada 'tortura da água' que consistia em deitar o prisioneiro '(...) de costas, sobre um estrado, amarrados de pés e mãos, na boca um funil introduzido, à força, entre dentes, enchiam de água o estômago do paciente. Expelida pela boca, pelas narinas e pelos ouvidos a primeira dose, repetia-se outra (...).' 

"Em 23 de fevereiro de 1945 faleceu o primeiro português (eng. Canto Resende). Observados por um médico em 20 de março de 1945, aos restantes três portugueses foi diagnosticado beribéri e paludismo sem que, contudo, lhes fosse fornecido qualquer tipo de tratamento. Em 25 desse mês faleceria outro português (gerente do BNU João Duarte) inchado e com graves dificuldades de locomoção. 

"Viriam a deixar a ilha de Alor em 23 de agosto de 1945, chegando a Díli no dia 28 do mesmo mês. Só no dia seguinte, e após intervenção do Governador junto Cônsul japonês, seriam definitivamente libertados." (...) (**)

As autoridades portugueses, já no pós-guerra, em meados de 1946, não se terão mostrado recetivas e colaborantes com a comissáo australiana para a investigação de crimes de guerra cometidos no território.

 (...) Por outro lado, e "no que respeita ao reconhecimento dos actos valerosos levados a cabo por portugueses e timorenses em Timor durante a ocupação japonesa, ele foi efetivo por parte das autoridades australianas e inexistente por parte das portuguesas que se revelaram mais empenhadas em punir exemplarmente muitos dos resistentes de Timor. 

"Ainda antes da invasão japonesa, em janeiro de 1942, o Governador de Timor proibira a população em geral de apoiar as forças australianas e holandesas que tinham entrado no território ilegalmente. Essa proibição voltou a ser anunciada publicamente em agosto e setembro de 1943 passando a contemplar também todo e qualquer apoio prestado às forças militares japonesas. (...) (**) 


4. Não sabemos mais pormenores sobre o  passado miltar do António de Oliveira Liberato. (Teria feito parte do CEP - Corpo Expedicionário Português, 1914/1918, como soldado  ? ... Ao que parece, terá chegado a Timor nos anos 30. Em 1941 era viúva e tinha um filho de 12 anos. Pelas nossas contas, terá nascido em finais do séc. XIX. )

Encontrámos apenas um artigo  sobre o "Capitão Oliveira Liberato", no   Correio de Nisa, 9 de janeiro de 1965 (e que  reproduzimos acima). 

Na altura acabava de se reformar, era "capitão de infantaria QR" , tendo sido louvado, em setembro de 1964, pelo Comando Geral da PSP,  pelos 17 anos dedicados àquela corporação como oficial, ou seja, desde 1947 até 1964.  Era, além disso,  o delegado distrital da Censura.




Regresso  a Lisboa, do tenene Liberato, em 1946, a bordo do N/M Angola, Foto do arquivo de Helena Oliveira Liberato, filha de Cacilda e de António Oliveira Liberato, já falecidos, nascida em Portalegre em 1952. Com a devida vénia à Visão História nº 8, abril de 2010.



5, No blogue A Voz Portalegrense, há um artigo de 20 de junho de 2010, sobre o "Capitão Liberato", da autoria de Mário Casa Nova Martins,

A propósito da nº temático dedicado a “Portugal e a II Guerra Mundial”,   pela revista Visão História n.º 8 , abril de 2010, diz o autor:

 (...) 'Este número fala sobre o caso de Timor, no tempo da ocupação japonesa. E ao fazê-lo, refere o então tenente António de Oliveira Liberato.

"Aquela figura militar foi uma personalidade importante em Portalegre após aquele episódio da História de Portugal, no qual foi interveniente e do qual deixou em dois livros o relato dos factos que protagonizou.

"Conhecemo-lo em Portalegre, no posto de capitão, sem no entanto, e dado a larguíssima diferença de idade, alguma vez lhe tivéssemos dirigido a palavra. (,...)  

"Era uma figura importante do Estado Novo em Portalegre, e recordamo-lo como uma pessoa simpática. Que nos lembre, pertencia à Legião Portuguesa e era responsável pela Censura.

"Como seria de esperar, teve dissabores após a Revolução do 25 de Abril de 1974, tendo estado preso.

"Mas quando regressou, teve sempre o respeito e consideração da maioria das gentes de Portalegre." (...)

E é tudo o que por ora sabemos deste militar, herói de Timor na II Guerra Mundial.
 


Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, 208 pp. Cortesia de Internet Archive. O livro é publicado trinta anos depois dos acontecimentos. O autor terá nascido na primeira década do séc. XX.



Capa do livro de Carlos Vieira da Rocha,
" Timor: ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial,
2ª ed rev e aum, Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1996,  309 pp.




Mapa de Timor em 1940. In: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pág. 11. (Com a devida vénia). Assinalado a vermelho a posição relativa de Maubara e Liquiçá, a oeste de Díli, onde se situava a zona de detenção dos portugueses, imposta pelos japoneses (finais de 1942 - setembro de 1945)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)

 
(Seleção, fixação/ revisão de texto: LG)
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Notas do editor:


(**) Rocha, J. S. (2022). Guerra irregular em Timor: a resistência contra o invasor japonês (1942-1945). In Jorge Silva Rocha (Ed.), Atas do XXX Colóquio de História Militar “A guerra irregular em Portugal: da fundação à atualidade”. (pp. 421-445). Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar. (Disponível em formato pdf, https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/28198/1/conferenceObject_95242.pdf )

domingo, 18 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25856: Humor de caserna (69): Na Op Tridente, entre ferozes combates, também havia lugar para a boa disposição e até para se fazer uns piqueniques na praia, com uns bons nacos de vitela, uma boa perna de cabrito ou uns ovos mexidos de tartaruga (Excerto de Armor Pires Mota, "Tarrafo", 1965, pp. 52/53)


Guiné > Região de Tombali >  NRP Fragata Nuno Tristão > 14 de janeiro de 1964 > A caminho da ilha do Como, a "ilha maldita".
Foi utilizada em apoio de fogo e posto de comando das forças empenhadas na Operação Tridente (jan-mar 1964)  para reocupação da ilha de Como.



Guiné > Região do Oio > Jumbembem >c. 1964/65 > CCAV 488 / BCAV 489 (Bissau, Ilha do Como, Jumbembem, 1963/65) > A padaria


Fotos (e legendas): © Armor Pires Mota  (201). Todos os direitos [Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Armor Pires Mota, que nos honra com a sua presença na Tabanca Grande,  tem no nosso blogue 100 referências. Para além de ter sido camarada nosso, é um hoje um escritor consagrado, com cerca de 3 dezenas de títulos, entre crónica, poesia, romance e ensaio, um parte dos quais sobre a sua experiência humana e operacional  no T0 da Guiné, entre junho de 1963 e junho de 1965. 


Alguns dados biográficos do autor:

(i) nasceu a 4 de setembro de 1939, em Águas Boas, freguesia de Oiã, Olivceira do Bairro;

(ii) estudou no Seminário de Aveiro, tendo chegado a cursar teologia;

(iii) abandonou a carreira eclesiástica, em 1961, ano em que revelou o seu talento lietrário com o livro Cidade Perdida;

(iv) enquanto frequentava o ensino liceal em Sangalhos, foi chamado a cumprir o serviço militar;

(v) foi mobilizado para a Guiné como alferes miliciano, em 1963, sendo alferes miliciano  da CCAV 488/BCAV 489 (Bissau, Ilha do Como, Jumbembem, 1963/65);

(vi) ainda na Guiné começou a publicar no Jornal da Bairrada o seu diário de guerra, sob a forma de crónicas, que, em 1965, iiria reunir em livro, Tarrafo, que a censura mandou rapidamente retirar do mercado (a guerra é retratada com demasiada crueza);

(vii) em 1974, tornou-se pequeno empresário, depois de trabalhar em várias empresas (Caves Aliança e Handy), mas continuou a escrever, colaborando em diversos jornais e revistas. (Fonte: adapt de Palimage)

Alguns dos seus melhores livros, além de Tarrafo - Crónica de Um Alfe5rs na Guiné (2013): A Cubana que Dançava Flamenco (2008); Estranha Noiva de Guerra (2010).



2. Em  Tarrafo: crónica de uma guerra (edição de 1965)  ele relata, na primeira pessoa do singular, o seu quotidiano como alferes miliciano, da CCAV 488/BCAV 489 (1963/65), primeiro na região do Oio (parte 1), depois na Ilha do Como, durante a Op Tridente (parte 2) e por fim na região de Farim (parte 3). Ninguém até então, como combatente, tinha tido a ousadia de o fazer, combater, escrever e publicar no jornal da terra,

Cotejámos, em tempos, as duas edições de Tarrafo (1965 e 1970):  a nossa preferência foi, inequivocamente,  para a primeira, para a sua escrita espontânea, potente, telúrica, de cronista de primeira água, sem autocensura, que voltou a ser publicad na íntegra na Palimage (dem 2013).

Na edição de 1970, revista, o autor foi obrigado a aceitar  os "cortes" impostos pelos censores da época. A 2ª edição (autorizada) perde em vigor, garra, frescura, autenticidade. 

Uma e outra estiveram esgotadas durante anos. Por isso já aqui publicámos, com a devida autorização do autor,  uma parte de Tarrafo [imagem da capa, no lado direito; edição de 1965].


3. Segundo o nosso camarada Mário Dias, outro cronista da Op Tridente, a luta pela reocupação da Ilha do Como travou-se entre 14 de janeiro e 24 de março de 1964. A ilha, onde não havia qualquer autoridade administrativa portuguesa, fora  ocupada pelo PAIGC logo em 1963.

(...) As tabancas existentes são relativamente pequenas e muito dispersas. Possui numerosos arrozais, o que convinha aos guerrilheiros pois aí tinham uma bela fonte de abastecimento, acrescido do factor estratégico da proximidade com a fronteira marítima Sul e o estabelecimento de uma base num local que facilitava a penetração na península de Tombali e daí poderia ir progredindo para Norte.

"Não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha". (...)


Reproduzimos hoje duas páginas deliciosas da edição de 1965 (pp. 52/53), em que o Armor Pires Mota também revela o seu talento como humorista... Afinal, no decurso da Op Tridente, entre ferozes combates, também havia lugar para a boa disposição e até para se fazer uns piqueniques, com uns bons nacos de vitela,  uma boa perna de cabrito ou uns ovos mexidos de tartaruga...Nem tudo foi só guerra na ilha do Como que o PAIGC, com a sua habitual lata, chegou a proclamar como território da República Independente da Ilha do Como.





E, às vezes, até dá para rir.

              − Agarra! Pega essa!


Fonte: In: Armor Pires Mota: Tarrafo: crónica de guerra. Aveiro, 1965, edição de autor (livro retirado do mercado, por ordem da censura), 
pp. 52-53. Excerto da parte 2 [Operação Tridente, Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964].  Cortesia do autor.

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quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25839: Verão 2024: Olá, nós por cá todos bem (3): O bom padre Escudeiro (1917-1994) e a lição que aprendeu um dia, em Alcanena e na Lourinhã: "Nunca se sabe o que se passa no coração dos poetas nem muito menos na cabeça dos censores"...


Lourinhã > Igreja de Samta Maria do Castelo  (Séc. XIV). Gravura de autor desconhecido.n Fonte; Jornal "Alvorada", quinzenário regionalista, Lourinhã, 13 de setembro de 1964.



Poema à Igreja do Castelo

por Luís Graça

Em tuas pedras
Habitam os deuses assimetricamente
Ressuscitam os cavaleiros andantes
Que em ti prolongaram o Eterno.

Tuas naves albergam vagos sibilos
Símbolos escondidos
Pássaros noturnos
E recortam a harmoniosa dimensão do espaço
Em que as palavras se quebram
De encontro ao silêncio das colunas.

Adornaste os teus capitéis
Com as algas do mar
Extraíste das conchas as pérolas
Para o rendilhado das tuas rosáceas
E fabricaste
Com as linhas paralelas dos limos
A tua própria austeridade.

E do alto da tua torre
Como do mastro de um navio
Contemplas a imagem perturbante dos moinhos
E persegues as gaivotas
Até onde o mar tem fronteiras de neblina.

Luís Graça (1964)


Publicado originalmente no jornal Jornal "Alvorada", quinzenário regionalista, Lourinhã, 13 de setembro de 1964.



Lourinhã > Igreja de Santa Maria do Castelo (Séc. XIV) > Vista interior. Fotógrafo: Mário Novais, 1899-1967. Orientador científico: Mário Tavares Chicó, 1905-1966. Data aproximada da produção da fotografia original: 1954.[CFT015.236.ic].



1. Um poema meu, publicado aos 17 anos... (naquela idade em que todos julgamos ser poetas de génio). Dedicado à igreja que é o ex-libris da minha terra. E onde fui batisado em 1947. Pelo padre Tobias. 

Publicado no jornal "Alvorada". Há 60 anos. Foi aqui, no jornal "Alvorada", que comecei a publicar os meus primeiros poemas. A escrever as ,minahs primeiras peças jornalísticas (notícias, reportagens...). 

Foi aqui que tive a minha primeira atividade remunerada como jornalista, embora sem carteira profissional. Foi, aliás, esta a profissão que dei para a tropa, quando aos 20 anos fui à inspeção militar, em 1967. Também dava explicações a alunos do ensino secundário (português, francês, geografia, história...).

Comecei por estar ligado, à criação de uma secção, ou de uma página, a que chamámos "Alvorada Juvenil", com outros jovens da terra, estudantes (e outros,  já a  trabalhar), com destaque para os meus amigos e colegas de escola primária, os saudosos  Álvaro Andrade de Carvalho, mais tarde psiquiatra (Lourinhã, 1948 - Lisboa, 2017) e o Rui Tovar de Carvalho (Lourinhã, 1948-Lisboa, 2014), que haveria, depois, de fazer carreira no jornalismo desportivo. (O Álvaro faria hoje an0s, 76, se fosse vivo.)

Criámos a seguir um secção dedicada ao "correio dos soldados do ultramar", e mais uma outra onde demos voz aos nossos emigrantes (maioritariamennte em França e na Alermanha, ams também no "Novo Mundo", Brasil, EUA, Canadá).

No "Alvorada Juvenil", abrimos um inquérito aos jovens lourinhanenses e alimentámos o "cantinho dos poetas"... 

Havia da nossa parte alguma irreverência, inquietação e inconformismo, próprias da idade e das circunstâncias da época. Acabei por exercer as funções de redator-coordenador deste jornal, quinzenário regionalista, que ainda hoje se publica. E que era propriedade do Patriarcado de Lisboa. Com0o muit0s outros...

Foi fundado ao em 1960, pelo padre António Pereira Escudeiro (Tomar, 1917-Lisboa, 1994), um homem a quem a Lourinhã muito deve e que fez uma aposta forte na formação das elites locais, ou seja, na educação, para além do apostolado e do mister sacerdotal. Equipou o concelho com diversas igrejas novas, construídas de raiz: Seixal, Atalaia, Ribamar, Toxofal...

Foi o fundador e o primeiro diretor do Externato Dom Lourenço, que a partir de 1958 permitiu aos jovens do concelho da Lourinhã prosseguir os seus estudos depois do ensino obrigatório (que era apenas de 4 anos no meu tempo).

Até então e desde 1953, havia um colégio particular,  Dom Luís de Ataíde (fundado em 1953 pelo dr. Piçarra, que era do concelho vizinho do Bombarral). Funcionava num vivenda.  Umas escassas dezenas de rapazes e raparigas da Lourinhã puderam então estudar até ao 5º ano.  O 7º ano só nas capitais de distrito (Leiria, a norte, Lisboa, a sul).

O padre António Escudeiro fora igualmente fundador do jornal "Redes e Moinhos" (1954-1960) (donde fui encontrar, por exemplo, vário sonetos da Luiza Neto Jorge, 1939-1989, que em jovem vinha passar o verão à Praia da Areia Branca.)

Antes de vir para a Lourinhã como pároco, em 1953,  o padre Escudeiro estivera em Alcanena, terra ribatejana da indústria dos curtumes, onde fundara o jornal quinzenário "O Alviela". Será  entretanto suspenso pela censura por ousar publicar um artigo sob o título "A fome em Alcanena" (onde se criticava a banca pelos juros usurários que, no pós-guerra,  levavam à falência das empresas locais, ao desemprego e à fome)...

Estava-se em plena campanha eleitoral do general Norton de Matos. "O Alviela" retomaria a publicação depois de, mediante requerimento, ser expressamente autorizado a versar também "assuntos sociais" (sic).

Mas a verdade é que o padre Escudeiro ficou com ficha na PIDE.

À frente do "Alvorada", como redator-coordenador, durante mais de très anos (de 1964 a 1966), "fiz-me esquecido" e deixei de mandar o jornal à censura... A entrada de jovens fora uma pedrada do charco da pasmaceira e do conformismo em que se vivia nesta terra do oeste estremenho. A última do concelho do distrito de Lisboa. Tinha então 3 médficos, e um pequeno hospital da misericórida. Sem enfermagem, sem bloco operatório, sem banco de sangue. Mas onde se fazia já alguma cirurgia ambulatória... pro médicos que vinham de Lisboa ou Coimbra.

Estava-se em plena guerra do ultramar / guerra colonial mas já na fase de fim de ciclo da história..."Cadáver adiado", o regime do Estado Novo ainda estrebuchava e metia medo a muitos. Não admirava que o diretor do jornal tenha recebido um intimidatório ofício da direcção geral de censura a perguntar por que é que se permitia o luxo de ultrapassar a lei...

Metade do ofício, que era apenas de duas linhas, correspondia a uma assinatura em letra garrafal, símbolo máximo da arrogância  de quem se sentia dono e senhor deste país... A assinatura, ilegível, seguia-se à fórmula, obrigatória, no tempo do Estado Novo (1926-1974), "A bem da Nação, com que terminavam todos os ofícios (e todas as demais comunicações escritas, internas, incluindo discursos, requerimentos, petições, etc.)

O pobre do "senhor vigário" (como a gente o tratava), lá teve que arranjar uma desculpa esfarrapada aos senhores coronéis da censura e, a mim, puxou-me as orelhas... Doravante, tínhamos que mandar os artigos em duplicado para a tipografia, sita em Torres Novas, que por sua vez mandava uma cópia para a censura... E no entanto nunca nenhum de nós escreveu o que que fosse que pudesse pôr em causa a sagrada tríade "Deus, Pátria e Família"!...

Eu acho que os censores embirraram sobretudo com os nossos jovens poetas. Não entendiam nada da poesia moderna e receavam à brava que os jovens lourinhanenses e outros, que colaboravam connosco, escrevessem também nas "entrelinhas", mandassem em código, entre si, perigosas, subversivas e dissolventes mensagens...

Nunca se sabe o que se passa no coração dos poetas nem muito menos na cabeça dos censores...

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Nota do editor:

sábado, 16 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25279: Os 50 anos do 25 de Abril (2): O meu primo Luís Sacadura, furriel miliciano, natural de Alcobaça, hoje a viver nos EUA, estava lá, no RI 5, Caldas da Rainha, no 16 de marco de 1974, e mandou-me fotos dos acontecimentos (Juvenal Amado)


Foto nº 1 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Posto com Reforço.


Foto nº 2 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Capitão Virgílio Varela,  um dos comandantes da revolta


Foto nº 3 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Preparados para defender o quartel


Foto nº 4 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Oficiais revoltosos


Foto nº 5 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Junto à porta de armas: tempo de incerteza (i)


Foto nº 6 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Junto à porta de armas: tempo de incerteza (ii)


Foto nº 7 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > 
Junto à porta de armas: tempo de incerteza (iii)


Foto nº 8 >  Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > O quartel já cercado pelas forças governamentais


Foto nº 9 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Jipe com parlamentar governamental, o brigadeiro Pedro Serrano


Foto nº 10 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Pelo aspecto do brigadeiro,  já se estava no capitulo das ameaças. (A imagem original tem um defeito de revelação ou de exposição, que procurámos corrigir.)


Foto nº 11 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Serviço audiovisuais


Foto nº 12 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Furriel mil Luís Sacadura, meu primo  que me enviou as fotos dos EUA.

Fotos (e legendas): © Luís Sacadura / Juvenal Amado (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Reproduzimos aqui a mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º cabo cond auto-rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 28 de maio de 2011, publicada no poste P8359, de 1 de junho de 2011 (*):
 
O 16 DE MARÇO DE 1974 EM FOTOS

O meu Batalhão estava no Cumeré já a aguardar embarque quando se deu o levantamento das Caldas da Rainha.

Foi com natural apreensão que essas notícias chegaram até nós, pois, já com 27 meses de comissão, os nossos receios viram eventuais atrasos no nosso embarque resultante da situação que se vivia na Metrópole.

Ainda foi alvitrado no gozo, por alguém, que quando desembarcássemos nos seria distribuída novamente as G3 e ainda acabávamos na Serra da Estrela.

Quanto a mim juntava a essas preocupações o facto de o meu primo direito Luís Sacadura, que era furriel miliciano, e o Caetano, que era alferes miliciano, os dois de Alcobaça, estarem nessa altura a cumprir serviço militar no referido quartel e que decerto se teriam envolvido nos acontecimentos, de que resultaram à volta de 200 prisioneiros.

O meu primo já estava em liberdade quando desembarquei em 4 de Abril de 1974, mas o Caetano só o vi depois do 25 de Abril quando foi solto.

Hoje quem lê sobre os acontecimentos os nomes de militares ligados à Guiné, são prova de que o facto terem sido lá combatentes, assumiu um peso muito grande tanto neste levantamento como no 25 de Abril, que levaria por diante o derrube do regime.

Por último, as fotos foram-me enviadas dos EUA pelo o meu primo com a devida autorização para as publicar (...)

2. Comentário do editor LG (*):

(i) Recebemos do Juvenal Amado a seguinte mensagem, com data de 27 de maio de 2011:

"Carlos: Recebi fotos do 16 de Março 1974 a quando do levantamento das Caldas da Rainha. As mesmas foram-me enviadas por um primo meu a morar nos USA que participou na referida tentativa.

"Não sendo assunto directamente associado com a Guiné, venho então saber se ao blogue interessa o assunto. Fico a aguardar a tua opinião e se ela for um sim escreverei alguma coisa para acompanhar as fotos." (...)


(ii) A nossa resposta dos editores só podia ser sim, sem quaisquer reservas... Independentemente da "leitura" dos acontecimentos, e da contextualização do 16 de Março de 1974, seria no mínimo uma "pena" que estas fotos, tiradas pelo Luís Sacadura, de grande interesse documental, e até de boa qualidade estética (traduzindo o momento de grande tensão dramática que foi esse dia), fossem um dia parar a um "caixote do lixo" americano...

Obrigado, Luís ("God Save You!"), obrigado, Juvenal... Tudo o que diz respeito à nossa Pátria e à nossa História, nos interessa, embora com particular enfoque na guerra da Guiné (1961/74)... Mas onde começa e acaba a "guerra da Guiné"? Para nós, que ainda estamos vivos, e cultivamos a arte e o prazer da memória, ela ainda não acabou de todo... 
 
(iii) Cinquenta anos depois do 16 de março de 1974, e do 25 de Abril, todas estas fotos são preciosas (**). O 16 de Março não teve um grande fotógrafo à altura como o Alfredo Cunha (que fez na madrugado do 25 de Abril fez a reportagem da sua vida)... 

São fotos, amadoras, que merecem ser republicadas. Aliás, temos escassas referências no blogue ao "16 de Março" e a imprensa da época, devido à censura, não pôde dar informação detalhada sobre o ocorrido...

Três dias depois os leitores do "Diário de Lisboa", como eu (na época), ficaram a saber, por uma pequena notícia da SEIT (antigo SNI) que tinham  sido presos 33 oficiais (e não 200, como dizia alguma imprensa estrangeira) "implicados na insubordinação verificada no Regimento de Infantaria nº 5"... (Repare-se que nem a RTP Arquivos tem imagens do cerco ao RI 5)...

3. O historiador e biógrafo de Spínola, Luís Nuno Rodrigues, escreveu: 

"No rescaldo do episódio, cerca de duas centenas de militares são presas, entre ele os membros do MFA mais próximos do general António de Spínoala, como Almeida Bruno, Manuel Monge, Casanova Ferreira, Armando Ramos e Virgílio Varela" (...). 

E mais adianta: 

"O '16 de Março'  tinha sido, por conseguinte, uma tentativa algo atabalhoada da 'ala spinolista' do MFA de fazer despoletar um movimento para o derrube do regime e para a entrega do poder ao general. 

"A acção fora em grande parte motivada pela tomada de posição de algins oficiais do CIOE de Lamego (que acabariam por não sair do quartel), pelas atitudes de dois antigos oficiais de Spínola na Guiné (Leuschner Fernandes e Carlos Azeredo) e pelo impeto dos oficiais oriundos de milicianos do RI5  das Caldas da Rainha". (Fonte: Excertos de "Spínola: biografia",  Lisboa: A Esfera dos Livros, 2010, pág. 236).




Diário  de Lisboa, edição de terça feira, 19 de março de 1974, pág, 1
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Notas do editor: