segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26250: Os 50 Anos do 25 de Abril (31): O "virar da página" da revista católica "Flama", cujo diretor era o António Reis, bispo de Mardassuma e capelão-mor das Forças Armadas (1967-1975) - Parte I






Edição nº 1366, Ano XXXI, 10 de maio de 1974 | 
Preço avulso: 10$00 | Angola; 17$50 | Moçambique: 20$00


Excerto da capa da Flama, Edição nº 1367, Ano XXXI, 17 de maio d 1974 | 
Preço avulso: 10$00 | Angola; 17$50 | Moçambique: 20$00


1. Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (*) são também os 100 anos de nascimento de  homens que marcaram a história de Portugal (como Mário Soares, 1924 - 2017) ou a Guiné-Bissau e Cabo Verde (como Amílcar Cabral, 1924 -1973).

Não nos compete, a nós, individualmente, dizer quem fica ou não na História. Nem muito menos é essa a missão do nosso blogue. Não somos hstoriadores.  

Em todo o caso, devemos cobrir, sobretudo com os testemunhos, os escritos e as fotos, dos antigos combatentes, todo o período que abarca a guerra colonial (de 1961 a 1974, e que vai até para lá do 25 de Abril: até 1975 ainda hão de morrer, infelizmente, camaradas nossos, nos três teatros de operações).

De qualquer modo, o português Mário Soares, então exilado (tal como Álvaro Cunhal) foi capa de revista,  no  semanário "Flama", na sua cobertura noticiosa (tardia) dos acontecimentos que marcaram o fim do regime do Estado Novo e do princípio do fim da guerra do ultramar / guerra colonial. Foram dois líderes (vocábulo que não estava ainda grafado nos nossos dicionários, em 1974  usava-se
 o anglicismo "leaders"...) que marcaram fortemente a cena política do pós-25 de abril.

Tínhamos prometido voltar a essa edição (histórica) da "Flama" (**),  órgão oficial da JEC-Juventude Escolar Católica (1937-1983) e que alguns de nós recebiam e liam na Guiné, juntamente com outras revistas como  a "Vida Mundial",  a brasileira "Cruzeiro", a francea "Paris-Match" ou a norte-americana "Play Boy", a par dos jornais diários, de Lisboa e Porto, e pouco mais (alguns mais politizados assinavam a "Seara Nova", o "Comércio do Funchal", o "Notícias da Amadora", o "Jornal do Fundão"...).

A "Flama" era então já uma das revistas mais antigas no panorama da imprensa escrita portugues. Já demos destaque ao seu nº 1000 (edição de 5 de maio de 1967). Era uma raridade ver, na imprensa portuguesa da época, o aparecimento de fotos, com algum dramatismo, de militares portugueses em pleno teatro de operações da Guiné, já então o mais duro das "três frentes" (**).

Nesse número especial (que,  num total de 116 páginas, dedicava 16 ao cinquentenário  de Fátima, na véspera da visita do Papa Paulo VI), era um "privilégio" ter 2 páginas com enfoque, essencialmente fotojornalístico, na guerra da Guiné (mesmo que as fotos fossem de... fotocines do exército!).

Enfim, era a "reportagem possível" de uma revista, respeitável, e até "arejada", originalmente ligada à Igreja Católica, e que, para além dos assinantes, tinha uma boa fonte de receita na publicidade (muita dela já virada, nos anos 60/70, para um "público feminino" com poder de compra, com maior escolaridade e em ascensão social, que no mercado de trabalho os lugres deixados vagos pelos homens chamados para a guerra).

Recorde-se que a "Flama" tinha nascido em 1937, da iniciativa de um grupo da JEC - Juventude Escolar Católica, com a benção de Salazar e do Cardeal Cerejeira. Era então marcadamente "masculina", e de teor "confessional". Começou a redefinir-se a partir de 1944... Em 1967, apresentava-se como  "semanário de atualidades de inspiração cristã" (sic)... Em 1974 era simplesmente uma "revista semanal de atualidades"...

E hoje é considerada um marco importante na história do jornalismo português,  um marco nomeadamente do jornalismo feito por mulheres e para as mulheres. Talvez mesmo uma escola. Por ela passaram mulheres, jornalistas e escritoras, como Maria Teresa Horta, Regina Louro, Edite Soeiro...

Recorde-se que era diretor do semanário o dr. António dos Reis Rodrigues (1918-2009), nomeado em 1966 bispo auxiliar de Lisboa, sob o título de bispo de Madarsuma, e depois com as funções de capelão-mor das Forças Armadas (1967-1975)... Alguns capelões mais contestatários chamavam-lhe, nas costas, o "bispo de Merdassuma"... Mas teve a coragem de ir dizer missa, ao ar livre,  a Gandembel!

Foi também o António Reis, enquanto diretor da "Flama", quem  "virou" e "fez virar" a página da revista (seguramente com a pressão dos seus jornalistas que, em 17 de maio de 1974, elegeram, "democraticamente" e "por voto secreto" um "conselho de redação")... Eis a seguir um excerto do que ele escreveu na edição de 10 de maio de 1974, duas semanas depois do 25 de Abril:


 Edição nº 1366, Ano XXXI, 10 de maio d 1974  (excerto, pág. 3)


 Edição nº 1367, Ano XXXI, 17 de maio d 1974  (excerto, pág. 3)


Em próximo poste selecionaremos algumas fotos da separata da "Flama", sobre o 25 de Abril. Cortesia da Hemeroteca Digital / Câmara Municipal de Lisboa, que conseguiu "salvar" 3 edições históricas da revista, desse ano de 1974 (as de 3, 10 e 17 de maio).

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Muita gente virou a página, isto é, a casaca, não foi só o bispo de Madarsuma e diretor da "Flama"... Vemos isso em todas as "revoluções"...

Valdemar Silva disse...

Nos anos 80's a "Flama" teve um director oficial militar reformado, como aconteceu com várias empresas para o seus sectores de Recursos Humanos.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, nos anos 70 ainda estava na moda as nossas empresas empregarem "sargentos" e "majores" da tropa como "chefes da secção de pessoal"...Como os tempos mudam!... Agora, há pomposamente, um departamento de gestão de recursos humanos!... DE preferência, em "americano", "Human Rources Management"... E à frente, um gajo ou uma gaja que vem da Católica, ou dos States, com um diploma de MBA...

Agora, a coisa pia mais fino, Valdemar. Com 11 anos eras paquete e levavas um piparote no cu, se mijasses fora do penico!... Conheci bem esta fauna...LG