terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26252: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (47): Viagem até Cacheu, onde dormi, passando por Cachungo e Bachile - Parte II: Ao longo da estrada no chão manjaco, encontramos à venda algumas dezenas de ratos-africanos-gigantes (em crioulo "Joquim-doido"), por jovens que os apanham, por 1.500,00 FCA. É a época do arroz quase maduro nas bolanhas, onde eles se alimentam.



Foto nº  6 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Chão manjaco  >  5 de dezembro de 2024 > Jovem vendedor de "joquim-doido",  o rato-gigante-africano (Cricetomys gambianus)


Foto nº  7 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Chão manjaco > 5 de dezembro de 2024 > Um "joquim-doido", esfolado, vendido a 1500 CFA (c. 2,3 euros).


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais duas fotos, enviadas pelo Patrício Ribeiro, que esteve em 4 e 5 do corrente, no Cacheu, fazendo o percurso Bissau - Cachungo -Bachile - Cacheu (e vice-versa) (*)... Eis como ele legendou estas duas fotos:

" Para os que não gostam de peixe... Joquimdoido. Um belo de um petisco. Ao longo da estrada na zona dos manjacos, encontramos à venda algumas dezenas de ratos, por jovens que os apanham, por  1.500,00 CFA. É a época do arroz quase maduro nas bolanhas, onde eles se alimentam."

Joaquim-doido é o nome comum, na Guiné-Bissau, 
O rato-gigante-africano.
Pode atingir um 1 metro
de comprimento (só metade é a cauda),
e pesar 1 a 1,4 kg.
Vive em colónias e é omnívoro.
Fonte: Adapt. de Animalia.pt 
 (com devida vénia...)

do Cricetomys gambianus,  uma espécie de roedor da família Nesomyidae.... Está grafado nos nossos dicionários como "rato-gigante-africano":
 
(...) ZOOLOGIA (Cricetomys gambianus) mamífero roedor, endémico das regiões da África Central a sul do Sara, pode atingir perto de um metro de comprimento (incluindo a cauda, longa) e tem pelagem curta de coloração castanha ou cinzenta, com aros escuros em redor dos olhos e ventre branco. (...)

Fonte: Porto Editora – rato-gigante-africano no Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-10 05:54:27]. Disponível em  https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/rato-gigante-africano

Para saber mais, ver aqui entrada na Wikipédia, em inglês: "Gambian pouched rat"... 

É um animal que também pode ser útil aos humanos, tendo já sido treinado, na Tanzânia, para detetar a tuberculose, e no Cambooja para detetar minas terrestres, implantadas nas guerras civis de 1975/98.  
E também é criado e vendido como "pet", animal de estimação!

2. Patrício, convenhamos, é um petisco caro, para o nível de vida da Guiné-Bissau. 1500 CFA são 2,287 euros....É produto gourmet... Mas um bicho daqueles, alimentado a arroz da bolanha (mas também de outros vegetais, como os frutos das palameiras, e ainda insetos, caranguejos, caracóis, etc.), , é uma grande fonte de proteina... E deve ser uma delícia, bem temperado e cozinhado... Ou será grelhado ? E aquelas patinhas também se comem ? 

Depois do "macaco-cão", temos mais esta iguaria... que não havia no nosso tempo, pelo menos no chão fula. 

 Não vale a pena torcer o nariz de repugnância (nem muito menos vomitar). Os ocidentais detestam o rato, a ratazana e outros roedores, que associam, e bem, aos vetores de transmissão da peste e outras doenças, vindas em geral do Oriente... 

Mas não sejamos tão etnocêntricos. Durante a II Guerra Mundial e no pós-guerra, o rato, a ratazana, etc., matou a fome a muita e boa gente... 

E a gente, caro leitor, sabe lá o que é que já comeu, no passado, do cão ao gato, dois mamíferos, tal como o rato, que fazem parte dos nossos tabus alimentares. Como o porco, para os nossos queridos camaradas fulas e mandingas, que eram muçulmanos.

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18 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não seria uma verdadeira ratazana mas um roedor...

Valdemar Silva disse...

Há uma casta na Índia que são caçadores destes ratos do campo, entregam a caçada aos donos dos terrenos ficam com uma percentagem de ratos que é a sua recompensa.
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Não me lembro dos soldados fulas da nossa CART11 comerem ratu di matu ou ratu garandi, mas julgo que nunca aconteceu.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A Guiné-Bissau é um país pequeno (do tamango do nosso Alentejo...) mas a sua biodiversidade é considerada de "relevância mundial! (!)...

Não confundir o "rato gigante" ou "Joaquyim-doido" com outras espécies, presentes no Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu (PNTC), nomeadamente:

Mastomys coucha (Rato de bolanha);

Thrynomys swinderianus Rato do canavial ou ratazana do capim ou farfana


Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Joaquim-doido", queria eu dizer... E já agora, alguém sabe a história do nome, a sua origem ?

José Carvalho disse...

Desconheço se os soldados fulas englobavam "joquim-doido" na suas ementas, mas no Bironque em Janeiro de 1971, era ementa apreciada pelo menos por um europeu, Barão do K3, como alternativa a cavala com esparguete durante mais de duas semanas. Eu vi .... grelhar, comer e chamar-lhe um bom petisco!

Joaquim Costa disse...

Só me faltava mais esta!!!
No meu livro – Crónicas de Paz e de Guerra (páginas 205 e 206) eu explico tudo sobre o nome Joaquim (em defesa do nome Joaquim).
Sobre o Joaquim doido, estou a investigar. Logo eu que detesto todo o tipo de ratos…

Joaquim Costa.

António J. P. Costa disse...

Durante a 2.ª Acção Garlopa, realizada pela C.Art.ª 3494 encontrámos ratos destes que tinham sido sacrificados em dois barracos de palha nas proximidades de um acampamento do PAIGC que nós desarrumámos e destruímos. Um Ab. António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Oh!, Joaquim... Costa só te faltava mais este..."epiteto". Mas, deixa lá, há mais Joaquins na Tabanca Grande...Conto uns 26, entre vivos e mortos... Os antigos combatentes da Guiné, que aqui se reunem à volta do poilão da Tabanca Grande, têm que ter alguma (saudável) loucura... Portanto, Joaquim-doido tem que ser visto como um elogio... Eu também me assumo como Luís-doido...Um abraço (fraterno). LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ainda não enconteri uma explicação para a alcunha que os guineenses dão ao "bicho", "Joaquim-doido" (ou, talvez melhor, em crioulo, "djoquim-doido")... Parece, pelo que eu li na Net, que o "rato-gigante-africano" vê mal, não usa óculos, mas em contrapartida tem um olfato e um ouvido apuradíssimos (Deus é bom, mas não dá tudo)... Estou a imaginá-lo no mato aos ziguezagues, feito doido, à procura de alimento... Doido, tá bem, mas porquê... Joaquim ?

Anónimo disse...

Que sorte a minha ! Mas um dia destes alguém da Guiné há lembrar-se de chamar António a qualquer outra espécie de ratazana, crocodilo ou macaco. Para já riu-me de ti amigo Joaquim, enquanto puder.

Carvalho de Mampatá

Valdemar Silva disse...

Em crioulo da Guiné não existe a palavra djoquim nem doido, aliás em crioulo não existem palavras com a letra " q ".
Leva-me a querer que foi alcunha arranjada pela rapaziada da tropa num determinado lugar e que pegou sendo levado para outros lados em que também havia ratos grandes que corriam que nem doidos.

Valdemar Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Estrela disse...

Gostava de poder provar esta iguaria. Na Guiné comi bastantes esquilos que, tal como os Joaquins-doidos comem fruta e vegetais.
Abraço
Eduardo Estrela

Valdemar Silva disse...

"Leva-me a crer...", evidentemente.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os manjacos tinham (ou ainda têm) nomes portugueses, cristãos ...Devia haver algum "Joaquim"...lá para aquelas bandas... E doido como o rato de meio metro de cauda... Rato que afinal não era bem rato... Mas que é parecido é...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Afinal, o nosso Joaquim-doido é um herói... no Camboja!

... A detetar minas terrestres!...Cinco anos, com direito a cruz de guerra e reforma... LG

António J. P. Costa disse...

É verdade. Os tais ratos também são treinados na Bélgica para detectar minas porque querem ir ao sítio onde o homem esteve e deixou vestígios. Estica-se um arame sobre a área a fiscalizar. O rato que pesa menos de 500 g vai sobre o arame e tenta descer sobre o sítio onde detectou a mina (vestígios do homem). Nessa altura é retirado e a mina removida pelo sapador. Um Ab. António J. P. Costa