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quarta-feira, 2 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22250: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (86): pedido de colaboração do dr. Ming, sediado em Londres, para projeto de investigação sobre o monumento, mandado erigir em Bolama, em 1931, por Mussolini, "ai caduti di Bolama"


Guné > Bolama > c. 2016 > Monumento italiano , com a inscrição "Mussolini: Ai caduti di Bolama" > "Uma bela fotografia de Francisco Nogueira para o mais belo monumento Arte Deco da Costa Ocidental Africana, com a cordialidade do Mário Beja Santos" (, enviada ao dr.Ming, em 2 do corrente)... Fonte: Rodrigo Rebelo de Andrade e Duarte Pape - “Bijagós, Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016 (com a devida vénia...)



Guiné > Bolama > Agosto de 1966 > O José António Viegas, de pé, no pedestal do "monumento aos pilotos italianos"... "Se me lembro uma das coroas era da fábrica Fiat"...

Foto (e legenda): © José António Viegas (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor, dr. Ming, devidamente identificado, investigador académico, oriundo de uma prestigada universidade inglesa:

Date: quarta, 2/06/2021 à(s) 13:45
Subject: Bolama.
 
Sou investigador, baseado em Londres,  e tenciono desenvolver um projeto de investigação acerca do monumento italiano sito na Ilha de Bolama (Guiné-Bissau) e chamado "Monumento ai caduti di Bolama" (em português: "Monumento aos caídos de Bolama").

O monumento foi erguido pela ditadura de Mussolini no decurso do ano 1931 após cinco pilotos e tripulantes italianos terem falecido ao largo de Bolama a 6 de janeiro de 1931 no contexto das primeiras travessias aéreas transatlânticas entre a Europa e a América do Sul.

Vista a relativa escassez de informações sobre este assunto na literatura científica, estou à procura de fotografias e queria solicitar quaisquer informações gerais, técnicas ou históricas,  suscetíveis de me ajudar neste projeto.

Agradecendo de antemão todas as sugestões, endereço ao blogue as minhas melhores saudações.

Fico ao seu dispor para mais informações.

Saudações académicas,

Dr. Ming
Endereço de correio eletrónico:    bolamamonument@gmail.com 

PS - Muito obrigado, Luís Graça, pela sua pronta resposta ao meu pedido de ajuda e por disponibilizar os links dps postes que eu não consegui encontrar, para além do

Parabéns pelo seu site que contém inumeráveis informações pelo estudo e pela memória dum tão importante período da história de Portugal e da Guiné. A fim de manter um relativa anonimato na fase inicial da pesquisa, resolvi, até por sugestão sua, indicar apenas o meu apelido. Além disso, receio poder receber milhares de spams se o meu endereço eletrónico, pessoal ou profissional, fosse compartilhado no espaço público da Internet.

2. Resposta do nosso editor; 

Caro Ming: retomando a nossa conversa, obrigado pelas suas referências elogiosas ao blogue, e por ter aceite a minha sugestão para publicar a sua mensagem original, com as necessárias (e aconselháveis) adaptações,

Faço daqui apelo a mais contributos dos nossos leitores... Muitos dos militares portugueses, entre 1961 e 1974, passaram por Bolama, por aí haver um Centro de Instrução Militar,

Por outro lado, recordo aos meus camaradas que os acadmécios gostam de ser discretos em relação ao que estão a fazer e onde, nomeadamente na faze inicial dos seus projetos.

Saudações académicas, Luis Graça, Ph D

PS - Vou reencaminhar o seu pedido original ao nosso colaborador permanente e membro deste blogue coletivo, o Mário Beja Santos, autor do poste P17810:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/09/guine-6174-p17810-historiografia-da.html

Mas aproveito para lhe indicar os links de outros postes com referências ao monumento "ai caduti de Bolama", com conhecimento aos seus autores,

Se nos autorizar, publicamos a sua mensagem no nosso blogue... É possível que ainda apareçam mais informações (e nomeadamente fotos) deste monumento erigido pela Itália de Mussolini aos seus aviadores caídos em Bolama, no Arquipélago dos Bijagós, em 1931.

Boa saúde, bom trabalho. O editor, Luís Graça, Ph D.

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https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/11/guine-6374-p7212-album-fotografico-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/08/guin-6374-p2030-o-cruzeiro-das-nossas.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/02/guine-6374-p14213-historiografia-da.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/11/guine-6374-p10713-memoria-dos-lugares.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/09/guine-6374-p6979-actividade-da-cart-730.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/12/guine-6374-p5404-postais-ilustrados-17.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2005/08/guine-6374-clxxiii-informacao.html

3. Resposta do nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos:

Meu prezado Ming, o blogue e eu agradecemos-lhe os elogios, fazemos votos para que o seu trabalho venha a ser muitíssimo bem-sucedido. Falei há pouco com a Dr.ª Helena Grego, da Biblioteca da Sociedade de Geografia, pedi-lhe a amabilidade de ver nas publicações oficiais da Guiné o registo do acidente aéreo que vitimou membros da equipa que vinha fazer a viagem de travessia do Atlântico Sul, a partir de Roma. No meu livro sobre o BNU - Banco NacionalUltramarinio, da Guiné, creio que refiro superficialmente o que escreveu o delegado do banco.

Haverá com certeza referências à inauguração do monumento, ilustrações sobre o mesmo não faltam, houve uma tentativa a seguir à independência para o dinamitar, ficou felizmente intacto. Amanhã à tarde vou para a biblioteca ver o que existe e depois escrevo-lhe. Com muita cordialidade, Mário Beja Santos (...)

segunda-feira, 18 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19599: Notas de leitura (1160): “Bijagós, Património Arquitetónico", por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, Fotografia de Francisco Nogueira (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,

O livro é irresistível, pelo rigor do conteúdo e pela preciosidade das imagens. Os Bijagós sempre provocaram um grande fascínio tanto pelos dons naturais, pela cultura, pela identidade do povo que durante séculos viveu em contenda com o continente, nomeadamente com os Beafadas, os vizinhos mais próximos.

Não se pode ficar indiferente com estes cadastros do legado colonial, impressiona o que se construiu e o que ainda está a tempo de ser conservado. Felizmente que alguma cooperação garante restauros e trava o aniquilamento de edifícios emblemáticos do que fora concebido com capital com contornos imperais.

Quem perdura o seu amor pela Guiné não pode deixar de olhar esta obra primorosa sem orgulho e indignação.

Um abraço
do Mário



Bijagós e o seu património arquitetónico: que beleza de livro!

Beja Santos

O património arquitetónico dos Bijagós é uma edição da Tinta-da-China, tem por autores Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade e fotografias de altíssima qualidade de Francisco Nogueira. Tem história, enquadramento urbanístico, análise do espaço tradicional Bijagó e do espaço colonial e desvela os mais significativos edifícios coloniais. 

Na base do empreendimento está o projeto “Bijagós, Bemba di Vida! Ação cívica para o resgate e valorização de um património da humanidade”, uma parceria do Instituto Marquês de Valle Flôr e da organização não-governamental Tiniguena. Trata-se de um estudo que se insere no projeto de conservação dos recursos naturais e de desenvolvimento socioeconómico numa das zonas centrais da Reserva da Biosfera do Arquipélago de Bolama-Bijagós: as ilhas Urok.

Os autores preparam-se bem e o resultado está à vista, nesta edição cuidada, edição para guardar pelo cuidado posto no grafismo e na riqueza das imagens, fala-se dos Bijagós e de um património colonial que ameaça ruína, as imagens são tão impressivas que ninguém pode deixar de indignar-se com o descalabro que por ali vai.

A herança arquitetónica bijagó compreende o passado, através da compreensão dos textos, dos enquadramentos e das suas influências em comparação com outros patrimónios guineenses e coloniais; está o registo fotográfico do património existente e indaga-se o futuro, alguém tem que responder pela salvaguarda de um património comum de uma região com 88 ilhas e ilhéus, num total de 10 mil quilómetros quadrados. 

Há menção dos Bijagós em documentos dos descobridores a partir de 1457, são da maior importância as narrativas do navegador veneziano Luís de Cadamosto e do navegador genovês Uso de Mare. Os primeiros registos cartográficos surgiram em 1468 quando o navegador alemão Valentim Fernandes terá chegado às imediações de Canhabaque.

O processo de crescimento de Bolama está relacionado com a história e a cultural mercantil na região de Quínara e no rio Grande de Buba. O povo Bijagó vivia em permanente tensão com os Beafadas que se espraiavam entre Tombali e Fulacunda. A presença portuguesa era episódica e a hostilidade Bijagó indisfarçável aos colonos. Bolama foi fundada em 1752, muito depois de outras vilas e cidades da Guiné, quando o governo português ordenou ao Coronel Francisco Roque de Sotto-Mayor, Governador de Bissau, que tomasse posse da ilha, erguendo um padrão esculpido com as armas dos reis de Portugal. Recorde-se que a ilha de Bolama só pertenceu oficialmente a Portugal em 1870, após a arbitragem pelo presidente norte-americano Ulysses Grant do conflito luso-britânico.

A estrutura urbana baseia-se em modelos europeus: grelha ortogonal, reticulada, implantada a nordeste da ilha, e em contracto direto com o mar. Impuseram-se inicialmente os edifícios da Alfândega, o Palácio do Governador e Casa Comercial Gouveia. Surgiram depois outros edifícios-chave: o Banco Nacional Ultramarino, a Escola, o Arsenal e o Hospital, a Câmara Municipal e os Paços de Concelho. A escala da cidade de Bolama, observam os autores, é definida por um grande número de edificações térreas, pontualmente marcada por construções com dois ou mais pisos. Nos anos 20 do século XX, surgem planos da autoria do engenheiro Guedes Quinhones inspirados nos modelos humanos ingleses do final do século XIX, da Garden City, de Sir Ebenezer Howard e dos ideais norte-americanos da City Beatiful Movement.

Quando Bolama deixou de ser capital, em 1941, tentou-se torná-la um destino turístico muito apetecível, daí as piscinas municipais, o cineteatro e o complexo balnear da praia de Ofir. Hoje, os seus largos e praças perderam grande parte do caráter, em virtude do abandono dos serviços públicos. Era tal a beleza e a graciosidade da cidade que muitos a tratavam por Nova Mindelo e nos meios intelectuais dizia-se que aqui se tinha radicado o berço do crioulo.

Folheia-se o álbum fotográfico e sentimos o coração pequenino com as ruínas do antigo Palácio do Governador, as ruínas de Bubaque, estão entregues às ervas a casa de férias de Luís Cabral e as casas inacabadas para generais. De premeio, os autores mostram-nos a organização das tabancas Bijagós, construídas em clareiras, têm um ar delicado na envolvente paisagística.

Uma imagem muito bela pode potenciar no leitor um cruel sofrimento, ele tem que perguntar porquê a decomposição daquele edifício da central elétrica, como ainda guarda majestade a Câmara Municipal em ruínas, como é grotesco o belo exótico das ruínas do Hospital Militar e Civil, e como ainda resiste o Palácio do Governador e o Quartel Militar. Há uma Bolama que nasce e renasce. Por exemplo, o edifício da Alfândega foi totalmente recuperado pela cooperação espanhola, AICCID. O cineteatro de Bolama resiste, é um assombro de Arte Deco já tardio. A Escola Superior de Educação é um dos equipamentos de maior interesse da Bolama atual. Ficamos sem fôlego a ver a notável Imprensa Nacional, os autores advertem para o seu enorme potencial turístico e museológico.

A análise patrimonial não se circunscreve à ilha de Bolama, já se falou de Bubaque, Canhabaque tem património em decadência, aqui se mantém de pé o monumento comemorativo das operações de pacificação de 1935-1936.

Os autores concluem que é muito grande a qualidade patrimonial deste arquipélago e que é iniludível a importância do legado patrimonial do colonialismo português, ainda há muita recuperação, conservação e restauro que podiam tornar esta região muitíssimo apetecível pelos dons que a natureza que lhe ofereceu.

Enquanto lia com sentimentos contraditórios este álbum de indiscutível interesse, procurando conhecer as linhas da presença colonial, tanto na fase de consolidação de Bolama como capital da província da Guiné e o período posterior, até ao momento da independência, sempre de coração contrito com o património em ruínas, lembrava da visita que aqui fiz em 1991, a embarcação a chegar ao cais de onde se avista aquele espantoso monumento em pedra que Mussolini ofereceu à cidade de Bolama em homenagem aos aviadores italianos mortos, procurava as placas esmaltadas com os nomes insignes dos políticos da I República que aqui ficaram consagrados, passeara-me neste mar de ruínas perplexo como era possível dois povos espezinharem esta esplendorosa memória de uma vida em comum.

Pescadores bijagós
Imagem retirada do blogue LusONDA, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19588: Notas de leitura (1159): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (77) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14213: Historiografia da presença portuguesa em África (57): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: monumentos - Parte I (Mário Vasconcelos): destaque para o edifício da administração civil (Bissau) e o monumento aos pilotos italianos mortos em 1931 (Bolama)











Imagens de zincogravuras, reproduzidas, bem como as legendas,  com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Digitalizações: Mário Vasconcelos (2015) / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. Trata-se de uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição, no espólio do seu falecido pai.


A segunda foto, a contar de cima, diz respeito ao edicio da administração civil que ficava na avenida principal de Bissau, a Av da República, que vinha da Praça do Império até ao cais do Pidjiguti (, hoje, Avenida Amílcar Cabral), no lado esquerdo quando se descia... No mapa com os edifícios construídos no tempo do Estado Novo, publicado por Ana Vaz Milheiro, é o nº 17 (Vd. poste P14211, de ontem). Um quarteirão antes, ficava a sé catedral (nº 2), seguida depois pelo cinema UDIB (nº 16) e na praça do Império ao monumento "Ao Esforço da Raça" (nº 14) e o palácio do Governo (nº 1).

O edifício da administração civil data do período de 1950-59, sendo da responsabilidade do Gabinete de Urbanização do Ultramar (GUU). Este e outros edifícios administrativos construídos na época "não inovam tipologicamente em relação aos seus congéneres oitocentistas" da metrópole: apresentam "um composição baeada em volumes depurados e representativa da organização interna".  Exemplos de uma arquitetura "monumental e propositadamenrte figurativa", são todavia bastante simplificados em termos ornamentais, "talvez por influência dos princípios incutidos por Sarmento Rodrigues (grande durabilidade; forte resistência aos maus tratos; baixo custo de manutenção" ) [Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), p. 103].

2. Sobre a primeira foto, com o monumento aos pilotos italianos... Já aqui abordámos o tema (**). Trata-se de um homenagem da Itália de Mussoilini aos seus 5 aviadores, vitimas de queda dos seus aparelhos em 5 de Janeiro de 1931 quando faziam a ligação Itália/Brasil com escala por Bolama.

Não é por acaso que a Itália (e os italianos. incluiindo os seus missionários...) sempre tiveram um olho nos antigos territórios da Guiné e de Cabo Verde... Já em 1939, antes da guerra - se não me engano - o Governo português autorizara o Mussolini a arrancar com o seu ambicionado projecto de construção de uma aeroporto na Ilha do Sal, indispensável para a ligação da Itália com os países da América do Sul onde residiam importantes comunidades italianas... A guerra frustrou os intentos de ambos os Governos.

Mas já antes, no início de 1931,  tinham caído na Guiné, em Bolama, então capital da colónia, dois hidroaviões da esquadrilha de Italo Balbo (o Gago Coutinho italiano...) que tentava fazer a ponte aérea entre Roma e o Rio de Janeiro...

Desse desastre resta na ilha de Bolama, ainda surpreendentemente intacto (?), um monumento em pedra com a legenda "Mussolini ai Caduti di Bolama», inaugurado em Dezembro de 1931...

A esquadrilha, com 14 aparelhos, de Italo Balbo (apontado mais tarde como um rival de Mussolini, e morto em 1940, na Líbia, pela prórpia artilharia antiaérea italiana!), chegou a Bolama no dia de Natal de 1930. Era o último ponto de paragem em África, justamente por ser o mais próximo de Porto Natal, no Brasil. Depois de vários dias em Bolama para reparações e à espera de condições atmosféricas favoráveis, voltaram a levantar voo a 5 de janeiro de 1931. Caíram 2 aparelhos, provocando 5 mortos. Os restantes chegaram ao Rio de Janeiro,  no dia 15. 

3. O jornalista e escritor português Amândio César visitou, em março e abril de 1965, a Guiné, em missão de reportagem para a Emissora Nacional. Visitou naturalmente, Bolama, tendo escrito sobre este monumento o seguinte: 

(...) "Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. 

É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado." (...)

Fonte: Extratos de: César, A. - Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax, 1965.

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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10713: Memória dos lugares (196): Bolama, Agosto de 1966 (José António Viegas)



 


Monumento aos Pilotos italianos (**)

Bolama, Agosto de 1966


1. Mensagem do nosso camarada José António Viegas* (ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68), com data de 17 de Novembro de 2012:


Da minha estadia em Bolama, antes de ser colocado com o meu Pel Caç Nat 54 em Mansabá, lembro-me bem daquela cidade já em degradação mas ainda com várias edificações em bom estado, como os correios, junto à piscina do Cabo Augusto onde se passavam os bons tempos de lazer, a casa do Governador e o Hotel, que estava em boas condições, onde muitos camaradas vinham descansar e passar férias.

No fim de Agosto, depois de ter terminado o treino operacional, seguimos para Bissau e depois para Mansoa, numa coluna enorme, onde se juntaram mais militares com destino a Mansabá.

A coluna até Cutia decorreu com normalidade, mas a partir daqui foram tomadas todas as precauções até Mansabá, onde se ouviram alguns tiros e aviso.

Em Mansabá estivemos 45 dias com a CCAÇ 1421. Aqui começa a nossa entrada na guerra. Logo nos primeiros dias fomos fazer um golpe de mão e, como tal, foi posta à prova a nossa impreparação para reagirmos debaixo de fogo. Quando se chegou ao objectivo, foi lançado o ataque pelo homem da bazuca e, debaixo daquele fogachal, eu de pé com as balas a assobiar sem saber o que fazer.

Aqui começa a minha preparação com os melhores operacionais, os meus soldados nativos, o meu Cabo Ananias Pereira Fernandes, o homem que não gostava de G3 e só usava a Madsen, que me joga para o chão e me ensina a organizar e dispersar debaixo de fogo.

Lembro-me o que aprendemos em Vendas Novas com aqueles filmes da guerra da Argélia, no meio de dunas, e nós íamos para a selva, enfim ainda havia poucos formadores com experiência de combate.

Acabo aqui a primeira fase de Mansabá voltarei às peripécias destes 45 dias. (***)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10626: Tabanca Grande (368): José António Viegas, natural de Faro, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54 (1966/68), grã tabanqueiro nº 587

(**) Homenagem de Mussolini aos 5 aviadores italianos, vitimas de queda dos seus aparelhos em 5 de Janeiro de 1931 quando faziam a ligação Itália/Brasil com escala por Bolama.

Vd. também excerto publicado na I Serie do nosso blogue:

(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opôs. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidroaviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado. (...)

Fonte: Extractos de: César, A. - Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax, 1965.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9674: Meu pai, meu velho, meu camarada (27): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto S. Santos)


Setúbal > RI 11 > 1940 > Enquanto recruta...
Feliciano Delfim dos Santos
Natural de Lisboa, nasceu a 20 de Abril de 1922; faleceu a 18 de Março de 1989



1. Texto de Augusto Santos Silva para a série "Meu Pai, meu velho,meu camarada" (*):


O meu pai terminou a recruta em Julho de 1940 e frequentou posteriormente a escola de cabos. Foi como 1º Cabo, com a especialidade de Observador Telemetrista, que foi mobilizado para fazer parte do 1º Batalhão Expedicionário do RI 11 / 1ª Companhia, com destino à então Colónia de Cabo Verde, durante o periodo da 2ª guerra mundial.





Partiu em meados de Junho de 1941 no navio a vapor João Belo, tendo desembarcado na cidade da Praia, Ilha de Santiago,  a 23 do mesmo mês. No entanto o Batalhão viria a ser colocado na Ilha do Sal, a mais inóspita de todas as ilhas do arquipélago, onde já não chovia há 5 anos, não havia árvores, água potável, fruta, e legumes frescos. (**)

Pelos seus relatos que, ainda guardo na memória, esta foi a pior das situações que registou em todas as ilhas por onde passou (Santiago, Sal, Santo Antão e S. Vicente), onde a água supostamente potável para consumo diário era racionada (não chegava a um cantil) e, para banhos, só havia água salgada.




Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Aspecto de como grande parte da população vivia no interior da ilha... [ Em 1940 e depois em 1942 e anos seguintes a seca prolongada foi responsável por uma das maiores catástrofes demográficas da história de Cabo Verde: este é o pano de fundo do romance Hora di Bai, publicado em 1962, pelo escritor português Manuel Ferreira (1917-1994), também ele mobilziado como expedicionário em 1941, para São Vicenre] .



Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Feiticeiro, fotografado com os seus adereços e talismãs...



Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Festa de São João

Dos cerca de 1.000 homens que inicialmente compunham o Batalhão, no final só viriam oficialmente a regressar incorporados no mesmo, cerca de 500. Morreram na missão perto de 20 militares (todos eles por doença), e os restantes foram regressando antecipadamente por baixa médica, igualmente acometidos pelas mais diversas doenças (escorbuto, tifo, paludismo, anemia, disenteria, etc.) originadas pela falta de condições para uma vida normal. (**)

Felizmente naquela altura não havia guerrilheiros, minas, emboscadas, etc., ou seja, guerra propriamente dita mas o clima, a alimentação deficiente, e as condições em que viveram aqueles anos naquelas ilhas, encarregavam-se de fazer as suas vítimas e foram suficientes para reduzir o Batalhão a 50% dos seus efectivos. [Veja-se aqui o plano de defesa de Cabo Verde, elaborado por Santos Costa, em 1942]



Cabo Verde > Ilha de Santiago > 1941 >"O meu pai é o primeiro da direita"



Cabo Verde > Ilha do Sal > 1942 > O 1º cabo F. Delfim


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2012). Todos os direitos reservados


O regresso à Metrópole deu-se no início de Dezembro de 1943, e a passagem à disponibilidade no final do mesmo.

Quiçá, estas foram também algumas das razões para o meu pai ter falecido com 66 anos de idade. A sua passagem por Cabo Verde deixou-lhe marcas profundas física e psiciologicamente, apesar da ausência de guerra efectiva.

Lembro-me ainda de contar que,  na sua passagem por aquelas terras, chegou a viver maritalmente com uma local, de seu nome Maria Helena Almeida, de quem viria a ter um filho chamado Fernando Almeida Santos (hoje teria 70 anos de idade). Ambos faleceram prematuramente por doença, sem que ele o conseguisse evitar. Há relatos de que os anos 40 foram especialmente difíceis em Cabo Verde, havendo ilhas em que as populações foram fortemente atingidas pelas mais diversas epidemias. [Vd. Hora di bai, romance de Manuel Ferreira, capa da edição da Europa-América, coleção Livros de Bolso Europa América]

Referenciou por inúmeras vezes a completa miséria em que as populações daquelas ilhas viviam na altura, e o que os militares faziam (apesar dos parcos recursos) para tentar minimizar o seu sofrimento, nomeadamente das crianças.

Apesar dessas condições desumanas, dizia que na generalidade o povo caboverdeano era alegre e muito virado para a música. Todas as ocasiões eram motivo para uma festa, com as suas improvisadas batucadas, mornas, coladeiras, e funanás, das quais sempre se mostrou muito saudoso. Recordo-me perfeitamente de o ver com lágrimas nos olhos a ouvir Fernando Quejas [1922-2005], aquele que durante muitos anos foi a única referência da música de Cabo Verde em Portugal, com discos gravados. Só muito anos mais tarde se daria o salto para aquilo que conhecemos hoje da real dimensão da musicalidade daquele povo.

Regressado à vida civil, viria a exercer a sua profissão de serralheiro civil, mas as dificuldades em arranjar trabalho condigno e normalmente renumerado mantinham-se, situação que infelizmente estamos de novo a viver.

Lembro-me de contar uma passagem da sua vida, que o marcou profundamente. Estando a trabalhar numa empreitada da qual era responsável o célebre Engº Duarte Pacheco, mais tarde membro do governo, e de alguns trabalhadores se lhe terem dirigido (entre eles o meu pai) a solicitar um pequeno aumento de salário, de este lhes ter respondido não ter conhecimento que o pão e as azeitonas tivessem tido qualquer aumento nos preços. Isto demonstra bem como era viver naquela altura.

Mais tarde viria a concorrer para os quadros do pessoal civil da Marinha de Guerra, onde exerceu a profissão de Maquinista em diversas embarcações (rebocadores e vedetas de transporte de pessoal),  inicialmente no antigo Arsenal de Marinha em Lisboa e posteriormente na Base Naval do Alfeite. Foi com a categoria equivalente a Sargento Ajudante que viria a ser reformado aos 56 anos de idade.

Ainda durante a sua passagem pela Marinha, teve a infelicidade e preocupação (como tantos pais e mães neste país) no início dos anos 70 de ver partir os seus 2 filhos para a Guerra do Ultramar, mais propriamente para a Guiné.

Contou-me por diversas vezes que, ao saber da minha mobilização (o meu irmão já lá estava há quase 1 ano), ainda tentou solicitar que esta fosse para uma outra frente sem um verdadeiro teatro de guerra (por exemplo Cabo Verde ou S. Tomé), pelo que se dirigiu ao então Tenente de Marinha Alpoim Calvão, na altura na Escola de Fuzileiros no Alfeite, de quem era mais ou menos próximo por alguns serviços prestados, para saber se haveria alguma hipótese de, de uma forma oficial, fazer tal solicitação. A resposta desse senhor foi de que o meu pai se deveria orgulhar por conseguir ter os 2 filhos, em simultâneo, na guerra a defender o país, e que por tal facto ele era um privilegiado. Enfim…

Apesar de algo debilitado fisicamente, pois tinha uma atrofia num joelho devido a diversas operações, e estava cego de uma vista por acidente em serviço, ainda ajudou a criar 4 netos que também o recordam com muita saudade, pelas suas manifestações de amor e carinho sempre presentes.

Foi um bom pai e avô para a sua época, era um homem paciente e bom,  apesar das agruras da vida e, no dia em que partiu, deixou um vazio na vida de todos nós, por tudo aquilo que ainda ficou por viver.

Esta é a minha homenagem ao meu pai, meu velho, meu camarada!


Augusto Silva dos Santos [, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73]
_________________

Notas do editor:

(*)Último poste da série > 25 de amrço de 2012 > Guiné 63/74 - P9657: Meu pai, meu velho, meu camarada (26): Porfírio Dias (1919-1988), ex-sold aux enf, Cabo Verde, São Vicente, Mindelo (de 18 de julho de 1941 a 7 de maio de 1944) (Luís Dias)


(...) Comentário do Augusto Silva Santos (em 19 do corrente):

"Camarada e Amigo Luís Graça, nem calculas como as tuas sábias palavras sobre o teu pai também a mim me tocam. Faz hoje precisamente 23 anos que o meu saudoso pai foi a enterrar. Se fosse vivo, teria perto de 90 anos (faria essa bonita idade no próximo mês de Abril). Tal como o teu, também ele esteve na década de 40 em Cabo Verde, mobilizado pelo R.I.11 (Setúbal) com 18 anos de idade. Lembro-me com saudade de também ele falar na música daquele arquipélago e, de algumas vezes, o ver com lágrimas nos olhos quando ouvia uma morna. Que coincidência ... Muito obrigado por me teres feito recordar bons momentos. Um grande abraço. Augusto Silva Santos" (...)

(...) Resposta de L.G. (em 20 do corrente):

"Querido camarada: Obrigado pelas tuas palavras amigas... Tenho pena que o teu pai já tenha partido precocemente... Compete-nos a nós lembrar essa geração, de gente anónima, que durante a II Guerra Mundial também soube dar o melhor da sua juventude no esforço de defesa do país e dos seus territórios de além-mar...

"Tens fotos de Cabo Verde, do álbum do teu pai ? Não as queres partilhar connosco para esta série Meu pai, meu velho, meu camarada' ? Já descobrimos que o meu, bem como o pai do Nelson Herbert (jornalista, guineense, a da Voz da América) e do Hélder Sousa (que vive em Setúbal) estiveram em Cabo Verde como expedicionários... Fala-nos do teu pai, nosso camarada... Quando e onde esteve, etc. Um abração. Luis" (...).

(...) Resposta imediata do Augusto Santos (a 20):

"Olá,  Luís, Bom Dia!

"Obrigado pelo teu desafio. Estou já a preparar algo sobre o tema para te enviar. Estou só a ultimar as minhas pesquisas e a confirmar alguns dados. Também já tenho algumas fotos.
Um Abraço, Augusto Silva Santos". (...)

(**) Veja-se aqui um excerto do depoimento da filha de António Gavina, outro expedicionário do RI 11, na Ilha do Sal. Fonte: "Viver em Cabo Verde à espera da invasão". Diário de Notícias. 14 de Abril de 2005. (Reproduzido com a devida vénia):

(....)"Eles eram missionários, homens com uma missão de paz e não de guerra. O seu objectivo era defender Cabo Verde de uma possível invasão alemã durante a II Guerra Mundial." A história de um desses soldados, António Gavina, do corpo expedicionário do Regimento de Infantaria 11, de Setúbal, é contada pela sua filha, Vanda Gavina.

"O meu pai devia ter vinte e poucos anos quando foi para a ilha do Sal. Acabou por ficar lá durante quase quatro anos", recorda. Os pormenores da passagem do pai pelo arquipélago de Cabo Verde já começam a ser esquecidos, mas uma coisa ficará para sempre na sua memória "Eles não passavam fome, mas viviam em muitas dificuldades, com muitas restrições."

Os anos da II Guerra Mundial foram anos de seca nas ilhas do Atlântico. A comida não abundava e os soldados alimentavam-se com aquilo que podiam. As recordações desse tempo deixaram marcas em António Gavina. "O meu pai nunca mais comeu percebes na vida. Tudo porque em Cabo Verde viu um dos habitantes locais morrer quando os tentava apanhar", referiu Vanda Gavina.

Outro dos problemas que o regimento teve de enfrentar foram as doenças. "Lembro-me de o meu pai contar que houve muitos colegas que morreram devido a alguns surtos de doenças que afectaram os homens da companhia."


Em 1939, pouco antes do início da II Guerra, Portugal autorizou o Governo de Benito Mussolini a construir um aeroporto na ilha do Sal, para servir de ligação com os países da América do Sul. Com o início do conflito, o projecto italiano, com casas prefabricadas, foi abandonado. Enquanto aguardavam a invasão alemã, que não chegou, os soldados portugueses ajudavam à criação de melhores condições de vida. "Eles ajudaram a construir habitações, não só para eles mas também para os cabo-verdianos", lembra Vanda Gavina. (...)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7212: Álbum fotográfico de José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar,): Com o PAIGC em Gadamel (Maio) e em Cufar (Agosto)... e em ainda em Bolama


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 4152/73 (1974)  > Maio de 1974 > Apresentação do comissário político do PAIGC ao Régulo de Gadamael



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4152/73 (1974) > Agosto de 1974 (?) > Cerimónia da entrega do aquartelamento de Cufar ao PAIGC



Guiné > Bijagós > Bolama > s/d [ 1974] > O José Gonçalves  junto ao  monumento  que dizia "Mussolini,  ai caduti di Bolama" [ , De Mussolini, aos caídos em Bolama] 

Fotos (e legendas): © José Gonçalves (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagerm do José Gonçalves, nosso camarada e amigo que vive na diáspora, no Canadá, e que foi Alf Mil da CCAÇ 4152/73, tendo estado em Gadamael entre Janeiro e Julho de 1974:

Caro Luis:

Já há muito tempo que estou faltoso por não te em enviar as tais fotos da praxe, condição aliás do enlistamento no Blogue. Aqui tas envio com mais algumas como:

(i) a apresentação do comissário político ao Régulo de Gadamael;

(ii) a cerimónia da entrega de Cufar ao PAIGC;

(iii) e a do célebre monumento em Bolama que dizia "Mussolini ai caduti di Bolama" (**), e que eu dedico a todos aqueles camaradas que por lá passaram.

Cumprimentos para todos
José Gonçalves

 (**) Homenagem de Mussolini aos 5 aviadores italianos, vitimas de queda dos seus aparelhos em 5 de Janeiro de 1931 quando faziam a ligação Itália/Brasil com escala por Bolama


(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado. (...)

Fonte: Extractos de: César, A. -  Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax, 1965.

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Guiné 63/74 - P153: Bibliografia (2): Informação & Propaganda: os 'grandes' repórteres de guerra (Marques Lopes)

1. Selecção e notas de A. Marques Lopes, membro da tertúlia dos ex-combatentes da Guiné:

A propaganda a favor da guerra colonial foi intensa da parte do regime, que tinha em Amândio César um dos seus corifeus. Em 1965, a Editora Pax, de Braga, publicou o seu livro Guiné 1965: contra-ataque.

O texto seguinte vem nas badanas da capa, juntamente com a fotografia do autor (grande repórter de guerra...), e diz bem do esforço que era feito em meios para a propaganda e defesa da guerra:

«Em Março e Abril de 1935, Amândio César visitou a Guiné a fim de efectuar uma reportagem sobre aquela Província para a Emissora Nacional. O convite fora-lhe dirigido pelo Ministério da Defesa Nacional, através do Serviço de Informação das Forças Armadas.

"Essa reportagem prolongou-se por espaço de tempo suficiente para que ele pudesse ter e pudesse dar uma ideia exacta da luta que naquela parcela de território nacional se processa contra a guerra subversiva. Depois da reportagem de Angola em 1961, era a segunda vez que Amândio César voltava a um seu tema favorito: a luta que o Exército e o Povo de Portugal sustentam contra os elementos da guerra revolucionária.

Amândio César, "grande repórter
de guerra" da Emissora Nacional.

Na Guiné, em 1965. "Durante dias e dias as crónicas foram ouvidas nos microfones da Emissora Nacional. Posteriormente, essas páginas de reportagem foram publicadas, no Diário do Norte. No entanto, quisemos arquivar na «Colecção Metrópole e Ultramar» este depoimento que dá a exacta medida da grandiosidade da luta em que estamos empenhados. Por outro lado, com a objectividade que lhe é peculiar, Amândio César deu-nos uma panorâmica da Guiné de nossos dias que abrande toda a sua vida e a dos povos, que a constituem.


Porém, mais do que as nossas palavras fala o oficio que o Ministro da Defesa enviou ao Presidente da Emissora Nacional e que, aqui, nos permitimos transcrever:


Título: Guiné 1965: contra-ataque
Autor: Amândio César.
Editora e local: Pax, Braga
Ano: 1965
Capa feita sobre uma fotografia do Coronel Pinto Soares.

(1). A equipa da Emissora Nacional constituída pelso Exmos. Srs. Dr. Amândio César, Fernando Garcia e Bento Feliz, realizou na Guiné num prazo de tempo muito reduzido, um trabalho de valor no qual evidenciou elevado espírito de missão.

(2). Assim, em 29 dias, a equipa visitou e realizou reportagens em Bissau (Liceu, Escola Técnica Mocidade Portuguesa, Escola Teixeira Pinto, Escola das Missões, Pigiguiti, Ponte Cais, Museu e Biblioteca, Jardim Escola, Missão da Doença do Sono, Aeródromos Militar e Civil, Pára-quedistas), Safim, Nhacra, Mansoa, Mansabá, Prabis, Asilo de Bor, Leprosaria de Cumura, Bijagós, Bubaque, Nova Lamego, Buruntuma, fronteira, Canquelifá, Bafatá, Bambadinca, Amedalai, Bolama, Nova Ofir, Cachil (Ilha de Como), Cacine, Caneca, fronteira, Tanene, Guileje, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto, Susana, Bula, Binar, Olossato, Farim, Binta, Guidage, Pessubé.

(3). Efectuou simultaneamente numerosas entrevistas e, no conjunto, colheu grande quantidade de material com muito interesse para o público.

(4). Colaborou ainda e a título gracioso, com um operador militar, na realização de um filme documentário.

(5). A equipa deixou na Província a melhor das impressões e, no relatório do Gabinete Militar do Comando-Chefe, agora recebido, pode ler-se: «O cumprimento do programa elaborado foi extenuante e a equipa ressentiu-se deste facto — aliado ao clima na sua pior estacão — o que a fez emagrecer e até dormirem nos aviões. Porém, conseguiu-se percorrer praticamente toda a Província».

(6). É muito grato dar a conhecer a V. Ex.ª estes factos que são testemunho fia muita dedicação dos funcionários da Emissora Nacional e às Forças Armadas.

Sua Ex.ª o Ministro encarrega-me ainda de agradecer a V. Ex.ª, Senhor Presidente, em nome das Forças Armadas da Guiné e no seu próprio, o esplêndido trabalho efectuado, bem como o esforço generosamente dispendido pelos componentes da dedicada equipa de reportagem da Emissora Nacional.

3. A. Marques Lopes: Dou-vos a seguir alguns excertos que dizem bem da preocupação em minimizar a guerrilha e o problema por ela levantado bem como da admiração pelos ideais fascistas:

Esta sequência de reportagem permanece no Óio, ou melhor, continua em Mansabá. O estar-se numa terra, muito ou pouco tempo, não é razão para que se saia dela tudo imediatamente. O meu caso é esse: a região do Óio é vasta e lá decorreram alguns motivos fundamentais desta guerra que os nossos soldados sustentam na Guiné. Ora são esses soldados que me arrastam para uma sala onde está um trofeu de guerra: a farda do célebre facínora Inocêncio Ken. Ele era um dos elementos mais notórios do terrorismo. Parecia invulnerável às balas dos combates que sustentou com a nossa tropa. No final acabou por ceder, acabou por cair - coisa que sucede a todos os facínoras que se metem numa guerra ilegal, feita contra a natureza das coisas e dos homens.

Diante de mim, pendurado numa parede branca, alva de pureza, está a nódoa do capacete de Inocêncio Ken, feito de pele de macaco ... A regressão é notória e nem o feiticismo zoológico o salvou de prestar contas aos soldados portugueses: brancos ou pretos, porque todos representam Portugal.

Ao lado deste troféu de guerra encontra-se a camisola do facínora com os mezinhas que o deviam salvaguardar do ajuste de contas que estava à vista. Com efeito, dez quadradinhos, cosidos ao tecido eram outros tantos motivos de tranquilidade para quem fazia uma guerra revolucionária, para quem praticava, impunemente, uma guerra de terrorismo.

Mas o seu dia último chegou. O último dia chega sempre para os facínoras ... Bem sei que os feiticeiros podem dizer que os soldados de Portugal deitam água quente pelo cano e não matam ninguém ... Nessa mentira embarcaram os bacongos de Angola e a resposta viu-se. Com mentira idêntica — desta vez com mezinhas locais — levaram estes povos à indisciplina.

E o resultado está à vista: Amílcar Cabral a esmolar auxílio pelos centros de subversão, a ver se alguém deita uma esmola para uma guerra de que ele há-de ser um dia vítima. Até porque não é, verdadeiramente, guineense e, para mais está casado com uma mulher branca, da região transmontana. Nem sequer é africana a mulher de Amílcar Cabral! E isso é um grave impedimento para se ser alguma coisa de provável nesta confusão demoníaco-marxista ...

Mas voltemos ao facínora que é o camarada de Amílcar Cabra — engenheiro-agrónomo, com o curso tirado em Lisboa, capital de uma Pátria onde lançou as sementes mais sangrentas do terror. Efectivamente, a camisola de Inocêncio Ken, companheiro de Amílcar Cabral e de sua esposa branca, lá estava pendurada, depois de tirada ao corpo do facínora morto. A coisa não meteu agência funerária e os mezinhas não serviram para nada.

Os dez quadradinhos, os dez quadradinhos pretos não salvaram o terrorista do ajuste de contas. Repouse em paz, se é que um assassino pode repousar em paz!

(...) Chegou o momento de a autoridade administrativa não nos deixar partir sem molharmos a palavra, ao bom jeito português. E pronto: caímos em casa do Administrador Pimentel e fizemos gala ao jantar volante que nos serviu, com requintes que não podemos esquecer. Sim: ficaríamos mais tempo se pudéssemos. Mas tínhamos de cobrir a distância de Mansoa a Bissau no mesmo automóvel que nos trouxera, guiado pelo mesmo balanta que nos servira de condutor em toda a nossa estada na Guiné.

Noite alta partimos e, na estrada asfaltada, fomos revendo toda esta jornada ao Óio, centro efervescente de terrorismo, agora em franca pacificação. As imagens não se esbatem na memória. Lá fizemos amigos e conhecemos novas gentes e novos soldados. Lá confirmámos uma ideia que dia a dia se tornaria mais nítida: a sorte da guerra virava-se para o nosso lado. Nós venceríamos esta guerra.

(...) Depois aparece no nosso convívio um recuperado da luta contra nós. Arranjou também um patrono, como cartão de apresentação: nada menos do que Viriato! E, quando o capitão lhe perguntou diante de nós quem era Viriato, com um sorriso a sublinhar a dignidade da resposta, ele definiu desta maneira o pastor dos Hermínios:
—Viriato foi homem grande, português, que deu manga de porrada em pessoal bandido! Assim disse. E acreditava no que dizia. A imaginação dos povos submetidos à disciplina do Islão é maravilhosa. E não direi aqui a resposta de Viriato do Gabu, quando lhe perguntaram quem era o «Chefe da Tabanca Grande de Lisboa». Claro que esse Chefe é o Doutor Oliveira Salazar. Mas, pela resposta, para Viriato de Nova Lamego o Presidente do Conselho é uma espécie de super-boxeur, que bate que se farta no pessoal bandido! ...

Legenda original: "Monumento que o Duce, Benito Mussolini, amdou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama". Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália"

(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.

(...) Falámos com alguns dos que regressaram e eles ficavam contentes de contactarem connosco: um disse-me, com orgulho, que tinha fugido e que a população portuguesa tinha batido os bandidos. É curioso que, com orgulho, pôde também dizer-me que o terrorista português era o melhor e o mais valente; o outro, da Guiné ou do Senegal não valia nada, mesmo nada. Sorri para dentro: a nossa presença é tão profunda que até tínhamos a primazia no campo terrorista: eram eles os melhores e os mais valentes! E devo acrescentar que eles usam o português como língua e não o crioulo ou a língua da sua raça. É um motivo de orgulho e de superioridade. As próprias instruções e os próprios livros de aprendisato são impressos em português. Que espantoso acto de contrição tudo isto significa para o sociólogo que quiser ver e nos quiser julgar!

Fonte: Extractos de: César, A. (1965): Guiné 1965: Contra-Ataque. Braga: Pax.