sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)


O Rita Maria (1952-1978) era um navio misto de 1 hélice da frota da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes (SG), construído pela CUF nos Estaleiros da AGPL. Tinha um comprimento de 103 metros e estava preparado para acomodar 70 passageiros.

Fonte: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...) . O autor foi oficial da marinha mercante.

Uma viagem diferente,
por Henrique Matos

Penso que, tal como tantos outros que partiam com a “alma a sangrar” mas em navios cheios de militares, tive sorte com a viagem para a Guiné.
Em pleno verão, 10 de Agosto de 1966, com mar chão, saiu de Lisboa o “Rita Maria”, navio misto de carga e passageiros, que nesta viagem levava poucos militares sendo a maioria dos passageiros civis, nomeadamente estudantes, com destino a Cabo Verde. Ainda foi a Leixões só para meter carga, depois Mindelo e Praia com paragens curtas e finalmente Bissau.


A bordo do “Rita Maria” com mais 2 Alf. Mil. companheiros de viagem em rendição individual, cujos nomes não me lembro. Só sei que o do meio era do Porto com especialidade em Adminsitração Militar o que nos fazia inveja porque se sabia que não ia sair de Bissau. O da direita era de Santarém e também tinha como destino uma zona de intervenção. Tanto eu como o do Porto não tínhamos no cais qualquer pessoa a quem dizer adeus, mas impressionou-me bastante a despedida do “Santarém” como lhe chamávamos, dos familiares e namorada. Penso que a cara dele nesta foto ainda reflecte um pouco o que lhe ia na alma.

Curiosidades de Bolama

Numa rua de Bolama com o cais ao fundo, eu com o Alf. Mil. Baptista que estava colocado em São João, um destacamento de Tite, que ficava mesmo frente a Bolama do outro lado do canal. Ao fundo desta rua, à esquerda, havia um monumento curioso ( por estar naquele sítio) que fotografei.


Este monumento que representa destroços de avião, tinha a seguinte legenda: “Mussolini ai caduti di Bolama”, seu autor Quirino Rugger e inaugurado no mês de Dezembro de 1931

Para quem gosta de esclarecer as coisas impunha-se perguntar: quando? porquê?

E as respostas são: em 17 de Dezembro de 1930 sairam de Orbetello(Itália) 14 hidroaviões para estabelecer uma ligação com Brasil, sob o comando de Italo Balbo.

Bolama, onde chegaram no dia 25 de Dezembro, seria o último ponto de paragem em África por ser o mais próximo de Porto Natal no Brasil.

Permaneceram vários dias em Bolama para reparações e à espera de condições atmosférias favoráveis.
Quando decidiram levantar a 5 de Janeiro, de noite, cairam 2 aparelhos causando 5 mortos.
Chegaram ao Rio de Janeiro no dia 15.

O Post CLXXIII do Blogue-fora-nada de 16/8/2005 faz referências a este monumento.



Cartaz que circulou para comemorar o evento



Eu que sou um “curioso ajuntador de selos” encontrei em tempos na internet um postal à venda enviado de Bolama a 27-12-1930 por um daqueles aviadores, com selos tipo “CERES”, que então se usavam em Portugal e Colónias.
Fotos ©: Henrique Matos (2007). Direitos reservados
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Nota do co-editor CV


Monumento que o Duce, Benito Mussolini, mandou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama".

Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem:

'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália"(...)
Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opôs.
Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.
O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim.
Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama.
Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat.
É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.
Foto e excerto de texto retirado de: Guiné 63/74 – CLXXIII: Informação e Propaganda: os 'grandes repórteres' de guerra em
http://www.blogueforanada.blogspot.com/2005_08_14_archive.html
Selecção e notas de A. Marques Lopes

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