Foto nº 1 > O João Carlos Vieira Martinho, a bordo do Uíge,
a caminho do CTIG, em 1973
Foto nº 2 > Teor do telegrama enviado à família, com data de 26 de maio de 1973, às 12h32, assinado pelo Comandante do Depósito Geral de Adidos, Ajuda Lisboa:
"Nº 602787. Sua Excia Ministro Exército tem pesar comunicar falecimento seu filho furriel miliciano João Carlos Oliveira Martinho ocorrido dia 25 corrente Guiné por motivo combate defesa da Pátria Sua Excelência apresenta mais sentidas condolências
"Comandante Depósito Geral de Adidos
Lisboa"
Foto nº 3
Foto nº 3A
Foto de grupo com conterrâneos em que o João Martinho é o primeiro de pé à direita, estando eu a seu lado de camuflado [Fotos nº 3e 3A].
Foto de grupo com conterrâneos em que o João Martinho é o primeiro de pé à direita, estando eu a seu lado de camuflado [Fotos nº 3e 3A].
Fotos (e legendas): © Eduardo Jorge Ferreira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Mensagem do Eduardo Jorge Ferreira, régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, Lourinhã, residente em A dos Cumhados, Torres Vedras:
[tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue; entrou para a Tabanca Grande em 31/8/2011; foi alf mil da Polícia Aérea, na BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro; noutra encarnação foi sargento, integrado no exército luso-britânico que derrotou o exército napoleónico na batalha do Vimeiro, Lourinhã, em 21 de agosto de 1808]
Data: quinta, 23/05/2019 à(s) 16:18
Assunto: Efeméride: a morte do meu amigo e vizinho João Martinho, ex-fur mil cav, EREC 8740/73, Bula, em 25 de maio de 1973:
Caro Luís:
No próximo sábado, dia 25 de maio, precisamente no dia do convívio anual da Tabanca Grande , no I, faz 46 anos que morreu no Hospital Militar de Bissau o Fur Mil João Martinho, meu amigo e quase conterrâneo - era natural do Sobreiro Curvo, A dos Cunhados, concelho de Torres Vedras.
Quando conheci o Blog e entrei para a Tabanca Grande [, em 31 de agosto de 2011], prometi a mim próprio prestar-lhe uma simples homenagem, evocando a sua memória num texto para publicação e para o qual obtive desde então a concordância da família.
Mas remexer no baú desta recordação tem sido muito penoso: fui o último conhecido e amigo a vê-lo ainda vivo, em coma profundo, deitado numa maca do HM 241, enfeixado em gase e com uma mão cheia de tubos e maquinaria à sua volta ...
Não me sai um nó da garganta quando relembro aqueles dias e quando falo do caso com alguém nunca consigo deixar de me emocionar e, a maior parte das vezes, deixar de verter uma lágrima.
O Fur Mil Cav João Carlos Vieira Martinho, nascido a 12 de julho de 1951, pertencia ao Esquadrão de Reconhecimento (ERec) n.º 8740/73 que teve como Unidade mobilizadora o RCAV 7 (Ajuda). A unidade partiu a 3 de abril de 1973 a bordo do Uíge, tendo chegado a Bissau a 9 onde permaneceu 2 dias no DA/CTIG daí partindo para Bula no dia 11 a fim de reforçar o Erec 3432 (dados recolhidos com a devida vénia do blogue Panhard - Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974.
No dia 22Mai73, uma terça-feira, o João Carlos veio em serviço a Bissau e passou pela BA12 [, em Bissalanca, ] onde combinou comigo irmos na quinta-feira ao terminal da TAP esperar um nosso amigo e conterrâneo,também Furriel Miliciano, que chegaria de férias e sabíamos que seria portador de encomendas dos nossos pais para nós.
A esse encontro só compareci eu mas não estranhei, dado o período particularmente perturbado que se vivia com ordens e contra-ordens, escalas e serviços a mudar a toda a hora. Este amigo, ao regressar, no início da tarde, da sua apresentação em Bissau contou-me que lhe tinham dito que um furriel do Esquadrão de Bula tinha sido ferido numa emboscada à coluna de reabastecimento de Bula para Binar, já no regresso, na tarde da véspera (quarta-feira, dia 23), estava em estado grave no Hospital Militar e que, pela descrição,deveria ser o João Martinho. Corri ao telefone e obtive da parte das informações do Hospital que efetivamente se tratava dele.
Só pude sair da Base [, a BA 12, Bissalanca,] pelas 17h00 e corri ao Hospital onde pedi para falar com o médico de serviço ao SO que me autorizou a vê-lo e me disse tratar-se de um caso desesperado, que só um milagre, e dos muito grandes, o poderia salvar: o estilhaço de um RPG7 perfurara-lhe os intestinos e o fígado, deixando um grande e muito severo rasto de destruição.
No dia seguinte, 25 de maio, uma sexta, desloquei-me logo de manhãzinha ao Hospital para saber como tinha passado a noite e deram-me a notícia do seu falecimento naquela madrugada - nem 2 meses de Guiné tinha ainda!
Soube mais tarde que nessa emboscada apenas houve dois feridos que acabaram por falecer, um soldado nativo do contingente local que deu o último suspiro à entrada do Hospital e o João Martinho.
No blogue Panhard - Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974, acima referido, editado e administrado pelo nosso companheiro de armas [e membro da Tabanca Grande] José Ramos, que na altura estava em Bula e participou na recolha dos feridos para a sua evaquação de helicóptero e com quem falei hoje, vem descrito com bastante pormenor o que se passou bem como contém dados importantes relativos à memória daquele nosso malogrado camarada que nos deixou a escassos 2 meses de completar os 22 anos (clicar no poste de João Carlos Vieira Martinho, de 9/3/2014)..
Envio em anexo uma foto tirada a bordo do Uíge [, foto nº 1, em cima], cópia do telegrama do Exército, datado de 26, a comunicar aos pais o seu falecimento e que, para além de anunciar friamente a desgraça, troca um dos seus nomes - Vieira por Oliveira - [foto nº 2, em cina] e uma foto de grupo com conterrâneos em que o João Martinho é o primeiro de pé à direita estando eu a seu lado de camuflado [Fotos nº 3e 3A].
Acrescento ainda que à data do seu falecimento a sua irmã Luísa Martinho tinha acabado de fazer o curso de Enfermeira-paraquedista e estava mobilizada para a Guiné. A instâncias da mãe, e por razões mais que óbvias, pediu a sua desvinculação da Força Aérea e passou à disponibilidade
Agradeço a tua atenção para assinalares no nosso blogue esta triste efeméride, publicando este texto no seu todo ou em parte ou resumindo a notícia, o que achares melhor.
Abraço
Eduardo Jorge Ferreira
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Nota do editor: