sábado, 26 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23115: Agenda cultural (805): No âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril: lançamento de nova edição do livro "Salgueiro Maia - Um homem da liberdade", de António Sousa Duarte: Lisboa, Quartel do Carmo,1 de abril de 2022, 17h30





Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi “Fiel à palavra dada à ideia tida”
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse.

— Sophia de Mello Breyner Andressen


Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril


Lançamento da nova edição do livro 
“Salgueiro Maia – Um Homem da Liberdade”, 
de António Sousa Duarte



No âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a Associação 25 de Abril e a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril convidam-no(a) para o lançamento da nova edição do livro “Salgueiro Maia – Um Homem da Liberdade” de António Sousa Duarte.

Esta sessão de homenagem a Fernando Salgueiro Maia contará com a presença de Adelino Gomes, António Sousa Duarte, Carlos Matos Gomes e Maria Inácia Rezola.

Local: Quartel do Car
mo, 27, 1200-092 Lisboa


Data e hora: 1 de abril de 2022, 17h30


Solicita-se confirmação de presença até dia 30 de março de 2022 
para os seguintes contactos:

(i) Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril

Sítio: www.50anos25abril.pt
Email: geral@50anos25abril.gov.pt
Telef +351 213 217 183

(2) Comando Geral da GNR

 Largo do Carmo 27, 1200-092 Lisboa | Telef  + 351 21 321 7000

[Esta informação chegou-nos pela mão do nosso camarada e amigo Mário Vitorino Gaspar, a quem agardecemos e desejamos as melhoras]

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23113: Agenda cultural (804): Dia Mundial da Poesia: Em Volta de Herbero Helder. CCB, Belém, Lisboa, hoje, sábado, dia 26, das 15h00 às 18h00. Entrada gratuita.

Guiné 61/74 - P23114: Os nossos seres, saberes e lazeres (498): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (43): Uma visita ao Museu de Setúbal/Convento de Jesus (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Depois da Igreja do Convento de Jesus, em Setúbal, é obrigatório visitar o Museu de Setúbal/Convento de Jesus, que foi Hospital até 1959, por quem vai deambular no esplendoroso Claustro não dá pelas alterações que sofreu esta área conventual, fruto das adaptações provocadas pela vida hospitalar. Esta reabilitação é cuidadosíssima, continua em curso, uma boa parte do acervo museológico pode ser visitada no antigo edifício do Banco de Portugal, na galeria municipal, estão lá as peças maravilhosas do políptico do altar-mor do Convento de Jesus, pinturas magníficas saídas do atelier do Jorge Afonso.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (43):
Uma visita ao Museu de Setúbal/Convento de Jesus


Mário Beja Santos

Finda a visita ao Convento de Jesus, é atração da maior importância visitar o museu que foi inagurado em fevereiro de 1961, nessa altura designado por Museu da Cidade, dependeu da Santa Casa da Misericórdia da cidade, tinha o apoio da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão e suporte financeiro da Comissão de Turismo da Serra da Arrábida, tudo isto se passou após o encerramento do Hospital do Espírito Santo que aqui estivera instalado desde 1893, e gerido pela Santa Casa. As coleções iniciais integraram bens originarios do edifício onde passou a estar instalado o museu (o Convento de Jesus), bens da Santa Casa e da autarquia, e mais tarde doações particulares. Acontecimento de vulto foi a chegade em 1983 do conservador Fernando Baptista Pereira, com ele iniciou-se um novo ciclo da existência do museu.
Com a atual reabertura, os visitantes podem apreciar a parte do trabalho de reabilitação e restauro do claustro e de espaços que mantêm o cunho conventual, aí é possível observar património artístico, é o caso das Salas do Capítulo e do Coro Alto. O visitante tem à sua disposição o património móvel artístico e arqueológico que vem da exposição temporária inaugurada em 2015. Findas as obras de reabilitação haverá uma nova exposição de longa duração que ocupará o edifício conventual na íntegra.

Pormenor do Claustro restaurado
Teto abobadado do lavabo do Claustro do Convento de Jesus, final do século XV
Pormenor do lavabo, não esquecer que a pedra é brecha da Arrábida

Convém recordar que este Convento foi fundado em 1490, é uma peça arquitetónica atribuída a Diogo Boitaca, autor de projetos imorredoiros como a igreja do Mosteiro dos Jerónimos. Este convento era um convento de freiras clarissas, freiras de uma ordem medicante, instalaram-se num edifício de estilo arquitetónico antigo com tecnologia de ponta, à época. Primeiro criou-se a igreja de salão, e depois o convento, com um vasto conjunto de edifícios na periferia do núcleo ramo. Os espaços conventuais estão distribuídos em torno do quadrado formado pelo Claustro. No piso térreo temos a receção, uma sala com diversos elementos arquitetónicos encontrados em obras de rebaixamento de pavimentos e mesmo nas escavações arqueológicas de 2013/2014. Ali perto há uma sala de exposições temporárias, foi-se bisbilhotar os preparativos de uma instalação intitulada A Vénus dos Trapos, do pintor Michelangelo Pistoletto, nome consagrado da chamada Arte Povera. O seu trabalho trata principalmente do tema da reflexão e da unificação da arte e da vida quotidiana.
Inaugurada a exposição, o resultado é este
Vale a pena o visitante deambular pelas Salas do Capítulo, percorrer demoradamente este belo trabalho de requalificação do Claustro, ver mesmo os azulejos na cafetaria, apreciar as escadarias de acesso ao piso superior, foi construída em meadas do século XVI. Recorde-se que houve um hospital aqui, que funcionou até 1959. Houve adaptações para transformar o edifício conventual em edifício hospitalar. Muitas das pequenas capelas existentes nas alas claustrais do piso térreo foram demolidas para dar lugar a salas maiores. O antigo dormitório e antiga enfermaria do convento foram transformadas em enfermarias hospitalares. Isto para dizer que fruto desta profunda adaptação o edifício conventual sofreu grandes transformações e os espaços conventuais ficaram descaracterizados, com exceção do Claustro, da Sala do Capítulo e da Sala do Coro Alto.
Predominam as obras de timbre religioso, algumas de excecional beleza, há pinturas da escola flamenga mas também de mestres oficinais portugueses, abundam bustos, como iremos ver no Coro Alto, aqui iremos encontrar portas de grade de comunicação com a igreja conventual, com pinturas do início do século XVII.
Este quadro é de um importante pintor naturalista, João Vaz, intitula-se Barcos em Lisboa. João Vaz adorava pintar marinhas, temas de praias, enriquecendo o colorido com imensa luz, pode-se dizer que é uma arte sem sombras, um omnipresente festim de luminosidade.
Um belo crucifixo
Um pormenor desta esplendorosa arte sacra que nos reserva este espaço conventual
Estamos agora na sala do Coro Alto, impossível não vir contemplar as novas portas para grade do Coro Alto, pagas por Filipe II de Portugal e sua mulher Margarida de Áustria. São revestidas por um conjunto de 12 pinturas, representado figuras de santos e santas, além da fundadora do Convento, Justa Rodrigues Pereira, ela está representada na ponta da direita da fileira inferior do conjunto.
Agora vê-se com mais clareza a pintura sobre a grade, intitulada Transfiguração de Jesus, pintura a óleo sobre tela de linho do século XVII, coroada por uma sanefa em talha dourada do século XVIII. Tema relatado no Novo Testamento, Jesus sofre uma transfiguração no alto de uma montanha, irradiando luz, perante a aparição dos profetas Moisés e Elias e a voz de Deus no céu. É uma pintura muito específica, difere da cronografia habitual.
Santo António
Abertura para o visitante conhecer o trabalho das escavações e o que se descobriu
Uma admirável escultura da Virgem no Coro Alto
O Coro Alto capricha também pelo seu relicário. A estrutura primitiva foi destruída pelo terramoto de 1755, salvando-se os bustos-relicários, e foi substituída em 1760 pela atual estrutura, a que vemos, ao estilo rococó. Os bustos-relicários apresentam um óculo, ou orifício no peito, rodeado por um género de moldura oval, onde são colocadas as relíquias dos santos, normalmente fragmentos de osso. Há também oratórios dignos da contemplação do visitante.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23093: Os nossos seres, saberes e lazeres (497): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (42): Em Cernache do Bonjardim e na Sertã, no dia em que aqui recebi a segunda dose da vacina (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23113: Agenda cultural (804): Dia Mundial da Poesia: Em Volta de Herbero Helder. CCB, Belém, Lisboa, hoje, sábado, dia 26, das 15h00 às 18h00. Entrada gratuita:



Imagem: Sítio da Fundação Centro Cultural de Belém (2022), com a devida vénia


Dia Mundial da Poesia: 

Em Volta de Herberto Helder


Centro Cultural de Belém, Lisboa, sábado, dia 26 de março de 2022, 
das 15h às 18h. Entrada gratuita.


Seleção de alguns eventos (*)


15:00 – 18:00 | Feira do Livro | Receção do Centro de Congressos e Reuniões – Piso 1

Realizar-se-á na Receção do CCB uma Feira do Livro com a presença de várias livrarias e editoras. Aqui poderá encontrar aquele livro que há muito quer ler, a obra do seu poeta preferido ou as mais recentes edições do mercado.

15:00 – 18:00 | Exposição Bibliográfica | Foyer da Sala Luís Freitas Branco – 
Piso 1

Estarão em exposição algumas das primeiras edições da obra de Herberto Helder. Esta exposição bibliográfica foi concebida em parceria com a Biblioteca Nacional Portuguesa.


15:00 – 18:00 | Maratona de Leitura | Sala Fernando Pessoa – Piso 2

Leitura dos poemas vencedores do concurso Faça lá um Poema e entrega de prémios aos mesmos. Este momento será intercalado com a leitura de poemas de Herberto Helder por diferentes convidados. Nesta Maratona de Leitura terá ainda lugar o lançamento de Postais da República com os poemas vencedores. A apresentação estará a cargo da atriz Ana Sofia Paiva.

Parceria com o Plano Nacional de Leitura. (...)


15:00 – 18:00 – Exposição | Foyer da Sala Sophia de Mello Breyner Andresen – Piso 2

Desenhos em Volta de os Passos de Herberto Helder

A obra poética e literária de Herberto Helder é o mote desta exposição de ilustração de Mariana Viana, que interpretou livremente os textos do livro Os Passos em Volta através de desenhos de figuras de animais (alguns explícitos no texto), ou antropomórficas, como se de um Bestiário se tratasse. Esta exposição é composta por formas que viajam de lugar em lugar, metamorfoseando-se ao longo de um fio condutor que se renova e que evoca um novo lugar.


15:00 – 18:00 | Diga Lá um Poema | Bengaleiro Norte – Piso 1

Espaço aberto ao público para leitura dos seus poemas em voz alta. Estas leituras são filmadas e reproduzidas no monitor que se localizará na receção do CCB. O alinhamento é feito mediante inscrição do público no local.


(...) 16:00 – 17:00 | Conversa | Sala Luís de Freitas Branco – Piso 1

Em Volta de Herberto Helder

Uma conversa informal sobre a vida e obra de Herberto Helder, com a presença de Rosa Martelo, Luís Quintais e moderação de Vasco Santos.

16:30 | Documentário | Sala Almada Negreiros – Piso 2

Meu Deus Faz Com Que Eu Seja Sempre Um Poeta Obscuro

Será exibido o documentário biográfico Meu Deus faz com que eu seja sempre um poeta obscuro, de António José de Almeida, sobre a obra de Herberto Helder (**). O documentário tem como base depoimentos de diversas personalidades, intercalados com a leitura de excertos de obras da sua autoria.

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Notas do editor:


(**) Sobre o poeta, Herberto Helder (Funchal, 1930 - Cascais, 2015) ver a entrada na Wikipedia.

Vd. também o poste de 29 de março de  2015 > Guiné 63/74 - P14416: (Ex)citações (269): O poeta Herberto Helder (1930-2015) que eu "conheci"... (António Graça de Abreu)

sexta-feira, 25 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23112: Bibliografia (49): Marcelino da Mata, o operacional valoroso, entre o mito e as investigações às três pancadas no livro "O Fenómeno Marcelino da Mata - O Herói, O Vilão e A História", de Nuno Gonçalves Poças; Casa das Letras, 2022 (Mário Beja Santos)


Publicamos um texto do nosso camarada Mário Beja Santos sobre o livro "O Fenómeno Marcelino da Mata - O Herói, O Vilão e A História", da autoria de Nuno Gonçalo Poças; Casa das Letras, 2022, desta vez não destinado ao nosso Blogue mas à comunicação social, já publicado em jornais.


Marcelino da Mata, o operacional valoroso, entre o mito e as investigações às três pancadas

Por Mário Beja Santos

É a narrativa mais recente sobre o mais condecorado militar português, intitula-se "O Fenómeno Marcelino da Mata, o Herói, o Vilão e a História", por Nuno Gonçalo Poças, Casa das Letras, 2022. Vindo na sequência de outras narrativas, e depois da controvérsia que acompanhou o desaparecimento do herói, era expectável uma investigação em contexto inovador, com questões pertinentes, abordagens facultadas por contemporâneos e camaradas operacionais do falecido herói, enfim, um trabalho que saísse da pura ruminação e do copy-paste. Nuno Poças promete e não cumpre. Diz ter como móbil do seu trabalho:

“Parti para este livro para tentar perceber quem era o homem por detrás do debate, e também para compreender quem nele teria mais razões. Mas rapidamente constatei que aquilo que era mesmo importante, na minha modesta e frágil opinião, não foi discutido. Marcelino tinha em si, no seu percurso, tudo aquilo que nos devia ter feito refletir e procurara acomodar todas as sensibilidades, num quadro de moderação e concórdia, relativamente a um passado recente que não deixa – ou não devia deixar – muita gente orgulhosa. Esse passado é por natureza controverso, na medida em que se trata, essencialmente, de dois períodos (guerra em ditadura e processo revolucionário) não devem ser olhados, em democracia, como se olha para um passado recente já construído em período democrático”.

E quando se despedir do leitor, o autor voltará à tónica de que é necessária uma perspetiva de apaziguamento e moderação, de que há muitas contradições e confrontos na historiografia da Guerra Colonial, é indispensável a busca do justo equilíbrio, ele diz que foi o que tentou fazer, concluindo que Marcelino carregava em si o peso das contradições de um passado comum a tantos portugueses ainda vivos. E finaliza com uma quase boutade: “Nestas contradições andará, como quase sempre, a verdade possível”.

O autor passa como cão por vinha vindimada em ouvir opinião ou comentários sobre as diferentes entrevistas dadas por Marcelino. Apresenta a Guiné de um modo grotesco, incorreto:

“O território da Guiné, descoberto pelos portugueses em 1446. Depois de povoado por meio de Cabo Verde, ocupado por holandeses, povoado por portugueses, abandonado, colonizado por ingleses, foi finalmente constituído como colónia portuguesa em 1879, depois da união de Bissau e Cacheu. Só em 1951 seria criada a Província Ultramarina da Guiné”. Brada aos céus!

Apresenta-nos Marcelino e procura contextualizar em que meio, o que escreve é mais do que consabido, vem em todos os relatos anteriores, mesmo aquela névoa de quem da sua família foi assassinado pelo PAIGC, o pai, a mãe, a irmã ou a mulher. 

Como a diacronia não é a principal preocupação de Nuno Poças, logo sobre a vingança em quadro psicanalítico de Marcelino temos o comentário de Manuel dos Santos, o Manecas, comandante do PAIGC, dizendo, em 2015, que o Marcelino da Mata era uma vergonha para o exército português. Mas o autor dá como demonstrado que a vingança e o sentimento de pertença à comunidade portuguesa marcaram a atuação de Marcelino.

Nada de novo nos traz no seu relato sobre os primórdios da guerra da Guiné, daqui parte para a apresentação de Amílcar Cabral e a criação do PAIGC, também não há elementos novos e assim chegamos ao quadro de atuação de Marcelino, já ganhara notoriedade quando participa na Operação Tridente, assim chegamos a 1986 e Marcelino fará parte de um grupo que ganhou fama, Os Roncos, combate ao lado de um outro bravo, Cherno Sissé, este também altamente condecorado, e que teve uma triste sina em Portugal. É aqui que Nuno Poças traz um contraditório face a uma bravata de Marcelino que afirmava uma operação de libertação de prisioneiros da CCaç 1546, coisa que nunca aconteceu, bravata e pura mentira. E o autor observa:

“Parece evidente que se foram inventando episódios acerca de Marcelino da Mata, e existem testemunhos que afiançam que várias dessas invenções tinham origem no próprio, mas o certo é que, indiferente à mitomania, a lenda crescia durante a guerra à medida que as medalhas e os louvores se sucediam e confirmavam todas as qualidades militares de Marcelino. E o PAIGC, por sua vez, ganhava a Marcelino da Mata um receio e uma raiva crescentes”
.

E, mais adiante: 

“Retratado como um herói pelo regime que o condecorava, era também visto como um sanguinário e criminoso de guerra pelo lado oposto, graças a episódios ocorridos no mato, factos de real selvajaria dos quais quem não conhece a guerra terá sempre uma distância inevitável”

Parece um comentário do Conselheiro Acácio.

Como a diacronia não é o forte de Nuno Poças, voltamos à Operação Tridente e passamos rapidamente para a Operação Mar Verde, e depois a Operação Ametista Real, também nada de novo, seguramente para justificar a presença e os atos de bravura de Marcelino. Nuno Poças vai repetir frases que se encontram em dezenas de livros sobre o período da governação Schulz, que tinha apostado exclusivamente numa estratégia militar de recuperação das áreas ocupadas pela guerrilha do PAIGC, mas sem produzir grandes resultados, que recebeu mais efetivos militares, aumentou os bombardeamentos e as operações por tropas helitransportadas; mas, coitado, chegara com a saúde fragilizada e uma visão burocratizada da guerrilha, acabou demitido (aqui não é o Marcelino a disparatar, é o autor). E chega Spínola, intensifica a africanização da guerra, etc. e tal, chega o 25 de abril, dias antes Marcelino acidentado é transferido para Lisboa, e aqui fica.

Anos depois, numa entrevista Marcelino virá dizer que só a tropa guineense chegava para controlar a Guiné. 

“Podia ter-se negociado com o PAIGC para formar um exército no qual eles se integrassem: porque nós éramos um exército formado e com largos anos de guerra, e eles era guerrilheiros sem formação militar e sem quadros – portanto, eles deviam integrar-se nesse exército e não nós no deles”

Fica bem claro neste comentário a visão irrealista de Marcelino da Mata face ao processo descolonizador, tal como ele aconteceu.

Nada se esclarece quanto às razões que levaram à detenção de Marcelino da Mata em 1975, foi espancado no RALIS, nunca aparece alguém, factualmente, a desmentir a ligação de Marcelino com spinolistas, o ELP, parece que foi o MRPP que o descobriu por ciência infusa, aproveita-se a oportunidade para novamente enxovalhar o nome de Leal de Almeida, comandante do RALIS, que teria aproveitado a oportunidade para exercer uma vingança pessoal sobre Marcelino. E depois vem a sua ligação às manifestações dos antigos comandos guineenses, em 1986, tudo é exposto sem nenhum contraditório, aliás está na moda, até em processos de doutoramento as calúnias andam impunemente à solta.

E depois o herói morre, e por muito que o autor diga que falar de Marcelino exige uma perspetiva de apaziguamento e moderação, há que reconhecer que é preciso ter muita desfaçatez para escrever esta narrativa completamente inútil.

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18924: Bibliografia (48): "Portugal à Lei da Bala, Terrorismo e violência política no século XX", por António Luís Marinho e Mário Carneiro; Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2018 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23111: Ser solidário (243): Vamos ajudar a Ajuda Amiga a realizar agora o Projeto Água e Energia para a Escola de Nhenque, Bissorã




Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã > Nhenque > 15 de agosto de 2021 >  Complexo Escolar de Nhenque: uma Sala Polivalente com uma pequena Arrecadação, duas Salas de Aulas, dois Depósitos em Cimento para fornecerem àgua às Latrinas, duas Latrinas, uma para os meninos outra para as meninas e um Contentor que serve de Armazém de ferramentas e materiais.

Terminado o projeto de construção das salas da Escola Ajuda Amiga de Nhenque e estando a escola já a funcionar no ano letivo de 2021/22, decorre agora o projeto de fornecimento de água e energia à escola, através de uma bomba eletrica a funcionar com painéis solares. É um projeto feita em parceria pela Ajuda Amiga e a Tabanca Pequena (de Matosinhos).

Fotos (e legenda): ONGD Ajuda Amiga (2022). Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.




23-01-2022 - Projeto Água e Energia para a Escola Ajuda Amiga de Nhenque

Este projeto tem por objetivo o fornecimento de água e de energia à Escola, o que implica uma zona vedada com rede, a abertura de um poço, a construção de uma base para colocar um depósito de 2.000 litros, o fornecimento do referido depósito, a construção de uma estrutura para colocar painéis solares, a instalação dos painéis solares, a criação de um espaço para os equipamentos (controlador, baterias, inversor, quadro elétrico, distribuidor, lâmpada e tomadas), a fim de suportarem o funcionamento de uma bomba submersível e o carregamento de telemóveis, eventualmente depois poderão ser ligados outros equipamentos.

O fornecimento de água irá permitir deitar nas latrinas e para as crianças se lavarem, o que é fundamental estar assegurada, assim como a água para beber. O poço vai ter 23 m, a água apenas aparece a 19 m de profundidade.

Não existe qualquer fonte de energia na zona, pelo que o carregamento de telemóveis será um serviço a prestar à comunidade local, deixando de terem que se deslocar a outra localidade para o fazerem. As receitas deste serviço revertem para a escola, ajudando à precária sustentabilidade da mesma, pois o valor do pagamento das propinas é quase simbólico e não existem quaiquer apoios do Estado. A Escola é uma escola comunitária, portanto pertence à comunidade e é a comunidade é que suporta as despesas da mesma.

Mais detalhes na nossa página de Noticias.

Todos os donativos feitos são integralmente utilizados nos projetos. Os membros da Ajuda Amiga que se deslocam para apoiar os nossos projetos suportam eles próprios as suas despesas, e as despesas de funcionamento da Ajuda Amiga são pagas com as quotas dos sócios.


2. Vamos ajudar a Ajuda Amiga: com pouco podemos ajudar muito

Donativos em Dinheiro

Conta da Ajuda Amiga

NIB 0036 0133 99100025138 26

IBAN PT50 0036 0133 99100025138 26

BIC MPIOPTPL

Declaração de IRS Solidária

Caro/a leitor/a: O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné é solidário com organizações não-governamentais para o desenvolvimento que trabalham na Guiné-Bissau,  como a Ajuda Amiga.

Podes fazer uma declaração de IRS solidária,  não tem quaisquer encargos para ti.

A Ajuda Amiga é uma Pessoa Coletiva de Utilidade Pública e são muitas pequenas ajudas que lhe permitem realizar a sua Missão.

Ajuda Amiga ONGD > NIF  > 508 617 910

 
Donativos em Espécie

Os bens em espécie que a Ajuda Amiga valoriza, prioritariamente, neste momento, são:
  • Dicionários de português;
  • Gramáticas básicas de português;
  • Material escolar;
  • Computador portátil;
  • Impressora laser;
  • Bolas de futebol.
3. Ajuda Amiga > Contactos:

J. Carlos M. Fortunato
Presidente da Direção da ONGD Ajuda Amiga
E-mail jcfortunato2010@gmail.com | E-mail jcfortunato@yahoo.com
Telem. +351 935247306

Escritório > Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento
Rua do Alecrim, nº 8, 1º dtº
2740-007 Paço de Arcos

Sede > Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento
Rua Mário Lobo, nº 2, 2º Dtº.
2735 - 132 Agualva - Cacém

Armazém > Centro de Atendimento da União das Freguesias do Cacém e São Marcos
Rua Nova do Zambujal, 9-A, Cave
2735 - 302 - Cacém

NIPC 508617910
ONGD – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento
Pessoa Coletiva de Utilidade Publica

Sítiohttp://www.ajudaamiga.com

Guiné 61/74 - P23110: Memória dos lugares (439): Safim e o edifício do posto administrativo (Victor Costa, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4541/72, Safim, 1974)



Guiné > Sector de Bissau > Safim > CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar e Safim, 1972/74) > O Victor Costa à esquerda com outro camarada da companhia... Ao fundo, o edifício do posto administrativo... Curioso, tem dois telhados, um mais baixo acompanhando todo a varandim e um sobreelevado, correspondendo ao piso térreo, de pé direito alto... Uma solução da arquitetura colonial, certamente a pensar  na melhoria da ventilação do edifício.

Fotos (e legenda): © Viictor Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), natural da Figueira da Foz, e membro nº 855 da Tabanca Grande (*):

Data - domingo, 20/03/2022, 14:14 

Assunto - Fotografias do edifício da Administração de Safim


Amigos e Camaradas da Guiné,

Seguem duas fotografias minhas, tiradas no mesmo dia, com dois elementos da CCaç 4541/72, em frente à casa do Administrador de Safim (**), bem próximo do nosso Quartel e do desvio  para João Landim Porto. (***)

(...) Um abraço e em particular àqueles que, com o seu exemplo de coragem, continuam a resistir aos seus problemas de saúde. Aqui se vêem os guerreiros deste País.

Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 30 de novembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22765: Tabanca Grande (528): Victor Manuel Ferreira Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974). Senta-se no lugar n.º 855, à sombra do nosso poilão

(...) Mobilizado em 4 de Março de 1974 para a Guiné, beneficio de 10 dias de licença e no dia 16 de Março do mesmo ano, a bordo de um Boeing 727 da FAP, chego ao aeroporto de Bissalanca e daí em transporte rodoviário para Bissau, a fim de render um camarada Fur Mil, morto em combate na região de Bafatá.

Fico instalado no QG e aguardo ordens, que chegam uns dias depois. Fazer o espólio de guerra do camarada acima citado.

No final do mês de Março sou colocado na CCaç 4541/72 em Safim.

Nesta Unidade é-me atribuído o comando de uma Secção constituída por mim, 3 Cabos e 7 praças e dou início à minha actividade operacional realizando patrulhas e controlos em João Landim Sul, Impernal, arredores da BA 12 e Capunga. A Norte do Rio Mansoa no destacamento de João Landim Norte, segurança e patrulhas do Rio Mansoa até Bula.

Em Maio de 1974, fui eleito membro da Delegação do MFA na CCaç 4541/72.

Regresso à Metrópole a 3 de Outubro desse ano em avião da FAP. (...) 

(**) Deve tratar-se de chefe de posto, e não administrador.  Safim não era circunscrição ou concelho, mas posto administrativo.

Guiné 61/74 - P23109: Parabéns a você (2048): Rui Silva, ex-2.º Sarg Mil da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23092: Parabéns a você (2047): José Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73 (Dulombi e Nova Lamego, 1974)

quinta-feira, 24 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23108: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - IV Parte: de 60 a 79


Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande > 26 de Junho de 2010 > O heterodoxo Jorge Cabral, de punho erguido (e dedos descaídos) como nos heróico-operáticos tempos da guerra do Cuor, entre o Jorge Picado (o bravo capitão miliciano ilhavense que, além dos 4 filhos legítimos, arranjou mais uma centena e meia de adoptivos, aos 32 anos, ou seja, uma companhia) e o Hélder de Sousa (o homem da TSF no CTIG, que tinha um poster do Che Guevara no quarto em Bissau, longe do Vietname)... Não foi possível identificar a misteriosa bajuda, que está do lado direito, escondendo o rosto e com uma máquina fotográfica na mão. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro de Jorge Cabral, "Estórias Cabralianas", vol I.
Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp. Tinha um II volume,
 praticamente pronto para ser publicado. 
O editor adoeceu e a  morte surpreendeu o autor.


1. A propósito deste II Volume que o Jorge queria muito publicar em vida, fica aqui o pedido do  camarada Alberto Branquinho, que também fazemos nosso:

"Companheiros: Tentei contactar o filho do Jorge Cabral através do telemóvel que o meu irmão conseguiu obter. Pretendia alertá-lo para a existência de um conjunto de textos que correspondem ao 2º.vol. das "Estórias Cabralianas", que ele queria publicar. Não o conseguiu devido à pandemia e ao agravamento da sua saúde.

Acontece que esse telemóvel respondeu, durante o passado fim de semana, com uma gravação: "não está atribuído". Terá sido, talvez, um 2º. telemóvel que o Jorge teria e que foi desactivado.

Como não pude estar no velório, não contactei o filho, que não vejo há mais de 20 anos. Assim, deixo aqui a todos vós o pedido de, caso tenham meios, contactem o filho Pedro Cabral para o alertar da existência do material correspondente ao 2º. volume (que poderá estar em dossier ou, até, mal organizado, porque o Jorge era assim). É que ele terá que recolher os papéis do pai antes de entregar a casa ao senhorio. Será uma acção para manter a sua memória e satisfazer a sua vontade. Cumprimentos. Alberto Branquinho. 10 de janeiro de 2022 às 11:33 " (Comentário ao poste P22890) (*)


2. Lista das estórias cabralianas, por ordem numérica e cronológica - Parte IV: De 60 a 79 (*):


O Jorge irá continuar a "inspirar-nos" e a "provocar-nos" com as suas "estórias cabralianas"... que não envelheceram!... Continuo, ao fim deste tempo todo, a ler e a reler, divertido, estes "microcontos", um género literário em que  ele se tornou mestre. 

As desta lista são "estórias" publicadas no nosso blogue, entre maio  de 2010 e junho de 2013. A mais lida  da lista terá sido  a n.º 61 (Os poderes do professor Wanatu...): teve 711 visualizalções. A que teve mais comentários (16) foi a n.º 64 (O avô, o neto e os heróis...).

O nosso JERO (a quem chamava o "último monge de Alcobaça", e que também já lá está no Olimpo dos Combatentes, e era um avô  babado) escreveu o seguinte comentário à estória n.º 64:

"Boa noite Jorge. Que bonita história! Li a tua história em voz alta para a minha mulher que se tinha acabado de sentar e não esteve para se levantar quando lhe pedi que viesse até ao cumputador. Na parte final quase me engasguei... comovido. Meia dúzia de linhas e uma história de vida tão sentida. Era tão bom que todos os avós fossem heróis para os seus netos! Esta foi a minha mulher que disse. Um grande abraço de Alcobaça, JERO.

PS - Deste-me força para mandar para o nosso blogue uma história da minha neta Mariana que tem quase 4 anos. 9 de novembro de 2010 às 23:12" (Comentário ao poste P7251)

O Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mndinga e Missirá, 1969/71), advogado, especialista em direito penal, professor do ensino superior, era muito querido e popular entre a malta da Tabanca Grande: basta referir, por exemplo, que o seu poste de parabéns, do dia 6/11/2009 (P5221) teve 1531 visualizações e 30 comentários. Era igualmente uma figura muito querida entre as suas antigas alunas, as assistentes sociais,  que, antes dele morrer, fizeram-lhe uma despedida emocionante à porta da sua casa no Estoril.


19 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6428: Estórias cabralianas (60): O manifesto do nosso alfero (Jorge Cabral)

(...) Caro Luís,
nunca será demais enaltecer o teu blogue,
o qual nos tem permitido, principalmente recordar.

Como tu dizes,
fui um tropa desalinhado,
marginal
e quase sempre provocador,
características que mantive ao longo da vida. (...)


21 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)

(...) Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram. Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome. Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô! (...)


26 de Julho de 2010 > > Guiné 63/74 - P6787: Estórias cabralianas (62): À Tesão, Pelotão!... Este é o Alfero Souza, meu amigo (Jorge Cabral)

(...) Com o Pelotão [, o Pel Caç Nat 63,] em Bambadinca, preparando-me para arrancar para o Xime, eis que deparo, com um Gandhi, de camuflado, que avança para mim com os braços abertos. É o Souza, com "z", meu amigo e camarada de Vendas Novas. (...)


14 de Agosto de 2010 >Guiné 63/74 - P6851: Estórias cabralianas (63): As Sereias do Rio Geba... ou a violência doméstica subaquática (Jorge Cabral)

(...) Foi na Guiné que aprendi a contar estórias às Crianças. Comecei lá e nunca mais parei. Ainda ontem conheci uma Menina. Disse-me que tem um gato e eu falei-lhe das minhas duas moscas, uma de cama, coitada, cheia de febre… Em Missirá, na Escola, comecei com a Branca de Neve e os 7 Anões, mas logo desisti. (...)

9 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7251: Estórias cabralianas (64): O Avô, o Neto e os Heróis (Jorge Cabral)

(...) Mais um dia. Lá vou eu entalado entre os anafados peitos de uma dama e a gravata de um cavalheiro, que hoje fez greve ao chuveiro. O Metro segue cheio, mas há sempre lugar para mais um. Na Estação do Saldanha, é invadido por uma excursão de meninos, com a Mestra à frente (bem jeitosa, por sinal). São barulhentos os putos… e eis que um, apontando para mim, grita:
– Aquele ali, é da raça do meu Avô, é um Senhor Herói!. (...)


15 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7792: Estórias cabralianas (65): Os românticos... também mijam (Jorge Cabral)

(...) Estava calor e todo o quartel dormia a sesta. Em cuecas, o Alfero urinava contra a parede (bem não urinava, mijava, pois na Tropa, ninguém urina, mija). Eis que um jipe se acerca. Nele, três alferes de Bambadinca, acompanhados de duas raparigas. Ainda a sacudir “o corpo do delito”, disfarça, cora, mas que vergonha (!). Claro, ninguém lhe aperta a mão. Elas são a filha do Senhor Brandão e uma amiga de Bissau, cabo-verdiana. Vêm visitar Fá. Chama o fiel Branquinho. Que os leve a todos para o Bar, enquanto ele se veste e se penteia. Regressa impecável. À paisana, de camisinha branca, calças azul-bebé. (...)


17 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7959: Estórias cabralianas (66): O meu colega Mãozinhas (Jorge Cabral)

(...) Foi na prisão de Alcoentre que conheci o Mãozinhas, por intermédio do meu amigo e cliente, o 24, nome que ganhou há muito tempo, num bordel, sito à Rua do Mundo. E porquê, 24? Ora, é fácil adivinhar. O tamanho, melhor, o comprimento (...)


11 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8892: Estórias cabralianas (67): Lagarto ka ta tchora! (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá não existiam rafeiros, até porque era muito mais uma Tabanca do que um Quartel. Lá viviam duzentas almas, pelotão Nativo e pelotão de Milícias, mais população e, no meio de toda esta gente, apenas dez europeus, o que levou muitas vezes o Alfero a interrogar-se: Afinal quem 'colonizava' quem? (...)


4 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8992: Estórias cabralianas (68): Zina, a bordadeira do Pilão (Jorge Cabral)

(...) Chegado na véspera e instalado no Biafra, entrei pela primeira e última vez na Messe de Oficiais em Santa Luzia. Era noite do Bingo. Procurei algum conhecido e encontrei o Gato Félix, estudante de Letras, ora Alferes, o qual também me pareceu entediado. (...)


18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9223: Estórias cabralianas (69): Onde mora o Natal, alfero ? (Jorge Cabral)

(...) Também houve Natal em Missirá naquele ano de 1970. Na consoada, os onze brancos e o puto Sitafá, que vivia connosco. Todos iam lembrando outros Natais. Dizia um:
– Na minha terra…

E acrescentava outro:
– A minha Mãe fazia… (...)

3 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9304: Estórias cabralianas (70): Sambaro, o Dicionário e o Afecto (Jorge Cabral)

(...) Agora que tenho tempo, tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível. Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo. (...)


24 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9796: Estórias cabralianas (71): Fixações etnomamárias: evocando o meu avoengo Carloto Cabral que, no séc. XVIII, crismou Quebo como a Aldeia das Mamas Formosas (Jorge Cabral)

(...) Há uns tempos recebi uma simpática mensagem de uma leitora das “estórias cabralianas”. Gabava-me o humor mas alertava-me, algumas indiciavam uma certa “fixação mamária”. Nada de grave, que não pudesse ser tratado no seu divã, de psicanalista, presumo. (...)

9 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)

(...) Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia. Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”. Resolvi pois gravar uma das minhas noites. (...)

29 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10307: Estórias cabralianas (73): O Conde de Bobadela (Jorge Cabral)

(...) Estou no Tribunal de Mafra à espera de um Julgamento, quando uma mulher me interpela:
- É o Senhor Conde, não é?

Hesito, mas para evitar mais conversa, respondo:
-Sou sim. Como vai a senhora?
-Ai, que já não se lembra da Aurora! Eu trabalhava em casa do Senhor D.Ilídio. O Senhor Conde ia lá muito, quando estava na tropa. (...)

1 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10463: Estórias cabralianas (74): Danado para as cúpulas... (Jorge Cabral)

(...) – Branquinho, eu era danado para as cúpulas ? – perguntei-lhe um dia destes, porque habitualmente me socorro da sua memória. Ainda há meses, logo depois do almoço da CCS do Bart 2917, em Guimarães, no qual contaram tantas estórias do meu Missirá, tive de procurar confirmação junto dele. Praticamente eram todas invenções, pois também têm direito…

A esta questão, o Branquinho nem soube responder.
–Cúpulas ? Quais cúpulas? (...)

10 de novembnro de 2012 > Guiné 63/74 - P10647: Estórias cabralianas (75): O alfero na Casa dos Segredos (Jorge Cabral)

(...) Há mais de sessenta anos que conheço esta Leitaria. Fica na Avenida do Brasil e quando eu era miúdo havia lá uma vaca. Uma vaca em plena Lisboa…Quando conto,pensam que é estória, mas não é, a Senhora Margarida, vendia o leite produzido à vista do cliente. (...)


15 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10943: Estórias cabralianas (76): Não sei se por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer... (Jorge Cabral)

(...) Não sei se foi por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer. Claro que tenho pago escrupulosamente o Imposto de Sobrevivência, mas agora resolvi aceder ao apelo governamental “ todos os velhos devem comparecer na Central de Abate,o que constitui um dever patriótico”. Comuniquei a decisão à família, que ficou muito contente, principalmente a minha bisneta Carol, que foi logo requerer mais um filho nos Serviços de Programação Genética. Um rapagão que nasça já crescido para não dar trabalho (...).

18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11586: Estórias cabralianas (77): As bagas da Dona Binta e os seus efeitos... secundários (Jorge Cabral)

(...) Não sei porque razão os Guineenses escolheram o Largo de S. Domingos, para se reunirem todos os dias. Logo de manhã, chegam, conversam, discutem, compram e vendem. É um lugar recheado de História. Foi de lá que partiram os quarenta conjurados para, em 1640, restaurarem a Independência, mas foi também ali que se iniciou a grande matança de Judeus em 1506. Deixo porém para outros a História séria, pois este velho Alfero conta é estórias (...)

12 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11707: Estórias cabralianas (78): A Justiça da Velha Mandinga (Jorge Cabral)


(...) Em Agosto de 1969, nasceu a minha sobrinha Maria João e logo fui nomeado padrinho, tendo sido marcado o baptizado para Janeiro de 1970, nas minhas férias. Numa sortida a Batatá, comprei um boneco, coisa fina, talvez de origem francesa, para levar como prenda. Parecia mesmo um bébé, de bochechas rosadas, com fralda e biberon. Guardei-o na mesa de cabeceira, mas às vezes mostrava-o às meninas da Tabanca, que frequentavam a escola. (...)



17 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11720: Estórias cabralianas (79): O Capitão-Tenente dos Submarinos (Jorge Cabral)

(...) Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra. Por mim conheço muitas... Mas como esta, que mora no Beco do Cotovelo, à beira da Mouraria, não deve haver mais nenhuma. É na tasca da Conceição, onde às vezes abanco com três ex-combatentes da Guiné. Todos eles lá estiveram, em lugares e tempos diferentes e todos davam pelo nome de Mouraria. (...)
___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

Guiné 61/74 - P23107: (In)citações (201): Invasão da Ucrânia pela Federação Russa (3): Similitudes (Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec Inf do CMD AGR 2957)


1. Em mensagem datada de 22 de Março de 2022, o nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf do CMD AGR 2957, Bafatá, 1968/70), a propósito da invasão da Ucrânia pela Federação Russa, fala-nos de similitudes.


“SIMILITUDES”

Como primeira e principal similitude, Putin e Hitler como não podia deixar de ser. Ambos ditadores.

Hitler pretenderia conquistar toda a Europa, senão todo o mundo. Putin como o próprio já referiu, pretende conquistar os suficientes países, senão muitos mais, para refazer o império dos czares.

Para o fim em causa, Hitler, à revelia das imposições do pós guerra de 14/18 e um tanto à custa do povo alemão, rearmou-se. Putim, também além de se rearmar, contou e conta, com a herança nuclear da União Soviética, em grande parte vinda precisamente da Ucrânia.

Hitler elejeu os judeus como bodes expiatórios, ao que o povo alemão aderiu. Putin colocou na mesma plataforma os americanos, pois sob muitos aspetos não são “flores que se cheirem”.

Hitler, para “experimentar” os outros países, começou por anexar a Renânia e mais tarde a Áustria e a Checoslováquia. Cobardemente, ou não, o resto da Europa aceitou e não cortou o mal na origem. Putim anexou a Crimeia e mais tarde, de forma perfeitamente despótica, implementa a independência dos territórios de Donetsk e Lugansk.

Na sequência da anexação da Áustria, Hitler, sentindo que a Europa continuaria estática e até porque tinha estabelecido um acordo mais ou menos secreto com a União Soviética, invade a Polónia na chamada “blitzkrieg”. Os soviéticos invadem também pelo leste e tomam a sua cota parte no “repasto”. Putin invade a Ucrânia, no que ele também achava ser uma “blitzkrieg”. Não o está a ser, mas ainda resta saber que quota parte levam os chineses, pois parece haver uma similitude com o caso Hitler-Stalin.

Pobres ucranianos, com uma nova similitude. Em 1931/33, Stalin, antevendo uma próxima supremacia da Alemanha pois Hitler se estava a rearmar, também tenta fazer o mesmo. Com a mesma finalidade e com a desculpa da formação dos Kolkozes, manda as tropas para a Ucrânia e saqueia toda a produção agrícola para vender à Europa. Morreram nessa altura, à fome, cerca de 15 milhões de ucranianos, HOLODOMOR, como ficou conhecida esta mortandade. O cheiro a cadáver era em todo o lado insuportável. Agora, a tentativa de Putin fechar a Ucrânia ao mar Negro, impossibilitando as exportações de cereais, parece ter os mesmos propósitos.

Se a última guerra foi uma guerra de Hitler agora, ainda mais, será e só, uma guerra de Putin.

A última guerra foi considerada mundial. Neste momento também está a começar a ser considerada uma guerra mundial por força da economia, sim, porque presentemente, mais do que as armas, a fraca economia fará tantas ou mais vítimas. Não esqueçamos ainda outra arma que é a cibernética.

Para já, a última similitude possível. Hitler sofreu vários atentados a que sobreviveu, mas por último deu um tiro na cabeça…

E para terminar tenho a dizer que já não tenho idade para ir combater, mas sabendo que Portugal mandou para lá, via Roménia, armamento incluindo espingardas G3, só espero que nessa remessa esteja incluida a G3 que me estava distribuida na Guerra da Guiné.

Porto, 18 de Março de 2022
Fernando Gouveia

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Março de 2022 > Guiné 61/74 - P23104: (In)citações (200): Invasão da Ucrânia pela Federação Russa (2): Glória à Ucrânia! Glória à sua Infantaria!... (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703)

Guiné 61/74 - P23106: (De) Caras (187): Ainda a cantora Isabel Amora, no espectáculo no Cine Gabu, em março ou abril de 1970 (Tino Neves, ex-1.º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71)


Foto nº 1


Foto nº 2
  

Foto nº 1A > Isabel Amora (pormenor)

Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS BCAÇ 2893 (1969/71) > Março ou abril de 1970 > Espectáculo no Cine Gabu com a cantiora Isabel Amora.

Fotos (e legendas): © Tino Neves (2022). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Tino Neves, foto atual

 

O Constantimno Neves, à direita, nesse dia do espectáculo 
no Cine Gabu esteve de serviço como 1.º cabo PU - Polícia de Unidade.


1. Mensagem de Constantino Neves, mais conhecido por "Tino" Neves, ex-1.º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71 (hoje, bancário reformado, vivendo na Cova da Piedade, Almada; tem mais de sessenta referências no nosso blogue):

Data - 21/03/2022, 16:06

Assunto - Espectáculo no Cine Gabu, com a Isabel Amora


Luís Graça, tudo bem?

Desculpa, só agora responder ao teu pedido.(*)

O fotógrafo que tirou estas fotos, as do poste P23080 (*), chamava-se Joaquim Rodrigues, era soldado maqueiro. Viria a falecer uns meses mais tarde, no ataque a Nova Lamego, na noite de 15/11/1970.(**)

Consegui mais uma foto doutro camarada, mas diz não saber a data exata em que foi o espectáculo: deve ter sido logo no início da nossa comissão, talvez em março ou abril de 1970, pelo que se encaixa nas datas por ti sugeridas.
 
Nesta foto mostra muito bem a face da cantora e o modo que se veste (minissaia) (Fotos nºs 1 e 2).

E também mostra, de costas, o Capitão Gaspar Borges, que ainda era o Comandante da CCS, e que depois de alguns meses foi transferido para Canjadude (CCaç 5) (Foto nº 2).

Como já informei, não era usual haver PU na Vila, mas como havia esse espetáculo, o Capitão resolveu criar a PU para sair do quartel. Como o Furriel que estava de  Sargento de Dia se baldou,  eu como Cabo de Dia fui destacado para fazer esse serviço. Mais informo, que eu era o Cabo Escriturário ao seu serviço.

Abraços.
Tino Neves

2. Comentário do editor LG:

A minissaia foi criada em Londres, em 1966, pela estilista Mary Quant. Tornou-se um elemento icónico da emergente cultura pop.  Foi uma revolução na moda, no vestuário e nos costumes, tal como o biquíni. 

Eram 30 cm de saia, em comprimento, que se usavam com bota alta e t-shirts ou camisetas apertadas. Teve um grande impacto, a par da recusa do sutiã, no desenvolvimento da revolução sexual e feminista, depois da aparecimento da pílula anticoncecional, surgida nos EUA logo início da década de 1960. 

Numa sociedade conservadora como a portuguesa  do Estado Novo, a introdução da minissaia causou algum furor, mas acabou por ser aceite. Ou melhor: foi rapidamente adotada pelas nossas jovens, em meio urbano e a música ié-ié ajudou a levar a minissaia à província, ao "Portugal profundo", juntamente com as festas de verão, as visitas dos emigrantes e o regresso dos sodlados da "guerra do ultramar"... 

Na Guiné, em 1970, já não era novidade. Algumas esposas, sobretudo mais novas, de  camaradas nossos vestiam minissaia, nomeadamente em Bissau. De resto, estava-se em África, e o clima pedia roupas leves. Até a tropa usava camisa curta e calções...

Mas no meio militar, no mato, uma mulher branca, de minissaia, ainda não  era muito habitual ver-se. Era uma raridade... Daí talvez a ideia peregrina  do capitão de infantaria Gaspar Borges (que não era SGE, e tinha a esposa consigo em Nova Lamego), nessa noite improvisar uma PU - Polícia de Unidade... Mais valia prevenir do que remediar, deve ter pensado o capitão... 

Na realidade, também não me lembro de ver PU em lado nenhum, no mato, no interior da Guiné, nomeadamente em Bambadinca e em Bafatá, no meu tempo (1969/71).
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Notas do editor: