1. Mensagem do nosso camarada e amigo Jorge Cabral (ex-Alf Mil Art, Comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71), com data de 16 de Março de 2011:
Amigos!
Abraços e mais uma estória
Jorge Cabral
ESTÓRIAS CABRALIANAS (66)
O Meu Colega Mãozinhas
Foi na prisão de Alcoentre que conheci o Mãozinhas, por intermédio do meu amigo e cliente, o 24, nome que ganhou há muito tempo, num bordel, sito à Rua do Mundo. E porquê, 24? Ora, é fácil adivinhar. O tamanho, melhor, o comprimento...
Primeiro cliente, depois amigo, simpático vigarista, trouxe-me, o Mãozinhas, dizendo:
- Este também esteve na Guiné!
Onde e quando? Quis saber. Lá me respondeu. E qual era a sua especialidade?
- Mecânico de máquinas de escrever, esclareceu o Mãozinhas.
- Boa especialidade, concluí. E a conversa ficou por aqui.
Mas curioso, fui depois informar-me da actual especialidade do Mãozinhas. Carteirista, sem grande sucesso, sempre com um pé lá dentro, outro cá fora, pois para ele a Justiça foi sempre rápida e funcionou.
Passaram meses, eis que recebo um telefonema do Mãozinhas. Quer beber um copo e recordar “os tempos da Guiné”. E eu vou. À Tasca do Camões na Rua da Malapata. Que maravilha. Ao balcão, um zarolho - o Camões -, nas três mesas, um moldavo, um negro, duas velhas, o Mãozinhas e a “sua senhora”.
Estou entre a minha gente, que bom lugar de exílio. Até provo as pataniscas e prometo para a próxima saborear os carapaus de escabeche. O Mãozinhas é quase residente, ali passa as noites, enquanto a “sua senhora” trabalha na Rua do Desterro.
À noite na Rua do Desterro? Finalmente o Mãozinhas encontrou um bom “emprego”.
Mãozinhas é meu colega. Conta “estórias”. Pois, da Guerra e da Guiné.
Porém às vezes, os ouvintes duvidam e foi por isso que me convidou. É que há uns dias afirmou que na sua zona era frequente a tropa ser emboscada por gorilas, que atacavam à pedrada. Agora pede-me uma confirmação.
- É verdade sim senhor! ...garanti.
Que personagem o Mãozinhas! E que falta faz nesta Tabanca!
À despedida perguntei-lhe – “Tens NET, Mãozinhas?”
- “Tenho sim, respondeu, um rapaz e uma menina!”
Jorge Cabral
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7792: Estórias cabralianas (65): Os românticos... também mijam (Jorge Cabral)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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15 comentários:
Este Jorge Cabral "É UM ESPECTÁCULO SEM PRECEDENTES".
Um abraço
Humberto Reis
Desconcertante!... Só tu me fazes rir quando se fala da Guiné... Estás sempre do lado da fauna humana que não conhece as senhoras e os senhores da liga da protecção da natureza... humana...
Bons sonhos, climatizados!
CARO JORGE,
EIS DE NOVO O ALFERO CABRAL AO SEU MELHOR NÍVEL...
abraço
manuelmaia
Caro 'Alfero'
Como podias tu desmentir o 'Mãozinhas'?
E até nem sequer há muita inverdade no que ele queria ver confirmado!
Macaco é macaco, chamem-lhe 'sagui', 'saguim', 'chimpanzé','gorila', 'orangotango' 'dari', 'macaco-cão', etc.. É claro que 'gorila' sempre impressiona mais.
Quanto aos locais onde nos movimentamos, tenho a certeza que há muito 'boa gente' incapaz de se aproximar deles, quanto mais 'estar lá'!
Abraço
Hélder S.
Caro Alfero
Uma pergunta faço eu, sabendo a resposta ou o mundo virou do avesso: a carteira veio contigo.?! Claro que sim. Isso é gente amiga do amigo ( ou era e a porra é essa... os tempos passam...)eu sei lá agora...2011!
Mas eu ri e só tu de facto meu caro Jorge eras capaz de contares uma desta.
Desanuvia e mostra algo que não digo.
Para a próxima continua nas pataniscas. O molho dos carapaus...ou pergunta á Senhora do Mãozinhas...
Abraço Alfero Cabral do T
Caros camaradas
O que é que as histórias do Jorge Cabral têm de especial para nos fazerem sorrir e/ou emocionarem e/ou nos tocarem tão fortemente?
Para mim há uma resposta: vão ao fundo de nós, chegam ao cerne daquilo que somos, antes do "aparelhamento" a que a dita "civilização" nos sujeitou(a). O animal, ser humano, está presente nessas histórias por entre as frases, por trás das palavras, qual "macaquinho" às piruetas, a atirar-nos à cara coisas que nos passavam despercebidas,umas vezes ingénuo, outras insolente, e a fazer-nos rir (ou assustar) com as suas traquinices ou a humedecer-nos os olhos com o seu humanismo por vezes transbordante. Não estão a ver?
Um abraço
Mais uma estória, e como sempre fantástica, um mimo.
Oh Jorge meu camarigo, que bela história!
Pois é, nas tascas entre dois copos ouvem-se as melhores histórias de sempre.
E o que é uma boa história sem um pouco de fantasia???
Um grande abraço
Meu caro Alfero
Está estória é:
Simples, acutilante e certeira.
Humana, belíssima e desprendida.
Como Luis diz;
Desconcertante.
O alfero Cabral «Manga di sabi»
fazer o necessário para nos pôr bem dispostos logo de manhã.
Obrigado por este momento e um abraço
Hó Cabral
Quando é que públicas as tuas crónicas e "estórias" da nossa Guiné.
Aguardo com ansiedade essa públicação.
Um abraço do amigo.
Fernando Almeida
Ao conteudo não me refiro, é como sempre excelente.
Surpreende-me é teres deixado de fumar, ou então alguém limpou a foto e ficaste sem cachimbo, terá sido o "mãozinhas"?
Um abraço,
BS
Como vês, alfero Cabral, a avaliar pelos fãs que crescen, não tens raz
ão para adiar o lançamento do teu livro... LG
Com autores destes , para que são precisos argumentistas (que muito respeito)?
Sim, porque com textos desta qualidade, para que serve o audiovisual? Já lá está a imagem cheia de cores vivas,a música, o movimento dos interpretes, etc.,etc. Na penumbra de uma sala, sentado num sofá e um candeeiro irradiando uma luz q.b. para ler estas estórias, você está na melhor sala de espectáculos até hoje concebida.
Quanto a livros, sou mais um que está à espera há longo tempo.
Um abraço dum camarigo adoptivo.
António Almeida
Camarada Cabral,
Mais uma ESTÒRIA (66), contada com a subtileza do Jorge Cabral. O final, simplesmente espectacular!!!
Pedro Neves
Só agora localizei este post. Seria mau se não o chegasse a ler. Divirto-me muito com este tipo de escrita, excelentemente produzida pelo inexcedível Jorge Cabral. Parabéns!
Um abraço do Silva
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