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domingo, 10 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26135: As nossas geografias emocionais (32): Bafatá, 1959, ano de cheias, fazendo jus ao nome da vila ("o rio vai cheio") (Leopoldo Correia, ex-fur mil, CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65)

 

Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1959 > O jardim local, na margem direita do rio Geba Estreito. Ao centro, a estátua de Oliveira Muzanty.


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1959 > Cheias (1): Uma das ruas da zona ribeirinha inundadas; à esquerda, o comerciante Carlos Marques da Silva


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1959 > Cheias (2):  uma loja com um passadiço improvisado


Foto nº 4 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1959 > Cheias (3):  o mercado que já existia nos 30, de arquitetura revivalista



1. Ainda não se falava de "alterações climáticas", mas já o rio Geba Estreito (ou Xaianga) transbordava, periodicamente, as suas margens, inundando a baixa da vila de Bafatá (próspera, a partir dos anos 30/40, graças ao "ciclo da mancarra")...


As fotos chegaram, há uns largos anos atrás, ao nosso blogue, pela mão do nosso tabanqueiro Leopoldo Correia (ex-fur mil, CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65) (foto à esquerda).

Estas e outras fotos de Bafatá, de 1959, foram tiradas por um familiar seu, ligado ao comércio local (Casa Marques Silva), casado com uma senhora libanesa, filha do senhor Faraha Henen.

Mais tarde, falando com o Leopoldo Correia, ao telefone, vim a descobrir que afinal o Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande!...

De facto:

(i) era um homem das sete partidas: depois da "peluda", viveu em Angola, trabalhou na Diamang;

(ii) voltou para o "Puto', trabalhou na EDP, por exemplo na Central Termoelétrica do Barreiro onde fez amizade com amigos e conterrâneos meus, o Carlos e o Hugo Furtado (que andou comigo na escola primária);

(iii) na Guiné, também conheceu, entre outros, o Fernando Rendeiro, comerciante de Bambadinca a cuja casa fui algumas vezes almoçar, no tempo em que lá estive (julho de 69/março de 71)...

(iv) falou-me da viúva do Rendeiro, mandinga, Auá Seid (entretanto já falecida) e dos filhos (que  o comerciante de Bambadinca, natural da Murtosa,  nunca nos mostrava mas de quem falava com tanto carinho e orgulho: tinha uma filha a tirar direito, em Coimbra)...

(v) vivia em Águas Santas, Maia;

(vi) não tenho, há muito, notícias dele.

As fotos revelam um drama que se tem agravado com o tempo: as cheias do rio Geba (ou Xaianga).

A antiga cidade colonial de Bafatá (topónimo que vem do mandinga, "baa faata", "o rio vai cheio), infelizmente ainda não conseguiu ultrapassar a decadência urbana,demográfica e económica, que tem a idade da independència do país. (**)

O fim do "ciclo da mancarra", " a semente do diabo" (imposta pelos "colonialistas", e de queo grupo CUF, através da Casa Gouveia, foi o grande beneficiário)  foi também, material e  simbolicamente, o fim da "princesa do Geba". Em contrapartida, o "ciclo do caju", imposto pela nova economia planificada de Luís Cabral, não produziu a riqueza que se esperava, para a grande maioria dos guineenses, em geral, e os bafatenses, em particular, que criaram novas tabancas  ao longo do eixo rodoviário do leste, que liga Bambadinca a Nova Lamego. 

No nosso tempo havia as tabancas da Rocha,da Ponte Nova, da Nema... Há muitas mais... Mas continua a haver inundações no Vale de Bafatá, como este ano, provocando grandes estragos, em culturas (arroz de bolanhas de água doce) e em habitações, ao longo do curso do rio até Bambadinca,
______________

Notas do editor:

domingo, 29 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24805: As nossas geografias emocionais (12): A fonte pública de Bafatá, construída em 1918, na zona conhecida como a "Mãe de Água" ou "Sintra de Bafatá", local aprazível e romântico onde chegou a haver almoços dançantes ao tempo do Esq Rec Fox 2640 (1969/71)

Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá : A zona da "Mãe de Água" ou "Sintra de Bafatá" > c. 1969/70 > Um piquenique


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá : A zona da "Mãe deÁgua" ou "Sintra de Bafatá" > c. 1968/70 > Na foto, o Fernando Gouveia [ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, transmomntano, residente no Porto]

Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legednagem complementar: Blogue Luís Graça & Caamaradas da Guiné]



Fotos nº 3 e 4A : Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > "Fonte Pública de Bafatá, 1918" (e não 1948, como por lapso indicámos no poste P24803). Na foto, o Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47 do Esq Rec Fox 2640.



Fotos nºs 4 e 4A : Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1959 > "A fonte pública de Bafatá, 1918"  (e não 1948, como por lapso legendámos inicialmente no poste P24803 (*),

Esta belíssima fonte (Fotos nºs 3 e 4) , na zona da "Mãe de Água",  também conhecida na época colonial como "Sintra de Bafatá", é portanto do início do desenvolvimento urbano de Batafá, ainda no tempo da República. 

Segundo a entrada na Wikipedia, em "1906, o território guineense foi dividido num concelho (Bolama) e seis residências: Bissau, Cacheu, Farim, Geba, Cacine e Buba. (...) Cacheu continuava como capital do distrito de Cacheu, porém perdeu mais da metade de suas terras para a formação dos distritos de Farim (actual Oio) e Geba (actual Bafatá). Geba torna-se capital do distrito de mesmo nome.

"Em 4 de agosto de 1913 'Bafatá'  (primeiro registro com este nome) recebe o título de vila." (...). Foi elevada a cidade 67 anos depois  (em cerimónia que decorreu a 12 e 13 de março de 1970, com a presença do Ministro do Ultramar) (**), segundo o Manuel Mata.
  
Outro guia e especialista de Bafatá dos anos1968/70, o arquiteto Fernando Gouveia, que lá viveu em como alferes miliciano, com a sua esposa,  Regina, descreve esta zona num dos seus postes do roteiro de Bafatá (***), como  sendo a "Mãe d'Água" ou a "Sintra de Bafatá", local aprazível e romântico onde havia umas mesas para piqueniques e que, de vez em quando, "a esposa do comandante do Esquadrão organizava uns almoços dançantes em que eram convidados, além dos alferes, e alguns furriéis, "todas as meninas casadoiras de Bafatá, libanesas e não só"... 

 O Fernando Gouveia não quis identificar o Esquadrão, mas o último do seu tempo, foi o Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71, cujo comandante era o cap cav Fernando da Costa Monteiro Vouga; reformou-se como coronel, e é autor de diversos livros sob o nome de Costa Monteiro.
 
A foto nº 4 foi-nos disponibilizada pelo nosso camarada Leopoldo Correia (ex-fur mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65); esta e outras fotos otos de Bafatá, de 1959, foram tiradas por um familiar do nosso camarada. "ligado ao comércio local (Casa Marques Silva), casado com uma senhora libanesa, filha do senhor Faraha Heneni".
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(***) Vd. poste de 12 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12434: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (10): A Mãe d'Água ou a 'Sintra de Bafatá', local aprazível e romântico onde se realizavam almoços dançantes para os quais se convidavam os senhores alferes, alguns furriéis e as moças casadoiras

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20154: Fotos à procura de... uma legenda (117): os bombeiros voluntários de Bolama, em 1938, e o Sporting Clube de Bafatá, em 1958



Fonte: Câmara Municipal de Lisboa > Hemeroteca Digital > Jornal programa, editado pelo Sport Lisboa e Bolama, novembro de 1938, p. 4 (com a devida vénia).(*)


1. Não sei se o nosso camarada e amigo António Estácio, autor de "Bolama, a saudosa" (edição de autor, 2016, 496 pp.) nos sabe dizer quem era o comandante dos Bombeiros Voluntários de Bolama, em 1938, talvez o próprio autor, R. C. P.,  do texto que acima reproduzimos.  

O eng. Estácio não era desse tempo, nasceria  nove anos depois, em 1947, em Bissau, no chão Papel, mudando-se depois, com os pais, para Bolama, onde fez a instrução primária. Mas deve estar lembrado desta humanitária associação, de que reproduzimos também uma imagem, embora de muita fraca qualidade e pior resolução...

Tal como as equipas de futebol, raros os eram  negros, da Guiné, que faziam parte destas e outras associações, como por exemplo os clubes desportivos... mesmo 20 anos depois, como era o caso do Sporting Clube de Bafatá (vd. foto a seguir).

Enfim, as duas fotos merecem uma legenda! (**).


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1958/59 > Foto nº 242: > "Equipa de futebol do Sporting Clube de Bafatá"

Foto enviada pelo nosso camarada Leopoldo Correia (ex-fur mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65). (***)

[Observação do LC:"Fotos de Bafatá, de 1959, tiradas por um familiar ligado ao comércio local (Casa Marques Silva), casado com uma senhora libanesa, filha do senhor Faraha Heneni",


2. Recorde-se aqui alguns dados do recenseamento populacional de 1950,  na colónia da Guiné,  para se perceber melhor a estrutura social do território: havia uma clara distinção entre  uma pequena minoria de "civilizados" (os que tinham a  cidadania portuguesa),  e a grande maioria dos  "indígenas". 

"Civilizados" eram então 8320 residentes, dos quais 501 originários da metrópole, 1703 provenientes  do arquipélago de Cabo Verde e os restantes 4644 da própria Guiné.  Dos 366 estrangeiros, a maioria deles eram imigrantes libaneses e seus descendentes. A taxa de analfabetismo dos "civilizados" ultrapassava os 43%. Os "indígenas" eram cerca de meio milhão de indivíduos, distribuindo-se por 30 grupos étnicos. (****).

"Índigenas" eram todos os guineenses que não podiam ser "assimilados a europeus": (i)  eram  "de raça negra (sic) ou dela descendentes"; (ii) não sabiam ler nem escrever (o português); (iii) não possuíam bens ou profissão remunerada;  e, "last but not the least",  (iv)  praticavam "os usos e os costumes do comum da sua raça" (sic)...

Mais exatamente, em 1950, a população era constituída por "negros" (503 035), "mestiços" (4 568) e "brancos"  (2 263), num total de 510 776.  Os "brancos" (europeus, na sua grande maioria) representavam apenas 0,4% do total da população. Só depois da II Guerra Mundial, é  que o seu número começou a aumentar: 1226, em 1930,  1419 em 1940, 2263 em 1950, 13686  em 1960...

Enfim, em 1950, o ensino oficial obrigatório abrangia apenas um escasso milhar de alunos, que frequentavam as 13 escolas primárias. As escolas das missões católicas acolhiam, por sua vez, cerca de 10 mil alunos. Em 1949, com a criação do Colégio-Liceu Honório Barreto, os guineenses passam a ter a oportunidade de aceder ao ensino secundário.

Em 1961, a distinção entre "civilizados" e "indígenas" foi finalmente abolida... No consulado de Sarmento Rodrigues, na segunda década de 1940, a colónia fez um notável esforço de modernização... de que o PAIGC vai recolher frutos: os seus melhores quadros saem da nova "elite crioula"...

Enfim, em 1973, no final do consulado de Spínola, já havia cerca de 4 centenas de "escolas oficiais" (mais cerca de 8 dezenas de escolas das Missões), para um total de 46 mil alunos... Mas quantas dessas escolas eram apenas simples "postos escolares militares" ?... Um esforço digno de nota,  que não foi inglório mas que pecou por tardio...

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20152: Jorge Araújo: memórias de Bolama: a imprensa e o comércio locais há oito décadas atrás.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19415: In Memoriam (333): Auá Seidi (c.1935-2018), viúva do comerciante de Bambinca (c. 1925-2011), Rodrigo Rendeiro, natural da Murtosa, já falecido em 2011 (Leopoldo Correia, amigo da família, ex-fur mil, CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65).


Audá Seidi (c. 1935-2018), viúva de Rodrigo Rendeiro (c. 1925-2011), comerciante de Bambadinca, natural da Murtosa, foto que nos foi remetida pelo nosso camarada Leopoldo Correia, amigo da família, e que vive em Águas Santas, Maia (, foi fur mil, mil da CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira PintoEncheia e Mansoa, 1963/65).

O nome completo do marido era Rodrigo José Fernandes Rendeiro, e terá ido para a Guiné em plena II Guerra Mundial, com 17 anos, pelo que terá nascido por volta de 1925/26. A Auá Seidi era mais nova do que ele cerca de 10 anos. E era muito bonita,  dizia-se. O casal teve 9 filhos.

Já aqui contámos a "odisseia" do Rendeiro, às mãos do PAIGC, quando era comerciante no Enxalé, em 1963 (**). Levado para o  Senegal, conseguiu chegar à Gâmbia e, com apoio do consulado da Suiça, teve a sorte de regressar a Bissau.

A seguir, talvez no fim desse ano ou princípios de 1964,  deve ter ido para Moçambique, onde tinha parentes,m  para fugir à guerra e às represálias do PAIGC. Presumimos que tenha voltado e regressado à Guiné, fixando-se então em Bambadinca  por volta de1965(66. Terá regressado à sua terra natal,  em 1974, amargurado. Receio bem que tinha tido problemas logo a seguir ao 25 de Abril, pela sua colaboração com as NT e, eventualmete, com a PIDE/DGS.

1. Mensagem de hoje do nosso editor Carlos Vinhal, às 10h59:

Luís,

O Leopoldo Correia acaba de me comunicar o falecimento da esposa do senhor Rendeiro, Auá Seidi,  pessoas que parece teres conhecido em Bambadinca, onde ela era conerciante. Faleceu ontem e é sepultada hoje na Murtosa. Queres publicar a notícia no blogue ? Junto foto da senhora.

Abraço,
Carlos Vinhal




Notícia necrológica (Cortesia da funerária ToniFuner, da Murtosa)

2. Nota do editor Luís Graça:

Obrigado ao Leopoldo Correia e ao Carlos Vinhal.  Sim, conheci e estive, algumas vezes,  na casa da família Rendeiro, em Bambadinca, entre julho de 1969 e março de 1971.  E provei, nessas ocasiões,  o famoso chabéu da nhá Auá Seidi (ou Seide). Mas nunca tive o prazer de a conhecer pessoalmente. Nem sequer alguma vez a vi. E ao Rendeiro também nunca mais o vi, depois do nosso regresso a casa.

No meu tempo, ele convivia não só com a malta da CCAÇ 12 bem como com alguns camaradas nossos das CCS (BCAÇ 2852, 1968/70; e depois BART 2917, 1970/72)... Era nosso "vizinho", a sua casa e a sua loja situavam-se períssimo do quartel, na tabanca de Bambadinca. Além disso, fazíamos colunas logísticas juntos, ele tinha uma ou mais camionetas que alugava à tropa...Fica esta nota de saudade (*). E o apreço da Tabanca Grande a esta grande família. Infelizmente, o Rodrigo Rendeiro  (**) já nos tinha deixado há cerca de oito anos, conforme notícia dada também pelo Leopoldo Correia:

(...) Infelizmente já não está entre nós, [, o Rendeiro,] pois foi sepultado na sua terra natal [, Murtosa,] em 10/09/2011, tendo eu assistido ao funeral e tido contacto com toda a "ínclita geração", os filhos de Fernandes Rendeiro / Auá Seide, da qual só tenho a dizer bem. A que estudava em Coimbra, era licenciada em direito e era magistrada: faleceu também há cerca de 5 anos. Era juíza do Ministério Público em Lisboa. (...). 

Diz-nos o Paulo Santiago, em comentário do dia 19, às 00h17: "Não sabia que a filha do Rendeiro, Ana Maria, julgo ser este o nome,tinha morrido. Entrou para Direito juntamente com a minha irmã, infelizmente também falecida há quinze anos,aos 53 anos de idade."

O nosso editor comentou: "Nome completo: Ana Maria Fernandes Rendeiro Bernard (, este último apelido deve ser do casamento).  Nasceu em 1953 e terá morrido em 2006 ou 2007, com 53 anos. (Em 1 de setembro de 2006 ainda era viva, constando da listagem dos Magistrados do Ministério Público no Distrito Judicial de Lisboa.) 

A fotografia que se vê ao fundo, na mesa de cabeceira da cama da Auá Seidi, deve ser dessa filha, prematuramente desaparecida. E que era a 'menina dos olhos' do nosso amigo Rendeiro, por andar a estudar na Metrópole. De facto, cursou direito e entrou para o ministério público. A Auá, por sua vez, deve-se ter convertido ao cristianismo ao casar-se com o Rodrigo Rendeiro.
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Notas do editor:


(**) Vd. postes de:


2 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17926: (D)o outro lado do combate (15): continuação da odisseia do Rodrigo Rendeiro que acabou por regressar a Bissau, com um salvo-conduto do consulado da Suíça em Dacar, que o levou até à Gâmbia...

3 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17929: (D)o outro lado do combate (16): O Rodrigo Rendeiro, depois de regressar a Bissau, terá fornecido preciosas informações à FAP , permitindo a localização (e bombardeamento) das bases do PAIGC em Morés e Dandum, segundo Maria José Tístar, autora de "A PIDE no Xadrez Africano: conversas com o inspetor Fragoso Allas", Lisboa, Colibri, 2017 (pp. 191/192)

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17920: (D)o outro lado do combate (14): a odisseia do português, da Murtosa, Rodrigo Rendeiro: uma viagem atribulada, de cerca de mil km, de 3 a 26 de setembro de 1963, de Porto Gole, onde tínha um estabelecimento comercial e era casado com uma senhora mandinga, de linhagem nobre, Auá Seidi, e tinha cinco filhos,até ao Senegal (Samine, Ziguinchor e Dacar), unindo ocasionalmente o seu detino ao do PAIGC... Relatório, assinado por ele, mas de autenticidade duvidosa...



Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72 > Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o  Rio Geba ao fundo, e a saída para leste (no sentido de Bafatá)... Em primeiro plano, lado nordese do quartel e um dos abrigos, sobranceiros à tabanca, e a morança do comerciante português Rodrigo Rendeiro, do outro lado do arame farpado... Ficava do lado direito, quando se subia, vundo de Bafaté e do rio Geba,  a famosa rampa de acesso ao quartel e posto administrativo de Bambadinca.

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Portal Casa Comum > Instituição:Fundação Mário Soares

Pasta: 07075.147.042 [Clicar aqui para ampliar]

Título: Relatório sobre o ingresso de Rodrigo Rendeiro no PAIGC

Assunto: Relatório assinado por Rodrigo Rendeiro, remetido ao Secretário Geral do PAIGC, sobre a sua saída de Porto Gole até ao ingresso no PAIGC.

Data: Quinta, 26 de Setembro de 1963

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios XI 1961-1964.

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Documentos

Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Arquivo Amílcar Cabral > 04. PAI/PAIGC > Relatórios/Directivas


Citação:
(1963), "Relatório sobre o ingresso de Rodrigo Rendeiro no PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41411 (2017-10-30)


Transcrição:

Dacar, 26 de setembro de 1963

Relatório ao Exmo. Sr. Secretário do PAIGC sobre a minha saída de Porto Gole, até ao ingresso nas fileiras nacionalistas (PAIGC)

No dia 3 de setembro de 1963, cerca das 7 horas da tarde, chegou a Porto Gole para libertação desta pequena vila da Guiné, dita Portuguesa, uma força nacionalista comandada pelo camarada Caetano Semedo,  e que não encontrou resistência por parte da população civil, visto esta comungar da mesma ânsia de liberdade do jugo colonialista português comandado por Salazar.

Quando o camarada Semedo chegou à minha casa comercial, convidou-me para abrir a porta da residência, com palavras e gestos corteses, o que logo me cativou e mais ainda fez luz no meu espírito[:] que os nacionalistas combatem por, e com, um ideal elevado, ou seja, a independência da sua terra do jugo capitalista e opressão salazarista, e não são indivíduos de baixos instintos, como diz a propaganda imperialista.

O camarada Semedo sabia perfeitamente que eu tinha conhecimento da sua base em [Baradoulo e não Barradul, vd. mapa de Mamboncó], povoação biafada, a 10 km de Porto Gole, e que da minha loja partia[m] os abastecimentos para os seus camaradas de luta. O meu empregado José Duarte Pinto era o responsável dos civis militantes em Porto Gole, [e] a quem eu dizia sempre que estivesse tranquilo, que da minha parte jamais haveria traição alguma, não só por viver na Guiné, dita Portuguesa, onde labutava [h]á vinte anos, mas também por encontrar nessa Guiné a mulher, de raça mandinga, e os nossos  cinco filhos, que são a minha principal família.

O camarada entendeu, como eu estava colaborando com eles, e para não sofrer [represálias](*) da parte das autoridades portuguesas, levar-me para a base de[ Baradoulo, e não Barradul] e depois para lugar seguro. Assim começou a minha viagem até à fronteira do  Senegal, passando pelas bases de Mansodé [, a sudoeste de Mansabá] e Morés, onde estive 14 dias, sendo tratado com todos os pergaminhos (sic) de delicadesa por parte do camarada Osvaldo Máximo Vieira e de seus camaradas de luta.

Parti do Morés no dia 17 do corrente, pelas 4 horas da tarde, para a fronteira do Senegal, jantando na povoção de [Fajonquito, a sul do Olossato] (**), comandada pelo camarada Mamadu Indjai, pessoa de trato afável que me dispensou todas as atenções. Depois de jantar nesta base, partimos para a povoação de Lete [, ou melhor, Leto, a sudoeste do Tancroal], onde cheguei aproximadamente às 3 horas da madrugada do dia 18. Descansámos nesta povoação até cerca das 4 horas da tarde. Donde partimos para a travessia [do rio Cacheu e não do rio Farim...] que já se fez de noite, devido à vigilância duma vedeta colonialista. 

Cerca das duas horas da manhã [, do dia 19,] chegámos à povoação fronteiriça de Jiribã [e não Giribam], já [no] Senegal, onde descansámos até  às 7 horas da manhã. De seguida partimos para [Ierã, em português, e não Eran], onde o guia nos antecedeu, partindo para Samine [, a leste de Ziguinchor, capital de Casamansa, e não Zinguichor]. Devido a má interpretação deste guia, as autoridades senegalesas tomaram-nos {por] prisioneiros de guerra, pelo que fomos detidos e algemados. 

À nossa chegada, o camarada Lourenço [Gomes], responsável do Partido em Samine, protestou junto das autoridades senegalesas, fazendo-as ver que não éramos prisioneiros mas sim refugiados que vínhamos pedir asilo no seio do PAIGC. Então fomos desalgemados e conduzidos ao lar dos camaradas,  onde almoçámos. Após o almoço seguimos para Ziguinchor, ainda detidos,  onde o camarada Lourenço [Gomes] nos antecedeu para tratar da nossa [libertação](***). 

Mas em Ziguinchor,  ainda durante [os] 4 dias [em]  que lá estivemos, continuámos detidos,  devido a [má] comunicação, com a gendarmaria, de Samine [e de] Ziguinchor, como prisioneiros. Após estes 4 dias, saímos de Ziguinchor para Dacar no dia 23, onde chegámos somente por volta das 8 horas da noite do [dia] 25, devido a uma avaria na viatura que nos transportava.

Como os nossos camaradas de Dacar, que têm como responsável o camarada [Pedro] Pires, não soubessem da nossa chegada, tivemos que dormir na prisão até  ao dia seguinte.  Depois de termos contacto como o camarada [Pedro] Pires, este dirigiu-se ao ministério do Interior, tratou dos nossos interesses e fomos postos em liberdade. Dirigi-me para o lar dos camaradas, onde me encontro desde o dia 25 do corrente.

Com o vivo protesto de saudações para o nosso partido, e que a nossa luta contra os colonialistas portugueses alcance em breve o seu fim.

[Assinatura, legível] Rodrigo Rendeiro,


 Revisão, fixação de texto e notas: Luís Graça

*No original, repressões; **  No original, Feijão Quito; *** No original, liberdade.


Parte final do relatório, datilografado, de 2 páginas, com a assinatura do comerciante português Rodrigo Rendeiro, datado de Dacar, 26 de setembro de 1963... 


1. Das vezes (duas ou três, pouco mais) que estive na sua casa, em Bambadinca, convidado para os seus famosos almoços de frango de chabéu, em geral aos domingos ou feriados, entre julho de 1969 e março de 1971, ele nunca me falou desta "odisseia" nem muito menos do seu passado de eventual militante ou simpatizante do PAIGC. 

Nem poderia falar, obviamente,  estando na presença de militares portugueses, alferes e furriéis milicianos aquartelados em Bambadinca (CCAÇ 12, CCS/BCAÇ 2852, CCS/BART 2917...), com quem gostava de conversar, aproveitando para matar saudades de Portugual e da sua terra, Murtosa,  e, eventualmente, saber coisas da tropa e da guerra...

Só muito mais tarde, depois do 25 de Abril, é que alguns de nós viemos a saber que o Rendeiro tinha sido  "informador" da PIDE/DGS (*), e que inclusive teria tido problemas na terra da sua amada esposa, Auá Seidi, mandinga, de linhagem nobre, e dos seus queridos filhos. (Sou testemunha do amor que ele tinha aos filhos, embora ele nunca os tenha apresentado  a n+os, tal como nunca nos mostrou a esposa).

Dando como certo o relato destes acontecimentos, mas pondo em causa a "sinceridade" do Rendeiro que, de um dia para o outro, se vê "apanhado" pela teia do PAIGC, os dados biográficos a seu respeito batem certo com o que  dele conhecíamos:

(i) o seu nome completo era Rodrigo [José[ Fernandes Rendeiro, natural da Murtosa, onde de resto iria falecer, tendo o seu funeral ocorrido em 10/9/2011, conforme relato do nosso camarada Leopoldo Correia, de quem era amigo desde os tempos da Guiné (##);

(ii) em Bambadinca, tratávamo-lo simplesmente pelo apelido, Rendeiro; era um homem discreto, polido, magro de cara, moreno, que pouco falava de si; e eu da sua terra, só conhecia a ria de Aveiro e o ensopada de enguias, tinha lá ido de comboio em 1963, com 16 anos numas férias grandes;

(iii) em Banmbadinca era nosso vizinho e, de certo modo, nosso "protegido"; além disso, tinha negócios com a tropa (aluguer de viaturas para transporte de material);

(iv) em 1963, o Rendeiro já estava na Guiné há 20 anos, ou seja desde os seus 17 anos; deve ter emigrado, portanto, em plena II Guerra Mundial (c. 1942/1943), e pelas nossas contas deve ter nascido por volta de 1925/1926, e não em 1920, como eu supunha, teria portanto 44 anos quando eu conheci em Bambadinca;

(v) tal como consta do seu "depoimento" acima transcrito, casou com uma senhora, de etnia mandinga /(, de seu nome Auá Seidi), de que tinham 5 filhos (à data dos acontecimentos);

(vi) nesse ano de 1963 deve ter nascido o seu filho Rodrigo Fernandes que viria a morrer, aos 53 anos de idade,  em 24 de abril de 2016 (, conforme notícia necrológica que encontrámos na Net); residia em Pardelhas, Murtosa, e era "irmão de Maria Libânia, Joaquim Carlos, Joana Maria, Álvaro Henrique, João Herculano, Maria Paula e Hilário, todos com os apelidos Fernandes Rendeiro,  e de Ana Maria Fernandes Rendeiro Bernard, já falecida" [, licenciada em direito, procuradora da República, em Lisboa];

(vii) o comandante Caetano Semedo, aqui citado, devia ser da família de  Inácio Semedo (,conhecido agricultor de Bambadinca, velho nacionalista, de quem Amílcar Cabral foi padrinho de casamento,  e foi um dos históricos do PAIGC); é uma história a aprofundar, com mais tempo e vagar...

2. Tenho dúvidas sobre a "vontade sincera e espontânea" do Rendeiro em pedir a adesão ao PAIGC e ficar em Dakar. Ele terá sido "obrigado" pelas circunstâncias a "colaborar" com o o PAIGC... Era comerciante em Porto Gole, em 1963, e vivia das boas relações com a população indígena, mas também não podia dar-se ao luxo de entrar em rota de colisão com as autoridades portuguesas. Afinal, a Guiné era a sua segunda terra e era lá que ele queria criar os seus filhos e dar-lhes um futuro.  

Lendo com atenção o documento que  acima se transcreve, parece-nos que o comteúdo e a forma não poderiam ser da lavra do Rendeiro... Alguém quis (talvez o "camarada Caetano Semedo" pou talvez o Lourenço Gomes, que estava no Senegal) mostrar bom serviço ao secretário-geral do PAIGC. A "conquista" de Porto Gole  e a "adesão" de um comerciante branco à "luta de libertação" eram dois "grandes roncos", em meados de 1963, com seis meses de guerra...

O documento está escrito em bom português, com um erro ou outro de ortografia, que corrigimos, mas é seguramente muito melhor do que o português da maior parte dos comandantes operacionais do PAIGC.

O Rendeiro, casado com uma senhora mandinga, de linhagem nobre, devia ser pessoa considerada pelos militantes e simpatizantes do PAIGC, e pela população indígena em geral. No relatório é citado o famigerado Mamadu Indjai, mandinga, que irá pôr o setor L1 (Bambadinca) a ferro e fogo em meados de 1969... Acredito que, por razões de sobrevivência, o Rendeiro tenha sido obrigado a colaborar no abastecimento da guerrilha da base de Barradul, a 10 km a norte  de Porto Gole.

Só o seu amigo (e nosso camarada) Leopoldo Correia (##), a par dos seus filhos (que devem viver em Portugal, na Murtosa), pode esclarecer este período obscuro e dramático da vida do Rendeiro. Ele regressou a casa, mas não sabemos quando. E provavelmente nessa altura deve-se ter estabelecido em Bambadinca onde eu e outros camaradas o conhecemos em meados de 1969.

Enfim, mais um episódio para a série "(D)o outro lado do combate" (###). Pode ser que o Jorge Araújo, nosso colaborador permanente e conhecedor do Arquivo Amílcar Cabral,  queira e possa acrescentar ainda  novos dados sobre este caso. O Jorge teve ter tido oportunidade de conhecer o Rendeiro, em Bambadinca, nos anos em que esteve no Xime, Enxalé e depois Mansambo (entre 1972 e 1974).

Também a nossa amiga Maria Helena de Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, é capaz de saber algo mais sobre esta história. O Rendeiro, em Porto Gole, e o Pereira,no Enxalé, eram amigos e talvez amigos... O Pereira fixou-se em Bissau, com a família, em 1962. O Reneiro ficou. Não haveria muitos mais brancos em redor, no início da década de 1960.


3. Tentando reconstituir (e estimar o tempo de) o percurso feito pelo  Rendeiro (e a sua escolta), calculamos que ele terá feito cerca de mil km, de Porto Gole (partida a 4/9/1963) a Dacar (chegada a 25/9/1963). É uma estimativa grosseira, com base nas estradas de hoje.

O Rendeiro fez pelo menos 160 km a pé, de Porto Gole até à fronteira senegalesa, entre Bigene e Guidaje:

(i) partiu de Porto Gole no dia 4 de setembro, possivelmente logo de manhã, passando pela base de Mansodé e chegando ao Morés possivelmente no dia seguinte;

(ii) aqui ficou 14 dias, partiu no dia 17, pelas 4 horas da tarde, a caminho da fronteira;

(iii) jantou na povoção de Fajonquito, a sul do Olossato;

(iv) depois do jantar, partiu para a povoação de Leto, a sudoeste do Tancroal, aonde chegou aproximadamente às 3 horas da madrugada do dia 18;

(v) descansa nesta povoação até cerca das 4 horas da tarde do dia 18,  partindo de seguido para a travessia do rio  Cacheu, o  que já se fez de noite, para ilkudir vigilância da marinha portuguesa;

(vi) cerca das duas horas da manhã  do dia 19, chegou à povoação fronteiriça de Giribam, já no Senegal; aqui descansou até  às 7 horas da manhã;

(vii) partiu depois, em viatura, para Ierã e Samine onde foi detido pela gendarmaria;

(viii) depois do almoço, seguiu para Ziguinchor, onde ficou mais 4 dias detido;ix)

(ix) esclarecida a sua situação e o seu novo estatuto, seguiu de Ziguinchor para Dacar no dia 23, aonde chegou somente por volta das 8 horas da noite do dia 25, devido a uma avaria na viatura que o transportava (, a ele e à sua escolta).

Em resumo, as forças do PAIGC levariam normalmente entre  4 a 5 dias, do centro da Guiné (Porto Gole, na margem direita do rio Geba) até à fronteira (,corredor de Sambuiá), fazendo uma média de 30/40 km por dia. Um ferido grave, levado para o hospital de Ziguinchor, morreria fatalmente pelo caminho,,,
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(...) Infelizmente já não está entre nós, pois foi sepultado na sua terra natal [, Murtosa,] em 10/09/2011, tendo eu assistido ao funeral e tido contacto com toda a " ínclita geração", os filhos de Fernandes Rendeiro / Auá Seide, da qual só tenho a dizer bem. A que estudava em Coimbra, era licenciada em direito e era magistrada: faleceu também há cerca de 5 anos. Era juíza do Ministério Público em Lisboa. (...)

/###) Último poste da série > 25 de outubro de  2017 > Guiné 61/74 - P17905: (D)o outro lado do combate (13): Jovens recrutas do PAIGC... (Jorge Araújo)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17739: Em busca de... (278): informação sobre uma senhora cabo-verdiana, Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que teve 3 filhas: (i) Ana Gracia Malaval, nascida em 1918, em Bafatá, de uma união com o sr. Edmond Malaval; e (ii) Judite e Linda Vieira, em Bissau, de uma outra união com um sr. português ou cabo-verdiano, de apelido Vieira (Ludmila A. Ferreira)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto: © Ludmila Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem da nossa leitora Ludmila A. Ferreira [que julgamos ser guineense, ou de origem guineense]:

De: Ludmila A. Ferreira

Data: 5 de setembro de 2017 às 08:36

Assunto: Pedid de informação sobre família cabo-verdiana que viveu em Bafatá [entre 1900 e 1980]

Bom dia,  Senhores

Encontrei um blogue na Net, com o vosso email, sobre a Guiné- Bissau.

Estou à procura de uma família que viveu em Bafatá  entre 1910 e o golpe [de Estado] de 14 de Novembro [de 1980, liderado por 'Nino' Vieira] .

Vou enviar as descrição agora:

Maria da Graça de Pina Monteiro (sozinha na foto nº1), nascida no ano de 1900, é uma senhora cabo-verdiana que "casou" com um senhor cujo apelido era Vieira, em Bissau. Achamos que esse Vieira era um português ou cabo-verdiano e não um guineense. Teve duas filhas com um esse senhor: Judite e Linda Vieira [foto nº 2].

Por isso agradeceria caso souberem de alguma informação sobre algum português ou cabo-verdiano com esse apelido.

Mas antes de ter essas filhas com o Vieira, essa senhora,  a Maria da Graça de Pina Monteiro,  viveu antes em Bafatá e teve uma filha com um senhor que se chamava Edmond Malaval, da Maison Gurnier.  Essa filha se chamava Ana Gracia Malaval (nascida em 2/4/1918).

Portanto: o que eu queria saber é quem era o Vieira que se casou e teve filhas com Maria da Graça de Pina Monteiro. E se por acaso já ouviu falar das duas filhas, Judite e Linda Vieira.

Ludmila Ferreira

2. Resposta do editor:

Ludmila, obrigado pelo  seu contacto. Se a nossa intuição está certa, a Ludmila é guineense ou de origem guineense, a viver neste momeno no Brasil, segundo a  informação que encontrámos no Facebook.

Fizemos questão de publicar o seu pedido, na esperança de que alguém tenha uma informação útil para si. O nosso blogue é essencialmente lido e feito por homens (e algumas mulheres) que participaram na guerra colonial, no período de 1961/74.  Temos também gente da Guiné-Bissau. Temos centenas de fotos de Bafatá e de Bissau e muitos textos sobre estas duas cidades, incluindo referências a famílias (portuguesas, cabo-verdianas, sírio-libanesas e outras) que conhecemos... Só pelo apelido "Vieira" vai ser difícil localizar o pai da Judite e da Linda, que poderão ter nascido nos anos 20/30 do século passado. Quando ao senhor, Edmond Malaval,  de nacionalidade possivelmente francesa e empregado da "Maison Gurnier", não temos qualquer pista... Mas pergunto-lhe: não seria antes "Maison Garnier" ? Pode haver aqui um erro ortográfico... "Gurnier" não nos parece que seja um apelido francês...

Em todo o caso vamos contactar um camarada, o Leopoldo Correia, que conviveu, de mais perto, com famílias de Bafatá, dos anos 50/60... Pode ser que ele nos dê alguma "pista"...

Peço à Ludmila para manter o contacto connosco.

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17698: Em busca de... (277): Júlio Rodrigues, natural de Viseu, engenheiro formado no Porto, divorciado, com dois filhos e vivendo actualmente em São Tomé e Príncipe grande parte do ano... Ex-combatente, conhecemo-nos nas ilhas, e deveríamo-nos encontrar neste período de férias em Portugal mas não tenho o seu contacto telefónico... Será que a Tabanca Grande me poderia ajudar a localizá-lo? (Renata Monteiro Marques)

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17318: Historiografia da presença portuguesa em África (75): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte IV: No chão fula, Bafatá e Gabu, 6 de fevereiro de 1947...


Guiné > Bafatá > 1958 > Equipa do SCB [Sporting Clube de Bafatá], onde não há um "negro da Guiné"...  Em 6/2/1947, na sua sede,  foi servido um "porto de honra" ao ilustre representante do governo de Salazar, a que "assistiu toda a população branca" (, segundo a notícia da agência "Lusitânia", que a seguir se reproduz...).

Era filial do Sporting Clube de Portugal que, nesta época (1946/49),  era o patrão do futebol português e, de resto,m conotado com as elites... Foi  a época de ouro dos "cinco violinos" (Jesus Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e José Travassos).

Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]











Recorte do Diário de Lisboa, nº 8692 , ano: 26, edição de sábado, 8 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)


(Cortesia do portal Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos >  Pasta: 05780.044.11043


Citação:

(1947), "Diário de Lisboa", nº 8692, Ano 26, Sábado, 8 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22334 (2017-5-4)



1. Depois do Cacheu e do Oio, prosseguia, em 6 de fevereiro de 1947, a visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias, engº Sá Carneiro, sendo então governador-geral   Manuel Sarmento Rodrigues.

Já aqui sublinhámos a importância política de que se revestia esta demorada visita, de quase um mês, quer para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, quer para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... Transmontano de Freixo Espada à Cinta, era considerado um  homem "à esquerda" do regime, com afinidades político-ideológicas com Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias . Foi governador geral da Guiné entre 1945 e 1949 e será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.


Manuel Sarmento Rodrigues (cortesia da revista da Revista Militar)

Em diversos postes publicados ao longo da existência de 13 anos deste blogue, temos chamado a atenção dos nossos leitores para o trabalho que Sarmento Rodrigues desenvolveu na modernização de Bissau e outras cidades, e na organização do território,sem esquecer a criação do Centro de Estudos da Guiné, com a excecional colaboração de Avelino Teixeira da Mota, então 2º tenente da marinha,  responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).

O engº Rui Sá Carneiro tinha chegado ao território no dia 27 de janeiro de 1947, justamente com a missão de, em representação do governo central, encerrar as comemorações do descobrimento da Guiné, em 1446.

Fonte: Wikipedia
2. Da leitura da notícia da agência "Lusitânia", publicada no "Diário de Lisboa", na sua edição  de 8/2/1947  (pp. 1 e 11), constata-se: 

(i) a tendência para o reforço da aliança das autoridades portugueses as da colónia com o grupo étnico semi-feudal fula;

(ii) a valorização do "chão fula", em especial da região do Gabu, "habitada pelas raças mais civilizadas da colónia" (sic), no dizer do administrador da circunscrição, Luís Correia Garcia;

(iii) a visita protocolar à tabanca do "grande chefe fula" Madiu Embaló";

 (iv) a existência de cavalos, ainda na época, montados pelos régulos fulas e mandingas;

(v) o esforço das autoridades coloniais para combater e erradicar doenças tropicais como a doença do sono;

(vi) o peso relativo da comunidade sírio-libanesa no leste da Guiné;

(vii) a existência de um  campo de aviação no Gabu (e não, ainda, Nova Lamego...) e a inauguração  da nova capela;

(viii) o progresso de Bafatá e o prestígio do clube desportivo local, o Sporting Clube de Bafatá. em cuja sede foi servido um "porto de honra" ao ilustre representante da metrópole, a que "assistiu toda a população branca"...

e, por fim e não menos significativa, (ix) a importância que os seres humanos atribuem às "encenações do poder", em todos os sítios e épocas, tanto os súbditos como os governantes.... A colónia da Guiné, em 19947,  não escapava à regra da ciência política...(LG).
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19 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17155: Historiografia da presença portuguesa em África (72): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte I: A consagração do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues, como homem reformador e empreendedor (Reportagem de Norberto Lopes, "Diário de Lisboa", 27/1/1947)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16835: Fotos à procura de... uma legenda (78): velhas placas com sinais de trânsito... encontradas no mato (António Murta, ex-alf mil linf, MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)



Foto AA


Foto A


Foto B

Guiné > Região de Tombali > Nhala > 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) > O "achamento"  de uma velha placa de trânsito, nas imediações de Nhala, presumivelmente em finais de 1973.


Fotos (e legenda): © António Murta   (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]


1. Comentário ao poste P16828 (*) do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74),


Data: 13 de dezembro de 2016 às 02:05

Assunto: Placa triangular Aviso de Minas


Olá,  Luís Graça.


Quis responder à tua questão colocada no Poste 16828 (`*) sobre as fotos do camarada Luís Mourato, mas, mais uma vez não consegui. Ocorre o "Erro  404". Pensava que já tinha resolvido a questão, mas afinal está na  mesma.

A tua questão era sobre a placa triangular que se vê na foto nº 2A.  Colo aqui o comentário que já tinha feito mas que não consegui enviar.



Foto nº 2 A > Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) > Destacamento de Mato Cão > Junto ao arame farpado, os "tugas" jogam à bola... O destacamento não estava armadilhado à volta, assegura-nos o comandante..  Mas, ao fundo, à direita, depois de ampliada a foto, parece-nos ver, reconhecer ou adivinhar uma tabuleta com triângulo vermelho e os conhecidos dizeres "Perigo Minas!"... (Devia tratar-se de um placa quialquer, humorística, uma brincadeira da rapaziada, diz-me o Luís Mourato Oliveira, ao telefone.). [Vai assinalada com um retângulo a amarelo, para os leitores mais curiososque gostam de decifrar estes pequenos mistérios]. (*)


Foto (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Aquela placa triangular, vermelha e branca, não é um aviso de campo de  minas. Tenho umas fotos com uma igual e diz, na parte branca, mais  larga, "Gazolina SPHINX" (Foto A). Ou era publicidade antiga, ou era daquelas bombas de gasolina que havia à beira das estradas, em que atendiam os  clientes a dar à bomba… [Repare- que "gazolina" está escrita de acordo com a ortografia antiga, anterior a 1945.]

Essa placa foi encontrada num passeio à volta  de Nhala,  numa pista que tinha sido a estrada Buba-Xitole, em desuso há  tantos anos que já não se destacava do mato. Reconhecemo-la,  por nalguns troços ainda ter séries de postes com cabos telefónicos (!).

A placa foi colocada por alguém no ramo de uma árvore ainda jovem, no  meio daquilo que fora a estrada. A árvore entretanto crescera muito e, agora neste passeio, o soldado que teimou na retirada da placa, depois  levada enfiada na cabeça, foi partindo os ramos mais finos até  conseguir desenfiá-la. (Foto B).

Quase levou menos tempo a retirar a placa do que agora a explicar…

Um grande abraço e BOAS FESTAS.

António Murta

















Foto C (Cortesia do sítio Restos de Coleção > Mobil Oil Portuguesa )

2. Resposta do António Murta a uma mensagem enviada pelo editor:


Camarada Luís Graça:

Obrigado pela tua pronta e completa resposta ao meu e-mail.

Afinal, esclareci-te apenas em parte acerca da placa triangular porque, usando o link com a história da Mobil em Portugal (que me indicaste) e o relato daquele camarada de Angola, também eu só agora fico a saber que se tratava de uma verdadeira placa de trânsito (estrada sem prioridade) como outras que existiam então, patrocinadas pela Vacuum Oil Company, como se pode ver na pequena foto (C) que tirei do link referido acima.

[A Mobil teve várias designações em Portugal, começou por chamar-se Vacuum Oil Company, em 1896; em virtude várias fusões, era conhecida por Socony-Vacuum Oil Cpmapny a partir de 1941; a designação Mobil Oil Portugal remonta a 1971.]

Anexo ainda a foto B  em que se vê o soldado a separar a placa da árvore, como expliquei antes, e a foto A com o pessoal de Nhala posando em grupo para a fotografia, provavelmente ainda em 1973, e onde se pode ver um elemento (furriel miliciano) a ostentar a placa triangular como moldura. 

É uma foto de baixa qualidade com um grupo que integrava vários furriéis, um alferes (fardado) e outro a tirar a fotografia, que era eu, vários cabos e soldados, todos em missão de relaxamento nas imediações de Nhala, mas no lado virado para Oeste onde era raro pormos os pés.

Desculpa voltar a usar esta via mas estou sem condições de responder na caixa de comentários.

Grande abraço.


3. Comentário do editor:

Eureca, António!...Tens olho clínico: "Gazolina Sphinx", é isso mesmo!... Era uma marca ligada à Vacuum Oil Company / Mobil Oil,,, É um achado "arqueológico" uma placa destas: o "triângulo", vermelho: não era de facto um sinal de "minas perigo!", tens toda a razão, devia ser um sinal de trânsito ou uma placa a  sinalizar um posto de gasolina à beira da estrada,,, neste caso a antiga estrada Bissau-Mansoa-Bafatá que passava em Mato Cão! (!)...

Vamos disponibilizar, para os nossos leitores, o link com a história da Mobil em Portugal (e colónias)...bem como o limk para o sítio onde se pode ler  um relato de um ex-combatente em Angola que encontrou no mato, no cu de Judas, uma placa como esta.... (vd. foto de grupo com o sinal de trânsito encontrado).

De acordo com o teu palpite, trata-se mesmo de um sinal de trânsito,. um dos primeiros a serem colocados nas nossas estradas (em Portugal continental, ilhas adjacentes e colónias), sendo esta iniciativa patrocionada, no final dos anos 20,  pela Vacuum Oil Company.

Obrigado pelas tuas,  sempre preciosas,  fotos de Nhala!... Dou conhecimento do teu "achado" ao camarada Luís Mourato Oliveira (que é do teu tempo e que veio de Cufar para comandar o Pel Caç Nat 52!...), que me garantiu ontem, ao telefone, não haver  campos de minas em Mato Cão... E partilhamos, naturalmente, também com os nossos leitores,  estes nossos "achados" (**).

Um alfabravo fraterno (.. e natalício!). Luís




Foto nº 225 A > Bombas de gasolina da Mobil / Mobilgas  na Casa Barbosa [, Bafatá, s/d, c. finais anos 50/princípios de 60 ]

Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição:Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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