sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19415: In Memoriam (333): Auá Seidi (c.1935-2018), viúva do comerciante de Bambinca (c. 1925-2011), Rodrigo Rendeiro, natural da Murtosa, já falecido em 2011 (Leopoldo Correia, amigo da família, ex-fur mil, CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65).


Audá Seidi (c. 1935-2018), viúva de Rodrigo Rendeiro (c. 1925-2011), comerciante de Bambadinca, natural da Murtosa, foto que nos foi remetida pelo nosso camarada Leopoldo Correia, amigo da família, e que vive em Águas Santas, Maia (, foi fur mil, mil da CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira PintoEncheia e Mansoa, 1963/65).

O nome completo do marido era Rodrigo José Fernandes Rendeiro, e terá ido para a Guiné em plena II Guerra Mundial, com 17 anos, pelo que terá nascido por volta de 1925/26. A Auá Seidi era mais nova do que ele cerca de 10 anos. E era muito bonita,  dizia-se. O casal teve 9 filhos.

Já aqui contámos a "odisseia" do Rendeiro, às mãos do PAIGC, quando era comerciante no Enxalé, em 1963 (**). Levado para o  Senegal, conseguiu chegar à Gâmbia e, com apoio do consulado da Suiça, teve a sorte de regressar a Bissau.

A seguir, talvez no fim desse ano ou princípios de 1964,  deve ter ido para Moçambique, onde tinha parentes,m  para fugir à guerra e às represálias do PAIGC. Presumimos que tenha voltado e regressado à Guiné, fixando-se então em Bambadinca  por volta de1965(66. Terá regressado à sua terra natal,  em 1974, amargurado. Receio bem que tinha tido problemas logo a seguir ao 25 de Abril, pela sua colaboração com as NT e, eventualmete, com a PIDE/DGS.

1. Mensagem de hoje do nosso editor Carlos Vinhal, às 10h59:

Luís,

O Leopoldo Correia acaba de me comunicar o falecimento da esposa do senhor Rendeiro, Auá Seidi,  pessoas que parece teres conhecido em Bambadinca, onde ela era conerciante. Faleceu ontem e é sepultada hoje na Murtosa. Queres publicar a notícia no blogue ? Junto foto da senhora.

Abraço,
Carlos Vinhal




Notícia necrológica (Cortesia da funerária ToniFuner, da Murtosa)

2. Nota do editor Luís Graça:

Obrigado ao Leopoldo Correia e ao Carlos Vinhal.  Sim, conheci e estive, algumas vezes,  na casa da família Rendeiro, em Bambadinca, entre julho de 1969 e março de 1971.  E provei, nessas ocasiões,  o famoso chabéu da nhá Auá Seidi (ou Seide). Mas nunca tive o prazer de a conhecer pessoalmente. Nem sequer alguma vez a vi. E ao Rendeiro também nunca mais o vi, depois do nosso regresso a casa.

No meu tempo, ele convivia não só com a malta da CCAÇ 12 bem como com alguns camaradas nossos das CCS (BCAÇ 2852, 1968/70; e depois BART 2917, 1970/72)... Era nosso "vizinho", a sua casa e a sua loja situavam-se períssimo do quartel, na tabanca de Bambadinca. Além disso, fazíamos colunas logísticas juntos, ele tinha uma ou mais camionetas que alugava à tropa...Fica esta nota de saudade (*). E o apreço da Tabanca Grande a esta grande família. Infelizmente, o Rodrigo Rendeiro  (**) já nos tinha deixado há cerca de oito anos, conforme notícia dada também pelo Leopoldo Correia:

(...) Infelizmente já não está entre nós, [, o Rendeiro,] pois foi sepultado na sua terra natal [, Murtosa,] em 10/09/2011, tendo eu assistido ao funeral e tido contacto com toda a "ínclita geração", os filhos de Fernandes Rendeiro / Auá Seide, da qual só tenho a dizer bem. A que estudava em Coimbra, era licenciada em direito e era magistrada: faleceu também há cerca de 5 anos. Era juíza do Ministério Público em Lisboa. (...). 

Diz-nos o Paulo Santiago, em comentário do dia 19, às 00h17: "Não sabia que a filha do Rendeiro, Ana Maria, julgo ser este o nome,tinha morrido. Entrou para Direito juntamente com a minha irmã, infelizmente também falecida há quinze anos,aos 53 anos de idade."

O nosso editor comentou: "Nome completo: Ana Maria Fernandes Rendeiro Bernard (, este último apelido deve ser do casamento).  Nasceu em 1953 e terá morrido em 2006 ou 2007, com 53 anos. (Em 1 de setembro de 2006 ainda era viva, constando da listagem dos Magistrados do Ministério Público no Distrito Judicial de Lisboa.) 

A fotografia que se vê ao fundo, na mesa de cabeceira da cama da Auá Seidi, deve ser dessa filha, prematuramente desaparecida. E que era a 'menina dos olhos' do nosso amigo Rendeiro, por andar a estudar na Metrópole. De facto, cursou direito e entrou para o ministério público. A Auá, por sua vez, deve-se ter convertido ao cristianismo ao casar-se com o Rodrigo Rendeiro.
_________

Notas do editor:


(**) Vd. postes de:


2 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17926: (D)o outro lado do combate (15): continuação da odisseia do Rodrigo Rendeiro que acabou por regressar a Bissau, com um salvo-conduto do consulado da Suíça em Dacar, que o levou até à Gâmbia...

3 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17929: (D)o outro lado do combate (16): O Rodrigo Rendeiro, depois de regressar a Bissau, terá fornecido preciosas informações à FAP , permitindo a localização (e bombardeamento) das bases do PAIGC em Morés e Dandum, segundo Maria José Tístar, autora de "A PIDE no Xadrez Africano: conversas com o inspetor Fragoso Allas", Lisboa, Colibri, 2017 (pp. 191/192)

5 comentários:

Luís Graça disse...

DEpois dos acontecimentos em Angola, em fevereiro e março de 1961, muitos comerciantes na Guiné começaram a recear pela sua segurança e das suas famílias... Os que estavam no interior, mandaram mulher e filhos para Bissau ou para a Metrópole...

Não sabemos ao certo o que se passou com a família do Rodrigo José Fernandes Rendeiro, ou simplesmente Rodrigo Rendeiro (como ele assinava). Há uma informação na Net sobre um dos filhos do Rendeiro e da Auá Seidi, Álvaro Henrique, que foi futebolista porfissional, tendo chegado a jogar na I Liga, no CD Feirense, em 1989/90... Ora o Álvaro Álvaro nasceu a 8 de Dezembro de 1964, não na Guiné, mas em Moçambique...

Para ter nascido em Moçambique, em finais de 1964, é porque os pais viajaram para lá e lá viveram algum tempo... Sabemos que o Rendeiro tinha lá família, da Murtosa...

Depois da "odisseia", às mãos do PAIGC, em setembro/outubro de 1963, será que o Rendeiro tentou recomeçar a vida em Moçambique ?

Por outro lado, em Moçambique ainda não havia guerra, em finais de 1963 e princípios de 1964... A guerra colonial aqui teve início "oficial" em 26 de setembro de 1964...

A ser verdade, tudo indica que o Rendeiro (e a família) se instalaram em Bambadinca em 1965 ou 1966...Bambadinca era mais seguro que o Enxalé, de má memória...

Em 1963 ele teria 37 anos e cinco filhos... E na declaração de pretensa adesão ao PAIGC, ele diz claramente que a Guiné foi a terra que escolheu, a terra da mãe dos seus filhos, e que era "de raça mandinga".

A história saiu furada ao PAIGC... Mas, provavelmente, o PAIGC também nunca lhe perdoou...Daí ter, seguramente, feito as malas a seguir ao 25 de Abril... Não sabemos se a família já cá estava... Hoje percebo melhor a "avidez" com que ele nos escutava, puxando sempre a conversa para a situação político-militar na Guiné... Também aqui não houve "almoços grátis"...

Luís Graça disse...

Não deve ter tido uma vida fácil e desafogada, o Rendeiro. Tinha um bando de filhos e não sei se a todos conseguiu pô-los a estudar na Metrópole. Falava-nos com orgulho da filha que andava a estudar em direito na Universidade de Coimbra. Ela fará depois carreira como magistrada do ministério público. Infelizmente morreria cedo, creio até que antes do pai.

Com a guerra, a vida dos comerciantes na Guiné (metropolianos, cabo-verdianos, sírio-libaneses...) era uma "roleta russa", estando muito dependentes da sorte da guerra...Muitos perderam os seus negócios, sobretudo no sul, mas também no leste e no norte...Uma das fontes de rendimento, com a guerra, foi o aluguer de camiões à tropa. para as colunas logísticas... Muitas delas já andavam "presas por arames"... E uma mina ou uma "roquetada" podia ser o fim...da aventura na Guiné... Em geral, eles não arriscavam a pele, tinham os seus empregados para conduzir os veículos...

A guerra também condicionou muito a safra de arroz e coconote... Em contrapartida, a economia de guerra revitalizou o comércio local... É pena não haver estatísticas...

paulo santiago disse...

Não sabia que a filha do Rendeiro,Ana Maria,julgo ser este o nome,tinha morrido.Entrou para Direito juntamente com a minha irmã,infelizmente também falecida há quinze anos,aos 53 anos de idade.

P Santiago

Luís Graça disse...

Nome completo: Ana Maria Fernandes Rendeiro Bernard (este último, deve ser apelido de casamento). Terá nascido em 1953 e morrido em 2006,com 53 anos.

Beatriz Neto disse...

Aqui fala uma das netas da Aua Seidi (Beatriz Seidi Neto) e gostaria de dizer que gosto bastante do blog, mas gostaria de avisar que a última foto da mesa de cabeceira não é a minha tia Ana e sim a minha prima Sara, filha do Alvaro. A mesa de cabeceira é dedicada aos netos e aos bisnetos.