domingo, 13 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19400: Blogpoesia (603): "Revolução dos cravos", "Sementes de lusitanidade" e "O Arco do Triunfo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Revolução dos cravos

Numa madrugada de Abril,
deflagrou em Lisboa uma revolução.
Em vez de sangue, uma núvem de perfume encheu todas as ruas.
Foram cravos rubros que cobriram o chão, as lapelas e os canos das espingardas.

Para trás ficaram sepultados todos ódios e vexames.
Uma nova aurora boreal banhou de esperança a noite negra em que se vivia.
Enormes vagas de entusiasmo varreram as almas dos lisboetas.
Pouco a pouco se espalharam por todos os campos e aldeias.

Uma era nova se abriu.
Ficou mais perto o mundo inteiro.
Um sonho lindo.
Um sonho apenas que não mais esqueceu...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 6 de Janeiro de 2019
7h3m
Jlmg

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Sementes de lusitanidade

Caíram, há séculos, as sementes de lusitanidade nas ruas de Lisboa.
Cresceram, floriram, frutificaram e se expandiram por todo Portugal.
Cobriram as encostas e os vales, desde a montanha até ao mar.

Um país laborioso e destemido, de operários, lavradores e marinheiros
se fixou e afirmou.
Adoptou a cruz de Cristo como bandeira branca e azul.
Se abalançou aos mares e, pioneiro, devassou os continentes, se cobrindo de glória.

Assimilou povos tão diferentes na cor e nos falares.
Se caldeou tão profundamente que, ainda hoje, se ouve o falar de Camões por essas paragens tão longínquas
e todos nos querem bem.

Quando a história os recolheu a casa, mesmo assim, seus talentos se espalham por todo o mundo,
sendo reconhecidos como os melhores dos melhores,
no campo das artes e das ciências.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 7 de Janeiro de 2019
7h18m
Jlmg

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O Arco do Triunfo

Porta larga e alta sempre aberta.
Passa por ele o mundo
na busca curiosa de Lisboa.
Tem um arco de volta inteira.
Duas colunas fortes o sustentam.
Tem a força da paz e liberdade.
Sua sombra não chega ao chão.

Recebe o sol logo ao nascer.
Se despede dele ao cair da tarde.
Saúda o Tejo seu forasteiro desde outrora.
O convida a ver o mar.

Ponto de chegada e de partida para quem vem e vai.
Se banha de alegria vendo as gentes que o contemplam.
Seu gesto é sempre o mesmo:
- Voltem sempre!

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 10 de Janeiro de 2019
7h8m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19371: Blogpoesia (602): "Desespero das flores", "Olhares enviezados" e "Pontes de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

6 comentários:

Valdemar Silva disse...

Mendes Gomnes
Isso é que são saudades, e por cá céu azul e sol radiante.

...Ai Lisboa quem pudesse
'É Lisboa a namorar', dueto de Cuca Roseta e Jan Dulles
(fado em português e alemão)

Ab.
Valdemar Queiroz

Luís Graça disse...

A dor, a saudade, o sofrimento, a paixão... são a "matéria viva" que alimentam os poetas!... Um grande abraço, Joaquim, contina a escrever sobre nossa sempre amada cidade... Permite-me que te junte a ti, nesta tarde soalheira de invero, com 13º graus lá fora... E que venha a chuva para limpar a gripe...

Nada disto é fado

por Luís Graça

Nada disto é fado,
é apenas história (de)vida;
Ruas do ouro e da prata,
de outrora, querida.

Colina acima, rua abaixo,
no metro de Lisboa;
Ou no amarelo da Carris,
a vida, à toa.

A vida é um assalto
à caixa de Pandora, meu amor;
Beware of pickpockets,
avisa o revisor…

Alcântara, a ponte de fogo,
suspensa
sobre a tua cabeça,
e a nossa raiva, tensa.

Em Almada, a teus pés,
tens o estuário do Tejo,
Mas é na solidão do Terreiro do Paço
que eu mais te desejo.

Compro castanhas, quentes e boas,
com ternura,
enquanto a vida segue
pelas ruas, sujas, da amargura.

Nada disto é fado,
é apenas história (de)vida;
Ruas do ouro e da prata,
de outrora, querida.

Lisboa, 21/3/2011

[Letra originalmente escrita para a banda musical portuguesa Melech Mechaya]

Valdemar Silva disse...

Afinal o dueto é cantado em português e holandês
(a minha neta não me perdoa o erro de leitura)

Valdemar Queiroz

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...


Obrigado pelos vossos comentários. Sinal de que há quem me leia neste blogue com tanto valor.

Afinal só nós sabemos bem do que falamos...

Um grande abraço e muita paz.

Joaquim

Hélder Valério disse...

Meu caro Joaquim Gomes

Acho que já escrevi por aqui que aprecio a poesia, a forma como aqueles que a escrevem transmitem de modo peculiar e particular a sua visão das coisas e do mundo.
Não tenho conhecimentos para "criticar" os poemas. De uma forma simplista, entendo ou não entendo.
Nestes três poemas de hoje eu "entendo" um arreigado portuguesismo que é também, ao mesmo tempo, uma forte declaração de patriotismo. Do bom, não do "patrioteiro".

Abraço
Hélder Sousa

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Sim, sim, Valério. Sei que me lês e aprecias à tua maneira. O patriotismo são está a agonizar com esta onda de alienação que varre nossa Pátria. Isso é muito mau...

Um grande abraço.
Joaquim Gomes