domingo, 6 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19371: Blogpoesia (602): "Desespero das flores", "Olhares enviezados" e "Pontes de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Ponte de Vila Franca de Xira
Com a devida vénia a XIRA.PT


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Desespero das flores

Vêem-se espelhadas
nas estrelas do céu,
luzindo de noite.

Acordadas de dia.
Pintadas de cores.
Fenecem paradas.
Presas às hastes.
Baloiçam ao vento.
Sua vontade é voar.

Regalam os olhos
De quem vai a passar.
Sabem a mel,
Não podem beijar.

Vegetam caladas.
Ouvem zumbidos,
Soletrando cantigas.
Não sabem cantar.

Recebam visitas.
Expostas ao sol.
Exalam perfumes.
Não podem cheirar.

Lamentam a sorte
Que a beleza lhes deu.
Afinal para quê?
Não podem amar...

Berlim, 30 de Dezembro de 2018
8h10m
Jlmg

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Olhares enviezados

A linha recta nunca une os olhares enviezados.
São tortos aqueles olhos que tudo distorcem a seu jeito.
Não brilha neles o sol da verdade.
Calculistas. Elitistas.
Interesseiros.
Só o que lhes dá lucro.

Se desculpam sempre se chamados a participar.
Pesos mortos.
Sem eles tudo gira melhor.

E se tropeça neles em cada esquina.
Obstáculos ao nosso progresso.
Mas, também nos torna mais ágeis.
Mais atentos.
E isso é bom.
A facilidade é terreno fértil para os ociosos.
Sem arestas ou asperezas, escorregar é um risco certo.

Berlim, 2 de Janeiro de 2019
8h45m
Jlmg

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Pontes de Lisboa

Duas de ferro outra de massa, unem as duas margens do Tejo.
Dois laços que abraçam o norte e o sul.
Três faxas que vão e vêm.
Longe e perto.

Vila Franca.
Vinte e cinco de Abril.
Vasco da Gama.

Cada uma tem sua história.

A primeira.
Tantos anos única.
Passagem firme em ferro.
Das lezírias e do gado bravo.
Às matas densas de pinheiros mansos,
Das azinheiras e dos sobreiros.
Um ermo verde.
Do Alentejo até ao Algarve.

A segunda.
Mais a sul.
Também em ferro.
Colossal para as nossas forças.

Vi-a nascer.
Suspensa em cordas.
Desde o paquete Timor que nos levou para a guerra.
Estava aberta quando voltei para casa.
1966.
Se realizara um sonho.
Lisboa e Almada. Duas irmãs.
Se abateu de vez, a fronteira entre o sul e o norte.

A terceira.
Ponte sem fim.
Rentinha à água.
Lisboa ao longe.
Se calhar, errou.
De pouco serviu...

Se navega nela como se no mar.

Berlim, 5 de Janeiro de 2019
14h32m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19351: Blogpoesia (601): "Fantasias", "Sementeira" e "Tédio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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