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terça-feira, 25 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25682: In Memoriam (504): Aurélio Manuel Trindade, ten gen oriundo da arma de infantaria, ref (1933-2024): antigo comandante da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, jul 65 / jul 67)



Foto da capa  do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c. 2010 / 2020] , 445 pp. , il. [ Manuel Andrezo era o pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/ jul 67]

Na foto acima, da capa, o "capitão Cristo, sentado ao centro, na casa do Zé Saldanha [encarregado da Casa Ultramarina, em Bedanda, e onde se comia lindamente, graças aos dotes culinários da esposa, a balanta Inácia] . Por trás, em pé, os alferes Carvalho e Ribeiro e ainda o Zé Saldanha" (legenda, pág. 440).  O cap Cristo era nem mais nem menos do que o "alter ego" do cap Aurélio Manuel Trindade, o 10º (e último) comandante da 4ª CCAÇ, desde 1jan61, e o primeiro comandante (de dez!) , a partir de 1bril de 1967, da CCAÇ 6 (Bedana, 1967/74).





1. A morte do ten gen ref, oriundo da arma de infantaria, Aurélio Manuel Trindade, foi-me confirmada por dois dos seus amigos e camaradas, e membros da nossa Tabanca Grande, o cor art ref Morais da Silva e o cor inf ref Mário Arada Pinheiro.


Este oficial general nasceu a 11 de maio de 1933 , faleceu, aos 91 anos, a 12 de junho de 2024.

Temos cerca de duas dezenas de referências ao Aurélio Trindade, que foi comandante da 4ª CCAÇ  e depois CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67)...

Não o cheguei a conhecer pessoalmente, mas o Arada Pinheiro, que muito prezo (a esposa é da Lourinhã), emprestou-me o livro dele (autografado), escrito sobre pseudónimo (Manuel Andrezo), com as suas memórias de Bedanda e dos seus bravos da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, "Panteras à solta"...

Temos transcrito alguns excertos do livro, com a devida vénia, sob a forma de "notas de leituira"...

É mais do que justo fazer este "In Memoriam". Gostaria, inclusive, de lhe "dar honras de Tabanca Grande", a título póstumo (se não houver objeções da família, que não conheço, mas vou incumbir o cor Aradas Pinheiro para obter o OK do filho que lhe deu a triste notícia). 

A partilha das suas memórias de guerra é importante para todos os "bedandenses" (que passaram pela 4ª CCAÇ e depois CCAÇ 6), e para os demais camaradas da Guiné.

À família, camaradas de curso )da Escola do Exército) e amigos íntimos, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné manifesta os seus mais sinceros votos de condolências. E espera poder continuar a honrar a sua memória, através deste meio (virtual) de partilha de memórias dos antigos combatentes da Guimé.

2. Na realidade, o livro "Panteras à solta" é autobiográfica. Grande parte da narrativa, que segue um fio cronológico,  é constituída por episódios, entrecortados por muitos diálogos, sendo o principal protagonista o cap Cristo, "31 anos de idade, natural da Beira Alta, nascido e criado entre o duro granito da serra do Caramulo". É casado e pai de três filhos. Partiu no T/T Niassa, de Lisboa, em 30 de junho de 1965, com destino ao CTIG. 

Vai em rendição individual. Tem já duas comissões no Ultramar: Índia e Moçambique (donde acabara de regressar há 10 meses). (...) "Vai triste. (...) À sua frente o desconhecido. Sabe apenas que vai para a Guiné onde a guerra é dura. " (...) (pág. 7). 

Chega a Bissau a 5 de julho de 1965. E no dia seguinte, parte de imediato para Bedanda, de avioneta civil, com o cap Xáxa (a quem vai render), para tomar posse como novo comandante  da 4ª CCAÇ. 

O cap Xáxa  (Cap Inf António Feliciano Mota da Câmara Soares Tavares ?) fará as honras da sua apresentação aos militares e aos civis de Bedanda. E rapidamente a guerrilha do PAIGC (e a populaçao sob o seu controlo) vai passar a conhecê-lo e a temê-lo.

As primeiras impressões não foram favoráveis: "Os alferes não gostaram do novo capitão. Acharam-no com cara de poucos amigos. Nem se sequer se atreveram a praxá-lo, uma tradição muito cara à companhia" (...) (pág. 13).

De acordo com o portal UTW - Dos Veteranos a Guerra da Guiné, o cap inf Aurélio Manuel Trindade comandou, em Moçambique, a CCAÇ Esp 312, antes de ser mobilizado para o CTIG (Onde foi condcorada com a Cruz de Guerra de 2ª classe). Em Angola, e já como major de infantaria, seria o 2º comandante do BCAÇ 3856.

3. De um inquérito que o jornalista Adelino Gomes fez a "13 generais de Abril" (e publicado no "Público", em 2007), selecionámos as seguintes respostas dada pelo general Aurélio Trindade (nascido em 11 de maio de 1933, em Viseu; foi condecorado com 1985 com a Ordem da Liberdade):

(i) tinha 41 anos e era major de infantaria  à data do  25 de Abril de 1974, encontrando-se colocado na EPI, Mafra. 

(ii)  tinha feito 4 comissões de serviço no ultramar (Índia, Moçambique, Guiné, Angola);

(iii) resposta à pergunta sobre o seu apoio ao MFA: 

 "A maior parte de nós estávamos metidos no movimento desde longa data. Majores só estávamos dois, eu era um deles". No 25 de Abirl, a sua atividade operacional foi a de "comandante da unidade" (EPI)

(iv) sobre os protagonistas do 25 de Abril que acabaram por ser prejudicados nas suas carreiras, respondeu:

 "Todos os militares mesmo os que chegaram a generais como eu e o Jorge Silvério [também do Movimento, na EPI] pagam um preço por terem feito o 25de Abril. O preço, foi não me darem o comando de unidades. A mim, que na guerra tive uma companhia condecorada colectivamente por feitos em campanha (há no máximo uma dúzia, em centenas que lá andaram)."

(v) respondendo à pergunta do jornalista: "Quer indicar algum nome que gostava de ter visto no generalato (ou como almirante)?"... Resposta:

"Gertrudes da Silva. É o nº 1 do curso e ainda hoje lhe têm respeito. Pegou numa companhia do RI 14 na noite de 24 e veio por aí abaixo esses 300 quilómetros, até Lisboa, onde tinha uma missão a cumprir e cumpriu-a. Pagou a factura. Dizem que ele é gonçalvista? E os que estiveram ligados ao Mário Soares e ao Sá Carneiro? E à extrema-esquerda? Outro nome a quem não deram comando: Rui Rodrigues. Um homem que é capaz de arrancar com uma companhia e tomar o aeroporto, não pode comandar a Escola? Nos 300 que fizeram o 25 de Abril havias dos melhores oficiais do Exército. Por isso foram capazes de planear e executar aquela missão. O domínio da máquina militar pouco depois do 25 de Abril ficou nas mãos de militares que chamavam 'libertários' aos do 25 de Abril."

(vi) Sobre o antigos combatentes, Aurélio Triandade, fez questão de manifestar ao jornalista "a sua indignação pela forma como têm sido tratado":

(...) Como “oficial, ex-combatente e homem do 25 de Abril”...  Todos os governos têm dito que querem defender os ex-combatentes, “mas não fazem o essencial”, limitando-se a dar-lhes “uma esmola, e a esmola desonra o Estado português”.  (...)  “Os ex-combatentes nunca pediram ao estado uma pensão. O que pediram foi tratamento igual [em relação à contagem do tempo de serviço, quer militares quer os jovens do serviço militar obrigatório que foram para a actividade privada]. Dá-se 150 euros - trinta contos por ano - a um ex-combatente? É uma miséria. É indigno. Ou davam qualquer coisa decente ou não davam nada. Vem agora este governo dizer que só dá aos que precisam. Mas o ex-combatente não precisa de esmolas. Se querem dá-la,  façam-no pela Segurança Social, por exemplo. Por ser combatente, não”. (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25564: In Memoriam (503): Lino Bicari (1935-2024) foi a sepultar ontem, no Alvito, Alentejo... "Senti a partida deste bom amigo, que encontrei na Guiné, e desejo-lhe o descanso eterno" (Arsénio Puim, ex-alf grad capelão, BART 2917, Bambadinca, mai 70/mai71)