UMA IDA À LENHA QUE NOS IA ESTRAGANDO O ALMOÇO
Camaradas, são já passados alguns meses após a minha apresentação à Tabanca Grande.
Resolvi relatar um acontecimento e assim contribuir com esta memória para o grande colectivo que é o nosso Blogue.
Em Galomaro passei alguns bons momentos de amizade, camaradagem e também alguns dos piores da minha vida. Mas hoje vou falar dos bons.
Ao ver uma foto da malta que ia à lenha, lembrei-me de uma das muitas peripécias por que lá passei. O Furriel Castro mandou chamar alguns elementos do meu pelotão onde pontuavam o Silva dos Carvalhos e o Ferreira, rapaz de Viseu com quase 2 metros de altura.
Ora eu tinha recebido 1000 pesos de uma tia que estava na África do Sul, sim porque aqui na Metrópole não era fácil alguém me mandar assim mil palhaços. O tempo já era de vacas magras!!
Esposa e neta do senhor Regala
Quando me vi com esse dinheiro todo, tratei de convidar os dois para almoçar no Regala. Não me lembro se foi frango ou bife com batata frita, mas verdade é que a D. Maria Regala cozinhava como ninguém. O almoço foi bem regado com um vinho branco muito fresquinho, para aliviar o calor do piri-piri e rematámos com um o dois whisky cada um, pois nunca nos fazíamos rogados e o treino era muito.
Mas a coisa não ficou por aí e quando nos foram chamar para o trabalho, já nós estávamos de barriga encostada ao balcão da cantina, com uma bazuca de litro bem fresquinha. Chega o Sertã e diz-nos que o Furriel Castro andava à nossa procura e que estivéssemos à porta de armas dentro de dez minutos, coisa que não entrava nos nossos planos naquele momento.
O Ferreira escondeu-se na padaria, e eu e o Silva fomos para o posto junto do qual os hélis poisavam. Instruímos o Sertã para dizer que não nos viu.
Como não nos podíamos tornar invisíveis, o Lopes que também estava escalado, foi dizer ao furriel que se nós não fossemos ele também não ia. Andaram à nossa procura, mas não deram connosco e assim tiveram que ir sem nós.
O Lopes não se livrou de ir, com os resultados que se verão.
Vimos a coluna a sair e voltamos para a cantina acabar com a cerveja, quando somos surpreendidos pelo furriel. Passou-nos um raspanete de todo o tamanho. Contamos-lhe o que tinha acontecido e onde nos escondemos, ele muito pronto e com ar de gozo diz-nos: “para a próxima levais uma porrada se não me convidarem para do almoço”.
Só que o Lopes ficou tão bravo, que andou uns dias a perguntar ao furriel se ele tinha participado de nós e claro o furriel disse que sim, mas que o Comandante ia pôr a participação no lixo, porque o Passos tinha uma cunha e estava recomendado. Na verdade a cunha era uma realidade, a ponto de me terem oferecido o lugar na cantina de Galomaro e assim ser retirado do serviço no mato.
Quando chegamos Galomaro o Comandante mandou-me chamar, fez-me a proposta para a cantina e disse-me que não podia fazer melhor. Eu recusei o lugar pois preferia estar no pelotão, com os meus amigos mesmo tendo que ir para o mato.
Nunca me arrependi e só tive que assinar uma carta onde ele escreveria ao Comandante do Tribunal Militar de Bissau a dar conta pois era a pessoa que por mim intercedera.
Esta é assim uma pequena estória na minha passagem por Galomaro. Podia ter passado melhor, poderia não ter visto o vi, mas hoje teria alguma dificuldade em encarar os meus antigos camaradas de armas, se naquela altura tenho escolhido a segurança da cantina.
Coluna para o Saltinho > Capitão Rolin Duarte, Cabo Ferreira, Silvestre e Márcio
A partir da esquerda: Silva, Passos, Ivo e Ferreira
Do lado esquerdo: Passos, Ferreira Silvestre, Sertã e Caramba. Do lado direito: Félix, Furriel Santos, Castro e Sacristão
Fotos (e legendas): Juvenal Amado © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012). Todos os direitos reservados
Um abraço a todos
Manuel Passos
Pel Rec 3872
Galomaro
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6958: Algumas fotos de camaradas do BCAÇ 3872 (Manuel Carvalho Passos)
Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9792: Estórias avulsas (58): Fotos de Bedanda (Luís Gonçalves Vaz/Mário de Azevedo)