quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20043: Fotos à procura de... uma legenda (116): Sabes, menino, o que é a Pátria ?


Lourinhã > 2012 > Bandeira Nacional pintada numa parede lateal de uma casa.  Autoria: PM, 10.06.06. Por essa altura, realizava-se o Campeonato Mundial de Futebol, na Alemanha, de 9 de junho a 9 de julho de 2006, em que Portugal participou. A pintura mural lá continua, 13 anos depois, cada vez mais desbotada...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



A Pátria

Menino, sabes o que é a Pátria?

A Pátria é a terra em que nascemos, a terra em que nasceram os nossos pais e muitas gerações de portugueses como nós.

É nossa Pátria todo o território sagrado que D. Afonso Henriques começou a talhar para a Nação Portuguesa, que tantos heróis defenderam com o seu sangue ou alargaram com sacrifício de suas vidas. É a terra em que viveram e agora repousam esses heróis, a par dos santos e de sábios, de escritores e de artistas geniais. A Pátria é a mãe de nós todos - os que já se foram, os que vivemos e os que depois de nós hão-de vir.

Na Pátria está, meu menino, a casa em que vieste à luz do dia, o regaço materno que tanta vez te embalou, a aldeia ou a cidade em que tu cresceste, a escola onde melhor te ensinam a conhecê-la e a amá-la, e a familia e as pessoas que te rodeiam.

Na Pátria estão os campos de ricas searas, os prados verdejantes, os bosques sombreados, as vinhas de cachos negros ou cor de ouro, os montes com as suas capelinhas brancas votivas.

A Pátria é o solo abençoado de todo o Portugal, com as suas ilhas do Atlântico (Açores e Madeira, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe...), as nossas terras dos dois lados de África, a Índia, Macau, a longinqua Timor.

Para cá e para além dos mares, é nossa Pátria bendita todo o território em que, à sombra da nossa bandeira, se diz na formosa lingua portuguesa a doce palavra Mãe !...

Fonte: Portugal, Ministério da Educação Nacional (1958) -  Livro de Leitura da 3ª Classe, pp. 5-6.

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19713: Fotos à procura de... uma legenda (115): os nossos aposentos "bunkerizados"... com "climatizadores de pesadelos"!

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A língua portuguesa tem destas coisas, algo arbitrárias... Então, qual é a "lógica" ? É "pátria" ou "mátria" ? A ideia de "pátria" remete para pai (do latim, "pater"), e a mátria tem a ver com mãe (do latim "mater")...

Ora, porque é a "pátria" é feminina ? ... LG

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Este e outros textos similares faziam parte da lavagem ao cérebro que nos era feita de uma maneira sub-liminar, durante a nossa meninice e juventude.
Contudo este texto é anterior a 1958, pois também estudei por ele no Livro de Leitura da 3ª Classe, pp. 5-6, mas em 1955. Reparem que é um bom texto e está logo no início do livro.
Há quem identifique o fascismo com incompetência, mas não é este o caso. Quem escreveu este texto sabia o que fazia e que objectivos tinha ou então sentia e era autêntico...

Esta bem construído e fica no ouvido. Por isso o identifiquei com facilidade.
Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Eu, também estudei por este livro da 3ª. Classe.
Sobre este texto, não me lembro da explicação dada pela nossa jovem, bonita, sensível e inesquecível professora.
Estávamos em 1955, ainda era cedo para ela nos explicar o regresso de Ulisses a Ítaca, depois da guerra de Troia.

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Imagine-se uma criança guineense, angolana ou moçambicana lendo este texto. O que pensaria ela ao ler, por exemplo, as referências às searas, às vinhas ou às capelinhas brancas votivas?

Em Angola, os alunos das escolas do mato, chamadas escolas rurais, não aprendiam a ler por este livro, mas sim por um livro de leitura adaptado à sua terra e à sua vivência. Os alunos das cidades, porém, estudavam pelos mesmos livros que os seus colegas brancos, livros estes que faziam referência a realidades que lhes eram completamente estranhas. Liam nesses livros, por exemplo, que o Natal era passado à lareira por causa do frio. Eles, porém, passavam o seu Natal no quintal, ao ar livre, debaixo de um calor sufocante. Os livros diziam-lhes que havia quatro estações do ano. Mas eles só conheciam duas, a estação das chuvas, ou verão, e a estação seca, em Angola chamada cacimbo. E muitas mais incongruências do mesmo calibre eles liam.

Não eram só os livros de leitura que eram desajustados à realidade dos alunos africanos, sobretudo os das cidades. Por exemplo, eles tinham que saber de cor os nomes das estações de caminho de ferro da Linha da Beira Alta e da Linha do Oeste, mas nada lhes era ensinado sobre as estações dos caminhos de ferro de Luanda, de Benguela ou de Moçâmedes. Tinham que saber que o rio Tejo nascia na serra de Albarracim, em Espanha, mas ninguém lhes dizia onde nascia o rio Cuanza, nem onde desaguava o rio Cubango (na realidade, não desagua em parte alguma; as águas do Cubango perdem-se nas areias do deserto de Kalahari, na Namíbia). Tinham que saber quem foi D. Nuno Álvares Pereira, mas nada lhes era dito sobre a rainha Ginga. Uma coisa lhes era ensinada e lhes dizia respeito: aprendiam que os cuanhamas (que vivem no sul de Angola e norte da Namíbia) foram o último povo a ser "pacificado" (leia-se colonizado) em todo o império português, o que sucedeu em 1917, portanto há apenas 102 anos. Este facto traduzia-se num respeito e admiração, que lhes eram incutidos no seio das suas famílias e das suas comunidades, por um povo que soube resistir mais do que qualquer outro. Isto, sim, eles sabiam.