Foto (e legenda): © Torcato Mendonça (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova La,mego > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > O alf mil SAM Virgílio Teixeira escrevendo uma carta à namorada, a Manuela, sua futura esposa e mãe dos seus filhos (, vd. retrato em cima da mesa de cabeceira, à esquerda) no seu quarto, cuja decoração era igual a tantas outras naquele tempo e lugar... A G3 ficava em cima, pendurada na parede, ou ao lado da cama.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > A estante do quarto (, de 3 x 2 m,) dos "Mórmones de Fulacunda": o Dino, o Omar, o Meira e o Lee. à esquerda e à direita, dois beliches (quatro camas). Foto do álbum do José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) (**)
Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Qual a diferença entre as duas primeiras fotos de cima, tiradas a cerca de 140 quilómetros de distância uma da outra, mas sensivelmente na mesma época (1968)? Mansambo ficava a sul de Bambadinca, a meio caminho, na estrada Bambadinca - Xitole - Saltinho (c. 60 km). O "campo fortificado de Mansambo", como lhe chamava a "Maria Turra"... Foi construído de raiz, a pá e pica, pelos bravos "Viriato" da CART 2339.
Em geral, os alferes milicianos partilhavam um quarto a três, os furriéis a cinco ou seis, nas sedes de Batalhão (Bambadinca, por exemplo, onde só os oficiais superiores e os capitães tinham direito a "quarto privativo")... O "povo", esse, dormia a granel...
Nas unidades de quadrícula, uns viviam em "bunkers" (ou melhor, "bu...rakos"), em abrigos subterrâneos (caso de Mansambo). Mas a decoração não variava muito: fotos de "garotas", "pinups", modelos fotográficos, artistas de cinema, em poses mais ou menos ousadas, tanto quanto a moral e os bons costumes o permitiam nessa época... Eróticas q.b., mas não nunca pornográficas (sexo explícito)...
Nas unidades de quadrícula, uns viviam em "bunkers" (ou melhor, "bu...rakos"), em abrigos subterrâneos (caso de Mansambo). Mas a decoração não variava muito: fotos de "garotas", "pinups", modelos fotográficos, artistas de cinema, em poses mais ou menos ousadas, tanto quanto a moral e os bons costumes o permitiam nessa época... Eróticas q.b., mas não nunca pornográficas (sexo explícito)...
A foto nº 4 faz parte de um conjunto a que o fotógrafo chamou "farra das NT", muito reveladores do universo concentracionário em que se vivia na Guiné, nos aquartelamentos e destacamentos das NT. "É a caserna na sua intimidade"...
A CCAÇ 4740, era constituída por pessoal açoriano. Centena e meia de homens, machos, na flor da idade, cheios de testosterona, partilhavam espaços reduzidos, geralmente sob a forma de toscos "bunkers", semi-enterrados, construídos de troncos de palmeira, chapa, bidões, terra e argamassa, e onde coabitavam com os bichos (mosquitos e demais insector, roedores, répteis) e a atmosfera era muitas vezes irrespirável, devido à multiciplicidade de cheiros, à humidade, ao calor, à semi-obscuridade, à sujidade, ao pó ou à lama (conforme a estação do ano: época das chuvas ou época seca)... Noutros casos, eram verdadeiros "armazéns de depósito de material humano", com cobertura de chapa de zinco, onde era quase impossível permanecer durante o dia, devido à temperatura e humidade tropicais...
A ventoinha era um luxo, só para alguns, e só durante escassas horas da noite, quando se ligava o gerador... Nestas "casernas do mato", os homens viviam, conviviam, comiam e dormiam quase sempre em tronco nu, de calções e chanatas.. O álcool, o tabaco e as cantorias, além das jogatanas de cartas, eram dos poucos escapes que a malta tinha nas "horas vagas"... Os dias sucediam-se aos dias, perdia-se a noção do tempo... Deixa-se crescer o bigode, contra os regulamentos, para se parecer mais bravo e macho.
No meio de toda esta promiscuidade, salvava-se a amizade, a solidariedade, a camaradagem... E cada companhia que chegava procurava melhorar, para si e para os vindouros, as condições de vida que encontrava... Se a guerra tivesse durado 100 anos, como alguns queriam, estou ciente que em Cufar já haveria hoje painéis solares, ar condicionado, bar aberto e umas "ervas"... (E claro, militares de ambos os sexos, se bem que em aposentos separados; no nosso tempo, as únicas camaradas que tínhamos eram as enfermeiras paraquedistas, que causavam sempre algum alvoroço sempre que vinham a "terra", isto é, à sede de algum batalhão, presenciei isso em Bambadinca...).
Temos, no nosso blogue, uma série sobre "Os Bu...rakos em que vivemos" que pode ser revisitada e que queremos retomar... Na realidade, não eram "bunkers" de cimento armado à prova de canhão s/r ou morteiro 120 (com raras exceções, como era o caso de Gandembel e de Guileje), mas verdadeiros "bu...rakos" a que chamávamos pomposamente... "abrigos"... De Cafal Balanta a Mato Cão, de Mampatá a Banjara, da Ponte do rio Udunduma a Ponte Caium, de Sare Banda a Missirá, de Madina do Boé a Copá..., a Guiné era, toda ela, uma terra "es...bu...ra...ka...da".
Os "posters" / cartazes / capas de revistas com "meninas" mais ou menos "despidas" ajudavam-nos, ao menos, a "climatizar" os nossos pesadelos (***)..
Vá lá, caros/as leitores/as, arranjem as vossas legendas para estas fotos... dos nossos verdes anos, passados lá na Guiné, quando ela ainda era "verde e rubra. Tínhamos, muitos de nós, "aposentos bunkerizados", daí o necessário recurso aos "climatizadores de pesadelos" (****)... LG
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 19 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2281: Estórias de Bissau (13) : O Pilão, a Nônô e o chulo da Nônô (Torcato Mendonça)
(**) Vd. poste de 1 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18164: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 18: Os substitutos dos 'Capicuas' [CART 2772]
(***) Vd. poste de 23 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17388: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (17): Uma farra "açoriana" em Cufar.. ou o "universo concentracionário" em que viviam as NT
(***) Vd. poste de 23 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17388: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (17): Uma farra "açoriana" em Cufar.. ou o "universo concentracionário" em que viviam as NT
(***) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19510: Fotos à procura de... uma legenda (114): O Virgílio Teixeira, num qualquer dia de novembro de 1967, quando foi a Sonaco comprar uma vaca...
9 comentários:
Espero não ofender o pudor das nossas queridas camaradas enfermeiras paraquedistas... mas a verdade é que, sempre que elas vinham a "terra", aterravam num aquartelamento, sede de batalhão, acabavam por provocar, involuntariamente, algum alvoroço... Havia tropa que não via uma "mulher branca" há muitos meses...
Estou a vê-las, de T-shirt branca, botas de lona e calça camuflada, a serem recebidas, na pista, com todos os salamaleques, pelos senhores oficiais superiores (tenente-coronel, major...), verdadeiros oficiais e cavalheiros, e encaminhadas delicadamente até ao bar, para se "refrescarem"...
A atitude nã seria a mesma se, em vez delas, fossem "eles", enfermeiros paraquedistas... Afinal, o "género" faz diferença, tanto na guerra como na paz... LG
O "Dino" nunca nos explicou porque é que ele e os seus cmaaradas de quarto se intitulavam os "mórmones de Fulacunda"!... Que raio de nome, sem ofensa para os "mórmones"!... LG
O Torcato Mendonça tem aqui, no nosso blogue, um dos mais fabulosos álbuns fotográficos... É pena que os postes sejam já muito antigos... E que ele ande tão calado, há anos... Ele e muitos outros dos nossos camaradas séniores... os da primeira hora do blogue. A guerra cansa e o blogue ainda mais...LG
Em relação aos nossos aposentos, posso mostrar umas dezenas de fotos deles. Esta aqui representada, é uma delas, não a minha eleita.
Os aposentos para uma dúzia de alferes milicianos, em S. Domingos, eram todos num mesmo quarto, a antiga maternidade daquela vila. Havia um WC, sanita â caçador, um bidão de água, uma lata de fruta vazia para fazer de chuveiro, e está tudo. Quando enchia com todo o pessoal, era mais complicado, mas havia o essencial, Quem quis arranjou uma mesinha de cabeceira, e um armário ferrugento. A ornamentação era, julgo eu, igual à de todos, sargentos e praças incluídos, pois conhecia aquilo tudo.
A arma, ora estava por cima da cabeceira, ora pendurada na cama. Tinha um candeeiro pequenino com mola para segurar no ferro, e ventoinhas, cheguei a ter 3 a trabalhar ao mesmo tempo, quando havia energia claro.
Em Nova Lamego, os quartos eram mais pequenos, para 2 3 gajos, nem me lembram as instalações sanitárias.
Em todos os sítios, nunca estive num abrigo, tinha claustrofobia talvez,
por isso nem nas alturas de ataques, a única coisa que fiz um dia, foi descair para debaixo da cama, mas por pouco tempo, achava aquilo ridículo.
As únicas vezes que estive em abrigos e trincheiras, foi para tirar fotos, nada mais.
A foto 1 parece perfeita, a nº 4 lá está a aguardente Antiqua, a melhor para mim é a do Dino, a nº 3, aquele móvel parece um 'altar'.
Fico por aqui, neste dia chato sem nada para fazer ou ver.
Virgilio Teixeira
Em Vila do Conde, Portugal,
Dia, 25Abr2019
Luís, o pessoal já não comenta nada, nem sei se ainda vou lendo alguma coisa, mas está a ficar feio, não sei se valerá a pena Postar mais!
Com pena claro, e as minhas mais de 700 fotos e relatos que tinha para serem vistos pelos nosso ainda vivos camaradas?
Só algumas estórias vão dando para alguns debates 'tecnico-politicos-filosoficos-sociais' e outros mais.
Ab, Virgilio
Luis, como já tinha dito, o melhor é não se publicar mais fotos do meu Álbum, isto está a levar um andamento que não me está a agradar nada.
Vão publicando o inesgotável álbum de fotos actuais das ruas e estátua por essa Europa fora.
Devem ter muitos seguidores, nos antigos combatentes da II guerra mundial, não os portugueses porque não estiveram lá.
Virgilio
E já agora não compreendo o 'sentido' das observações feitas pelo Sr. José Camara, não admito fazer aqui comparações de assuntos sérios com cartazes de prostitutas de luxo espalhadas pelas paredes das casernas, isto não é para aqui chamado, é preciso ter bom senso...». Faço-me entender.
Realmente para isto, o melhor é não comentar nada, fica-lhe melhor.
Essa conversa pode tê-la com os nossos camionistas de longo curso, com o devido respeito e consideração que me merecem, alguns claro.
Sem mais, acabou-se a conversa, não tenho pachorra para isto, e não o conheço de parte nenhuma...
Insisto com o Luis para 'limpar' as fotos e este tipo de comentários indesejáveis, basta!
Sem cumprimentos,
Virgilio Teixeira
A pedido do nosso camarada, e meu particular amigo, José da Câmara, retirei o seu comentário, considerado ofensivo pelo visado, o outro nosso camarada Virgílio Teixeira. Uma vez que o comentário "ofensivo" não existe mais, também removi o pedido de desculpas feito pelo José.
Carlos Vinhal
Coeditor
O meu problema é não ter assim, 'camaradas e particulares amigos' e assim estou só nesta Magnifica Tabanca Grande.
Só hoje li isto, depois de sair da primeira página, já não procuro mais nada.
VT.
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