quarta-feira, 24 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19715: Armamento (7): Granada de mão e dilagrama (Luís Dias)



A granada defensiva M26A1 M/63 (**)


Luís Dias, hoje
1. Excerto de um texto, já antigo,  do nosso camarada Luís Dias, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74),  sobre armamento das NT, com destaque para o controverso dilagrama que, indevidamente manejada,  também matou e feriu gravemente alguns dos nossos camaradas (*)


AS GRANADAS DE MÃO E O DILAGRAMA, USADOS PELAS NT (**)

por Luís Dias


Luís Dias, ontem- Tem c. 75 referências
no nosso blogue
 As tropas portuguesas usavam, essencialmente, dois tipos de granadas de mão: as ofensivas e as defensivas. Eram também usuais as granadas de fumo (cores vivas) para assinalar locais no mato para aterragem urgente de hélios e para identificar a zona onde se encontravam as nossas forças, quando se solicitava ataque aéreo. Muito raramente se utilizavam as incendiárias.

As granadas ofensivas eram de fraco raio de acção, essencialmente actuando por sopro e choque, podendo ser empregues quando as tropas que as lançavam estão a descoberto, dado que os seus poucos estilhaços, normalmente, não tinham alcances superiores a 15 m.

As granadas defensivas eram de um raio de acção superior a 100 m, embora o raio de acção de eficácia fosse de 15/20 m, actuando por meio de fragmentação em estilhaços do seu próprio corpo e da espiral existente no seu interior. Destinam-se a ser empregues quando as forças que as lançam estão abrigadas, protegidas da acção dos efeitos da própria granada.

Outra utilização para as granadas defensivas era o seu arremesso, através de um dispositivo colocado na G3, com recurso à utilização de uma munição especial, para distâncias superiores aos atingidos pelo lançamento manual - este conjunto chamava-se dilagrama.

Características da Granada Ofensiva M/62

TIPO: 
Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
PESO: 
310 g
CARGA: 
190 g TNT

RAIO DE ACÇÂO: 
10 a 15 m
ALCANCE: 
Dependente da potência do braço do lançador

ESPOLETA: 
De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos.

FUNCIONAMENTO: 
Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.

Características da Granada Defensiva M/963 
(M26 ou M26A1)

TIPO: 
Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
ORIGEM: 
EUA
PESO:
455 g
CARGA: 
165 g de Composição B
RAIO DE ACÇÃO EFICAZ: 
20/30 m
RAIO DE ACÇÃO PERIGOSO: 
185 m
ALCANCE: 
Dependente da potência do braço do lançador

ESPOLETA: 
De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos

FRAGMENTAÇÃO: 
Através de uma espiral em aço em forma de barril, existente no interior do corpo. Mola fragmentada
FUNCIONAMENTO: 
Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.



O dilagrama M26A1 (**)
O Dilagrama

O Dilagrama era um dispositivo que, conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63, ao qual era fixado, aplicado na espingarda automática G3, permitia-nos obter alcances superiores aos conseguidos pelo arremesso manual da granada, reduzindo os riscos para as nossas tropas na sua utilização. O Dilagrama permitia bater ângulos mortos, sendo possível o seu emprego contra elementos IN abrigados.

O Dilagrama era constituído por:

(i) um adaptador da granada;
(ii) um tubo em forma cilíndrica;
(iii) uma empenagem;
(iv) a granada defensiva M/63;
(v)  e um cartucho especial propulsor.

Retirada a cavilha da granada, a alavanca de segurança ficava presa pelo retentor. Quando se premia o gatilho da arma e o cartucho era percutido, a acção de gases que se seguia impulsionava o conjunto, lançando-o pelo ar e pela acção da inércia o grampo de armar recuava, partindo o retentor, soltando-se, então, a alavanca de segurança da granada, iniciando-se a combustão do misto retardador e consequentemente a explosão, com fragmentação de todo o conjunto.

Normalmente, a granada atirada por este dispositivo, rebentava acima do solo. Num disparo a 45º, verificávamos que, efectuando uma contagem rápida de 1 a 15, o rebentamento se dava, por norma, nesta altura.

O disparo deste dispositivo dava um forte coice, em especial no dedo que dava ao gatilho, por isso, os soldados eram instruídos para efectuarem o disparo como se dedilhassem uma guitarra (só usando a ponta do dedo) e dispararem a arma apoiada no chão, prendendo-se com um dos pés a bandoleira e colocando a arma no ângulo pretendido. 

No entanto, em acção, a maior parte dos atiradores que me acompanhavam e que utilizavam o dilagrama, efectuaram os disparos do mesmo ao ombro, sem quaisquer problemas.


Dilagrama M26A1

Características desta arma:

TIPO: 
Dispositivo de lançamento de granada defensiva através de uma espingarda
ORIGEM: EUAPESO: 455 g

EXPLOSIVO: 
Composição B

FRAGMENTAÇÃO: 
Espiral de aço em forma de barril no interior da granada, bem como o restante conjunto, fabricado em metal.

CAPACIDADE: 
Acção efectiva nos 15 m em redor do local da explosão.

ALCANCE MÀXIMO: 
160 m
Durante o ano de 1973, surgiu outro tipo de dispositivo (ao que creio, o FRG-RFL 40BT, de origem belga), em que a granada não era acoplada, mas fazia parte integrante do conjunto (tipo bola), no calibre de 40 mm, rebentando por impacto e, dado ser um conjunto mais leve que o conjunto anterior (355 g), o seu alcance era sensivelmente o dobro (350 m), lançando cerca de 300 fragmentos, em 30 m em volta do local da explosão. (***)


PS  - No caso dos dilagramas e no meu tempo, os nossos Gr Comb usavam-no muito porque percebemos que os rebentamentos eram mais eficazes numa reacção a uma emboscada do que propriamente os tiros de G3.

Os elementos que transportavam os dilagramas usavam um carregador só com munições apropriadas, devidamente identificado com uma fita de cor berrante (amarelo ou vermelho) e nunca, nunca, usavam só uma munição para atirar um dila e depois tinham a seguir bala real.

Os lançamentos eram efectuados ao ombro, com arma a 45%, e depois do disparo, contando rapidamente até 12/15, dava-se o rebentamento. (****)
___________

Notas do editor:



(...) No dia 15 de Julho de 1972 fui nadar e comer ostras para Quinhamel. À noite escrevi:

“No meu Batalhão e pertencentes à CCS,  quando procediam ao lançamento de um Dilagrama (Dispositivo de lançar granadas de mão com a G 3) a mesma rebentou e morreram um Alferes e um Soldado. Disseram-me que o Alferes quando viu a granada se atirou para cima dela se não teriam morrido muitos mais. Lamento muito dar-te notícias destas”.

Nem há um mês estava em solo guineense. Começavam as tragédias com o meu batalhão. (...)

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ainda sobre o dilagrama no âmbito de um artigo sobre armamento das NT na guerra colonial, pode ler-se o seguinte, no portal do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra:

http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=armas

(...) Lança-granadas: No final da década de 50 existia no Exército um lança-granadas de 5 cm, tipo morteiro ligeiro, e granadas anticarros de espingarda. Na falta de uma arma de apoio próximo, do tipo das granadas de espingarda já vulgarizados, a solução encontrada foi original: o dilagrama (dispositivo de lançamento de granadas de mão). Tratava-se de uma granada de mão defensiva m/963, montada em suporte com um encaixe oco que se adaptava no cano da G-3.

No seu lançamento usava-se um cartucho de salva (sem bala), fornecido junto, e para o disparo era necessário tirar o carregador e introduzir manualmente o cartucho de salva. Contudo, este “compasso de espera”, com a agravante de impedir temporariamente o uso da espingarda, aliado ao risco do manuseamento, tornou a arma pouco popular. (...)

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

O “compasso de espera” era o menos.
Efectivamente, era possível levar no carregador da espingarda uns cartuchos de salva que eram introduzidos pelo método habitual: culatra atrás e a tal pancada seca no manobrador e já está. Assim tínhamos a certeza de que a munição que estava na câmara era de salva.
No entanto, o dilagrama era usado em situações de tensão. E esse era o problema.
Além disso, o treino do uso desta arma era residual por arriscado. Por isso, pouco praticado, mesmo pelos quadros... Cada granada era cara e a malta andar práli a atirá-las só para treinar, era um desperdício...
Às vezes, se não houvesse o cuidado de verificar se a munição introduzida era real ou de salva e se fosse real era uma desgraça: rebentava junto de quem a disparava e a pouco mais de 1 metro do solo.
Para se evitar esta situação o homem do dilagrama deveria levar a granada pronta a lançar, desde o quartel e, no carregador da arma apenas, munições de salva. O uso de munições reais obrigavam-no a mudar de carregador para o que levava no porta-carregadores e a retirar a granada do cano da arma.
O risco do manuseamento era efectivamente grande e obrigava a muita atenção do utente, o que tornou, a arma, realmente muito pouco popular.
Já no fim da guerra apareceram duas granadas de espingarda - de 2 e 4 cm de calibre - com empenagem de plástico. Não era necessário retirar a cavilha, no momento do disparo, o que simplificava o lançamento, mas os cuidados e o risco eram os mesmos. Não lhe conheço a nomenclatura, mas quando foi afundado o navio da Armada com munições que explodiram no alto-mar, foram recolhidas pela PSP de Cascais duas caixas de granadas destas, que, por conterem um plástico no interior, flutuavam com relativa facilidade.
Na CArt. 3567 havia uma espécie de uns foguetes que também tinham empenagem de plástico e rebentavam por impacto no solo. Creio que era uma linha experimental de uma munição deste tipo que viria de Espanha.
Nunca foi usada nenhuma destas "granadas" durante o meu tempo.

Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Pereira da Costa.
Nós na CART11 tivemos desses foguetes que eram colocados no cano da G3, sem tapa chamas e, também, atirados com balas de salva. Não me lembro com a certeza absoluta, mas julgo que seria assim.
Tinham uma arame de segurança e a espoleta eram colocada à frente no momento antes do disparo. O atirador tinha um saco de lona com bolsas carregadas com os foguetes.
Mas, incrível, nunca utilizamos este 'instrumento' e não sequer o dilagrama, a rapaziada africana não gostava e nós nunca os obrigamos.
O interessante é que em Nova Lamego, quando cheguei de férias, quem tinha estado na minha 'instalação' utilizou como candeeiro de mesa de cabeceira, um foguete desses a servir de candelabro duma vela.
Ab.
Valdemar Queiroz

Abilio Duarte disse...

Valdemar, sobre os dilagramas, tenho esta história;
Um dia estava o meu Pelotão no descanso em Nova Lamego, e fomos chamados pelo Batalhão, para fazer uma coluna a Bafatá.
O Pelotão devidamente em ordem , era eu e o Cunha a enquadrar o mesmo, saímos em ordem unida até ao dito cujo, que ficava a dois quarteirões do nosso Quartel.
Entretanto chegaram as viaturas, e nós em estado de relax,( sabes como era) esperávamos as ordens.
Aí apareceu um Oficial do Batº.,informando que iamos fazer segurança, ao Comandante do CTIG
, da Guiné, um Brigadeiro, e que tinhamos que fazer formatura de guarda de honra e respectivo protocolo.
Tudo bem, pusemos o Pelotão em 3 filas, afastados quanto baste.
Quando o Brigadeiro apareceu, foi fazer a respectiva (vistoria ?) esquece-me no momento o nome correcto,e depois de ter passado pelos soldados, dirigiu-se a mim e perguntou:
-Qual a razão, porque havia soldados, com carregadores de G3, pintados de branco!
Eu aí engoli, e disse para mim, mais um da Academia da Amadora.
Então expliquei-lhe, que assim era devido, a aqueles soldados terem a especialidade de atiradores de dilagramas, e os carregadores, serem de munições especiais, para o lançamento dos mesmos.
Pois é, dirão isto é treta, mas na realidade foi verdade.
Por cá andamos, e abraço com as tuas melhoras.

Abilio Duarte disse...

O alemão (Alzeimar) não me larga, a palavra é revista em parada, e não vistoria ,as minhas desculpas.

Valdemar Silva disse...

Duarte
Essa é uma maravilha.
Mas, na questão dos foguetes (pareciam umas granadas de morteiro mais compridas e estreitas), não sei se te lembras, nunca foram utilizados e o rapazinho que chegou de Setúbal, para render o Monteiro/Vera Cruz/Pechincha ?? utilizava uma como candeeiro de mesa de cabeceira, ao lado da minha cama, com uma vela quando fechavam a luz eléctrica.
Esse sadino trouxe uma quantidade variada de conservas de grande qualidade que, quando saiu para uma operação, as aproveitamos para um grande lanche e, depois, o convencemos que cheiravam mal devido à viagem e tivemos que queimar/enterrar todas as latas. Lembras-te? Foi há 50 anos!!!!
Este acontecimento gastronómico, que me desculpe o Luis Dias, também dava uma bela estória misturado, evidentemente, com a 'figura' principal do dilagrama.

Abraço e obrigado pelas melhores (agora é mais do coração].
Queiroz