1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2018:
Queridos amigos,
Como é diferente o agosto em Inglaterra, viçoso e aquoso, em camisa de manga curta e chapéu de chuva, a eterna garridice floral, os verdes fulgurantes, parecem orvalhados.
Foi dia para visitar uma grande mansão, a de Lorde Faringdon, jardins vastos e bem cuidados e o passeio culminou num templo religioso que o viandante adora, uma igreja normanda onde dois génios pré-rafaelitas, decoraram com esplêndidos vitrais, na década de 1870, é uma atmosfera de fervor onde o nosso coração fica em apaziguamento com tal emoção estética.
Um abraço do
Mário
No condado de Oxford, a pretexto de um casamento em Fairford (2)
Beja Santos
Segundo dia nas imediações de Faringdon, condado de Oxford. A escassos quilómetros, na mesma estrada que será utilizada para viajar até Fairford, Kelmscott ou Burford, situa-se uma belíssima mansão, Buscot House e Buscot Park, o acervo da mansão que pertence a Lorde Faringdon é de uma grande riqueza, a mansão original é do fim do século XVIII, com grandes aditamentos, o parque, também iniciado no fim do século XVIII, é de uma enorme beleza.
Os jardins são primorosos, cuidados com elegância, um misto de jardim à inglesa com reminiscências italianas. Só num clima destes é que podemos ter um agosto tão florido, vejam só estas sebes bem tratadas, há flores para todos os gostos, perfumes vários, assim se desperta o apetite para um bom chá e uma fatia de bolo, a companha vai lesta para amesendar ligeiro mas doce.
Diga lá o leitor se não é um salão de chá original, lembra um celeiro bem intervencionado, polícromo, janelas bem rasgadas, doçaria e biscoitaria de fazer crescer água na boca, ala morena que se faz tarde, há muito para ver, muito jardim para mirar. Antes de mais, vamos para a Mansão de Buscot, atraídos pelos grandes restauros do fim do século, casa opulenta, mármores, mobiliário requintado, uma sala onde Edward Burne-Jones deixou uma obra-prima.
Em 1937, durante a guerra civil de Espanha, Guernica foi destruída pela aviação alemã, é o tema que Picasso imortalizou numa obra fabulosa que podemos visitar num anexo do Museu do Prado, o Casón del Buen Retiro. O 2.º Lorde Faringdon, contrariando a linhagem, não era conservador, era trabalhista, aceitou exilados espanhóis em sua casa, empregou Luis Portillo, pai de um conhecido político britânico, Michael Portillo. Recebeu também escritores exilados como o famoso poeta Luis Cernuda. Este 2.º Lorde zelou por este riquíssimo património, faustoso, mobiliário dispendiosíssimo, não falta um Rubens, salas de todas as dimensões, e aqui pode-se ver as famosas telas de Burne-Jones à volta do tema da Bela Adormecida, versão inglesa. Olhe-se para a qualidade dos estuques, do candelabro italiano, dos móveis.
E de Buscot House o passeio prossegue para uma jóia do estilo românico, neste caso o estilo normando, a Igreja de S. Miguel e de todos os Anjos em Eaton Hastings, não muito longe de um braço do Tamisa. Há menções a esta povoação no século XI, foi profundamente afetada pela peste negra, recuperou no período industrial. Obviamente que a igreja é um compósito, a entrada principal data do século XIII, enquanto a parte mais antiga data do século XI.
Em 1870, a igreja foi alvo de um sério trabalho de restauro, houve que fazer intervenção na arcádia do século XIII, abriram-se algumas janelas suplementares. A grande atração deste belo edifício são os vitrais de William Morris, ele vivia aqui perto, em Kelmscott Manor, Edward Burne-Jones desenhou estes esplêndidos vitrais, obra de 1872-1874, são temas do Evangelho. Provoca uma forte emoção este jogo de claro-escuro, o lampejar dos vitrais, o compromisso entre a arte dos saxões e o finíssimo design de dois grandes mestres pré-rafaelitas. O viandante nunca perde a oportunidade de por aqui deambular sempre que vem à região. E prontamente quer voltar.
Resta acrescentar que foi dia com bastante chuva, intermitente e irritante, com esperas obrigatórias para ter luz suficiente. E regressa-se a Faringdon, sempre engalanada com flores. Amanhã é dia de casamento, em Fairford, gente a chegar de várias proveniências, muita conversa avulsa, muito espanto pelas crianças que vão crescendo e pela ternura dos velhos que ganharam o hábito em dizer: “Tu nunca envelheces, estás sempre na mesma!”
(continua)
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Npotas do editor:
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Último poste da série de 20 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19701: Os nossos seres, saberes e lazeres (319): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte III: Pequim e Macau, out / nov 1982
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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