domingo, 28 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19723: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (2): uma estória cabraliana, a da atribulada iniciação sexual do soldado Casto, apontador do morteiro 81, destacado em Missirá (Jorge Cabral)


Guiné > Região Leste > Bambadinca > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 > O "régulo" Jorge Cabral, sempre benditas entre as mulheres, aqui entre  as suas queridas bajudas mandingas...

Foto: © Jorge Cabral (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. O "alfero Cabral" 
 e não "alfero" Cuca Cabral e muito menos "alfero" CuCabral... (*)  escreveu e publicou no nosso blogue dezenas e dezenas de "estórias cabralianas", deliciosas, de um humor, às vezes brejeiro, outras vezes negro, corrosivo, que nos fazia bem à alma... 

A maior parte são de antologia. É do melhor humor de caserna que temos publicado, e que é conseguido sem o recurso (fácil) ao palavrão. Não me lembro de ler um palavrão nas "estórias cabralianas".  E engane-se quem pensar, sem o conhecer, que ele era um refinado tuga colonialista, machista, racista e misógino... 

Em boa verdade, ele era um menino de coro, talvez mais perfeito e altruista que o outro menino de coro homónino. Havia até uma certa rivalidade entre os dois, ao ponto do "alfero Cabral" mandar recados  à "Maria Turra" e à rapaziada lá das bases do Morés, a dizer que "Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum"... O que é facto é que ele nunca sofreu retaliações por parte do outro, que estava (às vezes) em Conacri... (Dizem, mas não sei se é mentira ou verdade, que passava a vida a viajar, a pedir à porta das igrejas de todo o o mundo, de Estocolmo a Moscovo, de Roma a Pequim, para angariar fundos para os seus "combatentes da liberdade da Pátria" e as suas criancinhas).

Tenho pena que a sua (dele, "alfero Cabral") musa inspiradora tenha emigrado agora para o Facebook...Concorrência desleal, camaradas e amigos...

Já não sei quando é que publicámos a sua última "estória"... Sei que ele anda a preparar um livro, que "está quase pronto"... há anos. Mas falta o "imprimatur" das suas... fãs. Enfim, temos que pô-las a mexer...

Fomos, entretanto - para matar saudades, e para conhecimento dos "periquitos" da Tabanca Grande -, repescar esta "estória", que já tem barbas: 13 anos!... Foi assim anunciada em 4/7/2006:

(...) "Mais um 'short story' do meu amigo e camarada Jorge Cabral, hoje advogado e professor universitário, mas que conheci em Bambadinca, como Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 63 (Fá Madinga e Missirá, 1969/71)"..


Esta "estória cabraliana" passa-se em Missirá, no regulado do Cuor, a norte do Rio Geba Estreito, no setor L1 (Bambadinca). Foi outro dos "bu...rakos" onde vivemos... (**)




2. A atribulada iniciação sexual do Soldado Casto

por Jorge Cabral



À noite, após o jantar, nós os nove brancos do Destacamento [de Missirá], continuávamos à mesa, conversando. Falávamos de tudo, mas principalmente de sexo, mascarando a nossa inexperiência, com o relato de extraordinárias aventuras que assegurávamos ter vivido. O nosso motorista havia até desenhado num caderno as várias posições, indagando de cada um:

- E esta, já experimentaram?

Sobre o assunto, mantinha-se sempre calado um soldado do Pelotão de Morteiros, recém-chegado, o qual havíamos apelidado de Casto.

Natural de uma aldeia perdida na Serra da Estrela, foi ele que,  apresentado em Missirá, me pediu para ir ver, na Televisão, o jogo do Sporting nessa noite, à tasca da Muda, ali à esquina...

Filho do Sacristão, ou talvez do Padre, o Casto era virgem, e de uma inocência absoluta...

Temendo ser gozado pelos outros camaradas, expôs-me as suas dúvidas em privado. Lá lhe expliquei a mecânica da função e a anatomia genital feminina, preparando-o para a grande ocasião, que havia de chegar, quando fosse possível uma escapadela a Bafatá, o que veio a acontecer, na semana seguinte.

Abancados no [café do]Teófilo, apesar dos meus avisos, para ganhar coragem, bebeu três ou quatro whiskys, razão porque quando o depositei nos braços da Sulimato, fiquei desconfiado que não cumpriria... E assim sucedeu. Quase em lágrimas no regresso, confidenciou-me o falhanço.

Após tão frustrante incidente, caiu em desespero, convencendo-se que era, segundo dizia, calisto.

Como comandante do Destacamento, competia-me resolver o problema e foi o que tentei fazer.

Fui buscar a Sulimato, ofereci a minha própria cama, e preparei uma cerimónia que assinalasse condignamente a virilidade do Casto.

Assim que ele conseguisse, devíamos dar três morteiradas...

Ainda nem dez minutos haviam decorrido, porém, apareceu-me esbaforido.


– Que aconteceu ? – perguntei.
- Oh, meu Alferes, nada feito, a gaja tem que ir à Administração.

- À Administração?... Estás maluco!

Fui ter com ela, para saber o que se havia passado.


- Alfero, m´ ca tá podi, sta cu mostração - informou Sulimato.

Em 1998, fui a Paris, a um Congresso. Numa tarde, apanho um táxi. Logo que entro, o motorista olha para mim... e grita:


- Alferes Cabral, Alferes Cabral!... Eu sou o Casto!

Saímos do carro, abraçamo-nos,  engarrafando o trânsito. Fui jantar a casa dele, serviu-me whisky com Perrier para recordar. Conheci a mulher e os dois filhos adolescentes que,  segundo a mãe, saíram ao Pai, pois andavam atrás das pretas... Claro, confirmei que na Guiné não lhe escapou nenhuma.

Piscou-me o olho, o Casto, mas ninguém reparou... (***)

Jorge Cabral 


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5 comentários:

Valdemar Silva disse...

Luis, agora já sei quem é o alfero Cabral.
Não vamos comparar esta estoria de antologia, com uma estorinha das minhas.
O alfero Cabral é um escritor e eu apenas sei juntar a letras.
Esta da atribulada iniciação sexual do soldado Casto é digna de ser contada à maneira da 'guerra do Raul Solnado'.
Na minha CART11 tínhamos uma emissora 'Rádio Lacrau' em que o 2º. Sargente Almeida apresentava as 'Histórias do Velho Lacrau' que eram de rir até às lágrimas e até
parecidas com esta do soldado Casto. Um dia conto.
Vou rever as estórias cabralinas do blogue.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, são já quase um centena, as estórias cabralianas... Começa por aqui... (Mas já revendo e mandando também as tuas).


16 DE JANEIRO DE 2017
Guiné 61/74 - P16958: Estórias cabralianas (94): 1º Cabo Monteiro, pedicure: "Ó meu alferes, olhe-me só essas unhas dos pés, essas enxadas! Venha cá!"... (Jorge Cabral)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como em tempos já escrevi aqui, uma das coisas que mais aprecio nos seres humanos é o sentido de humor. Acho que é uma prova de superior inteligência. E a malta que esteve na Guiné cultivava o humor de caserna...

É uma arte e uma ciência que é preciso saber cultivar. Convenhamos que o humor não é fácil. A menos que a coisa resvale para a chicana política, o trocadilho fácil, o bota-abaixo, o palavrão, a desbunda, como infelizmente se vê todos os dias nas redes sociais (tipo Facebook) ...

Mas esse arsenal do baixo humor (ou mau humor) não nos interessa, não faz parte do nosso "core buisiness"...e é eticamente reprovável, à luz dos nossos 10 mandamentos, das nossas 10 regras de são convívio na Tabanca Grande... Falamos de tudo (ou de quase tuo) com elevação e em geral com bom senso e bom gosto...

Anónimo disse...

Quando publiquei umas fotos interessantes num poste, abraçado e com as mãos nas 'mamas' de uma rapariga bajuda, caiu o Carmo e a Trindade com criticas que até quase chamaram de pedofilia!
Pelo que me é dado ver, o ex-alfero Teixeira, não era um caso único, o nosso alfero Cabral, lá tem a sua maozinha em cima da mama da menina. A unica diferença é que estas estão vestidas e ele quase nu, e nas minhas, elas estavam em topless - e não fui eu que lhes tirei as roupas, era a forma de elas se apresentarem - e eu todo vestido.
Qual é a diferença, e onde está o mal disto?
Ninguém estava a violar as moças, elas gostavam das fotos, e se fosse ao lado do Comandante ainda gostavam mais, faziam mais ronco.
Isto é só para alguns, para aqueles 'alegados pudicos' que só criticam, talvez porque não tiveram a sua oportunidade, ou por qualquer outra razão que não interessa ao caso. A malta, não é feita de pau, na minha terra diz-se de 'pau feito'.

Passem bem, e venham mais coisas destas, meu alfero Cabral é só para relembrar os nossos velhos tempos de meninos de 20 e tal anos, e que não eram feitos de pau.
E as bajudas são bem engraçadas, pudera, naqueles tempos...


Virgilio Teixeira

Fernando de Sousa Ribeiro disse...

Eu pergunto, a quem ainda acha graça à fotografia que encima este post e a outras de idêntico teor, se gostariam de ver a soldadesca mexer nas mamas e outras partes da anatomia das suas filhas, irmãs, esposas ou namoradas.

Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, C.Caç. 3535, B.Caç. 3880, Angola 72-74