terça-feira, 4 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P936: Estórias cabralianas (11): A atribulada iniciação sexual do Soldado Casto


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (norte) do aquartelamento, ligando à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá. Ao fundo, o Rio Geba Estreito. Finete e Missirá ficavam a norte.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

© Humberto Reis (2006)

Mais um short story do meu amigo e camarada Jorge Cabral, hoje advogado e professor universitário, mas que conheci em Bambadinca, como Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 63 (Fá Madinga e Missirá, 1969/71)


A atribulada iniciação sexual do Soldado Casto (1)

Jorge Cabral


À noite, após o jantar, nós os nove brancos do Destacamento, continuávamos à mesa, conversando. Falávamos de tudo, mas principalmente de sexo, mascarando a nossa inexperiência, com o relato de extraordinárias aventuras que assegurávamos ter vivido. O nosso motorista havia até desenhado num caderno as várias posições, indagando de cada um:
- E esta, já experimentaram?

Sobre o assunto, mantinha-se sempre calado, um Soldado do Pelotão de Morteiros, recém-chegado, o qual havíamos apelidado de Casto.

Natural de uma aldeia perdida na Serra da Estrela, foi ele, que apresentado em Missirá, me pediu para ir ver na Televisão, o Jogo do Sporting nessa noite, à tasca da Muda, ali à esquina...

Filho do Sacristão, ou talvez do Padre, o Casto era Virgem, e de uma inocência absoluta...

Temendo ser gozado pelos outros camaradas, expôs-me as suas dúvidas em privado.
Lá lhe expliquei a mecânica da função e a anatomia genital feminina, preparando-o para a grande ocasião, que havia de chegar, quando fosse possível uma escapadela a Bafatá, o que veio a acontecer, na semana seguinte.

Abancados no Teófilo, apesar dos meus avisos, para ganhar coragem, bebeu três ou quatro whiskys, razão porque quando o depositei nos braços da Sulimato, fiquei desconfiado, que não cumpriria... E assim sucedeu. Quase em lágrimas no regresso, confidenciou-me o falhanço.

Após tão frustrante incidente, caiu em desespero, convencendo-se que era, segundo dizia, calisto.

Como Comandante do Destacamento, competia-me resolver o problema e foi o que tentei fazer.

Fui buscar a Sulimato, ofereci a minha própria cama, e preparei uma cerimónia que assinalasse condignamente a virilidade do Casto.

Assim que ele conseguisse, devíamos dar três morteiradas …

Ainda nem dez minutos haviam decorrido porém, apareceu-me esbaforido.
– Que aconteceu, perguntei.
- Oh, meu Alferes, nada feito, a gaja tem que ir à Administração.
- À Administração? Estás maluco!

Fui ter com ela, para saber o que se havia passado.
- Alfero, m´ ca tá podi, sta cu mostração.- informou Sulimato.

Em 1998, fui a Paris, a um Congresso. Numa tarde, apanho um táxi. Logo que entro, o motorista, olha para mim e grita:
- Alferes Cabral, Alferes Cabral, eu sou o Casto!

Saímos do carro, abraçamo-nos engarrafando o trânsito. Fui jantar a casa dele, serviu-me whisky com Perrier para recordar. Conheci a mulher e os dois filhos adolescentes que segundo a mãe, saíram ao Pai, pois andavam atrás das pretas … Claro, confirmei, que na Guiné não lhe escapou nenhuma.

Piscou-me o olho o Casto, mas ninguém reparou …

Jorge Cabral

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Nota de L.G.

(1) Vd. a última > Post de 3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P836: Estórias cabralianas (10): O soldado Nanque, meu assessor feiticeiro

Vd também uma estória relacionada com esta > 17 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 -DXLVI: Estórias cabralianas (5): o Amoroso Bando das Quatro em Missirá

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