À esquerda: A. Santos (ex-soldados de transmissões, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), 1972/74).
À direita: O António Santos, hoje, fundador da empresa Noprodigital - Comércio Equipamentos Escritório Lda, com sede em Caneças.
Texto e fotos: António Santos (2006)
Guiné> Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > Os maus caminhos da vida de caserna...
Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego >O posto de rádio da CCS do BCAV 3854 (1971/73). Na foto, o António Santos, de serviço.
Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAV 3854 (1971/74 > O edifício do comando.
Camarada Luís:
Antes de mais, quero dizer-te que tive um enorme prazer em conhecer a tua pessoa, ao vivo e... a cores.
Junto um pequeno texto, mas com muitos adereços... Conforme a nossa conversa aqui vão 2 fotos da minha tábua das rezas, em árabe, vê se está perceptível para o Mr. Argelino [um médico, de origem argelina, conhecido de L.G.] traduzir, senão tiro fotos com outra máquina que tem mais definição.
Junto tambem as fotos antes e depois para a fotogaleria: demorou um pouco, mas a culpa é do fotógrafo, pois tirei a foto actual no baptismo da neta mais nova no dia 13 de Maio de 2006 e só hoje ma entregou.
As outras fotos são do edificio do comando e dentro do posto rádio.
Um abração
A. Santos
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Camarada, Luis Graça:
No dia seguinte (1), começou a sobreposição, que durou uns quinze dias já não recordo bem, os trms [transmissões] e condutores foram emprestados à CCS [do BCAV 3854, Nova Lamego, 1971/73] para entrar na escala de serviço da mesma, assim como já era feito pelo pelotão [de morteiros] que fomos render.
Nós, os trms, fomos apresentados ao Alf Mil Trms, Pinto Ferreira, que se veio a revelar um excelente chefe: confiava nos seus homens e não precisava de puxar pelos galões.
Eu fui para o posto de rádio mexer em aparelhos que na especialidade nunca tinha visto, o AN/PRC-10 para fonia e o AN/GRC-9... Este era utilizado quase sempre em grafia, mas também era muito bom para fonia, principalmente para ouvir notícias e relatos da bola.
Dois ou três dias depois ao chegar ao posto de rádio para mais umas lições, fui enviado para o centro de mensagens, em substituição doo camarada Vasco, que estivera lá mas não se adaptou às cifras e códigos... Fui e acabei por ficar até receber o meu pira.
A velhice lá partiu de regresso às suas vidas, e nós ficamos a contar os dias e a entrar na rotina do dia a dia, serviço 8 horas seguidas, algum descanço, futebol, ida quase diária à bolanha, ver as bajudas a lavar a roupa e o corpo, a visita quase obrigatória à casa da mulher grande, que ficava aí a uns 200 metros da igreja (foto enviada há dias), muita das vezes era só para inspeccionar o material e divertirmo-nos um pouco...
Quando havia patacão (2) bebia-se a bica e/ou a cervejinha, ou meio wiskey, o que era um luxo: não é que fosse caro, o problema eram mesmo os pesos, eram sempre muito poucos.
Foto: © Jorge Santos (2005)
Foto: © Sousa de Castro (2005)
Finais de Agosto de 1972, o primeiro e o mais terrível paludismo dos seis que me tocaram, mais terrível porque a ignorância de pira achou que fosse uma gripe, e por isso andei até ao limite das forças. Os camaradas - não me lembro quem - tiveram que pegar-me ao colo e levar-me para a enfermaria, ainda no quartel velho.
Ministraram-me tudo e mais alguma coisa, ainda assim, às 3 horas da madrugada, o enfermeiro de serviço chamou o médico e espetaram mais umas agulhas. Ao fim de quatro dias já estava a dar conta do recado, e fui transferido com outro soldado africano, únicos hóspedes, para a enfermaria do quartel novo, que era um luxo em relacção a anterior. Permaneci mais dois ou três dias e fiquei fino até a próxima.
Com esta aprendi que não se podia brincar com a malária, qundo aparecia ou atacávamos logo ou ela dava cabo de nós. As outras cinco vezes não foi nada parecido, inclusivé cheguei a fazer stock no meu armário dos quininos utilizados para esta maleita.
O centro de transmissões ficava no primeira divisão na ponta direita do edificio do comando, (junto foto, captada da porta de armas): ao centro do mesmo, os gabinetes do Comando e ao lado das trms a acção psicológica.
A. Santos
Ex-Soldado Transmissões
Pel Mort 4574, 1972/74
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Notas de L.G.
(1) Vd. posts anteriores do António Santos, relativos às suas memórias de Nova Lamego:
8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)
29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)
21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P900: O 25 de Abril em Nova Lamego (A. Santos, Pel Mort 4574/72)
(2) É caso para perguntar ao A. Santos, puto reguila, alfacinha, transmissões, qual era a cotação, em 1972/74, das meninas da Casa da Mariquinhas do Gabu... Essa é uma informação preciosa para os futuros historiadores da guerra da Guiné, 1963/74... e que infelizmente não vem em nenhum documento oficial das NT... Sobre o custo de vida do mulitar da tropa, nesses tempos já longínquos, vd post de 28 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXIX: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (1)
(...) "Há dias o Jorge Santos mandou-nos uma nota de cem escudos da Guiné (cem pesos). Ou melhor: uma nota digitalizada, uma imagem em formato jpeg. Puxem pela memória e digam lá, para a gente poder explicar isso aos filhos e netos, bem como à cara metadade, o que se podia comprar/pagar com uma notinha destas, no vosso/nosso tempo…
"Eu tenho ideia que era manga de patacão, pessoal ! Eu já não me recordo quanto pagava à lavadeira, em 1969/71, mas se fosse serviço extra, era capaz de lhe dar uma nota destas. A minha não fazia favores sexuais, mesmo em dias de festa: não era cristã nem animista, era uma fula, recatada e virtuosa… Mas em Bissau ou em Bafatá, uma queca (como os nossos filhos e as nossas tias dizem agora, 'tás-a-ver...) podia custar uma nota (preta) destas... Já não me lembro das cotações no lupanário em tempo de ocupação e de guerra... As verdianas do Pilão, essas, podiam ser até mais caras…
"Com uma nota destas, ó tuga, tu compravas duas garrafas de uísque novo (disso lembro-me bem…). O Old Parr (uísque velho, muito apreciado lá e cá) já custava mais: 130 ou até 150 pesos, se não me engano… Além do pré (6oo pesos/mês), os meus soldados africanos (que eram praças de 2ª classe!) recebiam mais, creio eu, cerca de 25 pesos por dia pelo facto de serem desarranchados. Nunca joguei à lerpa, mas o Humberto pode dizer quanto ganhava ou quanto perdia numa noite de insónias e de rodadas de uísque" (...) (L.G.)
Opinião (douta) de outro transmissões, do Alto Minho, o nosso querido camarada Sousa de Castro:
(...) "Puxando um pouco pela memória, eu como 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade.A dita queca, se a memória não me trai, creio que era assim: para os soldados cinquenta pesos; para os cabos sessenta pesos; a partir daqui não me lembro quanto pagavam os mais graduados... Quanto às cabo-verdianas, a coisa era de facto mais cara, em final de comissão paguei cento e cinquenta ou duzentos pesos, isto em Fevereiro de 1974" (...).
Comentário de L.G.:
Ó Sousa, isso foi mesmo uma queca imperial, para a despedida, não da Guiné mas do Império!
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