sexta-feira, 7 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P944: Historiografia da presença portuguesa em África (2): Colaboradores, precisam-se (Nuno Rubim)


Guiné > A diversidade e a riqueza dos grupos étnicos que compunham o antigo território português da Guiné no início da década de 1950. Legenda (por colunas, de cima para baixo): 1ª coluna > Banhuns, Manjacos / Papéis do Norte, Mandingas, Mancanhas / Brames, Papéis, Balantas; 2ª coluna > Biafadas, Baiotes, Felupes, Nalus, Bijagós, Grupo Fula e assimilados, Diversos.

Na imagem mais pequena, mostra-se a situação aproximada dos Balantas, Biafadas e Mandingas no princípio do Séc XIX (manchas vermelha, amarela e azul, respectivamente), bem como os eixos das invasões fulas (setas), a apartir do noroeste e do norte (actual Senegal), do leste, do do sudeste e do sul (actual Guiné-Conacri). Compare-se as manchas (veremelha, amarela e azul) habitadas por Balantas, Biafadas e Mandingas, no início do Séc. XIX, com a situação que resultou do domínio dos fulas (mancha a verde, no mapa de maiores dimensões).

Infogravura: Adapt. de René Pélissier: © Nuno Rubim (2006)



Texto do Nuno Rubim, coronel de artilharia, reformado, que comandou em 1966, durante vários meses, a CCAÇ 726, aquartelada em Guileje; especialista em história militar.

Tenho estado a estudar, entre outras coisas, as operações militares portuguesas no Sul de Angola, 1871-1915, na sequência da leitura da obra de René Pélissier, História das Campanhas de Angola (que cobre o período 1845-1941), 2 volumes.

Foi com grande surpresa que constatei dois fenómenos:

- Que se trata da melhor obra sobre o assunto, quer publicada em Portugal, quer no estrangeiro, tanto em publicações oficiais como privadas, e... de longe !

- Que, ao contrário do que sucede com a documentação oficial da guerra de 1961-1974, de que a grande maioria desapareceu por manifesta incúria, o material que perdurou até aos nossos dias, quer no Arquivo Histórico-Militar, quer no Ultramarino, é muitíssimo completo e está longe de ter sido estudado na sua totalidade.

E isto acontece relativamente a todas as ex-colónias, Guiné, Angola, Moçambique, Índia, Macau e Timor.

Naturalmente que Pélissier (estou em contacto com ele ) não é um especialista em questões estritamente militares, daí eu ter avançado na minha pesquisa para assuntos tais como o dispositivo faseado (unidades), pessoal, equipamento e armamento, fortificação, alimentação, serviço de saúde, comunicações e outra questões, terminando pela análise da acção de comando e conduta e desenrolar das operações, com numerosos mapas, fotografias da época, quadros
e desenhos.

Só ainda não sei o que vou fazer de todo esse estudo, que ocupa já 13,2 GB no meu computador !
Ora eu espero vir a fazer o mesmo trabalho para a Guiné. Pélissier também publicou uma obra excelente, em 2 volumes, intitulada História da Guiné - Portugueses e Africanos na Senegâmbia (1841-1936) (1).

Será que algum dos camaradas estaria interessado em colaborar comigo na pesquisa da documentação e noutros possíveis domínios ?


Um abraço

Nuno Rubim

PS - Junto um mapa etnográfico da Guiné.

__________

Nota de L.G.

(1) Editado em Portugal, pela Editorial Estampa, em dois volumes. René Pélissier é um reputado especialista, francês, na história recente da colonização portuguesa, especialmente em África, a cuja investigação dedicou mais de 40 anos da sua vida.


René Pélissier - História da Guiné: Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936. Lisboa: Editorial Estampa. 2 volumes, c. 600 pp. Preço de capa de cada volume: 14,27 € (mais IVA) .

Foto das capas: Editorial Estampa (2006) (com a devida vénia)
Comentário de L.G.: É fantástico como um militar de carreira, na reforma, que fez a sua carreira militar numa época conturbada e cheia de contradições (guerra colonial, 25 de Abril de 1974, 25 de Novembro de 1975, modernização e reestruturação das forças armadas portuguesas num contexto pós-colonial, europeu e global), um homem que conhece bem e ama profundamente a Guiné, se torna um especialista em história militar e arranja tempo, disposição, motivação, meios para se dedicar ao estudo, profundo, minucioso, sério, profissional, metodologicamente rigoroso, dum vasto leque de questões ligadas à organização e funcionamento do nosso exército nas campanhas de África, nos Séc. XIX e XX...
O Nuno Rubim é um exemplo para todos nós, é um tuga que merece as nossas palmas!!!

1 comentário:

Unknown disse...

Envie-me um email para benedito@gsd.harvard.edu.
Estou a fazer investigacao e estou muito curiosa com o material que agregou. Decerto que seria uma base fundamental para os meus estudantes.
Atenciosamente
Silvia Benedito