segunda-feira, 29 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19727: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (3): Em homenagem, póstuma, ao cap inf José Cravidão (1942-1967) (Claudina Cravidão)

Cap inf José Cravidão (1942-1967)
1. Mensagem, de 28 de maio de 2013, de Claudina Cravidão, viúva do cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão (Arroiolos, 1942- Farim, Guiné, 1967), cap inf, cmdt CCaç 1585 (Nema, Farim e Quinhamel, 1966/68), morto em combate em 4 de Junho de 1967 (*). 

Mobilizada pelo RI 2, a CCAÇ 1585 embarcou em 30/7/1966 e regressou à metrópole em 9/5/1968; era uma companhia independente; teve dois comandantes, o cap inf José  Cravidão e o cap mil inf Vitor Gama.

O cap inf José Cravidão era natural de Arroiolos, e é um dos muitos camaradas nossos injustamente esquecidos nos Dez de Junho destes anos todos, antes e depois do 25 de Abril. 

Fizemos questão de o lembrar, em 10 de junho de 2013, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se comemorou justamente em Elvas, a terra que acolheu os seus restos mortais. Deixou viúva e 2 filhas, uma médica e outra enfermeira (**)

A mensagem da viúva chegou-nos pelo mail do Jaime Silva [, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, meu amigo do peito, grande camarada, membro da nossa Tabanca Grande, natural de (e residente em) Seixal, Lourinhã, professor de educação física, docente reformado do ensino superior politécnico, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72 [, foto à direita, acima]




2. Palavras da Claudina Cravidão [, Maria Claudina Marçal Lopes Silva], licenciada em educação física, colega do Jaime Silva, de curso, e amiga de Luanda, onde conviveram, antes do 25 de Abril] (**)


Jaime, muito obrigada, pela tua intervenção neste assunto. Andei um bocado em baixo, porque já sabes que estas coisas doem e, quando mexemos nelas, doem ainda mais, porque se tornam mais presentes.No entanto aconteceu e o inevitável não tem solução. Já reuni outras homenagens, como o terem dado o nome dele a um largo, ao fundo da rua onde ele morava, em Arraiolos [, Largo Capitão José Cravidão] , assim como uma lápide, bastante grande, na parada do quartel, em Farim [, Guiné], também com o seu nome.


Está tudo digitalizado, aliás mandei digitalizar numa casa de artigos fotográficos, mas as letras são muito pequenas, não sei se estarão bem legíveis. Penso que não pode ser de outra forma. Nestas coisas da Net, não sou nenhuma expert e, o que sei, são os netos que me ensinam.

Pensei 2 vezes, em ir com isto para a frente. O meu marido era um homem que não ligava nada a homenagens e a outras coisas do bem parecer... Ligava, sim, à verdadeira essência das coisas, por isso discordava muitas vezes da opinião dos chefes, que passavam o tempo nos gabinetes e nem sequer conheciam os locais por onde eles andavam. Sei que os homens [, da CCAÇ 1585,] o admiravam e gostavam muito dele, porque ele os tratava como homens, e não como carne para canhão.

Mas, depois de muito pensar, achei que não seria mal nenhum publicitar as homenagens que lhe fizeram. Como eu própria as publiquei no semanário "Linhas de Elvas", penso que as datas devem lá estar.


A última, a que a Sara (filha mais nova) te mandou e a mais completa, saiu no semanário "Linhas de Elvas" a 31 de dezembro de 2012. A do soldado de Pinhel foi publicada no boletim paroquial "O Falcão", em outubro de 1967. A foto da lápide deve ter sido enviada ainda em junho de 1967. A carta do furriel Joaquim Pedrosa, em 6 de junho de 1967, assim como muitas mais, mas são muito extensas, por isso só referi algumas frases mais marcantes.



Cemitério de Elvas: Lápide funerária de José Jerónim da Silva
Cravidão (4-6-1942 / 4-6-1967). Cortesia do portal Linhas de Elvas
Afinal estou com a foto da lápide, de 20 de agosto de 1967. Também há outros depoimentos, como o do capitão miliciano que o foi substituir [, cap mil inf  Vitor Brandão Pereira da Gama], assim como um alferes com quem ele se dava bem e que o tentou convencer a não ir a essa operação (, visto fazer 25 anos nesse dia), mas ele teimou e disse que iria com eles e foi.

A operação chamava-se Cacau, deslocaram-se de lancha toda a noite, até atingirem o objectivo: Bricama, uma base pesada dos turras. Estes, emboscados na outra parte da bolanha, deixaram que destruíssem as moranças e as queimassem e, já na retirada, quando se iam deslocar, para outro local, rebentou um violento tiroteio e foi quando ele foi atingido.

Segundo o alferes, quando se propagou a notícia, entraram em loucura [, os militares da CCAÇ 1585,] e, se ele não tivesse segurado os homens, seria uma carnificina, muitos mais teriam morrido. 


Foi uma única bala, entrou na parte da frente, atravessou o fígado, causando hemorragia interna e saiu nas costas. Era a hora dele. Conforme ele dizia, estava escrito.

Para não te incomodar com todas estas coisas e, visto vires para baixo no fim do mês, estava a pensar enviar directamente as coisas para o teu amigo, pois tenho o mail dele. Diz-me o que queres que eu faça. O livro do teu amigo [, não sabemos de quem se trata... (LG)] deve chegar amanhã, pelo correio, à cobrança. 


Quando fico mais em baixo, digo para mim mesma "não penses nisso, pensa nos momentos bons que viveram" e tu faz o mesmo, umas vezes resulta, outras não, mas cada um carrega a cruz à sua maneira. Não é uma questão de catolicismo, mas acredito mesmo que nada acaba aqui. Só a carne morre, o espírito vive, se algum dia pudermos falar, verás que é assim.

Vou escrever ao Luís Graça, só para lhe agradecer a disponibilidade e a gentileza que tem mostrado. Fotos, vão muito poucas, porque as muitas outras que possuo, são pessoais e essas não se publicam. 


Podes reencaminhar o mail, para o teu amigo, para não escreveres tanta coisa, ou então sintetiza,mas eu queria saber se mando o que está digitalizado, para ele ou para ti. 


Um abraço grande para ti e para a Dina (minha homónima, pois também há muita gente que me chama Dina - é a terminação dos nossos nomes.). 

Beijinhos. (***)


3. Comentário, de 3/6/2017, 00h15,  de Carlos Alberto Alves Soares  ao poste P11691 (****) [, infelizmente, ainda não consegui contactá-lo, mas é amigo do Facebook da Tabanca Grande].


Amigo Luis Graça, eu sou Carlos Alberto Alves Soares, ex-Furriel Miliciano da Companhia  de Caçadores 1585, gostaria de saber o seu contacto telefónico para o contactar e falar da situação que a minha Companhia viveu na Guiné de Agosto de 1966 a Maio de 1968 e levar-lhe o livro verdadeiro que contém toda a vida da 1585, pois fui eu próprio que a escrevi e a cópia da que foi enviada ao Ministério do Exército,sou eu que a tenho.

No passado dia 27 de Maio de 2017 efectuámos mais um almoço convívio em Caldas Rainha, correu tudo bem. Duas semanas antes escrevi á Srª D.Claudina Cravidão a convidá-la para assistir ao convívio, já que no próximo dia 4 de junho [de 2017] faz 50 anos que o esposo faleceu. A Srª escreveu-me,  dizendo da sua impossibilidade. A Companhia tem um "site" no Google com alguma atividade (,muito pouca). O meu contacto telefónico é 918 245 449 e o email é : carlitosarelho@gmail.com. 


(**) Vd. poste de 10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acabo de falar com o Carlos Soares, a quem convidei para integrar a nossa Tabanca Grande, passando a representar codignamente a CCAÇ 1585, que não tem aqui ningué. O Carlos, lisboeta, vive na Foz do Arelho / Caldas da Rainha, e é o grande dinamizador dos convívios do pessoal da CCAÇ 1585. O próximo deve é já em Buarcos, se não erro, no dia 25 de maio.

Ficou de me mandar um tecto com 2 fotos dele, para o apresentar à Tabanca Grande. (Ele jé é nosso amigo do Facebook). Falámos sobre o capi inf Cravidão... e outros miliatres da companhia.

O Carlos Soares estava em Bissau, não participou na Op Cacau. Testemunhas da sua morte foram o alf mil João Agostinho João (, que vive na Anadia), homem da confiança do Cravidão, e o furriel enfermeiro António Nicolau Pereira (, que vive na Covilhã).

Havia um outro alferes miliciano, o Filipe José Ribeiro, que integrou o grupo especial "Os Roncos", com o Marcelino da Mata. Voltou depois à companhia, tendo regressado com o resto do pessoal. Foi condecorado por feitos em combate...

O Carlso Soares também estranha que o cap Cravidão não tenha sido condecorado... Segundo ele, era tenente até à data do seu 25º aniversário. Põe os galões de capitão nesse dia fatídico, em que um tiro isolado lhe tirou a vida...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre "Os Roncos de Farim", vd. poste:


25 DE OUTUBRO DE 2013
Guiné 63/74 - P12199: Notas de leitura (528): "Os Roncos de Farim - 1966-1972", por Carlos Silva (Mário Beja Santos)


(...) Li num ápice o trabalho do nosso confrade Carlos Silva sobre “Os Roncos” de Farim, um grupo de combate lendário, conhecia algumas referências, nunca me fora dado perceber a sua importância durante a guerra da Guiné. Encontrou um organizador de gabarito, o alferes Filipe Ribeiro, tinha dois comandantes de secção no topo da bravura, Marcelino da Mata e Cherno Sissé.

Combateram em todos os metros quadros do subsector de Farim, estiveram presentes nas mais importantes operações que aqui se travaram, entre 1966 e 1972.

Com a independência da Guiné, houve fuzilamentos, gente em fuga, alguns vieram viver para Portugal. Cherno Sissé conheceu a humilhação e o vexame.

Estão aqui todos os ingredientes que permitiriam a um investigador escrever um assombroso livro de guerra, com a diferença dos personagens serem de carne e osso e ainda puderem testemunhar, mesmo com muita amargura. (...)

Anónimo disse...

Como já disse custa-me ver estas mortes esquecidas, como tantas outras. No dia em que passa de Tenente para Capitão é morto! Grande azar, e tão novo e uma carreira pela frente. Tinha a mina idade nesse dia fatídico, os 25 anos, e eu estava lá, não em Farim, mas mais a norte em São Domingos.
Nesta altura o subsector de Farim, estava sob a alçada do meu batalhão homonimo, que seguiu no mesmo barco, o BCAÇ1932, onde tinha lá um colega antigo e amigo, além de camarada.

à esposa e aos seus filhos, o que posso dizer mais?
Sejam fortes, não é fácil, eu sei. Se fosse vivo teria hoje 77 anos, um ano mais velho que eu.
Coincidências.

É esta a vida que nos espera, um dia acabamos, e não penso que haja mais nada para além da morte, é a minha convicção de católico, mas não muito crente.

Os meus mais saudosos cumprimentos,

Virgilio Teixeira
Ex-Alf miliciano do Bat Caç 1933.

Anónimo disse...

Julgo de interesse informar que o meu camarada Capitão Cravidão está, desde o seu falecimento, memoriado nas paredes do Palácio da Bemposta, sede da Academia Miltar, juntamente com mais 46 camaradas Oficiais do QP, Mortos em Combate e ex-alunos da EE/AM.
Infelizmente não é possível deixar aqui uma imagem do Memorial que passou a estar associado a um texto biográfico que elaborei recentemente e tem vindo a ser publicado neste blogue.
Nas paredes austeras da Bemposta são recordados e homenageados os nossos camaradas da Escola Mortos em Combate na Guerra Peninsular (1807 - 1814), nas Campanhas Liberais (1828 - 1833), nas Campanhas de África (1833 - 1914), na Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) e na Campanha do Ultramar (1961 - 1974).
O site da AM dá a conhecer e homenageia todos os seus ex-alunos, Oficiais do QP que tombaram, em combate, ao serviço da Pátria.
Morais Silva
Cor. Artª