1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Dezembro de 2018:
Queridos amigos,
Mais um regresso a esta encantadora região de Oxfordshire, o pretexto era um casamento, mas a curiosidade parecia ilimitada, havia que encontrar locais que dessem felicidade a uma criança de sete anos. E alegria não faltou, logo neste passeio por Faringdon, com muitas marcas do período vitoriano e eduardiano, programaram-se visitas a aldeias históricas, passeios nas margens do Tamisa, visitas a jardins e casas senhoriais, tudo se irá contar como aquele grupinho viveu com alegria estas férias nas Cotswold.
Um abraço do
Mário
No condado de Oxford, a pretexto de um casamento em Fairford (1)
Beja Santos
Quem não conhece as Cotswold, só tem a perder, são paisagens encantadoras, povoados bem mantidos com os seus tetos de palha, não esquecendo todo o património de Oxford, os passeios campestres, as torres das igrejas, os campos sem fim, as casas senhoriais, os vales fecundos por onde correm ribeiros, sinais da arte normanda, gótica e tardo-gótica e a evidência dos tempos áureos da era vitoriana e eduardiana.
Desta vez o viandante vem com a família, o pretexto é um casamento de um amigo de longa data que resolveu dar o nó em Fairford. O viandante e família ficam aboletados em Faringdon, mesmo na fronteira das Cotswold. E logo de manhã, aproveitando a temperatura amena, vão todos à igreja All Saints.
O leitor tenha a benevolência de aqui nos circunscrevermos a uma igreja, ela é talvez uma medida de centenas e centenas de templos que marcam uma civilização e diferentes patamares culturais. A igreja é do século XIII, está marcada pelo românico, as pias batismais são bem antigas mas assentam numa base do século XIX. Há esculturas góticas, do que se chama gótico perpendicular. As faces das portas têm desenhos diferentes. Há alfaias que desapareceram com a Reforma. Estas três imagens falam do antigo e do moderno e de um dever de memória que nunca se apaga: as papoilas da Flandres, o símbolo do sangue derramado na I Guerra Mundial.
Aqui temos o barroco e o século XX, e se nos multiplicássemos em imagens podia-se fazer uma peregrinação por quase toda a História de Arte desde a Idade Média aos nossos dias, este vitral é genuinamente gótico, o órgão é de 1969, a nave e os transeptos estão marcados pelo românico. O que se pode pedir mais a uma igreja de uma pequenina cidade chamada Farington?
Fora puro acaso esta visita a All Saints’ Church Faringdon, decorriam exposições sobre a I Guerra Mundial, o sufragismo, a ajuda a África. Assim se deambulava entre a nave e os transeptos, os vitrais góticos, as capelas. Numa capela o viandante encontrou a escultura de Lady Dorothy Unton, ajoelhada, que grande beleza, tantos séculos depois, este alabastro parece reluzir até ao fim dos tempos. E mais papoilas, um sangue derramado que os britânicos não deixam esquecer.
Depois de se visitar toda a épica das sufragistas, para não esquecer como aquele combate foi vibrante e ajudou a transformar o mundo, veio-se ao exterior, a torre da igreja está ligada à Guerra Civil, Oliver Cromwell enviou aqui tropas dos seus Cabeças Redondas, Faringdon era fiel aos princípios absolutistas de Carlos I, o Stuart que acabou decapitado. Há marcas do fogo de artilharia que caiu sobre esta igreja. O viandante não cedeu à bisbilhotice, andou por ali a ver as marcas que feriram o templo religioso.
Se há detalhe que o viandante nunca perde são os cemitérios ingleses, numa atmosfera de completa paz, vendo passar coelhos, ouvindo o grasnar dos corvos, percorrem-se estas lápides onde a emoção da perda é sempre contida, são cemitérios sem dramatismo, sempre orlados de vegetação e com bancos para que o visitante deite contas à vida e possa lembrar todos estes que já partiram.
Aqui está o velho edifício da Câmara, a Town Hall medieval, numa das faces o memorial daqueles que morreram em combate nas duas guerras mundiais. Em frente a este monumento, o viandante e os seus familiares lançaram-se numa loja muito comum em todas as vilas e cidades da Grã-Bretanha, uma charity shop, aqui se compra tudo que almas generosas oferecem para uma causa, desde brinquedos a roupas, CD’s e DVD’s e enormes porções de livros. Havia que ser comedido, quem viaja low cost tem que fazer contas ao peso. Mas começaram muito bem estas curtas férias nas Cotswold.
(continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 19 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19698: Os nossos seres, saberes e lazeres (317): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte II: 12 de setembro de 1980: o 4º centenário da morte de Luís de Camões
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário