Era filial do Sporting Clube de Portugal que, nesta época (1946/49), era o patrão do futebol português e, de resto,m conotado com as elites... Foi a época de ouro dos "cinco violinos" (Jesus Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e José Travassos).
Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Recorte do Diário de Lisboa, nº 8692 , ano: 26, edição de sábado, 8 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)
(Cortesia do portal Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos > Pasta: 05780.044.11043
Citação:
(1947), "Diário de Lisboa", nº 8692, Ano 26, Sábado, 8 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22334 (2017-5-4)
1. Depois do Cacheu e do Oio, prosseguia, em 6 de fevereiro de 1947, a visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias, engº Sá Carneiro, sendo então governador-geral Manuel Sarmento Rodrigues.
Já aqui sublinhámos a importância política de que se revestia esta demorada visita, de quase um mês, quer para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, quer para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... Transmontano de Freixo Espada à Cinta, era considerado um homem "à esquerda" do regime, com afinidades político-ideológicas com Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias . Foi governador geral da Guiné entre 1945 e 1949 e será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.
Em diversos postes publicados ao longo da existência de 13 anos deste blogue, temos chamado a atenção dos nossos leitores para o trabalho que Sarmento Rodrigues desenvolveu na modernização de Bissau e outras cidades, e na organização do território,sem esquecer a criação do Centro de Estudos da Guiné, com a excecional colaboração de Avelino Teixeira da Mota, então 2º tenente da marinha, responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).
O engº Rui Sá Carneiro tinha chegado ao território no dia 27 de janeiro de 1947, justamente com a missão de, em representação do governo central, encerrar as comemorações do descobrimento da Guiné, em 1446.
Fonte: Wikipedia |
(i) a tendência para o reforço da aliança das autoridades portugueses as da colónia com o grupo étnico semi-feudal fula;
(ii) a valorização do "chão fula", em especial da região do Gabu, "habitada pelas raças mais civilizadas da colónia" (sic), no dizer do administrador da circunscrição, Luís Correia Garcia;
(iii) a visita protocolar à tabanca do "grande chefe fula" Madiu Embaló";
(iv) a existência de cavalos, ainda na época, montados pelos régulos fulas e mandingas;
(v) o esforço das autoridades coloniais para combater e erradicar doenças tropicais como a doença do sono;
(vi) o peso relativo da comunidade sírio-libanesa no leste da Guiné;
(vii) a existência de um campo de aviação no Gabu (e não, ainda, Nova Lamego...) e a inauguração da nova capela;
(viii) o progresso de Bafatá e o prestígio do clube desportivo local, o Sporting Clube de Bafatá. em cuja sede foi servido um "porto de honra" ao ilustre representante da metrópole, a que "assistiu toda a população branca"...
e, por fim e não menos significativa, (ix) a importância que os seres humanos atribuem às "encenações do poder", em todos os sítios e épocas, tanto os súbditos como os governantes.... A colónia da Guiné, em 19947, não escapava à regra da ciência política...(LG).
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17287: Historiografia da presença portuguesa em África (74): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte III: Por Cacheu, São Domingos e Farim, a 2, 3 e 4 de fevereiro de 1947... No tempo que ainda era politicamente correto falar-se em colónias, raças, população indígena, colonos europeu... e felupes que "nasceram e querem morrer portugueses", setenta anos depois do "desastre de Bolor"
Último poste da série > 26 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17287: Historiografia da presença portuguesa em África (74): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte III: Por Cacheu, São Domingos e Farim, a 2, 3 e 4 de fevereiro de 1947... No tempo que ainda era politicamente correto falar-se em colónias, raças, população indígena, colonos europeu... e felupes que "nasceram e querem morrer portugueses", setenta anos depois do "desastre de Bolor"
Vd. postes anteriores:
9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço
9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço
3 comentários:
Aqueles brancos todos do Sporting de Bafatá, naqueles anos em que ganhávamos sempre apenas " moralmente " à Espanha e Inglaterra, ajudam a explicar a penúria do futebol da metrópole daqueles tempos.
Se os outros sportingues e benficas das diversas colónias faziam o mesmo, importavam jogadores brancos, claro que só à base de Matateus, Peyroteus e Espiritos Santos africanos, os clubes metropolitanos e a Selecção por cá, podiam fazer alguma coisita.
Como havia tantos jovens brancos em Bafatá virtuosos da bola, (1947) não será que aquilo era só para a foto?
E no campo seriam uns tantos fulas e balantas meio descalços e descamisados e que ficavam feios na foto oficial do grupo?
Como havia tantos brancos em Bafatá, com jeito para a bola! para a foto quero eu dizer.
Comerciantes? chefes de posto? polícias? industriais de cana?
Não há dúvidas que a Guiné ia longe e seria uma vida romântica e tranquila se não fossem as pressas.
Paciência!
Olá Camaradas
Pois é!
"Não há dúvidas que a Guiné ia longe e seria uma vida romântica e tranquila se não fossem as pressas".
Esta coisa das pressas é que é uma chatice! Devagarzinho, devazgarzinho... Com calma que a gente há-de lá chegar...
E a vida romântica e tranquila era para todos ou só para alguns? Aquilo ék era kólidade de vida! Quem me dera!...
Reparem na necessidade que o governo tinha de apresentar a fidelidade dos régulos como um facto incontroverso. A última sublevação tinha sido em 1934/36, mas agora tudo estava pacífico e o povo até andava satisfeito porque os governantes iam junto das populações informar-se das sua necessidades. Se não iam antes é porque ninguém é perfeito. Ora bem!
Kum karakas! Assim é que é viver!
Um Ab.
António J. P. Costa
Já na altura parecia haver uma clivagem, aos olhos das autoridades coloniais e dos jornalistas da metrópole, entre as "raças civilizadas" da Guiné (leia-se, as etnias muçulmanas) e os povos animistas, "pacificados" à força (os últimos, os bijagos, em 1936...). Amílcar Cabral irá explorar habilmente esta "fissura" no discurso do poder colonial que pôs os fulas, vencidos de outrora, como "auxiliares" das tropas coloniais contra os animistas, e em particular os balantas...).
É interessante ler (e saber ler) estes velhos recortes de jornal... Em 6 de fevereiro de 1947, eu tinha pouco mais de um semana de vida... LG
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