Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 3 de maio de 2017
Guiné 61/74 - P17314: Os nossos seres, saberes e lazeres (210): Tavira fenícia, árabe, portuguesa; a cidade e a água (3) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 22 de Março de 2017:
Queridos amigos,
Fora, até então, uma relação espúria, estar ou passar por Tavira. Encontrar um lugar é conhecer-lhe o ambiente, o seu passado, é preciso ter tempo para saborear os seus patrimónios, falar com as gentes, entrar em lojas, e tudo o mais. Tavira tem uma massa líquida que caminha para a Ria Formosa, guarda a senhorilidade de que já foi ponto de passagem para as praças do Norte de África. A sua história tem múltiplos certificados e atestados: estão nos museus, na sua arquitetura, na imponência do seu aquartelamento, no forte que a defendia, na presença árabe, inconfundível.
Tudo para dizer que foi uma bela descoberta aqui ter ficado vários dias e feito enamoramento com Tavira e as suas bandas.
Um abraço do
Mário
Tavira vetusta e a ria mais Formosa de Portugal (3)
Beja Santos
O viandante já se desincumbiu do plano inicialmente traçado para igrejas, ermidas, palácios e mercados, até castelos e jardins, o fio histórico já está esclarecido pela arqueologia, pelo gótico e pelo manuelino, pelas marcas do renascimento, entrou-se, por diversas razões, na pousada do Convento da Graça, demorou-se o olhar frente à casa de André Pilarte, e esta primeira imagem tem a ver com a Igreja Matriz de Santiago, bem atingida pelo terramoto de 1755, o que empolga são as misturas de linhas e o encastelado das igrejas. Até no Largo do Carmo se entrou à pressa na igreja, com teto rococó, fenomenal.
Chegou a hora de saciar a vista sobre a arquitetura civil, o que ainda sobra dos alvores do século XX, a teimosa conservação destes telhados de quatro águas, um dos cânones da arquitetura algarvia.
Cada um tem as suas obsessões, o culto do pormenor, o viandante gosta de meditar diante de portas, sejam de palácios ou igrejas, solares ou simples moradas de gente comum. Tocaram-lhe estas portas pela singela razão de que têm proprietários orgulhosos pela boa manutenção, pelo registo de que possui charme, pelo toque de identidade. Tenho dito.
É a despedida da Ria Formosa, e sabe-se lá porquê o viandante lembrou-se de um combate político que deu brado e laivos de demagogia quando Carlos Pimenta, então secretário de Estado do Ambiente mandou deitar abaixo as construções clandestinas da ria. O pôr-do-sol não foi ofuscante, eram um dia com muitos riscos cinzentos, até parecia prenúncio de chuva, o que não aconteceu. Não se deve viajar no Algarve sem vir aqui saborear esta paz de espírito, a ausência de tumulto que vai pelas praias, passar pelas salinas e muita terra lamacenta e aqui desembarcar, e poder ouvir as catapultas de água do oceano, ali bem perto.
Há um local em Santa Luzia onde o viandante gosta de comer peixe, choco ou polvo ou caldeirada. Pediu fatias de choco, debicou polvo e de um outro prato tirou duas colheres de açorda cheia de coentros. Ali à volta ouviam-se idiomas de quase toda a Europa, a época baixa é cada vez mais apetecível, da Rússia até à Espanha o roteiro algarvio é atração. Voltou-se para uma última mirada à arquitetura de Tavira, seguiu-se um curto passeio pelas redondezas, nas Pedras del Rei alguém lembrou que havia ali uma oliveira do tempo de Jesus Cristo, aqui fica o registo, passou-se por Balsa, há que ler muito bem o livro que dela fala, tema para a próxima viagem. Agora toma-se o comboio até Faro e dali para Lisboa. Foi um inesquecível passeio, acreditem.
____________
Notas do editor:
Postes anteriores de:
12 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17239: Os nossos seres, saberes e lazeres (207): Tavira fenícia, árabe, portuguesa; a cidade e a água (1) (Mário Beja Santos)
e
19 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17260: Os nossos seres, saberes e lazeres (208): Tavira fenícia, árabe, portuguesa; a cidade e a água (2) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 26 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17286: Os nossos seres, saberes e lazeres (209): Em demanda da mais bela magnólia do mundo (Mário Beja Santos)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário