Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Máscara bijagó
Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados
Histórias cabralianas > Os poderes do Professor Wanadú um quasi macaréu na Reboleira
por Jorge Cabral
Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram.
Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome.
Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô!
Lá se foi a regressão…
Por isso quando, um primo de um primo do Idrissa, antigo aluno, me pediu para defender o Professor Wanatú, nem hesitei. Segundo a publicidade inserida no matutino, tratava-se de "um Mago Senegalês, transpsicólogo, perito em magia branca e negra, que resolve todos os problemas, amor, amarração, negócios, mau-olhado, inveja e maus vícios… com honestidade".
Acusado de trinta e dois crimes de burla, encontrava-se em casa com pulseira electrónica. Obtida a morada do Professor na Reboleira, logo no dia seguinte, fardei-me de Advogado e, depois de muitas voltas, consegui dar com a casa, um pequeníssimo apartamento, no qual fui recebido pelo Mago, a Mulher e duas «cunhadas».
Consultada a acusação, descobri sem espanto que o Wanatú se chamava Mamadú, e nascera na Guiné-Bissau. Após a Independência vivera no Senegal, vindo depois para Portugal.
Logo que entrei, ele começou a protestar a sua inocência e eu nem o ouvia…
Não sei o que me deu mas regressara quarenta anos atrás e de novo Alfero, só tinha olhos para uma das «cunhadas» - Binta - alta, bela, elegante, futa-fula sem dúvida. Cheirava ao Geba… e eu já me imaginava um Macaréu avançando naquele rio. Mas que fazer?
O Professor Wanatú não podia sair de casa. Era preciso aguardar o Julgamento, esperar que se safasse para retomar o trabalho no seu consultório, na Travessa das Gaivotas.
Então talvez a cunhada ficasse só… e Macaréu!...
Chegou o dia da Audiência. Fui tão brilhante na Defesa que as vítimas é que iam sendo condenadas…
O Professor Wanatú foi absolvido. Voltou a dar consultas. Está próspero. Já tem quatro «cunhadas». Por mim tentei oito vezes, visitar a bela Binta e nunca consegui. Quando estou prestes a chegar à Reboleira, o carro avaria. Tenho receio de ir de comboio, não vá haver um descarrilamento…
É que o Professor Wanatú possui mesmo grandes poderes…
Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram.
Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome.
Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô!
Lá se foi a regressão…
Por isso quando, um primo de um primo do Idrissa, antigo aluno, me pediu para defender o Professor Wanatú, nem hesitei. Segundo a publicidade inserida no matutino, tratava-se de "um Mago Senegalês, transpsicólogo, perito em magia branca e negra, que resolve todos os problemas, amor, amarração, negócios, mau-olhado, inveja e maus vícios… com honestidade".
Acusado de trinta e dois crimes de burla, encontrava-se em casa com pulseira electrónica. Obtida a morada do Professor na Reboleira, logo no dia seguinte, fardei-me de Advogado e, depois de muitas voltas, consegui dar com a casa, um pequeníssimo apartamento, no qual fui recebido pelo Mago, a Mulher e duas «cunhadas».
Consultada a acusação, descobri sem espanto que o Wanatú se chamava Mamadú, e nascera na Guiné-Bissau. Após a Independência vivera no Senegal, vindo depois para Portugal.
Logo que entrei, ele começou a protestar a sua inocência e eu nem o ouvia…
Não sei o que me deu mas regressara quarenta anos atrás e de novo Alfero, só tinha olhos para uma das «cunhadas» - Binta - alta, bela, elegante, futa-fula sem dúvida. Cheirava ao Geba… e eu já me imaginava um Macaréu avançando naquele rio. Mas que fazer?
O Professor Wanatú não podia sair de casa. Era preciso aguardar o Julgamento, esperar que se safasse para retomar o trabalho no seu consultório, na Travessa das Gaivotas.
Então talvez a cunhada ficasse só… e Macaréu!...
Chegou o dia da Audiência. Fui tão brilhante na Defesa que as vítimas é que iam sendo condenadas…
O Professor Wanatú foi absolvido. Voltou a dar consultas. Está próspero. Já tem quatro «cunhadas». Por mim tentei oito vezes, visitar a bela Binta e nunca consegui. Quando estou prestes a chegar à Reboleira, o carro avaria. Tenho receio de ir de comboio, não vá haver um descarrilamento…
É que o Professor Wanatú possui mesmo grandes poderes…
Jorge Cabral
________________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 19 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6428: Estórias cabralianas (60): O manifesto do nosso alfero (Jorge Cabral)
7 comentários:
Caro homonimo
Numa palavra:
Delicioso.
Percebo, agora, melhor a profundidade do teu humor.
Cokm um juiz minimamente minimamente receptivo ilibarias até a aparente "quadrigamia cunhadal" do Prof.
Só a Reboleira jamais te perdoou
lol
Uma abraço
Jorge Narciso
deixa-me só retitrar um dos: minimamente
Camarigo Jorge Cabral
Simplesmente delicioso como disse
o Jorge Narciso.
Durante uns tempos ainda vais lembrar a Binta.
Ainda hoje lembro a minha lavadeira Fatumata (chamava-lhe Fátima), uma fula de 5 estrelas e de "mama firme".
Boas recordações
Abraço
Luís Borrega
Mais uma estória cabraliana!
Mais um momento fantástico!
Realmente o Alfero Cabral tem sempre mais alguma para nos alegrar.
E eu, contentíssima, afinal… nem toda a gente, tem a honra de conhecer um poço de estórias, de lembranças fantásticas, de recordações positivas como eu. O estar perto do Alfero é sempre novidade… os dias não se repetem, as horas diferenciam-se e não apenas pelos números e a vontade de aprender mais, de ouvir mais, de crescer mais, é sem dúvida, cada vez maior. A propósito do professor Wanatú - e para que percebam porque gosto tanto do Alfero quem considero meu segundo Pai – a pouco mais de uma semana, o Alfero Cabral lembrou-se de me falar da “bruxa” e da frase desta:
- Maria, vai ver o lume… não deixes queimar a tomatada do teu avô! …
Claro que, desatamos a gargalhada… e minutos depois, peguei num saco com ameixas e disse:
- Professor, está muito calor! … Vou lavar a fruta à casa de banho…
…
… e foi mais um momento de risada e, de repente olho para este Homem Grande e… apenas desejo – confesso – poder partilhar muitos e muitos mais momentos como estes, repetindo, Cabral só a um, o de Missirá e mais nenhum!
Petrouska Ribeiro
Caro Jorge Cabral
Após uma prolongada ausência, 'certamente justificada', eis que somos contemplados com mais este 'fresco' das narrativas da Guiné.
E a 'coisa' é já de tal modo natural que nem é preciso ir buscar ao passado: basta estar agora no sítio certo para ser contactado que, de forma expontânea, surge um guineense, uma bajuda, um macaréu....
Tudo somado e contado com a arte de quem sabe dizer o essencial em meia dúzia de palavras, beneficiamos de mais esta pérola.
Obrigado ao Prof. Ou ao 'Alfero'?
É difícil separar, não é? Cola-se à pele...
e isto em várias circunstâncias, pois tenho um amigo que já depois de regressado da Guiné, devido a não ter exactamente a mesma opinião oficial do Estado, teve alguns 'desencontros' com uma espécie de 'gentinha' que, certamente por lhe querer bem e levá-lo ao bom caminho tentaram, à sua maneira, persuadi-lo a ter outra opinião e enquanto lhe malhavam o coiro iam dizendo: "oh nosso Furriel, oh nosso Furriel, tenha juizo, homem!". E já quase ano e meio depois de deixar de ser Furriel...
Realmente isto da Guiné...
Abraço
Hélder S.
Penso que destas mensagens todos gostam de ler e reler. É preciso continuar.
Parabéns!
Abraço do
Silva
Ai, Jorge, Jorge, que andas a brincar com os poderes ocultos!!!
Um sorriso de orelha a orelha e um garnde abraço para ti
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