quarta-feira, 21 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)


Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Máscara bijagó

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados



Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 26 de Junho de 2010 > O heterodoxo Jorge Cabral, de punho erguido (e dedo descaído) como nos heróico-operáticos dos tempos da guerra do Cuor,  entre o Jorge Picado (o bravo capitão miliciano ilhavense que, além dos 4 filhos legítimos, arranjou mais uma centena e meia de adoptivos,  aos 32 anos) e o Hélder de Sousa (o homem da TSF no CTIG, que tinha um poster do Che Guevara no quarto em Bissau, longe do Vietname)... Não foi possível identificar a misteriosa bajuda, que está do lado direito, escondendo o rosto... (LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados


1. Texto, com data de ontem, enviado pelo  Jorge Cabral, com "votos de boas férias" (descodificando: dias e dias de (in)actividade  retemperadora,  para todo o mundo, os que trabalham, os que já trabalharam, os que ainda não trabalham, e até os que nunca trabalharam... (LG)

Histórias cabralianas > Os poderes do Professor Wanadú um quasi macaréu na Reboleira
por Jorge Cabral


 Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram.

Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome.

Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô!

Lá se foi a regressão…

Por isso quando, um primo de um primo do Idrissa, antigo aluno, me pediu para defender o Professor Wanatú, nem hesitei. Segundo a publicidade inserida no matutino, tratava-se de "um Mago Senegalês, transpsicólogo, perito em magia branca e negra, que resolve todos os problemas, amor, amarração, negócios, mau-olhado, inveja e maus vícios… com honestidade".

Acusado de trinta e dois crimes de burla, encontrava-se em casa com pulseira electrónica. Obtida a morada do Professor na Reboleira, logo no dia seguinte, fardei-me de Advogado e,  depois de muitas voltas, consegui dar com a casa, um pequeníssimo apartamento, no qual fui recebido pelo Mago, a Mulher e duas «cunhadas».

Consultada a acusação, descobri sem espanto que o Wanatú se chamava Mamadú, e nascera na Guiné-Bissau.  Após a Independência vivera no Senegal, vindo depois para Portugal.

Logo que entrei,  ele começou a protestar a sua inocência e eu nem o ouvia…

Não sei o que me deu mas regressara quarenta anos atrás e de novo Alfero, só tinha olhos para uma das «cunhadas» - Binta - alta, bela, elegante, futa-fula sem dúvida. Cheirava ao Geba… e eu já me imaginava um Macaréu avançando naquele rio. Mas que fazer?

O Professor Wanatú não podia sair de casa. Era preciso aguardar o Julgamento, esperar que se safasse para retomar o trabalho no seu consultório, na Travessa das Gaivotas.

Então talvez a cunhada ficasse só… e Macaréu!...

Chegou o dia da Audiência. Fui tão brilhante na Defesa que as vítimas é que iam sendo condenadas…

O Professor Wanatú foi absolvido. Voltou a dar consultas. Está próspero. Já tem quatro «cunhadas». Por mim tentei oito vezes, visitar a bela Binta e nunca consegui. Quando estou prestes a chegar à Reboleira, o carro avaria. Tenho receio de ir de comboio, não vá haver um descarrilamento…

É que o Professor Wanatú possui mesmo grandes poderes…
Jorge Cabral
________________

Nota de L.G.:



7 comentários:

Jorge Narciso disse...

Caro homonimo

Numa palavra:
Delicioso.
Percebo, agora, melhor a profundidade do teu humor.
Cokm um juiz minimamente minimamente receptivo ilibarias até a aparente "quadrigamia cunhadal" do Prof.
Só a Reboleira jamais te perdoou
lol

Uma abraço
Jorge Narciso

Jorge Narciso disse...

deixa-me só retitrar um dos: minimamente

Anónimo disse...

Camarigo Jorge Cabral
Simplesmente delicioso como disse
o Jorge Narciso.
Durante uns tempos ainda vais lembrar a Binta.
Ainda hoje lembro a minha lavadeira Fatumata (chamava-lhe Fátima), uma fula de 5 estrelas e de "mama firme".
Boas recordações
Abraço
Luís Borrega

Anónimo disse...

Mais uma estória cabraliana!
Mais um momento fantástico!
Realmente o Alfero Cabral tem sempre mais alguma para nos alegrar.
E eu, contentíssima, afinal… nem toda a gente, tem a honra de conhecer um poço de estórias, de lembranças fantásticas, de recordações positivas como eu. O estar perto do Alfero é sempre novidade… os dias não se repetem, as horas diferenciam-se e não apenas pelos números e a vontade de aprender mais, de ouvir mais, de crescer mais, é sem dúvida, cada vez maior. A propósito do professor Wanatú - e para que percebam porque gosto tanto do Alfero quem considero meu segundo Pai – a pouco mais de uma semana, o Alfero Cabral lembrou-se de me falar da “bruxa” e da frase desta:
- Maria, vai ver o lume… não deixes queimar a tomatada do teu avô! …
Claro que, desatamos a gargalhada… e minutos depois, peguei num saco com ameixas e disse:
- Professor, está muito calor! … Vou lavar a fruta à casa de banho…

… e foi mais um momento de risada e, de repente olho para este Homem Grande e… apenas desejo – confesso – poder partilhar muitos e muitos mais momentos como estes, repetindo, Cabral só a um, o de Missirá e mais nenhum!
Petrouska Ribeiro

Hélder Valério disse...

Caro Jorge Cabral

Após uma prolongada ausência, 'certamente justificada', eis que somos contemplados com mais este 'fresco' das narrativas da Guiné.
E a 'coisa' é já de tal modo natural que nem é preciso ir buscar ao passado: basta estar agora no sítio certo para ser contactado que, de forma expontânea, surge um guineense, uma bajuda, um macaréu....

Tudo somado e contado com a arte de quem sabe dizer o essencial em meia dúzia de palavras, beneficiamos de mais esta pérola.

Obrigado ao Prof. Ou ao 'Alfero'?
É difícil separar, não é? Cola-se à pele...
e isto em várias circunstâncias, pois tenho um amigo que já depois de regressado da Guiné, devido a não ter exactamente a mesma opinião oficial do Estado, teve alguns 'desencontros' com uma espécie de 'gentinha' que, certamente por lhe querer bem e levá-lo ao bom caminho tentaram, à sua maneira, persuadi-lo a ter outra opinião e enquanto lhe malhavam o coiro iam dizendo: "oh nosso Furriel, oh nosso Furriel, tenha juizo, homem!". E já quase ano e meio depois de deixar de ser Furriel...
Realmente isto da Guiné...

Abraço
Hélder S.

Silva da Cart 1689 disse...

Penso que destas mensagens todos gostam de ler e reler. É preciso continuar.

Parabéns!

Abraço do
Silva

Joaquim Mexia Alves disse...

Ai, Jorge, Jorge, que andas a brincar com os poderes ocultos!!!

Um sorriso de orelha a orelha e um garnde abraço para ti