Com a devida vénia a Plataforma
1. Em mensagem do dia 21 de Março de 2022, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos um texto alusivo ao momento que infelizmente marca a actualidade, a invasão da Ucrânia pela Federação Russa de Putin.
Guerras na Europa
Nesta velha Europa, herdeira dos gregos, romanos, teutões, francos, bretões, eslavos, vikings, vândalos, visigodos, lusitanos, outros povos e tribos, neste continente, da criação artística, das obras monumentais, da ciência, da filosofia, que se tem arvorado perante os países dos outros continentes como a matriz da democracia, o modelo universal de concórdia e tolerância entre as nações, a força civilizadora do Universo, as guerras do empurra e chega para lá, têm acontecido com uma cadência regular através dos séculos e continuam na nossa era, ao longo do século XX e do século XXI que ainda há pouco tempo. começou.
Nos primórdios do século XX começa uma guerra terrível que envolve quase todos os países do continente e países doutros continentes. É a guerra de 1914 a 1918, a primeira Grande Guerra Mundial. A morte do arquiduque austríaco Francisco Fernando, num atentado efectuado por um nacionalista sérvio, dá o pretexto que os grandes impérios europeus esperavam para ajustar contas antigas e alinhados em duas grandes alianças transformam o continente num grande campo de batalha, que se estende por outros continentes, onde morrerão mais de vinte milhões de pessoas entre militares e civis.
A Segunda Grande Guerra de 1939 a 1945 é iniciada e arquitectada por Adolfo Hitler, um homem rancoroso, demoniaco e empestado de ódios racistas, que com discursos inflamados eletrizantes e demagógicos despertou desejos de vingança das multidões alemãs em relação à derrota e rendição, para muitos vergonhosa, da Grande Guerra anterior. O grande palco de horrores, sangue suor e lágrimas, miséria humana, passou a ser a Terra inteira, os soldados mortos e os civis, meninos, mulheres, homens, quadruplicaram, para isso contribui muito o desenvolvimento da tecnologia aplicada a todo o tipo de armas, viaturas, aviões, submarinos e navios.
Em confrontos violentos, combates, batalhas, morreram soldados aos milhares, aos milhões, por ordem de reis, presidentes, imperadores, generais, cabos de guerra, que causaram devastação, morte entre as gentes e sofrimento sem limites.
As páginas da História registam somente os gloriosos comandantes dos exércitos, os soldados mortos ficam todos na vala comum do esquecimento.
Talvez a selvageria humana nunca se tenha manifestado com tanta crueldade e sadismo como nos campos de concentração nazis.
Em Portugal tivemos um velho ditador, Salazar, que contra os ventos da História, quis manter e revitalizar o Império Colonial, para sua honra e glória. Milhares de jovens foram forçados a sacrificar-se, muitos a morrer por essa causa perdida e condenada pelas nações de toda a Terra. Foram treze longos anos, sofria-se cá e lá longe, a guerra eternizava-se e as mães grávidas já não queriam dar à luz meninos homens, para não chorarem mais como já tinham chorado pelos irmãos, namorados e maridos.
Em 1961 começa a guerra colonial em Angola, no mesmo ano em que os territórios de Goa, Damão e Diu são invadidos por muitos milhares de soldados da União Indiana. Salazar como ditador e arauto da portugalidade proclama que "os sinos da velha Goa e as bombardas de Diu, serão sempre portuguesas" e pretende que os escassos milhares de soldados portugueses que pertenciam à sua guarnição resistissem à invasão indiana para serem imolados no altar da Pátria. O general Vassalo e Silva, comandante das tropas portuguesas, constatando o desequilíbrio das forças em confronto, depois da morte de algumas dezenas de militares, desobedecendo às ordens do ditador, rendeu-se às forças invasoras para evitar o massacre dos seus homens. Pelo seu acto de rebeldia e coragem foi expulso das Forças Armadas e sofreu outros vexames.
Um soldado em abstrato é um jovem que na força da juventude é forçado a abandonar a família, os amigos de infância, a namorada com quem sonha construir um futuro radioso e é obrigado a ir lutar para frentes de combate contra soldados inimigos que tal como ele tiveram que abandonar familiares e amigos nas suas aldeias ou nos bairros das suas cidades. Eu vi-os, conheci-os, fui um deles, não tinham ódios, vontade de morrer ou matar, não queriam glória, nem ser heróis.
A Humanidade estará sempre em perigo por causas naturais ou humanas. Nos regimes democráticos também surgem homens que se revelam loucos, assassinos, megalómanos, com patologias de personalidade. Hitler foi eleito democraticamente em eleições livres. Depois dele já surgiram outros presidentes eleitos que pareciam revelar certos distúrbios, o que é muito perigoso, quando as armas de guerra têm hoje um enorme poder de destruição e há muitas armas de destruição maciça.
Os regimes políticos deveriam acautelar a sanidade dos seus governantes em prol da paz e do bem de todos.
Os governantes das nações deveriam ser mulheres pois elas não têm instintos guerreiros ou de caça, e têm mais amor e compaixão pela vida, pois elas são mães, dedicadas e ternas.
Vladimir Putin, o presidente da Rússia, tal como Hitler, é outro político, inicialmente eleito, quando a Rússia teve um interregno de liberdade entre regimes ditatoriais, que se eterniza no poder, à medida que vai restringindo as liberdades individuais e amordaçando ou matando os opositores.
A invasão da Ucrânia por uma força armada muito superior em meios militares, e armas tecnológicas de pequeno e grande alcance, classifica Putin como um monstro assassino e cruel, sem qualquer respeito pela vida humana.
Nos séculos anteriores, no tempo das monarquias e dos impérios as guerras aconteciam ao sabor dos caprichos e ambições grandiloquentes de personalidades que se julgavam ungidas por Deus. Putin não foi ungido por deuses, mas julga-se um deus parido pela mãe Rússia, predestinado a aumentar as suas fronteiras e o poder imperial que os czares, Lenine, Estaline, grandes dirigentes comunistas, conquistaram.
A guerra da Ucrânia entra-nos diariamente em casa, filmada pelos canais de televisão, com o seu cortejo de horrores: mortos, feridos, multidões de mulheres, velhos, meninos, em fuga, edifícios de habitação, hospitais, escolas, universidades, armazéns de bens alimentares, a ser bombardeados. As nossas mulheres sofrem com tanto sofrimento dessas mães e desses meninos e com receio que essa guerra impiedosa se alastre por todo o continente e atinja as suas famílias.
Os ditadores tais como como os reis absolutos consideram os indígenas que governam como rebanhos de criaturas dóceis, escravos com liberdade mitigada, que somente podem justificar a sua existência pela obediência, trabalho, sacrifício e vassalagem que prestarem aos seus senhores. Em função da sua concepção de Pátria mais alargada ou forte, os jovens para eles são sempre soldados prontos a servi-los nas guerras que eles acharem necessárias.
A iniquidade e injustiça da invasão da Ucrânia ofende todos os cidadãos dignos e revolta todos os ex-combatentes, impotentes por não poderem combater por uma causa justa.
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23090: (In)citações (198): a atuação de Patrício Ribeiro, durante a guerra civil de 1998/99, e nomeadamente em Varela, em articulação com o NRP Vasco da Gama..."Se isto não é heroísmo, então eu nunca vi nenhum herói ao vivo e a cores" (Luís Graça)
2 comentários:
Francisco, cada vez mais gosto da tua escrita. A oportunidade deste texto é muito importante. No blogue acho que é a primeira vez que se escreve sobre a guerra do Putin. Continua.
Um grande abraço.
Fernando Gouveia
Francisco, és sempre bem aparecido. EX celeste reflexão sobre os dias negros que estão atravessas a Europa e o Mundo. Igualmente oportuna a tua referência ao 25 de Abril que derrubou a então mais velha ditadura europeia que impôs à nossa geração uma guerra em África, tão longa quanto estúpida e inútil como todas as guerras. Agora, temos que reencontrar os dificeis caminhos da paz entre vizinhos.
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