sábado, 26 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23114: Os nossos seres, saberes e lazeres (498): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (43): Uma visita ao Museu de Setúbal/Convento de Jesus (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Depois da Igreja do Convento de Jesus, em Setúbal, é obrigatório visitar o Museu de Setúbal/Convento de Jesus, que foi Hospital até 1959, por quem vai deambular no esplendoroso Claustro não dá pelas alterações que sofreu esta área conventual, fruto das adaptações provocadas pela vida hospitalar. Esta reabilitação é cuidadosíssima, continua em curso, uma boa parte do acervo museológico pode ser visitada no antigo edifício do Banco de Portugal, na galeria municipal, estão lá as peças maravilhosas do políptico do altar-mor do Convento de Jesus, pinturas magníficas saídas do atelier do Jorge Afonso.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (43):
Uma visita ao Museu de Setúbal/Convento de Jesus


Mário Beja Santos

Finda a visita ao Convento de Jesus, é atração da maior importância visitar o museu que foi inagurado em fevereiro de 1961, nessa altura designado por Museu da Cidade, dependeu da Santa Casa da Misericórdia da cidade, tinha o apoio da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão e suporte financeiro da Comissão de Turismo da Serra da Arrábida, tudo isto se passou após o encerramento do Hospital do Espírito Santo que aqui estivera instalado desde 1893, e gerido pela Santa Casa. As coleções iniciais integraram bens originarios do edifício onde passou a estar instalado o museu (o Convento de Jesus), bens da Santa Casa e da autarquia, e mais tarde doações particulares. Acontecimento de vulto foi a chegade em 1983 do conservador Fernando Baptista Pereira, com ele iniciou-se um novo ciclo da existência do museu.
Com a atual reabertura, os visitantes podem apreciar a parte do trabalho de reabilitação e restauro do claustro e de espaços que mantêm o cunho conventual, aí é possível observar património artístico, é o caso das Salas do Capítulo e do Coro Alto. O visitante tem à sua disposição o património móvel artístico e arqueológico que vem da exposição temporária inaugurada em 2015. Findas as obras de reabilitação haverá uma nova exposição de longa duração que ocupará o edifício conventual na íntegra.

Pormenor do Claustro restaurado
Teto abobadado do lavabo do Claustro do Convento de Jesus, final do século XV
Pormenor do lavabo, não esquecer que a pedra é brecha da Arrábida

Convém recordar que este Convento foi fundado em 1490, é uma peça arquitetónica atribuída a Diogo Boitaca, autor de projetos imorredoiros como a igreja do Mosteiro dos Jerónimos. Este convento era um convento de freiras clarissas, freiras de uma ordem medicante, instalaram-se num edifício de estilo arquitetónico antigo com tecnologia de ponta, à época. Primeiro criou-se a igreja de salão, e depois o convento, com um vasto conjunto de edifícios na periferia do núcleo ramo. Os espaços conventuais estão distribuídos em torno do quadrado formado pelo Claustro. No piso térreo temos a receção, uma sala com diversos elementos arquitetónicos encontrados em obras de rebaixamento de pavimentos e mesmo nas escavações arqueológicas de 2013/2014. Ali perto há uma sala de exposições temporárias, foi-se bisbilhotar os preparativos de uma instalação intitulada A Vénus dos Trapos, do pintor Michelangelo Pistoletto, nome consagrado da chamada Arte Povera. O seu trabalho trata principalmente do tema da reflexão e da unificação da arte e da vida quotidiana.
Inaugurada a exposição, o resultado é este
Vale a pena o visitante deambular pelas Salas do Capítulo, percorrer demoradamente este belo trabalho de requalificação do Claustro, ver mesmo os azulejos na cafetaria, apreciar as escadarias de acesso ao piso superior, foi construída em meadas do século XVI. Recorde-se que houve um hospital aqui, que funcionou até 1959. Houve adaptações para transformar o edifício conventual em edifício hospitalar. Muitas das pequenas capelas existentes nas alas claustrais do piso térreo foram demolidas para dar lugar a salas maiores. O antigo dormitório e antiga enfermaria do convento foram transformadas em enfermarias hospitalares. Isto para dizer que fruto desta profunda adaptação o edifício conventual sofreu grandes transformações e os espaços conventuais ficaram descaracterizados, com exceção do Claustro, da Sala do Capítulo e da Sala do Coro Alto.
Predominam as obras de timbre religioso, algumas de excecional beleza, há pinturas da escola flamenga mas também de mestres oficinais portugueses, abundam bustos, como iremos ver no Coro Alto, aqui iremos encontrar portas de grade de comunicação com a igreja conventual, com pinturas do início do século XVII.
Este quadro é de um importante pintor naturalista, João Vaz, intitula-se Barcos em Lisboa. João Vaz adorava pintar marinhas, temas de praias, enriquecendo o colorido com imensa luz, pode-se dizer que é uma arte sem sombras, um omnipresente festim de luminosidade.
Um belo crucifixo
Um pormenor desta esplendorosa arte sacra que nos reserva este espaço conventual
Estamos agora na sala do Coro Alto, impossível não vir contemplar as novas portas para grade do Coro Alto, pagas por Filipe II de Portugal e sua mulher Margarida de Áustria. São revestidas por um conjunto de 12 pinturas, representado figuras de santos e santas, além da fundadora do Convento, Justa Rodrigues Pereira, ela está representada na ponta da direita da fileira inferior do conjunto.
Agora vê-se com mais clareza a pintura sobre a grade, intitulada Transfiguração de Jesus, pintura a óleo sobre tela de linho do século XVII, coroada por uma sanefa em talha dourada do século XVIII. Tema relatado no Novo Testamento, Jesus sofre uma transfiguração no alto de uma montanha, irradiando luz, perante a aparição dos profetas Moisés e Elias e a voz de Deus no céu. É uma pintura muito específica, difere da cronografia habitual.
Santo António
Abertura para o visitante conhecer o trabalho das escavações e o que se descobriu
Uma admirável escultura da Virgem no Coro Alto
O Coro Alto capricha também pelo seu relicário. A estrutura primitiva foi destruída pelo terramoto de 1755, salvando-se os bustos-relicários, e foi substituída em 1760 pela atual estrutura, a que vemos, ao estilo rococó. Os bustos-relicários apresentam um óculo, ou orifício no peito, rodeado por um género de moldura oval, onde são colocadas as relíquias dos santos, normalmente fragmentos de osso. Há também oratórios dignos da contemplação do visitante.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23093: Os nossos seres, saberes e lazeres (497): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (42): Em Cernache do Bonjardim e na Sertã, no dia em que aqui recebi a segunda dose da vacina (2) (Mário Beja Santos)

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