1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma,
1964/66), com data de 11 de Setembro de 2016:
IN MEMORIAM do Furriel Hugo Abreu e do Soldado Dylan Araújo da Silva, soldados e patriotas, que acabaram por perder a vida, aos 20 anos de idade, no contexto do 127.º Curso de Comandos, com votos de condolências às suas Famílias e pelo rápido restabelecimento dos que ainda estão internados.
Estou a parafrasear o escrito pelo General Garcia Leandro, como notável soldado e patriota (e meu contemporâneo) na Guerra da Guiné, e o comentário do General Chito Rodrigues, como notável soldado e patriota na Guerra de Angola.
Na qualidade de oficiais profissionais do Exército, eles saberão mais e melhor que muitos outros, de como a maior ineficiência do Exército nessas guerras, ao qual competia a vitória no terreno, e a sua concorrência para o seu colapso nas três frentes, não era consequência nem da sua conceptualização, nem da inferiorização do seu armamento, muito menos da sua logística, comparados com a eficiência da Marinha, da Força Aérea e dos seus Comandos, mas porque as suas chefias políticas e militares da Metrópole se fossilizaram a expedir para elas dezenas de unidades pelo método do arrebanho, impreparadas e sem motivação para combater.
Eu e a malta da minha incorporação de oficiais e furriéis milicianos, tiramos a recruta e a especialidade em 4 meses – tempo concedido em que sai como “cabo miliciano”, posto superior ao atingido por Hitler, nos seus 5 anos no exército alemão…
Quando a sua gente das informações e o próprio rei D. João I, seu comandante-chefe, lhe enfatizavam os efectivos do IN que defrontariam, o general D. Nuno Álvares respondia peremptoriamente:
- Com poucos, bons e bem comandados, somos capazes de os bater.
Foi com essa conceptualização que conferiu ao seu exército de 6 mil homens a capacidade de derrotar o exército castelhano de 35 mil homens - e em cerca de meia hora!
Muitos mortos e feridos das nossas guerras de África poderão ter sido vitimados pela associação da quantidade com a sua falta de preparação – quantos mais fossem os empenhados, mais o inimigo poderia matar.
Excluindo a conquista de Ceuta, nos 50 anos do século XV e XVII, em que Portugal se impôs sobre a terra e sobre o mar, a batalhar e a ocupar, para dar novos mundos ao Mundo, a média do efectivo investido pelas nossas FA´s, (Marinha e Exército), não terá excedido os 2 mil homens!
Em contraposição, o PAIGC, por exemplo, escolhia os seus quadros exclusivamente entre os que os se apresentavam a voluntariar-se ao combate, mas só os lançava no teatro da guerra após o tirocínio mínimo de um ano, em eficientes unidades de países apoiantes, nomeadamente na China e na União Soviética. Foram esses quadros que formaram o tecido conjuntivo da sua orgânica e acções militares, até ao termo da sua luta.
Ao contrário do que tem sido alardeado, Portugal nunca enformou um Exército colonial especializado, salvo as tropas nativas, no entanto enquadradas pelas tropas europeias. E nem sempre bem; estou a lembrar-me dos que propiciaram a primeira fornada de combatentes ao PAIGC - Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi, etc.
Quando a malta atingira a preparação e melhores conhecimentos, compatíveis ao seu “trabalho”, no seu palco de guerra, estava atingida a sua exaustão, derreada pelo excessivo esforço, associado à sua impreparação e à insalubridade do clima. Chegado o dia da sua partida, para a sua terra e para a diáspora, rendida por outros, que chegavam tanto ou ainda mais impreparados do que nós – e tinham que começar tudo de novo. O PAIGC procedia ao contrário; mas nem as evidências dos méritos desse seu método levaram Portugal a constituir um “exército colonial”, formados pelo voluntariado dos seus veteranos europeus. Terá sido pelo complexo de que não era “colonialista”?
Falando dos Comandos, vem a propósito lembrar que no seu currículo de altos serviços prestados à Pátria, avulta o sucesso e a sua exploração, pela reposição do ideal do 25 de Abril pelo 25 de Novembro, talvez só possível pelo voluntariado das suas duas companhias, que a sua Associação mobilizou, que custará as vidas a dois desses voluntários – o Tenente Coimbra e o Furriel Pires - na audácia e valentia do seu veterano Vítor Ribeiro e no incontornável talento e grandeza de soldado desse grande patriota, que já não está entre nós - o General Jaime Neves.
No plano político “governativo”, apenas a deputada Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, apregoou a extinção dos Comandos – sem qualquer base de sustentação, para além do afecto da memória: foram os Comandos que contiveram o golpismo da sua utópica ideologia, que se votava a empurrar os portugueses para uma guerra civil que, se lhes favorável, reduziram o país ao nível da Somália, Líbia, Coreia do Norte ou até da Venezuela. Ela e o grupo de moças encantadoras da cúpula do seu partido predicam a extinção dos Comandos, incitadas pelo ideário de “fazer amor e não a guerra” (não me refiro à sua condição feminina, mas ao ideário dos hippies, inspirador do seu partido).
Jerónimo de Sousa, veterano da Guerra Guiné (foi da Polícia militar e o único caso em que a Polícia Militar de Bissau sai foi destacada a nomadizar como operacional, para uma posição fronteiriça com o Senegal), e não por “distinção”, por saber do que falava, pronunciou-se com inusitada sensatez política:
- “Não poderão ser as conjunturas (as circunstâncias avulsas, seria mais apropriado), a determinar a extinção dos Comandos, uma valiosa unidade de elite das nossas FA`s".
Independentemente das causas a apurar, responsáveis pelo trágico desfecho das vidas dos nossos camaradas Hugo e Dylan, deixaram de estar entre nós como soldados, heróis e exemplo de patriotas porque, não obstante cientes da dureza e provações exigidas pela sua preparação, compatíveis às que poderiam ter de enfrentar nos palcos da terrível e traiçoeira guerra destes nossos tempos, não se inibiram de se voluntariar ao mais exigente serviço que um cidadão pode prestar à sua Pária, a dádiva da própria vida incluída – o de pertencer e honrar as suas Forças Armadas.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de setembro de 2016 >
Guiné 63/74 - P16475: In Memoriam (263): Duarte dos Santos Pereira, ex-Alf Mil da CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), falecido no passado dia 25 de Agosto de 2016, em Marco de Canaveses (Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350)