quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26024: Facebook...ando (64): Nunca me esqueci nem esquecerei por muitos anos que viva (António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68; natural de Avintes)





António Reis, hoje e ontem: ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68;  natural de Avintes, V. N. Gaia, senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 882; é autor de dois livros de memórias da Guiné; tem página no Facebook.



Espinho > 20.º Encontro do Pessoal do HM 241 (Bissau) > 7 de Outubro de 2023 >  O António Reis e a esposa, Rosa, na convívio anual do pessoal do HM 241 (Bissau)


Fotos (e legendas): © António Reis (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro de  António Reis, "A minha jornada de África", 1ª ed., s/l, Palavras e Rimas, Lda, 2015, 111 pp. 



1. Da página do Facebook do António Reis,  nosso tababqueiro nº 882, reproduzimos, com a devida vénia, a seguinte postagem de 27 de junho de 2024, 11h24:


Nunca me esqueci nem esquecerei 
por muitos anos que viva

por António Reis


Era uma enfermaria de três camas; passou por ela desde o general Arnaldo Schulz, o "governador", aos turras. Esteve sempre aos nossos cuidados. Depois passou para reanimação e aos cuidados do sargento Alves.

E foi neste tempo e espaço que o dr. Machado lamentava a morte de um alferes que acabava de morrer, ainda na maca, com um estilhaço na cabeça. Era o sétimo desde que lá chegou, dizia ele. E foi o sargento Alves, da reanimação, a entrar na minha enfermaria e a dizer para o sargento Claro, meu chefe, com ar pesaroso e lágrimas nos olhos: «Não tenho sorte nenhuma, os doentes morrem-me todos!».

Era na verdade uma dor de alma ver aqueles moços com 20 anos morrerem, mas a culpa não era da sua sorte, sargento Alves, era do estado em que eles lá chegavam, e o dr. Fernando Garcia não os conseguia salvar a todos.

A culpa também não era tua, Zé do Mato - a ti mandaram-te para lá, que ias defender a Pátria. Tu, Zé do Mato, que eras o que mais sofrias e mais morrias, que quando te obrigavam cumprias, quando te pediam, cedias. Tudo em nome da Pátria! 

O que tu não sabias é que a Pátria te ia ser tão ingrata. Usou-nos e deitou-nos fora. Nunca mais quis saber de nós. Mas louvou os desertores, os delatores e muitos mais, e ainda com direito a insultar-nos. Mas disto não me atrevo a falar do que li.

Agora fala-se em indemnizações. As primeiras a serem indemnizadas seriam as nossas mães, que foram as que mais sofreram, os deficientes, os espoliados que deixaram lá uma vida de trabalho e aqueles que ficaram marcados, o que lhes dificultou o resto da vida. Estes sim, era em nome da Pátria, já que a nós não nos contemplou como prometeu!

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P25999: Facebok...ando (63): "A Última Ceia", por Manuel Serôdio, desenho (ou pintura ?) deixado na messe de sargentos em Empada, ao tempo da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 (1967/69)

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