António Reis, hoje e ontem: ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68; natural de Avintes, V. N. Gaia, senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 882; é autor de dois livros de memórias da Guiné; tem página no Facebook.
Espinho > 20.º Encontro do Pessoal do HM 241 (Bissau) > 7 de Outubro de 2023 > O António Reis e a esposa, Rosa, na convívio anual do pessoal do HM 241 (Bissau)
Fotos (e legendas): © António Reis (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Capa do livro de António Reis, "A minha jornada de África", 1ª ed., s/l, Palavras e Rimas, Lda, 2015, 111 pp.
1. Da página do Facebook do António Reis, nosso tababqueiro nº 882, reproduzimos, com a devida vénia, a seguinte postagem de 27 de junho de 2024, 11h24:
Era uma enfermaria de três camas; passou por ela desde o general Arnaldo Schulz, o "governador", aos turras. Esteve sempre aos nossos cuidados. Depois passou para reanimação e aos cuidados do sargento Alves.
E foi neste tempo e espaço que o dr. Machado lamentava a morte de um alferes que acabava de morrer, ainda na maca, com um estilhaço na cabeça. Era o sétimo desde que lá chegou, dizia ele. E foi o sargento Alves, da reanimação, a entrar na minha enfermaria e a dizer para o sargento Claro, meu chefe, com ar pesaroso e lágrimas nos olhos: «Não tenho sorte nenhuma, os doentes morrem-me todos!».
Era na verdade uma dor de alma ver aqueles moços com 20 anos morrerem, mas a culpa não era da sua sorte, sargento Alves, era do estado em que eles lá chegavam, e o dr. Fernando Garcia não os conseguia salvar a todos.
A culpa também não era tua, Zé do Mato - a ti mandaram-te para lá, que ias defender a Pátria. Tu, Zé do Mato, que eras o que mais sofrias e mais morrias, que quando te obrigavam cumprias, quando te pediam, cedias. Tudo em nome da Pátria!
Nunca me esqueci nem esquecerei
por muitos anos que viva
por António Reis
Era uma enfermaria de três camas; passou por ela desde o general Arnaldo Schulz, o "governador", aos turras. Esteve sempre aos nossos cuidados. Depois passou para reanimação e aos cuidados do sargento Alves.
E foi neste tempo e espaço que o dr. Machado lamentava a morte de um alferes que acabava de morrer, ainda na maca, com um estilhaço na cabeça. Era o sétimo desde que lá chegou, dizia ele. E foi o sargento Alves, da reanimação, a entrar na minha enfermaria e a dizer para o sargento Claro, meu chefe, com ar pesaroso e lágrimas nos olhos: «Não tenho sorte nenhuma, os doentes morrem-me todos!».
Era na verdade uma dor de alma ver aqueles moços com 20 anos morrerem, mas a culpa não era da sua sorte, sargento Alves, era do estado em que eles lá chegavam, e o dr. Fernando Garcia não os conseguia salvar a todos.
A culpa também não era tua, Zé do Mato - a ti mandaram-te para lá, que ias defender a Pátria. Tu, Zé do Mato, que eras o que mais sofrias e mais morrias, que quando te obrigavam cumprias, quando te pediam, cedias. Tudo em nome da Pátria!
O que tu não sabias é que a Pátria te ia ser tão ingrata. Usou-nos e deitou-nos fora. Nunca mais quis saber de nós. Mas louvou os desertores, os delatores e muitos mais, e ainda com direito a insultar-nos. Mas disto não me atrevo a falar do que li.
Agora fala-se em indemnizações. As primeiras a serem indemnizadas seriam as nossas mães, que foram as que mais sofreram, os deficientes, os espoliados que deixaram lá uma vida de trabalho e aqueles que ficaram marcados, o que lhes dificultou o resto da vida. Estes sim, era em nome da Pátria, já que a nós não nos contemplou como prometeu!
Agora fala-se em indemnizações. As primeiras a serem indemnizadas seriam as nossas mães, que foram as que mais sofreram, os deficientes, os espoliados que deixaram lá uma vida de trabalho e aqueles que ficaram marcados, o que lhes dificultou o resto da vida. Estes sim, era em nome da Pátria, já que a nós não nos contemplou como prometeu!
(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 2 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P25999: Facebok...ando (63): "A Última Ceia", por Manuel Serôdio, desenho (ou pintura ?) deixado na messe de sargentos em Empada, ao tempo da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 (1967/69)
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