Foto: © Albano Costa (2008). Direitos reservados (Foto editada por L.G.)
1. Mensagem do Jorge Cabral:
Querido amigo:
Espero que já estejas refeito de tanta emoção!
Lá estive no lançamento, que correu muito bem (1).
Gostei imenso de conhecer o Henrique Matos, com quem logo senti uma grande empatia.
Contei-lhe a estória que hoje envio, a qual devo ao Beja Santos, que me fez recordar do tal piano.
Grande, Grande Abraço
Jorge
2. Estórias cabralianas > O Alferes, o piano e a Professora (2)
Em Maio de 71, o apanhanço do Alferes excedera todos os limites. Os Amigos da CCAÇ 12 haviam partido e ele, com os seus vinte e três meses de mato, refinara a excentricidade, espantando agora os periquitos de Bambadinca.
Naquele dia resolvera visitar a Professora (3). Com que intenção, não sei. Líbido? Mera curiosidade? Alguma aposta? Talvez de tudo um pouco… e se viesse à rede… pois então…
Bateu à porta e logo a amarelenta dama, que parecia saída de um filme de Fellini, lhe franqueou a entrada, num sorriso de Admiração.
- O Senhor Alferes de Missirá! Entre!
- Venho pedir conselhos sobre a Escola. (... Depois blá, blá, blá, da didáctica, dos fulas, dos mandingas, da Guiné antes da Guerra…)
- E que fazia o Senhor na vida civil? - perguntou ela.
Nem hesitou o Alferes. Com um ar sonhador, apontou o piano que ali jazia ao canto, e disparou:
- Pianista!!!
Quase pulou a Professora. Brilharam-lhe os olhos e, como uma criança, bateu palmas.
- Vai tocar! Vai tocar!
Subitamente, ao Alferes, deu-lhe a pressa e encaminhou-se para a saída.
- Hoje não posso. Venho cá outro dia. E até lhe prometo um recital.
Cá fora, vociferou consigo próprio.
- Porra! Sou duro de ouvido. Não sei uma nota. Porque não lhe disse que era massagista?
A partir desse dia, assim que chegava ao Cais de Bambadinca, enfaixava a mão direita e punha o braço ao peito, para passar diante da Escola, com receio que a dama o fizesse cumprir a promessa.
Já em Julho o Polidoro (4) chamou-o. A Professora perguntara-lhe se o Alferes estava melhor.
Coitado, um tiro na mão. E sendo pianista… ainda pior… já não há recital.
- Cabral, você está doido! Que história é essa? Do tiro, do pianista, do recital?
- Boatos! Invenções! Delírios! Coitada da Dona Violete. Imaginou!
Jorge Cabral
PS - Envio foto (da autoria do Albano) tirada enquanto falava do prometido recital...
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Notas de L.G.:
(1) Vd. poste de 8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2617: Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)
(2) Vd. post de 4 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2612: Estórias cabralianas (33): Quatro Madrinhas de Guerra (Jorge Cabral)
(3) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2431: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (15): Oficial e cavalheiro em Bambadinca, às ordens de Dona Violete
(4) Tenente-coronel, comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Já falecido.
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