terça-feira, 11 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2624: À procura dos Camaradas e da Memória de 1966 (José Jerónimo / Virgínio Briote)

1. Mensagem que o José Jerónimo enviou há tempos:

Emocionado estou com todo o trabalho que têm tido na pesquisa de informações, sobre meus camaradas mais próximos, nos velhos tempos de Guiné.


Não sei como mostrar para vocês todo o meu reconhecimento.
Tu, meu grande camarada, que junto com o Henrique Cabral, com o Henrique Matos, com o Virginio Briote, com o Carlos Vinhal, com o Santos Oliveira (que se tem desdobrado em vários "Santos Oliveira" para me apoiar nesta busca, que já alguns resultados nos trouxe) e outros, tens cedido o teu tempo, o teu espaço, para me dares atenção, me ajudares , apesar do meu contributo de informações ser tão pequeno... mereces um Louvor por MÉRITO que se estende a todos os outros, não pelos vossos feitos na guerra.


Mas agora, em outro tempo bem distante, pelo ALTO NIVEL de Solidariedade, de Camaradagem, de Interesse em ajudar os outros, de Motivação em resgatar os momentos difíceis por todos nós vividos e que serviram para tanto fortalecer o espirito de CAMARADAGEM, nas raias da AMIZADE que fez a nossa linda história.

Daqui destas longínquas terras brasileiras, que agora muito mais perto se tornaram para todos nós, vai o meu MUITO OBRIGADO PARA VOCÊS TODOS.

Com um FORTE ABRAÇO para TODOS, do

José Jerónimo

PS: Esperando que tenhamos mais resultados em nossa busca,
JJ

2. Nova mensagem do José Jerónimo:

Caro Luís Graça,




Esta foi uma parte das operações em que a CCAÇ 1487 participou. Foram aquelas que fizemos ao nível de Batalhão com o de Tite, o BCAÇ 1860.

Além destas tivemos outras como Companhia de Intervenção do Batalhão de Bissau, em Mansoa e Mansabá, além de muitas outras várias que tivemos só ao nível de uma ou duas companhias, que aqui não estão relacionadas. Existe interesse em publicar no Blogue? Como? Posso escrever com alguns detalhes que me lembrar. O que achas?

3. Para lhe avivar a memória, meti-me na conversa, uma vez que somos praticamente do mesmo tempo:

Caro José Jerónimo,

Pela foto que acabas de enviar vejo que está bem, com um aspecto de fazer inveja à velhada que por aqui tem dado a cara.

E pelo resumo de algumas ops em que entraste, também me apercebi que dois grupos nossos (Cmds do CTIG, do então cap Garcia Leandro) andaram contigo, salvo erro a Narceja e a Naja, estou correcto?

Tens alguma informação mais detalhada que queiras enviar sobre as acções em que participaste?

Um abraço,
vb



4. Na volta, o José Jerónimo:

Caro VB

Concerteza que sim. Estive lá em todas essas operações, menos na última, a Navalhada, pois tinha acabado de ser evacuado para o Hospital Militar de Bissau. Nela, lembro, morreram o guia Idrissa e tivemos vários feridos no Grupo do Alf Freitas Soares.

Apesar de, pelo muito tempo afastado dessas nossas lides, tenha esquecido a maior parte dos detalhes que gostaria de recordar agora, lembro-me que na Narceja foi derrubado um helicóptero, quando foi evacuar os feridos. Na queda um furriel que com a sua secção fazia a segurança do helio, teve um braço quase decepado.

No helicóptero estava a ser evacuado, com outros, um cabo (não lembro o nome) da CCAÇ 1487, com um tiro no rosto.

Depois quando faziamos a segurança do helicóptero derrubado, alguns de nós, entre eles eu, estávamos perto de um grande poilão, onde estava o técnico do Alouette que ia desmontar o helicóptero, para o mesmo poder sair dali em um outro. Aí estavam também de pé o então capitão Fabião , apoiado na sua varinha, o também então capitão Osório e um dos alferes dos Cmds do CTIG (era um gordinho muito falador e divertido, estive com ele mais vezes).

Este último tentava assar umas febras de um leitão que tínhamos apanhado. Foi nessa altura que tivemos um contra-ataque com uma saraivada de balas , morteiradas e bazucadas. Todos os que ali estavam indevidamente foram para os seus lugares. Eu estava ao lado Alferes Lobato da CCAÇ 1487 e quando no primeiro momento nos jogamos para o chão, uma rajada passou entre nós os dois. Ele concerteza se lembrará também.

E lá se foram as febrinhas de porco, que pareciam vir a ser tão apetitosas. Os Páras desceram já muito mais tarde.

Tu estavas lá? Foi assim ? Ou estou a fazer confusão com outra operação? Acho que no fim fomos por Jabadá, onde o Alferes do Pel Mort 1039 (a quem eu chamo de Basílio) nos recebeu com umas boas cervejas, no destacamento, apesar de estarmos debaixo de muitos tiros.
Da Naja não lembro tão bem.

Outra que lembro alguma coisa, mas que vocês (Cmds do CTIG ) não estiveram, foi a Nalú. Foi nela que, pela primeira vez, foi integrado nas forças terrestres o Comandante do Batalhão 1860 (ele foi no meu Grupo de Combate e nesta operação , morreu o Alferes Carlos Santos Dias da CCAV 1549 (?), que actuava com um objectivo diferente.

Quanto ao ex-capitão Leandro, lembro que nos comandou durante os dois períodos de férias do Osório. Num deles tivemos um forte ataque ao aquartelamento de Fulacunda. E ele estava lá. Lembro-me que quando saí com a arma, para ir para fora do quartel (cabia ao meu Grupo a segurança da pista e da parte externa do quartel, onde ficava a população civil) me cruzei com ele, que ainda perplexo se tentava posicionar quanto à situação e me perguntou alguma coisa que agora não recordo.

Olha, Briote, se forem puxando por mim, ainda vou lembrar de um monte de coisas. Gostei deste momento de recordações e só tenho pena de só ir lembrando aos poucos.

Quanto à foto que te enviei, obrigado pelo elogio. De facto apesar das muitas peripécias da minha vida, ainda me sinto muito bem e tenho uma vida muitissimo ativa. Dou Graças a Deus por isso. Estou aí para mais lembranças e encontros...

Se tu, meu camarada amigo, estiveste em algumas destas operações, tenta avivar a minha memória, que começou a clarear desde que conheci o Grande Santos Oliveira e tenho estado em contacto com todos vocês.

Um abração amigo
JJ

__________

Nota de vb:


I. A op Narceja em que o José Jerónimo refere o abate do Allouette, consta também da minha memória. Não foi o meu grupo mas sim os Vampiros, comandados pelo alferes V. Caldeira. Foi a primeira ou se não foi, foi seguramente uma das primeiras vezes que o Caldeira, até então adjunto do cap Leandro para as questões administrativas, chefiou o grupo. O alferes Vilaça, até então o cmdt do grupo tinha regressado a Guileje e à sua CCaç 726.
II. O técnico da fábrica francesa que estava na BA 12, Bissalanca, já com alguma idade, deslocou-se num outro heli para ver os estragos e eventualmente reparar no local o que pudesse ser reparado.
O alf Vítor Caldeira contou-me a peripécia, mas o que mais retive foi a cena da largada dos páras.
Transportados para o local pelo próprio cmdt da Base, o cor Kruz Abecassis, se a memória não me atraiçoa, quando a zona foi sobrevoada pelo Dakota, havia tiroteio cá em baixo. Mesmo assim, fez-se a largada.



Foto de finais de 1965, princípios de 1966, em Brá, numa visita que o Governador A. Shultz fez à CCCmds. De costas e com as mãos atrás das costas, vê-se o então cap Nuno Rubim. O alf V. Caldeira é o que está assinalado à direita da imagem (mancha branca junto às botas) com o Marcelino da Mata ao fundo. É este o alferes gordinho de que falas?
JJ, puxa pelas memórias. Para as avivar, vai enviando fotos, docs, o que tiveres.
Foto de © vb (2008). Direitos reservados.

2 comentários:

José Jerónimo disse...

Olá Briote,

Ontem te estava fazendo umas perguntas e as perdi , pois a conexão caiu.
Uma delas era para saber se o Alferes Vilaça é aquele a quem durante uma determinada operação, o PC aéreo disse para engolir as minas que estavam aparecendo no caminho que lhe indicavam e trazendo baixas para o grupo que comandava ? Se é, eu o conheço.
Tenho mais coisas para perguntar , mas hoje vou parar por aqui.

Abração amigo,

JJ

Rui Moio disse...

Na última fotografia saliento o militar mais condecorado do exército português - o grande combatente e herói da Pátria - Marcelino da Mata.