sábado, 15 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2646: A Guiné, a Guerra Colonial e o 25 de Abril. Comentários e Nota do Coronel Gertrudes da Silva (Virgínio Briote)

Apresentação do Diário da Guiné, Na Terra dos Soncó, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Mário Beja Santos, Jorge Cabral, Henrique Matos e Joaquim Mexia Alves, Comandantes do Pel Caç Nativos 52.

Foto: © Mário Fitas (2008) . Direitos reservados.

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A nossa História recente em debate, sem outra precaução que não seja o respeito pela opinião do outro.
Destaques da responsabilidade de vb.
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A Guiné, a Guerra Colonial e o 25 de Abril de 1974

Comentários ao artigo publicado pelo Coronel D. Gertrudes da Silva

1. de Henrique Matos:

Porque será que se omite que o movimento dos capitães tem a sua génese na contestação dos oficiais do quadro permanente ao diploma - DL 353/73 - que colocava oficiais milicianos no posto de capitão sem passar pela Academia.

2. de Joaquim Mexia Alves

A visão aqui expressa da guerra do ultramar/colonial/África, é uma visão um pouco pessoal e em certos pontos não retrata a realidade. Basta dizer, por exemplo, que ao afirmar que em Angola, também pelo facto de ali lutarem contra nós e por vezes entre si três movimentos de libertação, a situação apresentava um certo equilíbrio, se está completamente fora da realidade.

Em Angola a guerra só muito esporádicamente e por conta da UNITA, tinha alguma actividade.

3. Nota do Coronel D. Gertrudes da Silva ao comentário do Henrique Matos, enviada ao co-editor:

Mando-lhe isto a si.
Faça-lhe o que entender, mas eu tinha que reagir.
Mas não estou zangado, não.

Um abraço.

O João Parreira e o Artur Conceição, do BArt 733 (Mansoa, Bissorã, Farim, Cuntima, Jumbembem, Canjambari...), em primeiro plano na cerimónia de apresentação do Diário da Guiné, do M. Beja Santos. Na 2ª fila, o Coronel D. Gertrudes da Silva (sorridente).
Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

A UM ANÓNIMO

Se não se apresentasse sem dizer o nome, já que mais não fosse por razões de pertença, dirigir-me-ia a si como caro ou até como amigo ou camarada (da tropa, naturalmente). Mas aí vai.

Eu não omiti nada no escrito (*) que alguém com esse direito tratou de publicar no, já agora, nosso blogue. Não me propunha aí falar propriamente do 25 de Abril, e tão só no enquadramento desse facto (marco) histórico no contexto da Guerra Colonial.
Aliás, se se desse (ou der) ao cuidado – pode não ter tempo … ou disposição – de ler o que muitos militares que participaram no 25 de Abril escreveram sobre esse incontornável evento da história contemporânea portuguesa, se tivesse esse cuidado, prazer ou maçada, veria que nunca omitem esse determinante facto dos decretos.

Só a título de exemplo, e por de memória os ter aqui mais à mão, convido-o a passar uma vista de olhos por qualquer um dos seguintes escritos publicados:

- “Origens e Evolução do Movimento dos Capitães”, de Dinis de Almeida;
- “Alvorada em Abril”, de Otelo Saraiva de Carvalho;
(Para se conhecer tem de se ler de tudo …)
- “História Contemporânea de Portugal”, (vários), Vol. II.


E, já agora, e passe a publicidade, o livrito do autor destas pouco cuidadas linhas com “Quatro Estações em Abril” de nome de baptismo.
Porque isto não é três ou quatro mânfios, desculpe-me a expressão, marcarem um encontro no café da esquina, trocarem para ali uns blá-blá e pronto, vamos fazer um 25 de Abril.


O Capitão Gertrudes da Silva, Cmdt da CÇAÇ 2781. (Guiné, 1970/72).
Foto: © Gertrudes da Silva. Direitos reservados.

É claro que a questão dos decretos é muito importante e até determinante porque, por boas ou menos boas razões, marca o arranque do “Movimento dos Capitães”, porque levou os capitães a juntarem-se e falarem, assim uma coisa, mal comparada, com o que agora leva à rua os professores.

Diga-se ainda que o protesto dos capitães (do quadro) não era contra os capitães milicianos, mas tão só contra o Governo que pretendia resolver os engulhos em que se metera com a teimosia da Guerra Colonial, a tal “Magna Questão”, à custa dos capitães.
E também lhe posso dizer que para além do grosso das tropas, que era constituído por praças, das centenas de cabos, furriéis, sargentos, aspirantes e subalternos milicianos, também os tais capitães (milicianos) acabaram por tomar parte no Movimento Militar do 25 de Abril.


A mim, por exemplo, competia-me comandar o Agrupamento November que integrava tropas de Viseu, Guarda, Aveiro, Figueira da Foz e um grupo de capitães de Águeda. Pois, olhe, depois de abordarmos o Forte-Prisão de Peniche e continuarmos, não em direcção de Fulacunda mas de Lisboa, ficou a tomar conta daquela fortaleza uma Companhia de Atiradores reforçada com peças de artilharia comandada por um desses capitães milicianos.
Não, não é gente chegar aqui e vamos fazer um 25 de Abril, não.
Quando o capitão Vasco Lourenço e mais alguns camaradas andavam por aí a recolher as assinaturas para o telegrama a enviar ao Congresso dos Combatentes, ainda não se tratava de decretos e não tinha de certeza em mente o 25 de Abril.
Quando uns meses mais tarde, em 09Set73 cerca de centena e meia de capitães se juntaram num monte alentejano nas proximidades de Évora para discutirem as formas de atalharem às consequências dos ditos decretos, o que dali saiu foi um requerimento por todos assinado, em que veementemente protestavam junto do Governo da Nação.

Ainda muita coisa se viria a passar, muita reunião, até à que foi realizada em S. João do Estoril, em 24Nov73, em que por impulso do Sr. Ten. Coronel Ataíde Banazol, que estava para embarcar com um Batalhão (e embarcou), o Movimento resolveu avançar para o projecto de derrubar o Regime através de uma acção militar.

Por fim, que se diga aqui também que não foi por medo que estes capitães enveredaram por este radical caminho.
Ninguém poderá negar – discordar, sim – que os que naquela noite saíram das suas casas corriam grandes perigos. Medo, nos lugares, nos momentos e em tempo de medos, todos nós tínhamos. O que era decisivo, disso todos nós sabemos, não era a questão de ter ou não ter medo, mas de se ser ou não capaz de o superar.

Depois do 25 de Abril, os capitães a quem competia por escala continuaram a ser mobilizados, alguns deles para viverem bem piores momentos do que os que já antes tinham suportado em plena Guerra Colonial.

E não me levem a mal por vir para aqui defender com alguma paixão a minha dama.
Viseu,14 de Março de 2008
Gertrudes da Silva
Cor.Ref.


(*) Texto para intervenção no encontro do Blog “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, que teve lugar em Lisboa, em 06Mar2008.
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Nota de vb: ver artigo de

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2632: Coronel Gertrudes da Silva: A Guiné, a guerra colonial e o 25 de Abril (Virgínio Briote)

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