segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 – P7392: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (XII): Sobre a nova Série do nosso Blog “O fim do Império português na Guiné” do nosso camarigo Magalhães Ribeiro



1. Mensagem de Vasco da Gama* (ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74) , com data de 6 de Dezembro de 2010:

Junto anexo mais uma Banalidade desta feita referente ao post do nosso camarada M.R.

Um abraço para todos.
Vasco da Gama



BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - XII

Sobre a nova Série do nosso Blog “O fim do Império português na Guiné” do nosso camarigo Magalhães Ribeiro.

Estive na Guiné no período de Outubro de 1972 até finais de Agosto de 1974, a maior parte do tempo passado no Cumbijã, tabanca que havia sido abandonada julgo que em 1966 e que a minha companhia, a Companhia de Cavalaria 8351, companhia independente às ordens do Comando Chefe veio a reocupar nos princípios de 1973, então território de terra queimada sem o mínimo vestígio de gentes mas profusamente atulhado de minas que, pacientemente, fomos levantando até rapidamente termos ultrapassado o quarteirão, entre as antipessoal e as anticarro, simples ou recheadas com mais ou menos armadilha, tarefa que finda nos permitiu colocar duas fiadas de arame farpado para que pudéssemos erguer as nossas “moradias”, nem mais nem menos que as tendas de campanha, cavar umas valas e aguentar firme…

Entre o assalto a Nhacobá, a protecção diária à estrada Quebo-Nhacobá e à estrada Quebo-Buba num período posterior, vivíamos num perfeito isolamento, onde as notícias chegavam sempre atrasadas e onde, juro-vos, nunca ouvi falar de Migs nem de Cop’s nem nunca me deram conhecimento superior de Guidaje nem Gadamael e se o Guileje não nos passou despercebido foi porque os embrulhanços eram perfeitamente audíveis tanto no Cumbijã como em Nhacobá, tão perto e tão longe estávamos dos nossos camaradas da CCav 8350.

Ao chegar a este espaço que é o nosso Blog “Luís Graça e Camaradas da Guiné”, fi-lo sobretudo para aprender com camaradas que vivendo experiências diferentes da minha me completassem o pouco que sabia da Guiné, no seu conhecimento estrutural, também para emitir uma ou outra opinião que ajudasse a escrever a história da Guiné, homenagear os meus queridos camaradas para que os seus nomes não ficassem esquecidos, mesmo dos mármores que vão aparecendo aqui e acolá, se calhar mais em jeito de sossegar consciências de quem “ordena” do que propriamente homenagear os nossos mortos, os nossos feridos, os nossos camaradas que se vão suicidando ou estendendo a mão à caridadezinha.

Só o ler nos princípios orientadores do nosso espaço que aqui “não nos insultamos uns aos outros, que somos capazes de conviver civilizadamente com as nossas opiniões diferentes, sejam elas políticas, religiosas ou outras” encheu-me de alegria tal que de pronto me desinibi para escrevinhar aqui e acolá e comentar esta ou aquela opinião.

Faço-o agora, e de pronto, ao post 7388, não pretendendo beliscar minimamente o interesse documental das fotografias que o M.R. começou a publicar, iniciativa que aplaudo enquanto amante da aprendizagem sobre a Guiné.

Ao ler a introdução à nova série do nosso camarigo M.R. que hoje se inicia onde expressa em letras garrafais, cuja utilização a outros criticou, o conceito “de ultramar português”, para de seguida apelidar alguns camaradas ex-Combatentes de ignorantes, de ressabiados, de fantoches apalhaçados, de idiotas, de serventias lacaias, que deturpam factos e acontecimentos porventura fatais à lealdade e veracidade que se exige nos registos paginais”, temendo que esses “tipos” deturpem a História de Portugal se calhar, apenas e só, por não pensarem como ele.

Não, não gostei de ler esta introdução e entristeceu-me a linguagem utilizada, eventualmente porque serei ignorante no seu entendimento, e dizer ainda antes de tocar em meia dúzia de coisas, que o 25 de Abril (por extenso, para que todos entendam) é por mim considerado como o dia da Liberdade que devolveu aos portugueses a possibilidade de aqui, ou em outro qualquer lado, discutirem com todo o àvontade o que o regime salazarista nos impedia de fazer, trocando sem medos de espécie alguma os nossos argumentos.

Não foi o 25 de Abril que colocou nas rédeas da governação este ou aquele partido, deu apenas e só ao povo a possibilidade de o fazer, o que há muito lhe era vedado: ir às urnas expressar o dever sagrado do voto, de participar activamente na eleição dos seus governantes.

Escolhemos mal? Culpemo-nos a nós que os elegemos mas deixemos o 25 de Abril sossegado.

Caro Pira de Mansoa, ao teu conceito de ultramar português, faltam algumas coisas, em meu modesto entender, apesar de também conhecer, como tu, muitas famílias
simples e trabalhadoras que, obtido que fosse o passaporte salazarista, para lá, sobretudo Angola, se deslocavam trabalhando no pequeno comércio ou na função pública conseguindo melhor sustento que a pátria salazarista lhes negava.

É que não te podes esquecer das famílias portuguesas que ascenderam a grandes patamares de riqueza à custa do controlo das matérias primas das colónias, não te podes esquecer da exploração da mão de obra indígena, do aproveitamento da escravatura, do absoluto desprezo pelos direitos dos trabalhadores, da inexistência de condições laborais com o mínimo de dignidade, da exploração da mão de obra infantil.

Administrámos territórios que foram “nossos” durante séculos a fio e estamos de mãos lavadas face à situação catastrófica em que a “nossa” Guiné se encontra?
A “nossa” Guiné, é por ela que o nosso Blog existe, ocupava o lugar n.º 175 entre 177 países no que ao índice de desenvolvimento humano diz respeito (é o terceiro pior país do mundo para se viver), tem uma mortalidade infantil de 200 por mil e um Produto Interno Bruto (P.I.B.) inferior à facturação anual de várias empresas portuguesas.

Só mais uma coisa, dizes que os portugueses procuravam uma terra que lhes desse o que não lhes era dado no Continente, justificando assim a sua ida para África…

É verdade.

E o que fazemos nós, os europeus, sim, além de Portugal também a Bélgica, a Inglaterra, a Alemanha, a França etc. foram potências colonizadoras, o que lhes damos em troca aos africanos que procuram aqui apenas e só o sustento que lhes mate a fome?
Impedimos a sua entrada, não com arcos e flechas, mas com armas mais mortais; as do racismo, da indiferença, da miséria, do desemprego ou fechando-os em guetos.

Escolherás o saco onde me catalogarás, mas deixa-me dizer-te que em minha opinião os maiores amigos da Guiné são os nossos camaradas combatentes, tenham feito a guerra por amor à pátria ou obrigados, como foi o meu caso.

Não os insultes!

Do meu Buarcos lindo, hoje carregado de nuvens cinzentas, com as paredes da minha casa brilhantes de humidade, a parecerem-se com a tristeza dos meus olhos, vos deixo, a todos, camarigos um abraço fraterno.

Vasco Augusto Rodrigues da Gama
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7130: (Ex)citações (101): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Vasco da Gama / José Brás)

Vd. último poste da série de 5 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 – P6675: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (XI): O escritor, o teatrólogo e o atrevido escrevinhador

10 comentários:

Juvenal Amado disse...

Caro Vasco

Gostei da tua intervenção.

Não gostei do poste do MR, que já em outras alturas sacou de um tipo palavreado, que considero ofensivo para mim, que não penso como ele .
Mas é assim a liberdade do teu nosso 25 de Abril, permite-nos ouvir de tudo e felizmente não nos obriga a comer e calar.

No tempo do famoso «ultramar» era bem diferente.

Um abraço

Juvenal Amado

Torcato Mendonca disse...

Meu Caro Vasco da Gama

Fui lendo o "correio" e vi que havia tormenta. É do tempo, das dores que passam do braço, da perna...para o alto.Reumático como diz o J.Belo?

Vim ao blogue e li-te devagar, muito devagar. Estou cansado, a idade, o dia mais violento e fico mais cansado, cada vez mais. Certos escritos, mesmo não lendo ou certos comentários acho-os dispensáveis.

Todos têm direito á sua opinião, este é um espaço plural.
O que acabei de ler basta-me por hoje (é suficientemente elucidativo) e vou põr ponto final na leitura.Satura, não?

Agradeço o que escreves. Porquê? Não é dificil de ver...
Um abraço forte, fraterno e amigo do
Torcato

Anónimo disse...

Camaradas,
Faço como o Torcato, vou apagar a luz e procurar o conforto dos lençóis.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Meu "Almirante" de outras tormentas. Näo se pode(nem deve!) esquecer que, a NOSSA LIBERDADE,foi conquistada por alguns que por ela lutaram durante muitas décadas...e,oferecida "de bandeja" a outros.Muitos até nem a queriam,ou querem,por täo incómoda nas diversidades. Gostei do que escreves-te.Aquele abraco!

DFE 7 disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Caros Editores. Vamos manter comentários anónimos?Assinados com siglas? (D)estacamento de (F)usileiros (E)speciais/7? Nada diz,a näo ser sobre...frontalidades. Um abraco do C.Ca.2381.

Manuel Reis disse...

Amigo e camarada Vasco:

Gostei do teu comentário sobre o texto do nosso amigo Magalhães Ribeiro, onde explicitas a tua opinião,que sendo discordante, não justifica tanta animosidade da parte do Magalhães.

É neste contraditório opinativo que o Blogue se alimenta. O bom relacionamento entre os camarigos está garantido, o resto é só "fumaça"!

Um forte abraço

Manuel Reis

josé Teixeira disse...

Registe-se o meu protesto por aceitarmos comentários de pessoas que não têm a coragem de dar a cara,sem preocupação quanto ao conteúdo do seu comentário.
Somos pessoas de bem. Cada uma com a sua forma de pensar, a qual pode ter cabimento aqui se respeitar as regras de liberdade, do respeito pela individualidade de cada um e se identificar devidamente.

manuelmaia disse...

Vasco,

Daqui te envio um grande abraço solidário.