quarta-feira, 17 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25400: S(C)em Comentários (33): "500 anos depois"... eram os "cubanos" que ensinavam, em 2008, as mulheres de Iemberém a aprender o português


 
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Mulheres alfabetizadas pelo método ALFA-TV | Data de Publicação: 22 de junho de 2008 | Palavras-chave: Ensino 

Legenda:

"Concluiu-se agora em Iemberém, no sul do país, o primeiro módulo de alfabetização pelo método cubano conhecido por ALFA-TV  e que tão bons resultados tem obtido.

Usando um sistema de 36 aulas através de vídeo-cassetes emitidas por televisão, consegue-se que os alfabetizandos aprendam em 5 meses a escrever e a falar rudimentarmente o português.

Mariama Galissa é uma das 72 mulheres que aprenderam a escrever e que manifesta o seu entusiasmo às suas amigas e companheiras que mantêm algumas reservas em iniciarem-se nesta aprendizagem."


Fonte: Internet Achive > AD BIssau (com  devida vénia...) 

(O sítio original foi descontinuado: http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2008.06.22.htm ) (*)

 
2. Comentário do editor LG:

Escrevi há 14 atrás (**):

"Uma ternura de imagem !... E ao mesmo tempo uma imagem que me deixa cheio de raiva e de furor. Não tanto por serem os cubanos a fazer a alfabetização, em português, do povo gentil de Iemberém, das etnias nalu,  tanda, sosso, etc., que eu tive o privilégio de conhecer, em 1, 2 e 3 de Março de 2008, mas por em 2008, em pleno séc XXI, a Mariama Galissa e tantas outras Mariamas da Guiné-Bissau, e de toda a África, não dominarem ainda uma tecnologia que é tão importante para o desenvolvimento pessoal, intelectual, cultural e sócio-económico e para o exercício da cidadania como é a língua oficial, escrita e falada, do seu país...

"Não me interessa se é o português, o espanhol, o francês ou o inglês, não me interesssam os méritos e os desméritos do método ALFA-TV: o que importa é que as mulheres africanas (mas também os homens...) possam dominar um dos principais idiomas do mundo globalizado, e com isso marcar pontos no seu duro processo de emancipação, de conquista da autonomia, de afirmação da sua singularidade e da sua dignidade como pessoas, como cidadãs, como mulheres, como africanas... 

"Eu sei que não basta apenas saber ler, escrever e contar...Eu sei que é apenas um passo, mas é decididamente um passo de gigante. Uma mulher alfabetizada, em África, tenderá a ser mais saudável, mais activa, mais produtiva, mais empreendedora, mais participativa, mais empenhada, mais reivindicativa, mais consciente dos seus direitos e deveres, mais promotora da paz, mais apta para agarrar novas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento, mais competente para ajudar a família, a comunidade e o país a sair do círculo vicioso da pobreza"... 

___________


(**) Vd. poste de 30 de junho de  2008 > Guiné 63/74 - P3006: Ser solidário (12): Método cubano de alfabetização... em português

10 comentários:

Valdemar Silva disse...

Fotografia extraordinária com as visíveis mudanças das mulheres na Guiné.
Uma mulher bem vestida, usando soutien, aprendendo a escrever e com o filho às costas como sempre tem sido ao longo dos anos.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Salvo melhor opinião, esta jovem mãe, muito bem "produzida", é de etnia tanda.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já nasceu depois da independência, m finais dos anos 80, mas não teve o direito a ir a escola...

Por outro lado, o projeto dos cubanos era erradicar o analfabetismo em..
quatro anos!

Nunca se deve prometer o que não se pode cumprir, é feio.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

...analfabetismo na Guiné-Bisso. Aplicando o tal método ALFA-TV. Os cubanos orgulham-se de não terem analfabetismo há mais de 60 anos...

Antº Rosinha disse...

Hoje em dia os africanos foram ensinados por tanta variedade de professores, que no caso dos guineenses, que aqueles que estudaram foram tantos, e em tantos idiomas, que o idioma português terá sido o menos praticado-

Desde o Russo e o Espanhol, Inglês e Francês, búlgaro e sérvio, e até algum chinês...que grande parte do mundo ajudou um país tão pequeno a entender-se em crioulo.

Ninguem ensina ninguém! as pessoas acabam por aprender por si próprias!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha,lembro-me de um aluno meu,médico, que fez a sua formação na China.

Coitado, os primeiros anos foram para aprender os ideogramas da língua. E muito pouco ou nada de medicina. Queria ficar em Portugal (como quase todos) mas tinha que fazer "o exame à Ordem".

Sem a acreditação na Ordem dos Médicos, não podia exercer medicina em Portugal. Creio que voltou para o seu pais e aproveitaram-no como tradutor-intérprete.

Não sei se a aprendizagem do português é mais difícil que o árabe, o chinês, o russo, o alemão, o polaco...mas imagino que é cruel mandar uma criança ou adolescente, guineense, para o estrangeiro tirar um curso superior... Temos o exemplo do nosso Cherno Balde...








Valdemar Silva disse...

Naquele caso da Guiné, tratava-se de ensinar a ler e escrever.
Se foram os cubanos a ensinar só podiam ensinar em castelhano, que no caso até é uma língua latina, depois lá se entenderiam no dia a dia em crioulo.
Seria como por cá internar uma criança no colégio alemão e estar todo o dia a falar, escrever e ler alemão, depois saía para ir pra casa e começava a ouvir falar e a comunicar em português.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

As civilizações existem, umas impõem-se a outras,outras submetem-se, enfim, uns colonizam outros descolonizam, uns dominam, outros são dominados, há muito cinismo e muita mentira e muita demagogia atirada à cara uns dos outros.

A Europa em África baralhou, tornou a dar, foi a maior confusão.

No caso da Guiné, país, geograficamente tão minúsculo, o mundo inteiro "colaborou" na sua formação, de toda a maneira e feitio.

Mas o crioulo resistiu.

Valdemar Silva disse...

Antº.Rosinha, tens razão.
O crioulo resistiu e provavelmente vai ter palavras ao longo dos tempos com origem em línguas que não o português.

Em Curaçau, nas Antilhas, faz parte do Reino dos Países Baixos, tem um papiamento que é uma mistura de português, por causa da ida dos judeus e escravos do norte do Brasil, espanhol, inglês e neerlandês, conforme se firmavam os domínios da região.
O mais curioso de palavras em papiamento são as semelhanças com o crioulo e uma mistura do português e o castelhano.
p.ex. bo = tu
galina = galinha, em vez de polho
cuando, ki ora, ki dia = quando, a que hora, em que dia.
e muitos mais

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Para saber mais sobre os crioulos de base portuguesa, que devemos conhecer, acarinhar, defender, divulgar...


Crioulos de base portuguesa
Dulce Pereira


http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/crioulosdebaseport.html

(...) Chamam-se de base portuguesa os crioulos cujo léxico é, na sua maioria, de origem portuguesa. No entanto, do ponto de vista gramatical, os crioulos são línguas diferenciadas e autónomas. Sendo a língua-base aquela que dá o léxico, podemos encontrar crioulos de diferentes bases: de base inglesa ( como o Krio da Serra Leoa), de base francesa (como o crioulo das Seychelles), de base árabe (como o Kinubi do Uganda e do Quénia) ou outra.

Os crioulos de base portuguesa são habitualmente classificados de acordo com um critério de ordem predominantemente geográfica embora, em muitos casos, exista também uma correlação entre a localização geográfica e o tipo de línguas de substrato em presença no momento da formação.

Em África formaram-se os Crioulos da Alta Guiné (em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Casamansa) e os do Golfo da Guiné (em S. Tomé, Príncipe e Ano Bom).

Classificam-se como Indo-portugueses os crioulos da Índia (de Diu, Damão, Bombaim, Chaul, Korlai, Mangalor, Cananor, Tellicherry, Mahé, Cochim, Vaipim e Quilom e da Costa de Coromandel e de Bengala) e os crioulos do Sri-Lanka, antigo Ceilão (Trincomalee e Batticaloa, Mannar e zona de Puttallam). Quanto a Goa (na Índia), é discutível se aí se terá formado um crioulo de base portuguesa. Theban (1985) e Tomás (1995) consideram, contrariamente a Holm (1989) e Clemens (1996, 2000), que a pressão muito forte do português, língua oficial e de instrução, teria impedido a formação de um crioulo em Goa.

Na Ásia surgiram ainda crioulos de base portuguesa na Malásia (Malaca, Kuala Lumpur e Singapura) e em algumas ilhas da Indonésia (Java, Flores, Ternate, Ambom, Macassar e Timor) conhecidos sob a designação de Malaio-portugueses.

Os crioulos Sino-portugueses são os de Macau e Hong-Kong.

Na América encontramos ainda um crioulo que se poderá considerar de base ibérica, já que o português partilha com o castelhano a origem de uma grande parte do léxico (o Papiamento de Curaçau, Aruba e Bonaire, nas Antilhas) e um outro crioulo no Suriname, o Saramacano, que, sendo de base inglesa, manifesta no seu léxico uma forte influência portuguesa.(v. Crioulos com forte influência lexical portuguesa).

Alguns autores referem-se a variedades de um semi-crioulo de base portuguesa no Brasil e a variedades dialectais afro-brasileiras que corresponderiam a uma fase avançada de descrioulização de antigos crioulos, como a de Helvécia.(...)