segunda-feira, 15 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25388: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XVII: O meu pai, cor Henrique Gonçalves Vaz, que não pertencia ao MFA, deu um abraço de despedida, apreço e respeito ao seu Com-Chefe no momento da sua destituição (Luís Gonçalves Vaz)

Guiné > Bissau > 1973  (4.º trimestre )> No canto esquerdo o comandante Ricou, o oficial do lado direito de óculos é o Coronel CEM/CTIG Henrique Gonçalves Vaz, e ao centro, também de óculos, o general Bethencourt Rodrigues (destituído em 26 de Abril de 1974), numa cerimónia oficial, em Bissau, no ano de 1973. Fotografia do arquivo pessoal do coronel Henrique Gonçalves Vaz.

O QG/CTIG era o Quartel-General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel-General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau).

O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após o Golpe Militar de Bissau.

Foto  (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O jovem Luís Gonçalves Vaz,
que tem as melhores memória
do  tempo passado na Guiné
(1973/74)
1. Luís Gonçalves Vaz tem 75 referências no nosso blogue. É filho do Cor CEM Henrique Vaz (Barcelos, 1922-Braga, 2001). E esteve em Bissau, com a família, de 1973/74, Tinha 13 anos quando se deu o 25 de Abril. Frequentava o Liceu Honório Barreto, estava no 3.º ano.  Tem partilhado connosco boa parte do arquivo do pai. Entrou para a Tabanca Grande em 2011. É o nosso tabanqueiro nº 530  (*). 

Com formação académica em Biologia e Geologia, na altura o Luís era professor de Matemática e Ciências da Natureza numa escola C+S,  na região de  Braga (cremos que em Vila Verde).  

Fez o serviço militar na Escola Prática de Cavalaria, frequentou o 2.º  CSM de 1983. Foi fur mil da Polícia do Exército. Tem 18 meses de tropa. Na EPC ainda conheceu (e fez serviço com) o Salgueiro Maia em 1984 (na altura regressado dos Açores, e major cav desde 1981).

Ficou um grande amigo da Guiné. Sempre entusiástico, empenhado e generoso, tem  posto as suas memórias e as do seu querido pai,  à disposição dos amigos e camaradas da Guiné. 

Hoje, e a propósito da 23ª hora do gen Bettencourt Rodrigues, enquanto comandante-chefe do CTIG, fomos repescar um poste já antigo, em que o Luís nos conta como foi o "seu" 25/26 de Abril de 1974 em Bissau, e um episódio da prisão do com-chefe, em que vem ao de cima a nobreza de caracter do seu pai (**).


O meu pai, cor Henrique Gonçalves Vaz, que não pertencia ao MFA,  deu um abraço de despedida, apreço e respeito ao seu Com-Chefe no momento da sua destituição 

por Luís Gonçalves Vaz


O meu falecido pai, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, Chefe do Estado-Maior do CTIG, teve conhecimento durante a noite de 25 para 26 de Abril, pois na madrugada recebeu, pelo seu telefone “civil” (não o militar!), a notícia de que na Metrópole decorria um “Golpe de Estado” para derrubar o sistema político de então (sei que foi um oficial da sua confiança que lhe ligou aqui da Metrópole). 

Logo de manhã o meu pai dirigiu-se para a reunião do costume, com o General Comandante-Chefe no Palácio do Governador. Quando lá chega vê o edifício cercado por tropas especiais e deparou-se com a “destituição” de Bettencourt Rodrigues. 

É claro que o coronel Henrique Vaz não pertencia ao MFA, mas isso não o impediu de se insurgir contra alguns “modos um pouco rudes” (em sua opinião, é claro) com que estariam a conduzir o processo de destituição (ou prisão?) do Comandante-Chefe, e ofereceu-se para o acompanhar ao avião que o conduziria de regresso a Lisboa, via Cabo Verde.

O General Bettencourt Rodrigues despediu-se com um abraço do meu pai, e agradeceu-lhe o “respeito” demonstrado, apesar de saber que o meu falecido pai iria continuar a ocupar o seu posto no Teatro de Operações da Guiné. 

É claro que a situação não era para brincadeiras e tudo podia acontecer nas próximas horas, e como o Coronel Henrique Gonçalves Vaz era um militar íntegro, patriota e com espírito de missão (não afeto ao anterior regime), foi imediatamente convidado para continuar como CEM do CTIG, tendo aceitado e só regressou definitivamente a Portugal no último voo de militares portugueses, pelas 23 horas do dia 14 de Outubro de 1974, acompanhando o Brigadeiro Carlos Fabião, na altura já indigitado para CEMGFA.

Esses mesmos oficiais do MFA solicitaram ao Comandante Marítimo, Comodoro Almeida Brandão, que assumisse as funções de Comandante-Chefe interino das Forças Armadas na Guiné-Bissau. 

As primeiras medidas tomadas pelo MFA na Guiné, foram a “detenção dos agentes da PIDE” e a “libertação dos prisioneiros políticos”. 

Como tal, no dia seguinte, 27 de Abril, surgiram pela cidade de Bissau várias manifestações lideradas por esses presos, uma delas cercou e tentou invadir o meu Liceu, o Liceu Honório Barreto.

Ainda me lembro como se fosse hoje, um funcionário do Liceu, um homem de grande estatura, e de origem cabo-verdiana, pegou numa grande tranca e afugentou vários manifestantes (deu resultado!), tendo de seguida fechado a porta principal. 

Nas salas do andar inferior, que davam para o jardim, tivemos de fechar as persianas, pois havia muitos manifestantes que nos diziam aos berros, com paus e catanas “Tuga na ba p`Bó Terra”…

É claro que eu achei muita piada na altura, pois nunca temi pela minha segurança, já que tinha colegas com 16 anos ou mais (alguns vinham do interior da Guiné para estudar em Bissau) que sempre me fizeram estar à vontade. 

Fugi do Liceu com esse grupo de colegas mais velhos (eu tinha apenas 13 anos e frequentava o antigo 3.º ano do Liceu), em direção à base militar de Santa Luzia, onde vivia com a minha família (a casa do Chefe do Estado-Maior do CTIG era aquela mesmo em frente do Clube Militar, na outra ponta da avenida). (***)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9194: Tabanca Grande (310): Luís Gonçalves Vaz, professor, filho do Cor CEM Henrique Vaz (1922-2001)

(**) Vd. poste de 25 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9399: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (16): Bissau, tinha 13 anos, era estudante no Liceu Honório Barreto... (Luís Vaz Gonçalves)

2 comentários:

Professor Luís Vaz disse...

Olá a todos os Tabanqueiros:

É com muita alegria e satisfação que reli este artigo e me relembrei do ano em que vivi na Guiné ... Foi um ano muito intenso e que me marcou para a Vida , sem dúvida nenhuma. Se tive momentos de muita satisfação em Chão Guinense, eu só tinha 13 aninhosna altura, nunca olvidarei os jovens feridos que periodicamente via no Hospital Militar de Bissau ... e outras memórias que prefiro não falar . Um grande abraço ao Luís Graça e um AB também para todos os Tabanqueiros . Até Breve !

Luís Gonçalves Vaz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Luís, gostei de voltar a ouvir a tua voz, e de saber das muitas voltas que a tua vida já dei. E notícias da tua família. Não tinha ideia de que vocês eram sete irmãos, e que 3 andaram do Colégio Militar e a mana no Colégio de Odivelas...

Ficas comn luz verde para publicar aqui um poste sobre uma das tuas grades paixões que continuam a ser os lobos e a educação ambiental.

Foi um gosto muito grande saber de ti e das coisas giras que estás a fazer com competência e empenhamento, como professor... E vejo que continuas a guardar belíssimas memórias do teu pa, que, além de brilhante militar, foi também exímio cavaleiro, com um vasto currículo hípico. Até outro dia. LG