
"Cambança", para ele, é mais do que "passagem para o outro lado" do rio. É uma metáfora: "por vezes uma fuga ou uma mudança- Pode ser uma partida ou um regresso. Quase sempre com a vida em maré baixa" (pág. 6).
Qualquer semelhança com a realidade da Guiné é pura coincidência, avisa o autor. Mas quem não conheceu o Padre Aurélio ?
A vida também não foi fácil para os nossos "capelães militares", que o exército formou, à pressa, e graduou como alferes. É pelo lado da caricatura e do humor de caserna, que podemos hoje perceber o "choque cultural" que foi para todos nós o conhecimento e a experiência da guerra e da Guiné. Quando regressou à metrópole, o Padre Aurélio já não era o mesmo homem nem o mesmo represente de Cristo. Aliás, nenhum de nós era o mesmo, no regresso a casa.
Citando o nosso crítico literário (**), "ficamos todos com uma enorme dívida de gratidão com o Alberto Branquinho: o picaresco dos desastres dos afazeres da guerra tem aqui uma galeria memorável de fotografias tipo passe que nunca mais esqueceremos."
(*) Último poste da série > 16 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27020: Humor de caserna (203): O aeorgrama e a (in)comunicação (Alberto Branquinho)
(**) Vd. poste de 16 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6747: Notas de leitura (131): Cambança Guiné Morte e vida em maré baixa, de Alberto Braquinho (Mário Beja Santos)
5 comentários:
Quem rodeava o padre Aurélio durante a sua comissão, integrou-o bem no IAO da vida.
Abraço
Eduardo Estrela
Virgílio Teixeira (by email)
17 jul 2025, 17:31
P27025 - Alberto Branquinho e a sua Cambança
Só hoje consultei o Dr. Google, para confirmar que era mesmo isso que pensava. Transpor o rio!
A história do Padre Aurélio é de morrer a rir, é destes postes de humor de caserna que gosto mais de ler, diverte-se às vezes com coisas de fazer chorar. Os aerogramas eram aquilo que mais esperávamos. Eu nunca escrevi nem recebi aerogramas. As minhas cartas diárias de cerca de 20 folhas, não cabiam no aerograma.
As cartas que recebia, eram correio normal e não passava mais de duas folhas.
Vou continuar a seguir as crónicas do Branquinho pois já segui e gostei dos temas.
Parabens e voltaremos a escrever.
Virgilio Teixeira
Recorde-se o que o Alberto Branquinho aqui escreveu no poste de 17 de junho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8437: Contraponto (Alberto Branquinho) (36): A construção e a desconstrução de um Padre
(...) "Para terminar, esclareço que o padre capelão Horácio foi um de dois padres que conheci na Guiné que, recordando-os e fundindo-os, os escrevi no mini-conto “O Padre Aurélio”, incluído no meu livro “Cambança” (...)
Luis
Escrevi "dois padres que conheci na Guiné". Queria dizer dois padres em quartéis "no mato". Mas conheci (e convivi com) um terceiro no período que passei em Bissau aguardando o embarque, que foi o que dirigia com o hissope a manobra da viatura a encostar à porta da igreja, com que estava a aspergir os caixões (e mini-caixões!) durante a missa de corpo-presente.
(livro "Cambança final").
Abraço
Alberto Branquinho
O propósito dos nossos capelães... O Exército, na Guiné, nunca se apercebeu (razão por que não lhe deu a devida importância...) do fenómeno da crescente "descristianização" das NT.. Deixámos de rezar, de ir à missa, de procurar o capelão... Acho que perdemos a fé, em Deus... e na Pátria.
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